Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

Capítulo 62

Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

– Mas, de qualquer jeito que você olhar, parece que eles foram atingidos por uma lata!

É isso que eu estou dizendo.

Eu assenti, como se tivesse acabado de perceber algo.

– “Ah… essa lata é de alumínio.”

– “E daí?”

– “Normalmente, latas são feitas de aço.”

Uma carranca.

– “Por que enlatados seriam feitos de alumínio, igual lata de bebida...? Hm, será que…”

– Intrigante…

Fiz uma pausa intencional para causar um efeito dramático.

– “Uma falha no roteiro?”

Arrulho.

Naquele momento, as latas ao meu redor começaram a tremer levemente.

Mas ignorei e continuei murmurando para mim mesmo.

– “Isso é perfeitamente possível. Afinal, estamos mais acostumados a ver latinhas de bebida do que enlatados, então não seria tão estranho se alguém tivesse usado o material errado e rotulado como alumínio...”

– Hooo…

Mas então.

Eu parei de falar e soltei uma risadinha zombeteira.

– “Mas, eiii. Nem pensar.”

– “...Soleum-ssi?”

– “Qualquer um pode checar numa busca rápida — ninguém cometeria um erro tão básico assim. As artimanhas são a parte mais crucial de qualquer obra de mistério. Não devem ser feitas de qualquer jeito.”

– Hahaha!

– “Quando você pensa bem, um assassinato acontecendo numa fábrica de enlatados com a própria lata como arma é previsível demais, não acha?”

Eu realmente acreditava nisso.

– “Falta frescor e surpresa... Um escritor minimamente competente não tentaria passar isso como reviravolta principal.”

– Concordo totalmente!

O ambiente começou a tremer com mais violência.

– “Sinceramente, que coisa mal feita...”

Terminei em tom entediado.

– “Nem um novato escreveria um desastre desses hoje em dia.”

Boom!

Depois de uma breve pausa—

Pop! Pop! Pop! Pop!

As latas explodiram ao nosso redor.

– “O que está acontecendo?!”

O espaço parecia chorar enquanto derretia, escorrendo como lágrimas de todas as latas rompidas.

E então, tudo desapareceu.

Pouco antes dos últimos vestígios sumirem, ouviu-se alguém soluçando, um choro de agonia...

No instante seguinte—

Estávamos de volta ao familiar e luxuoso lounge no 15º andar da empresa.

Cobertos de pedaços de carne enlatada explodida.

“……”

“……”

– “Nós… conseguimos sair.”

Pela primeira vez, a líder do esquadrão A vacilou, visivelmente abalada.

– “A Escuridão nos deixou sair… mas por quê?”

Enxugando pedaços de carne enlatada estourada do meu rosto, respondi baixinho.

– “Deu um colapso mental.”

* * *

Depois de escapar do creepypasta com meu próprio cadáver, limpei todos os restos de carne enlatada no chuveiro do escritório. Depois, nos reunimos novamente no lounge.

– “Uau... Os boatos eram verdadeiros. Você é realmente conhecido por passar rápido sem manual.”

– “Não é nada demais.”

– “Não é hora de ser modesto, Soleum-ssi.”

A líder do esquadrão A, depois de conferir que o Coletor de Essência do Sonho estava enchendo com o líquido amarelo esperado, olhou para mim com admiração nos olhos.

– “Como chegou a esse resultado?”

Sim, eu sabia que ela perguntaria isso.

Juntei as mãos nas costas e assumi uma postura formal, pronto para apresentar como se estivesse numa aula. Era minha estratégia defensiva, para evitar questionamentos sobre qualquer sinal de medo ou incompetência, caso os traços de assédio da chefe voltassem a aparecer.

– “Segui um processo dedutivo padrão.”

– “Hmm.”

– “Primeiro... como fui repetidamente instruído a examinar o cadáver e observar o ambiente, deduzi que o corpo era provavelmente central para a nossa fuga.”

Claro, provavelmente só queriam complicar, mas a forma como você apresenta os fatos é tudo.

– “E já que você mencionou que era uma ‘história’, imaginei que fosse uma narrativa onde alguém termina morto… ou seja, um mistério de assassinato, seja filme ou romance. Então, achei que evitar minha própria morte seria o modo padrão para passar.”

Dei de ombros.

– “Mas isso levaria muito tempo.”

– “......?!”

– “Como me chamaram para isso, quis terminar, de preferência até esta manhã.”

A líder do esquadrão A me olhou com uma cara que dizia: ‘Que diabos você está falando, novato?’

Mas, sinceramente, um pouco de excentricidade é melhor do que medo, né, chefe?

– “Então, busquei um atalho.”

– “E como fez isso?”

– “Havia pistas.”

Olhei para os dois.

– “Na forma como vocês agiam.”

– “……!”

– “Vocês devem ter lido o manual, não foi? Notei que seus comportamentos me davam pistas.”

Tipo o jeito que me pressionavam para observar o corpo.

‘Se essas pistas eram intencionais, devem haver outras ainda mais sutis que vocês nem perceberam.’

Recordei a pista mais importante.

– “Certo. Soleum-ssi, por que você não começa?”

– “Soleum-ssi?”

– “Quando entramos na Escuridão, você me chamou pelo meu nome verdadeiro.”

– “……!”

Normalmente, em creepypastas, é altamente recomendado não usar nomes verdadeiros, só apelidos derivados das máscaras.

Existe o risco dos nomes verdadeiros serem usados de forma prejudicial.

Mesmo assim, a líder do esquadrão A me chamou de "Soleum", em vez de "Veado".

Se alguém tão experiente e de elite quanto ela fez isso, só podia haver uma razão.

Ela já sabia que era seguro.

– “Isso significava que não havia nenhuma entidade consciente nessa Escuridão que pudesse me prejudicar ao ouvir meu nome verdadeiro.”

Também implicava que, além da morte que já ocorreu, não havia nenhuma interferência sobrenatural.

Acrescentei essa explicação antes de continuar.

– “Então, percebendo que tinha mais liberdade... pensei ‘por que não ser um pouco mais agressivo?’ Decidi atacar a própria história e desequilibrá-la.”

– “……??”

– “Você... pensou nisso?”

– “Sim. Uma história perde todo sentido se sua base desmorona.”

Assenti.

– “Então minamos sua plausibilidade, fazendo a história ruir e nos libertar. Simples assim.”

– “……”

– “……”

As expressões deles ficaram vazias, como processando o que eu tinha acabado de dizer.

– “Você conseguiu deduzir tudo isso não só pelo ambiente, mas também pela nossa conversa e comportamento...?”

– “Sim, senhora.”

Na verdade, nem tanto.

A verdade é que me baseei nos registros da exploração.

– O cenário entrou em colapso repentino, transportando-os para outra história (continuação no Registro de Exploração #22). Testemunhas indicam que sons de choro e gemidos foram ouvidos.

Ao que parece, só de zombar da história falha já desestabilizou sua mente o bastante para que ela se reestruturasse como outra história.

Achei que bastava ir desmontando sua lógica e pisando na autoestima do criador para tudo desmoronar, história nova e tal.

– “E funcionou.”

Eba.

Nesse momento, a líder do esquadrão A olhou para mim e falou lentamente.

– “Você explica tudo isso... com muita naturalidade, Soleum-ssi.”

Opa.

– “Bem, não é exatamente o método padrão. Pode chamar de atalho, se quiser.”

Será que pisei no calo dela?

Rapidamente abaixei a cabeça, pedindo desculpas em gesto para parecer sincero. Tomara que fosse o bastante.

– “Claro, estou preparado para aceitar qualquer repreensão.”

Sim, por favor, que seja só uma bronca.

Esperei quieto, pronto para a próxima onda de assédio moral.

Mas, em vez disso...

Clap, clap, clap...

Palmas?

Olhei para cima e vi a líder do esquadrão A, com a máscara de pato azul-turquesa removida, me encarando com surpresa e satisfação.

– “Você segue regras e ordens. Mas não foge de meios não convencionais.”

Como assim?

– “Muito bom. É exatamente o tipo de pessoa que procuramos.”

Eu?

– “Soleum-ssi. Você passou.”

– “O quê—”

– “Tem uma vaga no esquadrão A. Você sabe disso, certo?”

Naquele momento, eu entendi.

– “Ah.”

Isso não era assédio.

Era um teste.

– “Que tal assumir esse posto oficialmente?”

– “……!!”

Meu Deus.

Esse foi um teste de recrutamento para o esquadrão A!