Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

Capítulo 71

Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

Evitei olhar diretamente para a tela do circuito interno e dei um aceno educado para o sargento.

— Obrigado por me permitir ver isso. Então, senhor, eu vou—

— …O banheiro.

— ……?

— A pessoa que você procura entrou num banheiro masculino antigo e desativado lá embaixo…

— ……

— E não saiu. Não em toda essa semana.

Fiz o possível para não espiar a tela do circuito interno.

Parece que o sargento de segurança já tinha conferido as imagens do banheiro abandonado no subsolo 2 por conta própria.

— Esse banheiro, quer dar uma olhada…?

— Não tenho permissão para entrar nos níveis do subsolo, senhor.

— Eu vou entrar…

Claro. Porque esse é o seu trabalho, senhor.

Seria ótimo se o senhor simplesmente fosse lá e o encontrasse sozinho…

— Vamos, vamos. Digamos que você é um novo integrante da equipe de segurança.

Senhor?!

— Não, sério, não precisa—

— Vamos…

Nãooo!!

* * *

Como é que as coisas chegaram a esse ponto, será?

‘Ele até conseguiu uma roupa pra mim.’

Agora eu estava no elevador de serviço, vestindo a jaqueta azul-marinho da equipe de segurança usada pelos guardas comuns.

O absurdo da situação estava me deixando tonto.

‘Deixei me convencer…’

– Tudo bem. Às vezes o pessoal da Equipe de Exploração de Campo ajuda no trabalho de apoio também…

Isso é punição, né?

Enfim, de algum jeito verifiquei que entrar no subsolo não causaria grandes problemas, mesmo se isso vazasse.

E eu até entrei em contato com o esquadrão D para oficializar isso como trabalho de apoio, então não devia me ferrar…

Acho que todo aquele convívio educado valeu a pena.

‘Ainda assim, isso é tão desconcertante.’

Tudo isso só pra colocar minhas mãos num Banheira de Sangue.

Depois de tanto esforço, mesmo que eu não consiga os cinquenta milhões inteiros, o Braun devia reconhecer meu empenho.

Ding.

A porta do elevador se abriu.

Subsolo 2.

Parece um simples sinal do elevador, mas por algum motivo soou ameaçador. E quando as portas se abriram, o que apareceu foi…

Um corredor alinhado com portas normais de escritório.

“……”

Por que… tinham escritórios aqui embaixo?

‘Não deveria haver equipamentos de segurança ou instalações…?’

O corredor estava pouco iluminado, assustadoramente silencioso, com portas de vidro fosco por toda parte.

Escritórios marcados com A, B, C... plaquinhas com nomes em cada porta.

O sargento de segurança sussurrou,

— Não abra nenhuma porta…

— Sim.

Mesmo que ele não tivesse dito, não mexeria em nada aqui nem a pau.

Só mantive os olhos nas costas do sargento, seguindo-o devagar.

E então—

– Senhor Roe Deer?

“……!”

– Nem acredito que você usou uma roupa tão gasta só pra trazer um presente pro Braun! Fico emocionado, mas também dói. Será que meu amigo tem que fazer um trabalho tão insignificante?

Palavras tocantes, de verdade.

Mas espera um minuto.

‘…Como é que você está falando comigo?’

O ‘Bom Amigo’ só podia falar e se mover dentro dos limites de uma creepypasta… o que significava uma coisa só.

Eu já estava dentro de uma creepypasta.

— Ah, chegamos.

O sargento parou em frente a uma porta por onde saía uma luz tênue, pálida.

— Vou abrir…

— Espera—

Mas antes que eu pudesse dizer algo, ele abriu a porta do banheiro.

Ka-chak—

Com um estalo, a luz trêmula revelou a sala além…

“……”

‘Isso é loucura—’

O banheiro estava manchado de vermelho-escuro.

Parecia uma artéria cortada, jorrando um carmesim profundo por todo o espelho como sangue.

Fiquei completamente paralisado, incapaz até de gritar.

Então, o cheiro me atingiu, e minha mente voltou à consciência.

‘Mal tem cheiro metálico.’

Não é todo sangue.

E também não cheira como tinta comum. Isso é…

‘…tinta tradicional de bastão de tinta?’

Tap, tap.

Braun estava batendo no meu bolso.

‘Aviso.’

Minhas percepções se aguçaram.

O sargento de segurança, analisando o banheiro, estendeu a mão.

— Não toque—

Poke.

— Hã…?

Ah não.

No momento em que o dedo dele tocou a tinta, o líquido vermelho escuro começou a se agitar como uma onda dentro do banheiro.

“……!!”

Tentei virar e correr imediatamente, mas o líquido espesso e escuro jorrou como inúmeras mãos, agarrando minhas pernas e me puxando para baixo.

AAAARRRGHHH!!

‘Merda, merda, merda…!’

Consegui evitar cair, aterrissando desajeitadamente enquanto a tinta espirrava até meu queixo. A náusea subiu pela minha garganta.

Virei a cabeça, tentando desesperadamente entender a situação, e avistei a fonte.

— O pergaminho!

Um pergaminho vertical estava preso no espelho do banheiro, seu centro cortado ao meio, com tinta sangue sendo sugada para dentro do buraco central.

Ou seja, meus pés estavam sendo puxados para lá também.

Como se algo vivo estivesse me arrastando… Espere, vivo?

E parecido com sangue?

‘Os Talheres Sugadores de Sangue…!’

Puxei um garfo e finquei no chão.

O garfo prateado brilhou, tremeu, e então começou a absorver vorazmente a tinta ao redor.

— Ah!

Está funcionando!

Mas um garfo pequeno de sobremesa não seguraria tanta tinta assim.

Ting—

O talher foi arremessado para longe.

‘Merda!’

E assim, fui puxado para dentro do pergaminho.

* * *

Gasp!

Levantei a cabeça.

Entre a escuridão e a visão turva, vi um papel de parede com um padrão velho e rachado.

Um lugar desconhecido.

‘…Uma casa abandonada?’

Meu fôlego ficou preso na garganta, esperando meus olhos se adaptarem à penumbra.

E… e…

Percebi algo.

O que eu estava olhando não era papel de parede.

Eram talismãs.

As paredes, todas de madeira podre, estavam cobertas por talismãs velhos e esfarelados.

“……!”

O ar era pesado, prensando meus ombros, com uma tensão assustadora preenchendo o quarto escuro e frio.

…Algo está errado.

Eu me sentia como um rato que tinha se metido no lugar errado, do jeito errado.

“……”

Fechei a mão trêmula.

Mas não havia nada ali.

‘…Sumiu.’

Os Talheres Sugadores de Sangue tinham desaparecido.

Suor frio brotou enquanto eu respirava lenta e profundamente para não entrar em hiperventilação…

— Com licença…!

Quase desmaiei.

— Ali, ali! Vocês são… a polícia??

Levantei a cabeça.

Eu não estava sozinho naquela casa escura e abandonada.

Pequeninos aglomerados no canto me olhavam.

Eram… crianças.

‘Uniformes de colégio.’

Os estudantes trêmulos chamaram,

— Por favor, nos ajudem! N-Nós tocamos naquele desenho estranho e agora não conseguimos sair!