
Capítulo 97
Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar
“Vamos nos separar! Assim, se ao menos um de nós conseguir escapar—”
“Srta. Goral!”
“Sim?”
“Você está segura.”
“……?!”
“Você não pagou a taxa recentemente? Ainda deve haver tempo restante até o próximo ciclo.”
“Ah!!”
Como Go Yeongeun tinha acabado de perder a orelha, provavelmente ainda tinha ‘tempo restante’ no ciclo de uso!
Uma faísca de esperança brilhou nos olhos de Go Yeongeun.
“Então eu vou tentar distrair—”
Ruuuuuuum—
“……”
“……”
Ela entrou.
Na máquina recepcionista.
Drrrrrrk.
À luz da vela de bronze, pude ver a máquina claramente pela primeira vez.
Era friamente afiada e incrivelmente complexa.
Seu formato lembrava uma aranha, com partes metálicas como se o aço tivesse sido enxertado na carne. A cabeça e o tórax estavam estranhamente conectados, com um abdômen e uma parte inferior logo abaixo.
Apesar disso, sua forma vagamente humanóide e bípede despertava um medo estranho, como se brincasse com os limites da inteligência e da forma.
Suas pernas irregulares, afiadas como agulhas, se moviam erraticamente, com articulações dobrando em ângulos bizarros.
De sua cabeça, oito lampiões a gás projetavam uma luz amarelada, atravessando as sombras pálidas.
“……”
Go Yeongeun, que estava avançando, congelou no lugar.
Parecia que o trauma por ter perdido a orelha retornara à sua mente.
Compreensível.
Ruuuuuuum—
A máquina passou bem ao lado dela.
‘Eu sabia.’
Isso significava que a máquina estava perseguindo...
Eu e Baek Saheon.
Ruuuuum.
Refleti por um breve momento.
Se a atenção da máquina mudasse para Baek Saheon, eu poderia rapidamente apagar minha presença e escapar.
Seria difícil enquanto ela se concentrasse só em mim, mas com dois alvos, talvez a habilidade de Braun ainda funcionasse.
– Hum, será que uso agora?
Decidi.
“Não.”
Em vez disso, empurrei Baek Saheon para o lado.
“……!”
“Corre.”
Baek Saheon já estava com apenas um olho restante.
Ele sabia que isso poderia significar que a máquina poderia tirar mais que apenas seu olho da vez.
‘Quem sabe a que medidas desesperadas ele recorrerá?’
Mesmo que tomasse sua orelha no lugar, a recusa de alguém que já havia perdido um olho provavelmente seria ainda mais extrema.
Eu não podia prever até onde ele iria.
Era melhor deixá-lo correr.
“Eu disse para correr.”
Baek Saheon hesitou por um momento.
Mas, ao ver a máquina se aproximar de mim, ele recuou cautelosamente antes de disparar em direção à porta e desaparecer por ela.
Ao mesmo tempo, Go Yeongeun, entendendo meu olhar, fechou os olhos com força e correu para a porta também.
“……”
Agora então.
– Tem alguma pergunta para a recepcionista, Sr. Roe Deer?
Levantei a cabeça.
A máquina estava diante de mim, sua luz amarelada dos lampiões a gás iluminando a forma grotesca que parecia um híbrido entre uma aranha e uma mulher, como se alguém tivesse tentado juntar os dois em um mosaico.
Era horripilante e me arrepiava.
A máquina recepcionista, com suas oito pernas e braços em forma de agulha, começou a mexer uma das extremidades em minha direção.
Me curvei educadamente.
“Boa tarde. Acabei de chegar aqui.”
Sabia que ela não responderia.
De fato, a máquina emitiu um ruído ininteligível e dobrou um de seus enormes braços-agulha.
– Diz que já se passaram 1 hora e 54 minutos desde sua entrada e uma cobrança adicional foi calculada.
Respirei fundo.
“Só um momento. Antes de pagar a taxa, posso fazer uma pergunta?”
– Claro, diz ela!
“Vocês aceitam reservas para quartos de hóspedes na recepção? …Se concordar com a pergunta, por favor, balance a cabeça uma vez. Se discordar, mova-a de um lado para o outro.”
……
Um aceno.
“Obrigado pela orientação. Então…”
Prendi um suspiro e perguntei o que vinha preparando.
A pergunta crucial para escapar.
‘Essas máquinas só lembram informações sobre suas zonas designadas, então não saberiam onde é a saída.’
Mesmo que perguntasse onde ficava a recepção, provavelmente ela não saberia responder.
Mas, se reformulasse a pergunta para algo específico da zona dela, poderia responder.
Assim.
“Depois que os visitantes terminam a visita e voltam para casa, os hóspedes neste primeiro subsolo descem para um andar inferior?”
……
“Ou eles vão para um andar superior?”
Um aceno.
“Eles são levados para um andar superior, entendo. Obrigado.”
Era isso.
Perguntando aos recepcionistas certos sobre seus próprios andares, eu poderia, aos poucos, descobrir onde ficava a saída…
…supondo que eu não perdesse os olhos, a boca ou os membros pelo caminho.
‘Se for acima do primeiro subsolo… significa que está nos andares térreos.’
Só saber disso já era um grande avanço. Os andares térreos tinham sete níveis, então a saída devia estar entre eles.
‘Esse é um bom rumo.’
Mas a sensação de alívio durou pouco, como uma vela se apagando.
Era hora do momento inevitável.
Ruuuuuuum.
— Diz que agora vai cobrar a taxa.
Cobrança.
“……”
Se eu pensar racionalmente, não é um problema tão grande.
‘Eles vão conectar um item alugado nas órbitas vazias dos meus olhos, então ainda vou enxergar até escaparmos dessa Escuridão.’
Além disso, conheço bem esse mundo. Já estou familiarizado com vários métodos para restaurar membros perdidos e tenho confiança para usá-los mais facilmente que outros...
Exatamente por isso estou aqui.
‘É uma situação que calculei e aceitei.’
O problema é… esse nojo esmagador!
Quem conseguiria aceitar isso com tanta calma e indiferença?
Ter os dois olhos arrancados crus por um monstro!
Principalmente numa sala cercada pelos olhos expostos de outros que foram levados!
O suor frio escorria pelo meu queixo.
‘Mesmo assim, tenho que encarar isso.’
Cerrei os dentes.
“Não seria totalmente desastroso ter meus olhos removidos.”
‘Se eu não aguentar nessas condições, é melhor desistir de tentar sobreviver aqui de vez.’
Honestamente, nunca haveria momento melhor que esse para testar se eu, com meu coração covarde, conseguiria aguentar os horrores dessa história de fantasmas.
Aprender a suportar perdas recuperáveis ajudaria a construir minha resistência.
Mas minhas mãos cerradas tremiam.
‘Droga...’
Ziiing.
Uma enorme agulha, afiada e metálica, como a perna de uma aranha, moveu-se em direção ao meu rosto.
Prendi a respiração.
Whoosh—
A agulha se ergueu, pronta para perfurar o meu olho…
Ziiiiiiiing.
“……”
Desviei o olhar para o lado.
Na escuridão, uma forma gigantesca, parecida com uma aranha, se aproximava lá de longe…
Ziiiiiing, ruuuum.
Outra máquina recepcionista.
“……”
O que é isso?
‘As máquinas não deveriam ter trajetos programados?’
Não seria impossível que seus caminhos se cruzassem?
De fato, a máquina que estava prestes a arrancar meu olho pareceu travar por um momento. Depois, como se recalibrasse seu trajeto, afastou-se de mim.
Era como se ajustasse sua rota sozinha.
Ruuuum…
“……”
Nem consegui soltar um suspiro de alívio.
A nova máquina só extrairia meus olhos em meu lugar.
Segurei a respiração e encarei a recém-chegada.
Ela ergueu seus apêndices de aranha bem alto, parando bem à minha frente.
Então, de repente…
“Huu.”
……?!
“Está tudo bem, Roe?”
A forma aranha desfez-se aos poucos, revelando um humano usando uma máscara de texugo.
“...Supervisor!”
Era o Supervisor Park Minseong, rosto molhado de suor frio, sorrindo levemente.
“Ufa... Quase lá!”