Poder das Runas

Capítulo 179

Poder das Runas

Capítulo 179: Constituição Fraca

O fato de Ash estar carregando um fragmento de Runa o surpreendeu, mas isso não interrompeu seu progresso em nada. Foi inesperado, sim, mas não houve qualquer obstáculo que o impedisse de avançar.

Além de aprender com a Árvore do Mundo, ele também precisava aumentar suas estatísticas e se preparar para o próximo nível. Então, comentou isso com ela. Mas, ao dizer que sentia que seu potencial era baixo, ela o olhou com uma expressão estranha, como se tivesse acabado de dizer algo absurdamente idiota sem perceber.

Sem falar muito, ela pegou um artefato de verificação de potencial e o usou nele. Assim que viu o resultado, sua expressão calma se transformou em uma de surpresa genuína. Seu potencial estava claramente marcado como Rank A.

Ela explicou que potencial era o limite do quanto o corpo humano poderia crescer, tanto em força quanto em energia.

Dependia principalmente da genética. Às vezes permanecia baixo por causa de genes fracos, e em casos muito raros, poderia atingir um valor excessivamente alto, causando instabilidade interna. Mas esse tipo de coisa só acontecia com espécies não-humanas.

Como Ash era humano, sua hipótese era simples. Sua genética devia ser fraca.

"Mas eu não entendo," ela disse, com as sobrancelhas levemente franzidas. "Você absorveu a Runa da Vida. Só isso já deveria ter reescrito a estrutura do seu corpo. Nesse ponto, seus genes não deveriam mais importar. Então, por que seu potencial ainda aparece como baixo? E, pelo que você mostrou na luta mais cedo, na forma como se movimenta... você já está no nível de um Rank Especial, não é?"

Ela parou ali, perdida em seus pensamentos, procurando claramente uma resposta. Ash, porém, apenas a encarava, como se ela estivesse deixando passar algo óbvio.

Eu estou apenas no nível Aprendiz, embora... faz sentido. Minhas estatísticas, combinadas com a base perfeita que tenho, me deixam tão forte quanto alguém no nível de Especialista. Talvez até mais, se usar o modo sobrecarga

Mas eu sei que minhas habilidades são fracas. Não tenho controle adequado ou técnica. Estou apenas confiando na força bruta por enquanto...

Ainda assim, há um outro fator que não contei para ela. Tenho três linhagens dentro do meu corpo. Uma delas é de sangue de dragão, mas as outras duas... nem sei exatamente o que são.

Será que isso explica por que meu potencial parece baixo? Devo contar para ela?

Ele olhou novamente para ela. Ela permanecia em silêncio, pensando, com o rosto calmo e focado. Apesar de sua presença antiga, a forma como ela o tratava parecia surpreendentemente acolhedora e sincera.

Acho... que posso confiar nela. Pelo menos um pouco.

"O que acontece," disse Ash após um momento de hesitação, "é que tenho três linhagens dentro do meu corpo."

Ele explicou tudo: a linhagem de sangue de dragão que conhecia, e as duas desconhecidas que ainda não tinha identificado. Após ouvir sua explicação, ela não pareceu surpresa de forma alguma.

"Você não ficou chocado?" perguntou Ash, sem saber bem o que pensar da reação dela.

Ela sorriu suavemente, como se já esperasse por aquilo.

"Por que eu ficaria surpresa?" ela disse docemente. "Você é alguém que absorveu uma Runa que ninguém conseguiu despertar há eras. Você carrega uma Runa fragmentada, e além disso, está com um olho ominoso, cuja origem eu também desconheço. Você realmente acha que eu ainda posso me surpreender com tudo isso?"

Ash coçou a cabeça, dando um sorriso pequeno e impotente.

"Bem... falando assim, faz sentido. Realmente faz."

Depois disso, ela tirou uma amostra de sangue dele para examinar as linhagens diretamente. Mas, por mais que tentasse, nada funcionava. A Runa de Encobrimento bloqueava todas as tentativas.

Ash tentou até suprimir o efeito da Runa com seu poder mental, mas ela não respondeu. Era como se a própria Runa tivesse decidido não permitir.

Agora até sinto pena dela... ela está realmente tentando.

Horas passaram. Ela tentou várias vezes, mas sem sucesso. Finalmente, virou-se para ele com uma expressão claramente irritada.

Era estranho e de certa forma até engraçado ver alguém tão antigo e sábio parecer verdadeiramente irritado.

"Você é humano mesmo?" ela perguntou com uma expressão de meia frustração. "Diz que tem três linhagens, mas não consigo encontrar nenhuma pista delas. Tudo que vejo é seu lado humano. O resto... parece que sumiu completamente."

"Faz sentido isso?" ela acrescentou, olhando para ele como se fosse uma contradição ambulante.

Ash não respondeu. Ele apenas a olhou silenciosamente, incapaz de explicar sozinho.

Ela soltou um suspiro cansado e recuou um pouco, acomodando-se na cadeira.

"Se suas linhagens realmente estiverem dormentes, só há duas possibilidades. Ou elas precisam de algum disparador para despertá-las... ou sua constituição é simplesmente fraca demais para suportá-las agora."

"Se seu corpo não for forte o bastante para conter todo esse poder, então as linhagens podem estar inativas de propósito. Ou então, seu corpo poderia desabar tentando conter algo além de seus limites. E mesmo tendo fundido com a Runa da Vida, você não consegue mudar sua constituição sem ganhar controle total sobre ela."

"E... no seu nível atual, isso é impossível."

O espaço entre eles ficou novamente silencioso. Uma brisa suave passou pelo ar, e a luz do sol atravessou os galhos reluzentes acima, formando padrões quentes na mesa de madeira onde estavam. Mesmo estando no coração da Árvore do Mundo, o ambiente ao redor parecia sólido, real, quase como um outro mundo.

Após alguns momentos de reflexão, Ash finalmente falou.

"Então... você tem algo que possa ajudar a aumentar minhas estatísticas mais rápido?"

***

[No topo da Árvore do Mundo – Castelo da Rainha]

Ash apoiava-se na cerca. O castelo estava situado a uma altura tão absurda que, mesmo as maiores torres do mundo na Terra pareceriam brinquedos feitos por crianças.

Sinto que estou passando por uma coisa atrás da outra... limitações, linhagens... que confusão de bobagens.

Ele olhou para a poção vermelha na mão. Tinha recebido da Árvore do Mundo. Era uma droga conhecida por seu efeito poderoso, mas também por seus efeitos colaterais terríveis — principalmente causar danos internos e destruir tudo dentro do corpo se usada de forma irresponsável.

Mas, apesar dos riscos, era uma substância que podia extrair à força o potencial oculto dentro do corpo. Embora a Árvore do Mundo tivesse orientado fortemente contra usá-la, Ash simplesmente não se importava mais.

Meu potencial já está baixo, então que diferença faz se eu o liberar forçando? No final, vou esgotar meu corpo até a última gota de potencial de qualquer jeito.

Além disso, as feridas vão cicatrizar com o tempo. Não é algo que eu precise me preocupar.

Com a máscara e o capuz removidos, o vento suave passava pelo rosto dele. Era uma sensação silenciosa, e ele achou surpreendentemente reconfortante a calma que ela trazia.

"Amanhã, né..."

O próximo dia era importante. Ele traria Elysia da academia para este lugar, para seu tratamento. Mas hoje, beberia essa poção e avançaria para o próximo nível, querendo abrir a oportunidade de criar uma nova habilidade, caso algo inesperado acontecesse.

Se a Árvore do Mundo conseguisse curar completamente Elysia, então não precisaria criar nada. Era apenas um plano de reserva, um plano B. Ash sempre foi alguém que se preparava para o pior, mesmo que nunca dissesse isso em voz alta.

Enquanto permanecia ali, pensativo, uma voz familiar quebrou o silêncio.

"O que você está fazendo aqui sozinho?"

Ele nem precisou se virar para reconhecê-la. Era Serena.

Ela se aproximou dele, usando suas roupas reais que brilhavam suavemente à luz. A coroa flutuando sobre sua cabeça lhe dava uma presença etérea, como se ela pertencesse a outro mundo. E talvez fosse mesmo.

Ash não fez o movimento de colocar a máscara. Ela já conhecia seu rosto, e mais importante, ele não queria bloquear a brisa. O vento era a única coisa que lhe dava sensação de calma naquele momento, e ele não queria deixá-lo passar.

Sem se virar, respondeu suavemente: "Só pensando."

Serena se aproximou ao seu lado e apoiou-se na grade também. Seus olhos seguiam o horizonte. Tudo que podiam ver era floresta. O continente abaixo deles era incrivelmente vasto, estendendo-se além das nuvens e além do que os olhos conseguiam alcançar.

"Ouvi da Grande Mãe que você veio aqui porque alguém importante para você foi ferido por aqueles demônios," ela disse suavemente, colocando ambas as mãos no peito.

"Foi algo assim," respondeu Ash, com a voz calma e distante.

"Fico feliz," ela disse após uma pausa, "que você tinha um motivo para me ajudar. Um motivo oculto, sim, mas pelo menos agora sei que você não é uma pessoa má. E... passar por tudo isso por alguém... ela deve ser realmente preciosa para você, né?"

Ela virou levemente a cabeça, olhando para ele enquanto perguntava, mas Ash não a olhou nos olhos. Seu olhar permaneceu fixo no horizonte, frio e imóvel. Seus longos cabelos, agora ao comprimento dos ombros, fluíam suavemente com o vento. Sua expressão não mostrava emoção alguma, mas de alguma forma isso parecia mais pesado — como se o silêncio estivesse falando por ele.

Era um momento que deixaria uma impressão duradoura no coração de alguém.

"Sim, ela é. Amanhã a trarei aqui. Você poderá conhecê-la depois que ela se recuperar."

Serena abaixou o olhar. Sua voz saiu mais suave do que antes. "Certo..."

Mas então, um pensamento repentino cruzou sua mente, e seus olhos se arregalaram levemente.

Espere... será que ela pode ser—

"Ela é sua irmã?"

-BOINK!!

"Que diabo de besteira é essa?"

Ash perguntou, gentilmente batendo seu punho na testa dela. Seus olhos tinham a expressão de quem achou a coisa mais estúpida que ouviu na vida.

"Ai... eu pensei que talvez ela fosse..." Serena murmurou, fazendo bico enquanto massageava a cabeça com as duas mãos.

"Então, talvez... sua mãe?" ela perguntou novamente, piscando inocentemente.

"Você..."

"Tudo bem, tudo bem! Eu vou embora," Serena disse rapidamente, rindo enquanto se virava e começava a correr para longe.

Ash a observou se afastar com uma expressão exausta e soltou um pequeno suspiro. Amançou a mão, passando os dedos pelo rosto, deixando o vento passar novamente.

Às vezes... acho que ter um rosto bonito não é tão bom assim. Vai acabar machucando corações por onde passar...