Poder das Runas

Capítulo 181

Poder das Runas

Capítulo 181: Silêncio Between Heartbeats

Nota do Autor: rs, por engano publiquei este capítulo na seção de Volume 2, desculpe por isso

***

[Ponto de vista de Melissia]

"Já se passaram quatro meses inteiros! Por que ele ainda não me respondeu?! Afff!"

Sua voz saiu aguda e frustrada enquanto ela encarava a tela do celular, quase jogando-o na cama antes de abraçá-lo de volta ao peito.

Ela abriu o chat novamente, mesmo já tendo decorado cada palavra que tinha enviado.

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Contato: Ash Burn

ÚltimaVisto: há 4 meses e 1 semana

Melissia: Oi

Melissia: O que está fazendo??

Melissia: Você ainda está vivo??

Melissia: Responde pelo amor de Deus!

Melissia: Você está me ignorando agora??

Melissia: Melhor não estar.

Melissia: Rili tô à beira da loucura

Melissia: Say something!

Melissia: Você prometeu que ia manter contato

Melissia: Esqueceu? Ou você é só um covarde??

Melissia: Não me faça ir atrás de você comigo mesma

Melissia: Sabe quem você está ignorando??

Melissia: Maldito!!!

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"Ah, droga…" ela resmungou, jogando-se na cama enquanto puxava um enorme ursinho de pelúcia para os braços e enterrava o rosto na sua barriga macia.

Por que eu estou sempre pensando nele...? Mesmo agora, não importa com quem eu pergunte, nenhum dos professores quer me contar alguma coisa. Toda vez que pergunto dele, eles só repetem o mesmo mantra... ‘Ele voltará em breve.’

Que tipo de ‘em breve’ leva quatro meses inteiros?

Depois que a academia reabriu após o ataque dos demônios, Ash não tinha retornado. A declaração oficial dizia que ele tinha ido visitar a família por causa do falecimento de um parente.

Mas ela não era boba.

Ele não tem família. Todo mundo sabe disso. Ash é órfão desde criança. A academia definitivamente está escondendo algo... mas por quê?

Por que eu tive que me apaixonar por um cara assim...?

"Droga... Droga... Droga..." ela murmurou, a voz abafada contra o ursinho enquanto batia nele repetidamente, mesmo que fosse duas vezes maior e macio demais para se importar.

Ela suspirou pesadamente, a respiração tremendo.

Tudo começou quando ela era só uma garotinha. Seu noivado com Ethan foi arranjado pelas famílias deles. Naquela idade, ela não entendia direito o que significava, mas se sentia feliz com a ideia de ter alguém para brincar. Era reconfortante, de certa forma, como se alguém estivesse sempre ali com ela.

Com o tempo, eles se tornaram melhores amigos. Ela sempre o viu como alguém próximo, alguém familiar. Mas nunca como mais que isso.

Então veio o despertar deles.

Tanto ela quanto Ethan foram reconhecidos como talentos incríveis, com potencial para alcançar o grau de Santo. O noivado, que sempre fora uma compreensão silenciosa, começou a ganhar mais peso. Todo mundo assumia que viraria oficial após a formatura.

Mas então ela chegou na academia... e conheceu Ray.

A primeira vez que o viu, ela se sentiu atraída—não por amor, mas por uma curiosidade estranha. Havia algo diferente nele. Ele lutava de igual para igual com Ethan, mesmo sem ter apoio notável, sangue nobre ou um sobrenome influente. Ele se mantinha firme, totalmente por conta própria.

No começo, ela só queria entendê-lo.

Mas quanto mais tempo passava com ele, mais seu coração começava a mudar. Sua força silenciosa, sua gentileza distante combinada com sua aparência atraente—mexiam algo dentro dela.

E ela caiu.

Mas Ray só tinha olhos para Elysia.

Quando ele a rejeitou, mesmo que indiretamente, doeu. Uma dor que deixou uma rachadura no peito dela que ninguém mais conseguia ver. E, mesmo assim, no meio daquele sofrimento, um outro rosto permaneceu insistente na sua mente.

Ash.

O garoto que não ligava para sombro de origem.

O garoto que chamava ela de ’Senhorita’ com um sorriso provocador que a fazia querer dar um soco na parede.

O garoto que a encarava não como uma herdeira nobre ou uma génio intocável—mas como uma brat que ele não tinha tempo para aturar.

E, mesmo assim... era ele.

E aquele bastardo ainda tem a cara de pau de me enganar com aquela aposta... ele pegou mais de um item só porque eu perdi. Afff! Droga dele!

Talvez fosse porque Ash já tinha deixado uma marca nela antes mesmo de ela conhecer Ray.

Talvez fosse por isso que, mesmo quando ela focava em Ray, o olhar dela ainda se desviava para Ash. Nos campos de treinamento, na aula, até na esquina do pátio onde ele sempre se sentava sozinho.

Ele sempre esteve sozinho. Mas mesmo assim, nunca desistiu. Nunca pediu ajuda. Continuou avançando, passo a passo.

Enquanto isso, ela tinha um momento de dor no coração e agia como se o mundo tivesse desabado.

Talvez foi aí que tudo começou. Ou talvez antes disso. Não sei mais. Mas toda vez que penso em Ash agora, parece... diferente.

Até sua própria natureza começou a mudar, lentamente, e ela não sabia se era por causa dele ou por ela mesma.

"Droga... maldito bastardo," ela murmurou novamente, segurando o telefone com força. "Você falou que ia manter contato. Disse que responderia... mas nem uma mensagem você leu. Nem atendeu uma ligação sequer."

"FUDER*****RRRRRR!!"

Ela soltou um grito no travesseiro, chutando as pernas como uma criança birrenta—exceto que sua voz carregava raiva de verdade, dor de verdade, e algo que ela não conseguiu nomear.

...Ou talvez ela não tivesse mudado nada mesmo.

***

No dia seguinte

A prova semestral está quase aí... e aquele filho da mãe ainda não aparece.

Melissia soltou uma longa fungada enquanto caminhava em direção à sua aula matinal, os passos mais lentos que o de costume. A brisa fresca que a tocava não conseguia distraí-la da irritação e inquietação que fervilhavam no peito.

"Por que você está suspirando tão cedo, hein?"

A voz repentina a fez voltar à realidade. Ela se virou e viu a figura familiar ao seu lado.

Ethan...? Claro, ele está aqui de novo.

"Nada demais," ela respondeu casualmente, ajustando a mochila no ombro. "As provas semestrais começam no próximo mês. Estava pensando nisso mesmo."

"Pois é," Ethan disse, com uma ponta de tédio na voz enquanto enfurnava as mãos nos bolsos. "Depois do ataque dos demônios, a academia virou um campo militar. Cada aula parece mais uma preparação para combate."

Sua expressão indicava que ele não achava muito divertido, mas não reclamou além disso. Para Ethan, esses últimos meses tinham até sido relativamente bons. Ray tinha ficado quieto e se dedicado ao treinamento constante, enquanto Ash tinha desaparecido completamente.

Com esses dois fora de cena, Melissia não tinha conversado com mais nenhum menino como amigo.

Ela se via mais perto de Ethan, e, embora ele tentasse esconder, dava pra perceber que ele gostava da companhia dela.

Assim que ouviu a palavra militar, algo clicou na sua cabeça—as palavras do pai. Ela tinha ouvido uma conversa dele outro dia.

Disse que, após este semestre, a academia e a Torre de Magia começarão a preparar os estudantes num formato rígido, parecido com treinamento militar... Não entrou em detalhes, mas sei que é por causa dos demônios.

Ela estreitou os olhos, pensativa, refletindo sobre o que poderia vir depois das provas. Havia muita incerteza agora, muitos boatos nos bastidores.

"Ei, você terminou a missão que a Professora Elva nos deu?" Ethan perguntou, puxando ela de seus pensamentos.

"Sim," ela respondeu com um leve aceno. "Terminei ontem à noite."

Eles continuaram caminhando em direção à sala de aula, conversando sobre as matérias, prática de feitiços e provas que estavam por vir. O caminho parecia o de sempre, mas, para Melissia, tudo tinha ficado um pouco estranho ultimamente.