Capítulo 459

A intensidade e o desespero não conseguiam ser abafados nem pelo estrondo da banda tradicional.

“Uh…”

“Ei. Isso aqui tá meio estranho.”

A maioria dos forasteiros começou a recuar, desconfortável, finalmente percebendo que algo estava errado…

E então.

“Será que devemos dar uma olhada mais de perto naquela estátua dourada? Mas o que é isso, tem um cheiro… será que é álcool...?”

Tuk.

Foi o instante em que alguém segurando um smartphone entrou no santuário.

“Hã?”

O galo dourado começou a derreter.

Bolha, bolha—

Como se imitasse esse som, o galo derretia, o ouro espalhando-se pelo sulco no chão do santuário…

Logo, tocou o pé daquele que ousara entrar.

Líquido dourado.

“……”

O forasteiro, olhando fixamente para o próprio pé, abriu a boca.

“Eu vejo agora!”

Thud.

O smartphone caiu no chão.

“O mundo é ■■! Somos nada além de um único ■■ inscrito nele!”

“Por favor, não olhe pra mim, não olhe pra mim, não olhe pra mim!”

“Eu tenho valor, eu sou interessante, certo?? Eu não estou aqui. O que é isso? O quê? Ireum-nim?”

A loucura começou a se espalhar como contágio.

“Q-que está acontecendo?”

“O que há com aquelas pessoas?”

Aqueles no limite da multidão recuaram, chocados, alguns esticando o pescoço para ver melhor.

Mas já era tarde demais.

“Aaaah!”

No fim, a maioria caiu em confusão.

Alguns gritaram, outros murmuraramm sem sentido, ou simplesmente ficaram sentados olhando no vazio, com os olhos esvaziados.

Uma cena onde loucura e um silêncio macabro coexistiam.

Mas os moradores não deram atenção.

Já tinham visto muitos forasteiros caírem vítimas da verdade revelada pelo licor sagrado, muitos destruídos por essa terrível revelação.

Para eles, os forasteiros eram apenas isso: forasteiros.

E as famílias da Vila Jisan… só elas podiam fugir desse destino.

Porque, no fim deste longo festival de Jisan, para o qual se preparavam com tanta devoção há tantos anos.

[Ele vem!]

Apenas os escolhidos, que se dedicaram ao rito por décadas, esperando pela fortuna de Jisan, seriam libertados.

“Um novo mastro será erguido no santuário!”

O estrondo dos gongos abafava a loucura.

O escolhido, o vencedor do sorteio, caminhava calmamente em direção ao santuário em meio à tempestade de insanidade.

Com o bastão dourado, o prêmio especial, na mão.

Se apenas plantassem aquele pequeno bastão no líquido dourado deixado pelo predecessor, eles mesmos se tornariam a fortuna de Jisan, dissolvendo-se no santuário.

Um sacrifício — ou melhor, um deus — que traria libertação da terrível verdade do mundo.

Os moradores escapariam deste mundo monstruoso e cruel, desviando da calamidade e alcançando a salvação!

Mas então…

……

“Pessoal.”

Foi a voz monótona de um funcionário público.

“Esse procedimento está completamente errado.”

“…?!”

O escolhido olhou para o bastão dourado em sua mão e soltou um suspiro.

“Nesse ritmo, todos vocês estão condenados. Nas suas próprias palavras, pode-se dizer que ‘um infortúnio lhes acontecerá’.”

Um silêncio mortal caiu.

Então, uma voz lamentosa gritou.

“A fortuna de Jisan está tentando nos enganar e fugir!”

“Não sei não.”

A figura de branco lentamente levantou ambas as mãos para o céu.

“Mas eu sei a verdade.”

Falando no idioma deles, prosseguiu.

“Fui purificado com o licor sagrado e despertei para a verdade do mundo. Eu, que puxei o bastão dourado e serei consagrado como a fortuna de Jisan, já sei.”

A verdade.

“Vocês distorceram os ensinamentos. Talvez tenham lido algumas páginas de uma escritura desconhecida em algum lugar, ou roubaram pedaços da doutrina e a interpretaram errado.”

Confusão.

Gemidos e murmúrios de quem não compreendia.

“O que vocês pensavam que libertação da verdade do mundo significava? Fugir da dura, dolorosa e irracional realidade deste mundo, escapar do desastre sob a proteção da fortuna de Jisan e viver livremente como exceções escolhidas?”

Os moradores olharam para cima.

As ações deles denunciavam concordância.

“Sabia disso. Então, vamos começar daqui.”

Kim Soleum falou.

O conhecimento seguro que possuía.

A doutrina mais importante da Igreja do Desconhecido Luminoso.

Seu primeiro ensinamento.

“Não há liberdade neste mundo.”

“Este mundo pertence a Ireum-nim. Só tem significado quando alguém é escolhido por Ireum-nim e deve reconhecer essa verdade, cultivando e semeando as sementes de origem no mundo, esforçando-se para ser digno dessa escolha.

“Seu livre-arbítrio é sem sentido. Apenas a vontade e a seleção de Ireum-nim têm relevância.”

“Aqueles fracos demais para aceitar essa verdade podem buscar fuga pela morte, mas isso não é verdadeira salvação.”

Assim, declarou.

“Não há fuga de Ireum-nim.”

……

“Essas palavras são libertação.”

Silêncio mortal.

O escolhido, a estranha figura de branco, olhou em volta para os moradores e perguntou,

“Vocês recusam aceitar isso?”

Não.

Não.

Impossível!

“Então, escolham outro dia auspicioso e preparem outro tipo de festa e ritual. Porque a fortuna de Jisan que vocês invocaram por esses meios —”

Ele apontou para si mesmo.

“— fui eu.”

O destino das desaparecimentos e mortes dos forasteiros, o ritual sacrificial disfarçado de sorteio.

Gritos e lamentos de “Não!”, “Impossível!”, “Estamos manchados, somos impuros” irromperam de todos os lados.

Mas não podiam matar o escolhido diante deles.

Se ele morresse naquela vila, se tornaria o novo deus.

Esse era o procedimento.

No fim, eles simplesmente tinham que deixá-lo ir.

“Aaagh!”

A banda tradicional vacilou, pessoas caíram por todo lado.

O festival da vila terminou em caos e ruína.

E Kim Soleum, o escolhido que provocou esse desfecho, que sempre teve sucesso com sua especialidade em guerra informacional e psicológica……

‘Como esperado.’

…Apenas observou com olhos pesados.

Desprovido de alegria.