
Capítulo 6
Poder das Runas
O que estou fazendo aqui?
Onde tudo saiu do controle?
Ash estava tenso, com a mente em tumulto, enquanto o carro acelerava pela estrada em direção à academia.
À sua esquerda, Melissia Ravencroft estava furiosa, mexendo nervosamente no celular. Seus olhares ocasionais pareciam facas fincadas em sua composure.
No volante, senhora Nyra dirigia em silêncio, sua aura calma mas intimidante preenchendo o interior do veículo.
"Droga…" murmurou baixinho.
As orelhas de Melissia se sobraram ao ouvir sua maldosa maldição, mas ela não comentou nada. Ainda.
Por fim, tentou novamente usar a razão. "Eu estou dizendo de novo, Senhora Nyra. Apesar de ter que ir para a academia, preciso fazer uma parada rápida na cidade de Ferro Forte primeiro."
"Tem algo urgente que preciso resolver," disse Ash, com cuidado para manter o tom respeitoso, embora seus nervos estivessem à flor da pele.
Antes que Nyra pudesse responder, Melissia foi mais rápida.
"Você não vai a lugar algum! Você vai ter que arcar com as consequências por me deixar irritada... Você será meu servo até a chegada à academia, fará tudo o que eu mandar, senão… vou contar ao meu pai que você me assediou!" ela falou com ar convencido.
A sobrancelha de Ash se contraiu. Ele apertou os punhos para segurar a irritação.
Essa criancinha malcriada... Eu juro... se não fosse pelo pai dela... huff... calma, Ash... calma.
Ele forçou um sorriso tenso e respondeu, o mais calmo que conseguiu: "Senhorita Melissia, admito que fui desrespeitoso antes. Que tal eu compensar isso quando chegarmos à academia?"
Melissia estreitou os olhos, suspeita evidente em seu olhar. "Você é tão fraco. Não há como alguém como você passar na admissão da academia. Não tente me enganar!"
'Droga. É por isso que odeio gênios—são cheios de si mesmo.'
"Maledroto— quero dizer, Senhorita Melissia, posso garantir, com uma fonte confiável, que vou passar na prova de entrada da academia," disse Ash forçando um sorriso.
Melissia o observou desconfiada e perguntou: "Qual é essa fonte confiável?"
Até Nyra inclinou a cabeça, curiosa.
Ash deu um leve sorriso e disse: "Confie em mim, irmão!"
"Pfft."
Nyra riu, e Melissia olhou para ele, boquiaberta.
"Você não vai a lugar algum," declarou firmemente Melissia.
'Droga, não devia ter mencionado a academia. Como é que vou conseguir minha segunda runa antes do teste de admissão?'
A mente de Ash trabalhou furiosamente, refletindo sobre como tinha se metido nessa confusão.
Algumas horas antes
Ash sabia que tinha feito uma grande besteira, então, ao invés de voltar ou enfrentá-los, simplesmente continuou caminhando para frente.
Porque, se alguém desrespeita outro por ignorância, ainda é perdoável—especialmente se essa pessoa for uma criança. Ash ainda tinha o corpo de uma criança, e crianças não são obrigadas a saber de tudo. Erros assim poderiam ser ignorados.
Mas se eles descobrissem que ele tinha desrespeitado uma Ravencroft sabendo quem eram, aí seria uma história completamente diferente. Poderia gerar uma tempestade que ele não queria enfrentar. Então, preferiu seguir pelo caminho mais seguro—por enquanto. Continuou andando, fingindo que não sabia de nada, simulando ignorância como se fosse a verdade.
Mesmo assim, enquanto avançava, havia um peso pesado apertando seu peito.
Ele estava decepcionado consigo mesmo. Profundamente.
Ele deveria ter reconhecido ela antes.
No romance, a Imperatriz das Chamas era famosa—não só pelo temperamento explosivo ou pelo domínio avassalador sobre magia de fogo, mas também por seu forte e inabalável senso de justiça que ardia mais intenso que qualquer chama.
E ainda assim, agora… ela era só uma menina. Uma criança de doze anos, ainda delicada, ainda crescendo dentro de sua força e seu destino.
'Não vou morrer… ela tem aquele lado justo e toda aquela besteira heroica… mas mesmo assim—droga.'
Mas então, como se o universo ainda não tivesse terminado com ele, ele se meteu em confusão de novo.
"Melissia Ravencroft…" sussurrou sem pensar, o nome escapando de seus lábios antes que seu cérebro pudesse processar.
Assim, mais um erro nasceu.
Nyra, com sua percepção aguçada, captou seu murmúrio. Seus olhos penetrantes se estreitaram de suspeita, e a ponta na voz se tornou inconfundivelmente protetora.
"O que você acabou de dizer?" ela questionou, com um tom mais afiado, carregado de advertência.
Ash parou no meio do passo. Seu corpo congelou—e isso foi um erro. Ele não deveria ter parado.
"…Nada," murmurou, amaldiçoando-se internamente enquanto se virava para falar.
Ele fez o esforço máximo para controlar sua expressão facial, forçando-se a não mostrar qualquer emoção que pudesse entregá-lo.
Melissia fungou suavemente, as lágrimas lentamente desaparecendo enquanto olhava para ele de canto. Seus olhos grandes e vermelhos brilhavam de confusão, misturados com uma ponta de raiva remanescente.
"Você ainda está aí? O que, acha que se sente mal agora?" ela perguntou, com a voz tremendo, como alguém tentando permanecer zangada, mas sem saber exatamente por quê.
Qual ficar parado? Eu só pausei por um segundo, malcriado… pensou amargamente.
Balançando a cabeça, tentou se afastar de novo, mas a voz de Nyra cortou o ar, parando-o mais uma vez.
"Qual é o seu nome?" ela perguntou, com tom severo e exigente, como se não fosse se contentar com menos de uma resposta.
Nyra avançou, sua presença se tornando mais pesada, mais dominante, como se de repente ela tivesse decidido que não seria ignorada.
"Ash Burn," respondeu, com tom respeitoso, mas cuidadosamente controlado, mantendo a calma que escondia suas emoções.
Seus olhos não se moveram, fixos em seu rosto. "Você reconhece ela, não reconhece, Ash?" ela disse, com voz baixa, como um sussurro que carregava a nowa de uma lâmina. "A expressão em seus olhos… Você sabe exatamente quem ela é."
Ash sentiu o peito apertar, uma pressão crescendo de dentro dele. Mas ele não arredou. Manteve a expressão neutra, calmo, mostrando nenhuma das tempestades que rodopiavam dentro de si.
"Eu não sei do que está falando," disse, com a voz controlada.
O olhar de Nyra se estreitou ainda mais, mais afiado, como se pudesse ver através dele completamente.
"Não adianta mentir. Sua batida do coração o entregou. Ela acelerou agora há pouco. Você não consegue me enganar."
Os punhos de Ash se cerraram antes que pudesse se controlar. A pressão aumentava rapidamente, e não tinha mais sentido manter a farsa.
A percepção de Nyra era demasiado aguda, demasiado observadora. Continuar negando só pioraria as coisas.
"Sim," admitiu em voz baixa, com uma calma estranha. "Acabei de lembrar quem ela é."
As sobrancelhas de Nyra se franziram levemente, como se quisesse perguntar mais, mas antes que pudesse, Melissia interveio novamente, com uma expressão ainda infantil e um sorriso de desprezo.
"Então, por que foi tão malvado comigo se sabe quem eu sou?"
Ash a olhou, pensando se ela realmente entendia o que estava perguntando.
Porque eu não te reconheci de início, queria dizer, e quando percebi, já tinha me metido em confusão.
Mas falar isso em voz alta não ajudaria.
"Acabei de acordar de um estado inconsciente," finalizou, tentando soar o mais casual possível. "Minha visão estava embaçada, e eu não consegui ver claramente seu rosto. Quanto à sua malcriação— quero dizer, ouvi dizer que você tem uma personalidade doce e gentil, então fiquei confuso."
Melissia franziu a testa, sua expressão franzida ao tentar entender se aquilo era um insulto ou um elogio. "Mesmo assim, você deveria se desculpar. Você me desrespeitou."
Nyra suspirou, massageando a testa lentamente, como se tentasse afastar a dor de cabeça que começava a surgir. "Senhorita, nós—"
"Desculpe," interrompeu Ash, com tom plano, mas sincero o bastante para deixar Melissia quieta.
Ele não se importava com como soava. Se uma simples desculpa fosse capaz de acalmar essa relutante garotinha, ele estava disposto a repeti-la cem vezes sem hesitar.
A expressão de Melissia suavizou com suas palavras, embora o biquinho ainda estivesse preso aos lábios, como se não quisesse desistir da briga completamente.
"Claro," falou, assentindo com a satisfação de quem achava que acabara de vencer uma batalha importante.
Mas as próximas palavras dela fizeram Ash quase sentir o chão se abrir sob seus pés.
"Você devia ser punido por me fazer chorar. Que tal se tornar meu servo até chegar à academia?"
Aash nem precisou pensar. Sua resposta saiu instantaneamente.
"Não."
Sua voz era fria, sem emoções, firme.
Os olhos de Melissia se arregalaram com a rapidez da recusa. Sem hesitar, ela virou-se para Nyra, com um olhar suplicante nos olhos.
Aqueles olhos grandes, como os de um cachorrinho, cheios de pedidos silenciosos por ajuda, fizeram Nyra suspirar novamente. Ela olhou para Ash, sua voz agora mais curiosa do que confrontadora.
"Você está na faixa dos doze a treze anos, não está? Está planejando entrar na academia?"
Ash sabia que mentir seria inútil diante dela. Então, respondeu honestamente.
"Sim, estou pensando em ir para a academia. Mas, antes, preciso passar pela cidade de Ferro Forte."
Nyra concordou com um gesto pensativo, sua expressão voltando a ficar séria. "Tudo bem então. Você vem conosco. Quando chegarmos à academia, pode fazer o que quiser."
Ash abriu a boca para argumentar, explicar que tinha coisas importantes a fazer, mas antes que pudesse falar—
Uma voz ecoou dentro de sua mente.
[Só siga o fluxo. A personalidade dela pode ser um pouco distorcida, mas ela é uma boa criança. Se você apenas concordar com o que ela diz, as coisas podem acabar mais rápido do que espera. Se não… vai ficar muito mais difícil pra você.]
Ouvido aquilo, Ash ficou em silêncio, os ombros caindo levemente enquanto soltava uma respiração lenta.
Droga minha sorte…
***
De Volta ao Carro
Ash relembrava os acontecimentos anteriores, segurando o impulso de soltar um groan.
Agora, ele estava preso no carro, Melissia sorrindo com superioridade ao seu lado, enquanto Lady Nyra, na dianteira, parecia aproveitar o desfecho de suas trapalhadas.
Ele suspirou profundamente.
'Estou encalhado aqui agora. Não tenho mais nada a fazer.'
Pelo menos, tiveram a decência de deixá-lo tomar banho antes de partir.
Pensando no banho, olhou para seu corpo, inspecionando-se instintivamente.
'Nada demais, mas ainda assim... ganhei alguma musculatura. Minha pele está mais lisa, e estou mais alto do que antes.'
Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. No geral, não podia reclamar pelas mudanças que seu despertar trouxe.
Fechando os olhos, virou sua atenção para dentro, tentando sentir seu núcleo.
E lá estava—dois núcleos brilhando intensamente, um na parte superior e outro na inferior do dan tian.
Mas, no momento em que seus sentidos se fixaram neles, seus olhos se arregalaram em choque.
'O que foi...?'
Rapidamente fechou os olhos novamente para confirmar o que tinha visto.
Dois núcleos brancos puro irradiavam uma luminosidade etérea, seu brilho incomparável com tudo que já tinha visto antes.
'Não pode ser. Núcleos brancos puros? Já?'
Sua respiração vacilou levemente ao perceber a realidade. Instintivamente, tocou seu peito, como se tentasse sentir fisicamente o que estava percebendo.
O núcleo anterior de Ash tinha impurezas—riscas negras que dificultavam o fluxo de mana, prejudicando a eficiência.
Como a maioria das pessoas, esperava que essa purificação acontecesse gradualmente, à medida que ele avançasse de nível, as impurezas sendo limpas aos poucos ao longo do tempo.
Contudo, núcleos brancos puros… eram marca de indivíduos de classificação Mítica—com fluxo de mana tão suave e livre quanto as ventanias da própria natureza.
E aqui estava ele, recém-despertado, com não um, mas dois núcleos brancos puros.
Inspirou fundo, tentando acalmar a tempestade de pensamentos que atravessava sua cabeça.
'A Runa da Estabilidade… Deve ter causado isso.'
Um sorriso um pouco trêmulo surgiu em seus lábios.
'Quando o protagonista recebeu a runa no romance, ele já tinha despertado. Por isso, esse efeito não foi registrado na descrição.'
Soltou uma risada nervosa, a compreensão finalmente se assentando.
'Isso é insano. Ainda não estou nem perto de ser de classificação Mítica. Ainda estou só no começo. Não é à toa que meu corpo está tão diferente…'
Mas algo mais chamou sua atenção. Ele se aprofundou ainda mais, focando novamente nos núcleos mentalmente.
Linhas douradas delicadas cruzavam a superfície dos núcleos, frágeis mas intrincadas, como veias de ouro derretido entre mármore branco.
'O que… é isso?'
As linhas douradas pulsavam com um ritmo que ele não conseguia compreender completamente. Apesar de sua confusão, decidiu deixar o mistério para depois.
'Vou descobrir na biblioteca da academia. Por enquanto, vamos focar no básico.'
Deixando as linhas rúnicas douradas de lado, exalou profundamente e abriu animadamente sua janela de status.
'Status.'