
Capítulo 52
Poder das Runas
Os olhos de Ash permaneciam fixos na tela, seus pensamentos se aprofundando no desconhecido.
As descrições da Runas… são exatamente iguais às do romance.
A Runa da Vida—imunidade à magia negra e maldições, junto de uma regeneração ilimitada. Um poder tão absurdo que até as figuras mais veneradas da história matariam para obtê-lo.
A Runa do Equilíbrio—força todos os atributos a se igualarem e crescerem juntos, garantindo uma base perfeita em cada nível.
Com isso, posso evoluir em perfeita harmonia…
No entanto, apesar de tudo, um mistério ainda o corroía.
Ainda não sei o que fez meus atributos dobrarem de valor…
Deveria estar em 70. Esse era seu maior atributo. Mas agora, todos estavam em 140.
Deve haver uma razão.
Será que… foi quando minha habilidade se ativou?
Sua mente acelerava, juntando os fragmentos de informação.
Quando todas as energias da Runa combinadas com minha mana se comprimiram, tornaram-se pura, e então passei por uma nova reforma corporal…
O processo não foi apenas uma reforma—foi uma evolução. Seu próprio ser foi forjado novamente sob o imenso poder de seu novo Núcleo Primordial.
Tenho que ter sido isso.
Ele respirou lentamente, concordando consigo mesmo. Agora tudo fazia sentido.
Mas então, percebeu algo incomum,
Uma sensação de formigamento subiu pela sua espinha.
Havia uma mudança no ar, sutil, mas inegável. Como a calmaria antes de uma tempestade, a tensão de algo invisível pressionando a própria realidade.
Só então ele percebeu.
O silêncio ao redor.
Nem mesmo o som de alguém respirando, exceto Ray, que estava perto dele.
E quando finalmente ergueu o olhar—
Todos ao redor dele estavam congelados.
Não em admiração. Não em reverência.
Mas em medo.
Seus corpos tremiam, suas expressões entre o horror e a incredulidade.
Alguns tinham recuado instintivamente. Outros seguravam suas armas tão firmemente que os nós dos dedos ficaram brancos.
E então—ele ouviu alguém falar.
"Q-Qem… é você?"
A voz de Leira mal se sustentava, suas pupilas contraíam-se enquanto ela o encarava como se fosse algo além de sua compreensão.
Ash piscou.
Por que ela—?
Foi então que percebeu.
Seu corpo, inconscientemente, liberava uma quantidade enorme de aura—algo antigo, primordial. Ela emanava dele em ondas, distorcendo o ar ao redor, pressionando tudo ao seu redor.
A Aura do Núcleo Primordial… e os efeitos remanescentes da energia da Runa…
Não era a aura do seu nível de poder. Não era uma medida de sua força.
Era nada mais do que os efeitos colaterais das runas e do recém-transformado Núcleo Primordial—um mero subproduto do seu despertar.
Para completar, ele tinha dois Núcleos Primordiais, não apenas um.
Sou mais fraco que ela.
Mesmo com seus atributos dobrados, mesmo com as mudanças em seu corpo, a diferença de força permanecia.
Ele ainda estava abaixo de Ray, quando sua overclock o levou além de seus limites. A realidade disso era inegável.
Contra Leira, ele estava em desvantagem.
E ainda assim—
A força nem sempre é medida em números.
O campo de batalha não é determinado apenas pelos atributos, nem pela energia bruta que se consegue manipular.
Medo, hesitação, o peso da incerteza—esses são armas tão afiadas quanto qualquer lâmina, e neste momento, estavam a seu favor.
Ash deixou o momento se instalar, deixou a tensão se aprofundar, infiltrar-se nos ossos deles. Então, quando o peso de sua presença atingiu o auge, finalmente falou.
Sua voz era baixa, rouca, carregada de uma profundidade incomum para alguém de sua idade.
"Importa?"
As palavras saíram lentas, deliberadas, cada sílaba pressionando como uma força tangível.
Uma faísca de inquietação passou pelo rosto de Leira, um breve alargamento dos olhos enquanto a voz dele se instalava sobre eles.
Ash sabia por quê.
Essa não era sua voz verdadeira.
Antes de entrar na masmorra, ele tomou uma decisão pequena, mas significativa.
Garry tinha apontado casualmente que a voz de Ash era muito suave, juvenil, que revelava sua idade para ele.
Ele tinha comprado um dispositivo de alteração de voz antes de entrar na dungeon, para distorcer e aprofundar sua fala.
Agora, enquanto a voz modificada ecoava na sala silenciosa e mortal, percebeu o quanto isso fazia diferença.
Não era mais a voz de um jovem.
Era como se um monstro estivesse falando.
Era realmente artificial.
Leira rangeu os dentes, esforçando-se para conter a tremedeira na voz enquanto forçava-se a falar. "Afastem-se do menino."
Ela deu um passo à frente, sua postura mudando, embora a hesitação ainda permanecesse na rigidez de seus movimentos. "Não sei quem—ou o que—você é, mas isso não tem a ver com você. Saia, e talvez eu deixe você ir embora inteiro."
Ash permaneceu imóvel, imóvel, como se suas palavras não tivessem significado para ele.
E apesar de sua bravata, do tom de autoridade, ela tinha medo.
Ela estava cautelosa.
Ele soltou uma respiração curta antes de inclinar a cabeça levemente.
"Vai me deixar ir embora?", sua voz não tinha zombaria, nem diversão, apenas uma curiosidade silenciosa e estranha.
"E se eu não fizer?"
Leira apertou mais sua arma, "Então você morre."
Não havia hesitação em suas palavras agora. Qualquer medo que a dominara antes estava sendo consumido, substituído por algo mais — algo muito mais perigoso.
Desejo.
A Ash era visível nos olhos dela, na maneira como olhava para o corpo inconsciente de Ray, para o campo de batalha destruído ao redor.
E então, por um breve momento, seu olhar desviou dele, para as portas de pedra no final da câmara.
A sala das recompensas.
A realização caiu como uma ficha.
Ela não estava aqui apenas para matar Ray. Ela buscava algo mais.
A Runa.
O reconhecimento do Rei Demônio.
Os lábios de Ash se entreabriram, mas antes que pudesse falar, Leira expirou abruptamente e deu mais um passo à frente.
"Você não entende no que está se metendo," ela murmurou, a voz carregada de impaciência agora.
"Ray Dawson já está marcado. O destino dele já está selado. Cruzar meu caminho não muda nada—"
"Muda tudo," interrompeu Ash com suavidade, a voz cortando sua fervor crescente como uma lâmina de gelo.
Os olhos de Leira se arregalaram, ela estreitou-os, mas antes que pudesse falar, ele prosseguiu—suas palavras firmes, inabaláveis.
"Você está falando de destino com a pessoa errada," disse, um traço de diversão surgindo no tom. "Já cuspi na cara do destino que me reservaram."
Ela abriu levemente os lábios, mas ele não deu chance de ela se recompor.
"Você não se importa com destino. Você se importa com poder. Com ser vista. Com o Rei Demônio te reconhecendo." Sua voz caiu, não em volume, mas em peso—uma verdade dita em voz alta, inquestionável.
As pupilas de Leira encolheram. Um relance de algo passou por seu rosto, algo involuntário.
Ash tinha atingido fundo.
Por um momento, ela permaneceu em silêncio. Seus dedos tremeram, apertando a arma um pouco demais.
Depois de um breve intervalo, ela deu uma risadinha — não divertida, não brincalhona, mas algo mais sombrio.
"Quem-você-é?", ela gritou, tomada pelo medo do desconhecido, pois ninguém deveria saber do Rei Demônio agora, enquanto seu plano nem começou ainda.
Ash respirou lentamente, sua expressão impassível, mas não respondeu.
"Não importa quem você seja. Você vai morrer, cada pessoa aqui presente vai morrer, para que ninguém possa interferir em 'Os planos dele'."
"VOU TE MATAR"
Sua voz agora estava afiada, sua hesitação anterior completamente queimada pela ganância, ambição—desespero.
E então—
Ela se moveu.
Mais rápido do que Ash pôde acompanhar.
Leira desapareceu, uma rajada de luz preta rasgando o ar. O chão onde ela esteve rachou, com teias de aranha se espalhando. Antes que Ash percebesse a sua movimentação, ela já estava na sua frente.
Um sorriso predatório se curvou nos lábios dela enquanto suas garras alongadas reluziam sob a pouca luz da masmorra. Então, sem hesitar—
Shhk!
Suas garras perfuraram seu peito, mergulhando fundo no coração. Carne se rasgou. Ossos estalaram. Um som úmido e nojento ecoou no ar tranquilo ao ela esmagar seu coração na palma da mão.
O corpo de Ash se contorceu, sua visão ficou turva. Um estremecimento percorreu seu corpo antes que, como uma marionete com os fios cortados, ele desabasse.
Por um momento, tudo ficou parado.
Então—
O ar ao redor dele mudou. A aura opressiva que escorria de seu corpo aumentou, torcendo, escurecendo.
Um aviso primal vibrava nos instintos de Leira, cada fibra de seu ser dizendo para recuar. E mesmo assim, ela não se mexeu. Simplesmente sorriu, divertida.
"Esperei mais de você," ela murmurou, inclinando a cabeça enquanto observava seu corpo desmoronado no frio do chão de pedra. "Com a quantidade de aura que você liberava, pensei que fosse mais forte."
Seus olhos brilharam com uma percepção repentina.
"Mas então… eu lembrei," ela continuou, dando um passo lento adiante. "Este é um calabouço. E indivíduos poderosos não podem entrar, podem?"
Uma risada baixa e zombeteira escapou dela.
"Isso só deixa duas possibilidades… Ou você estava fingindo sua força, ou…" ela fez uma pausa, saboreando o momento, "você é só tão forte quanto eu."
Ela se abaixou ao lado do corpo imóvel dele, sua voz abaixando para um sussurro.
"E adivinha?" Um sorriso perverso se abriu em seu rosto. "Você estava fingindo."
Ela jogou a cabeça para trás e riu—um som selvagem, descontrolado, que ecoou pelas paredes da masmorra.
Seus dedos traçaram o tecido de seu manto, sua curiosidade aguçada.
"Essa coisa…" ela murmurou, passando as garras pelo material. "Deve estar escondendo sua aura completamente. Porque enquanto eu não te ver…" Seus olhos brilharam. "Não consigo sentir nada de você."
Leira se inclinou, a centímetros de seu rosto, o hálito quente contra sua pele—
Então—
Faíscas!
Uma rajada de relâmpagos explodiu de sua mão, um arco irregular de energia azul cortando o ar com sua espada.
Leira mal conseguiu saltar para trás, seus instintos gritando para ela recuar. Sua guarda se fechou, seus músculos tensos.
E então—Ash se levantou.
Ele se sacudiu como se tivesse tropeçado e caído.
Os olhos de Leira se arregalaram.
"Como—?", sua voz oscilou, chocada, "Como você ainda está vivo?"
Ash rolou os ombros, soltando uma respiração curta. Seus dedos se contorciam e relaxavam, como se estivesse se livrando da dor que ainda persistia.
"Isso doeu pra caramba, vadia," ele rosnou, a voz baixa, perigosa.
Bem diante dos olhos dela, seu peito—o buraco aberto onde deveria estar seu coração—costurou-se novamente.
Carne se torceu, pulsou, reformou-se. Um novo coração tomou seu lugar, veias se entrelaçando ao redor dele como raízes buscando solo. Por um momento, sua pele estava lisa, intacta—perfeita.
Depois, como tinta derramada sobre uma tela, o escuridão de seu manto se espalhou pelo peito, engolindo a carne nova e impecável.
Ash virou o pescoço, estalando-o. Olhou para ela, e pela primeira vez—Leira sentiu uma coisa estranha deslizando por sua espinha.
Inquietação.
"Foi uma porra de uma dor…," ele murmurou, com a voz carregada de raiva quase contida.
Seus dedos se tensionaram, faíscas de eletricidade dançaram entre eles, iluminando a escuridão. Seus olhos fixaram nela, sem piscar, como uma fera acuada.
"Realmente doeu…"
Um sorriso lento e ameaçador se curvou nos lábios dele.
"Juro—" a voz dele caiu, venenosa, "que vou gravar meu nome nos seus malditos ossos por ter destruído meu coração."
***