Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

Capítulo 57

Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

* * *

Então ele não fazia parte do Clube dos Covardes.

…E ainda tinha um grupo de chat dos novatos do qual eu nem fazia parte?!

"Hah."

Voltei para o dormitório da empresa com a cabeça cheia, tomei banho e saí de novo.

Duas verdades chocantes ficaram martelando na minha mente.

'Que dia cansativo...'

Recebi o link do grupo dos novatos daquela traidora… quer dizer, Jang Heo-eun-ssi, preciso dar uma olhada nisso mais tarde.

Mas tinha algo mais urgente para investigar primeiro.

"Melhor checar a tatuagem no meu pulso."

Várias possibilidades passaram pela minha cabeça, mas por sorte, tinha alguém que eu podia perguntar numa boa.

'Boa Amiga.'

Me sentei na cama e puxei o chaveiro de pelúcia do bolso da frente do meu terno.

Chamei:

"Braun?"

Mas não houve resposta.

'Do jeito que eu pensei.'

Diziam que, de volta à realidade, a boneca apareceria como uma pelúcia comum.

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A Boa Amiga vai te acompanhar no dia a dia, mas será como uma boneca tímida.

Trate-a bem.

Ela lembra de tudo.

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Então, ela não estava só ficando quieta e se misturando na empresa—na verdade, não podia falar nesse estado.

Mas ainda tinha um jeito de conversar com a 'Boa Amiga' além das histórias de fantasmas.

'…Só preciso transformar a realidade numa história de fantasma.'

Lembrei de um método do <Registros da Exploração Sombria>.

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Conversando com a 'Boa Amiga'

#1 Use escuridão, um isqueiro e sombras.

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Para ser sincero, dava um frio na espinha, mas vamos lá.

Me agachei embaixo da cama.

Então, encostei a 'Boa Amiga' na parte interna da perna direita da cama.

'Agora, a luz.'

Já tinha largado o cigarro faz tempo, então não tinha isqueiro, mas usei a lanterna do celular no lugar.

Coloquei no chão para lançar um feixe estreito na perna da cama e apaguei a luz do quarto.

Cliq.

Me sentei na cama no escuro total.

'…Isso dá arrepios.'

Um calafrio percorreu minha espinha, então puxei o cobertor por cima de mim.

Não preciso ficar envergonhado—estou sozinho, afinal.

'…Embora talvez eu não esteja sozinho por muito tempo.'

Olhei para cima e a lanterna embaixo da cama projetava uma sombra enorme da boneca no muro.

"……"

Logo, a sombra da pelúcia encostada na perna da cama começou a balançar junto com a luz.

Como se estivesse despertando.

Se eu prestasse bastante atenção, prendendo a respiração, logo viria uma voz.

Uma voz que soava quase como uma ilusão.

– Amiga.

"…Braun."

A anfitriã havia despertado.

– Ah, vejo que você conseguiu sair são e salvo daquele parque temático estranho! Parabéns.

"Obrigado."

Braun parecia estar lembrando, quase como se reproduzisse uma fita, a ideia geral do que aconteceu comigo desde que saí da história de fantasma.

'Então é isso que significa lembrar de tudo.'

– Certo, você já bateu o ponto, amiga. Está em casa para descansar agora? Ah, que lugar aconchegante!

"Obrigado, senhor."

Embora, tecnicamente, isso não fosse minha casa, e sim um dormitório da empresa.

– Hmm, agora que penso bem, Sr. Cervo Roe, você está me tratando com muita formalidade! Amigos não precisam falar assim, sabe.

"…Braun, você também está falando de modo muito formal."

– Haha, não tem jeito. É um risco de profissão!

Engoli as palavras: 'Eu também sou novato nessa empresa doida de histórias de fantasmas e tenho risco de profissão'.

Quanto mais amigável essa boneca fosse, mais segura e poderosa ela se tornaria.

"…Tá certo. Então vou falar mais na boa a partir de agora. Já que somos amigos."

– Ah, que ótimo! [1]

A sombra da boneca se mexeu como se assentisse animadamente.

Bom… agora, para o ponto principal.

"Na verdade, eu tenho algo para perguntar para minha amiga."

– Oh! Que tal fazermos perguntas um para o outro? Mas precisamos responder todas.

– Vai ser como um jogo. Ah, que divertido…

Para de fazer parecer história de fantasma!

"Claro. Parece divertido."

Mas me forcei a responder concordando.

Estou até trabalhando horas extras... Preciso aguentar firme.

"O que eu queria perguntar é o seguinte."

Levantei a mão esquerda e a coloquei embaixo da cama, para que as letras pretas, como uma tatuagem no meu pulso, ficassem bem visíveis para a pelúcia à minha frente.

"Quando a pulseira de membro queimou, essa marca ficou."

Um instante de silêncio.

E então…

– Isso… é latim. Hmm.

Um misto estranho de fascínio e concentração soava em sua voz, que baixou o tom.

– Socius.

– Significa companheiro, membro ou parente. A versatilidade do latim!

"Sei disso."

Tirei isso no aplicativo de dicionário no caminho de volta.

O fato da pulseira de 'membro' ter queimado e deixar a palavra que significa 'membro' parecia bem ligado, mas o que importava mais era isso.

"Mas outras pessoas parecem não conseguir ver isso. O que você acha que pode ser?"

– Ah, coitados, todos eles parecem míopes! Eu vejo bem.

Então, criaturas dentro das histórias de fantasma podem ver?

"Que bom que você consegue ver."

Reformulei a pergunta.

"Então, que função você acha que essa marca tem?"

– É uma marca que te concede certas qualificações.

Braun respondeu sem hesitar, com um tom alegre.

– Sabe como VIPs às vezes participam de programas como convidados especiais? Muitas vezes dão marcas distintas para eles se destacarem do público, tipo crachá ou sinalização!

– Essa 'marca de destaque' dá privilégios como lugar especial, assistir aos ensaios ou acesso aos bastidores!

Instintivamente levantei o braço para olhar a marca.

"…Então, isso é como uma 'qualificação especial'?"

– Bem, pelo menos para as mascotes do parque temático, sim.

A voz de Braun ficou dispensativa.

– Aquelas mascotes muito emotivas parecem ser gente boa demais com você, Sr. Cervo Roe. Da próxima vez que visitar, vai ganhar até drink de boas-vindas!”

Eu preferia nunca mais voltar.

Mas concordei para parecer cooperativo.

– Bom, bom!

'Socializar é tão cansativo…'

De qualquer forma, embora a 'qualificação' que dá seja vaga, não parece ser algo inteiramente ruim.

'Se eu entrar em outra história de fantasia, vou ver se ela é útil.'

A sombra da pelúcia balançou umas vezes, como se animada, e sussurrou baixinho.

– Sabia?

Sabia o quê?

– Sr. Cervo Roe, você acabou de fazer duas perguntas.

– Isso é contra as regras.

Um calafrio percorreu minha espinha.

– Haha, relaxa. Às vezes o charme de estar perto de alguém é quebrar um pouco as regras, não é?"

Uf.

"…Obrigado."

– Sem precisar agradecer!

– Agora é minha vez de fazer uma pergunta.

Engoli seco olhando para a grande sombra da boneca no muro.

"O que você quer saber?"

Braun sussurrou.

– Quem mora no quarto ao lado do seu?

Era uma pergunta inesperada.

E, claro, no quarto ao lado aqui do dormitório...

"…Um colega."

Baek Saheon.

– Vocês são próximos?

Nem um pouco.

"Apenas colegas de trabalho."

– Ah, entendi. Muito bem…

A voz de Braun ficou animada de novo.

– Amiga, é melhor você não prestar atenção naquele 'colega de trabalho' que mora ao lado!

"Por quê?"

– Porque ele vai cair duro em breve!

Nota:

[1] Braun ainda fala com Seolum usando o nível formal -습니다, enquanto Seolum abandonou as formalidades e fala com Braun sem honoríficos. É difícil passar isso para o inglês, já que não existem níveis de fala aqui, então apenas fique com essa referência até que isso (talvez) mude no futuro. ↩