Volume 4 - Capítulo 5
No Game No Life
—O espaço explodiu. Um choque reverberou de tal forma que Amila, assistindo ao jogo do lado de fora, só conseguiu reagir assim:
“…Hã?”
—Saudando o grupo enquanto o mundo dos sonhos se rompia e eles despertavam estavam Plum e Amila, seus olhos arregalados. O ritual que Plum tecera com dezenas de assistentes, mesmo abastecido com sangue, havia sido pulverizado com um simples gesto da vontade de Jibril—mas isso não era o que os deixava estupefatos. Era uma consequência da declaração de Sora ao se levantar.
“—Yo, confere. Parece que vencemos.”
“…Ah, err… Amila não entende muito bem o que está acontecendo! Hã?”
Sora e Shiro responderam, casual e brevemente, ao sorriso tenso de Amila, para esclarecer também os demais ouvintes.
“…Nós ‘salvamos e saímos’… você… não disse que não podíamos…”
“Ninguém disse que não podíamos sair do jogo antes de sermos todos rejeitados. Então, podemos sair do jogo sem problemas, né…? Precisa lembrar de redigir a linguagem do pacto com cuidado, sabe?”
Desinteressado, enquanto explicava ao grupo enquanto se levantava, Sora continuou.
“Certo, Jibril, vá em frente. Traga o ar de volta.”
“—Como desejar.”
Imediatamente, Jibril traçou um caminho mágico com o dedo, sem esforço.
—E, de repente, uma ventania invadiu a câmara da rainha. Em questão de momentos, a água foi repelida, e a câmara da rainha—encheu-se de ar.
“…Hã…?”
Jibril sorriu para Plum e Amila, que estavam atordoadas. “Perdoem-me… Eu simplesmente restaurei o ar que trouxe comigo, comprimido como uma bolha.”
Na ampla sala, a água espirrava enquanto era empurrada e o ar tomava seu lugar.
“ Kh-hhh…hh—…hff…huh, huh-huh…”
—Até então mantida em completo silêncio, exceto no sonho, a Donzela Santuária, que até agora mantivera uma máscara de compostura, deixou sua expressão se contorcer. Sacudindo os ombros ao finalmente conseguir respirar, ela riu.
Seu corpo instantaneamente ficou vermelho, soltando vapor de sangue evaporado.
—Ela então revelou o segredo de forma casual.
“Suportar vinte atmosferas de pressão d’água por tanto tempo pela força bruta… Mesmo com meu sangue em ebulição, é demais.”
A Donzela Santuária, aparentemente prestes a desabar sob o recuo da pressão irracional que acabava de ser aliviada, conseguiu, de alguma forma, parar em uma posição sentada, cruzando as pernas, e zombou com o queixo apoiado na mão.
“Hã?”
Plum, Amila—e Steph pareciam confusas. Mas, sem sinal de engajamento com elas, Sora continuou, toda a emoção desaparecendo de sua expressão como se fosse apenas uma máscara.
“—Mas pensar que, com tanta pressão d’água, seu sangue não sairia do corpo—isso permitiu que você usasse seu sangue em ebulição sem deixar rastros para que esses caras percebessem que você estava lendo as mentes deles à vontade o tempo todo—bom trabalho, Donzela Santuária. Então, o que descobriu?”
Ao ver seu rosto—
“…Você certamente sabe como se impor, não é…? Muito bem, por que não.”
—A Donzela Santuária sorriu, como se de coração estivesse feliz por ele estar do seu lado.
“Aquela Sirena ali—não tem intenção nenhuma de acordar a rainha.”
—Com essa acusação, a expressão de Amila vacilou claramente, e com as palavras que se seguiram, ditas com um tom de e não apenas isso… ela agora congelou por completo.
“O que eles inventaram como isca para você—o ‘ante’ que a rainha ofereceu—era pura balela também—ai, ai.”
Reconfortada pelas reações de Amila e Plum, a Donzela Santuária sorriu como se estivesse constrangida e continuou falando com Sora, com olhos gentis.
“E aquele papo de você ser o tipo dela ou bonito ou algo do tipo, igualmente balela.”
“Bem, é, eu já suspeitava disso—. …Ah, droga.”
A Donzela Santuária sorriu alegremente com o desconforto de Sora. E—como se zombasse de Amila e Plum—“…Vocês achavam que meus sentidos ficariam embotados debaixo do mar?”
Ela agiu quase envergonhada, mas com o rosto contorcido no mais desprezível dos sorrisos.
“—Deixe-me dizer, não é um orgulho vazio ou uma bravata quando se diz que sou a mais forte entre os Warbeasts.”
Esforçando-se para não demonstrar que havia sido atingido, Sora desviou o olhar.
“Sim, Mestre. Também posso dizer isso sem dúvida.” Levantando o olhar dele, Jibril abaixou-se reverentemente diante de seu rei e declarou:
“O ritual tecido por Plum foi ativado corretamente, com precisão, para conquistar o amor da rainha como deveria.”
Desta vez, foi a vez de Plum congelar.
“—Sem dúvida, operou perfeitamente, e a rainha recebeu seus efeitos corretamente.”
Sora considerou em silêncio a possibilidade de aquilo ter sido forjado, mas Jibril respondeu com um sorriso. “Não tema. Esta é exatamente a razão pela qual testamos primeiro na Donzela Santuária, não é?”
Sorrindo de volta, Sora finalmente disse—e virou-se para Shiro. Mas não havia mais nada que precisasse ser dito.
“…Mm… Eu anotei tudo…”
—Com essas poucas palavras, Shiro respondeu a todas as expectativas de seu irmão. Como se satisfeito com todas as respostas, Sora assentiu uma vez. Ele usava seu habitual sorriso despreocupado, mas sob aquele sorriso estava a sombra projetada por sua franja e o brilho intenso demais de seus olhos. A combinação era uma réplica convincente de um olhar feroz enquanto ele falava.
“—Ei, vocês aí. Vocês realmente achavam que poderiam nos devorar no almoço?”
Os olhos de Plum e Amila tremularam ligeiramente com essa acusação. Se achavam que, de todas as pessoas, Sora não seria capaz de ler um sinal tão óbvio quanto esse—isso seria apenas—
“Ah, ah, ah, o-o que vocês estão falando?”
“……?”
Steph e Izuna pareciam não entender o que estava acontecendo. Olhavam de um lado para o outro, confusas. Mas, como se não tivesse intenção de explicar mais nada, Sora juntou as mãos e se virou.
“Certo, vamos lá, Jibril. De volta à praia.”
“Como desejar.”
Enquanto Jibril abria suas asas e fazia seu halo girar, todos se apressaram para tocá-la.
“Ah, com licençaaa! P-por favooor, esperem!”
Quando Plum também correu para o lado deles—
“Boa escolha, Dhampir. Já cansou de brincar de vítima lamentável?”
—O sorriso fino de Sora enquanto esperava por ela fez um arrepio gelado percorrer sua espinha. Amila falou.
“O queee? E quanto ao Sr. Inooo; nós ainda ‘temos’ ele, sabeee? Será que já deviam mesmo ir emboraaa?”
Os olhares se voltaram para o lugar aos pés de Amila onde Ino estava estirado. O olhar de Izuna oscilava nervosamente entre Ino e o grupo de Sora.
“Claro que podemos,” respondeu Sora tranquilamente. “Porque, sabe… você sabe o que acontece se tocar nele—não sabe?”
Olhando para os olhos arregalados de Amila, Sora sorriu zombeteiramente.
“Acha que pode bancar a desentendida na minha frente—? Nunca subestime aquilo que você deveria temer, novata.”
Então, virando as costas para ela:
“—Voltaremos, Sirena. Subestimar a gente vai te custar caro.”
Então, por meio da teletransportação de Jibril, todos, exceto Amila e Ino, desapareceram.
******
O grupo se viu novamente na costa. O sol já havia se posto há muito tempo, e a lua vermelha, juntamente com inúmeras estrelas e uma fogueira, era tudo o que iluminava a praia. As ondas e as faíscas da fogueira eram os únicos sons enquanto Sora e companhia conspiravam alegremente.
“Oh, Shiro, parece que está praticamente pronto, né?”
“…Peixes tropicais… você pode comer eles…?”
“É um peixe do mar conhecido como ‘rerité.’ Pelo que entendo, o sabor é bastante agradável.”
—Todos haviam sido teletransportados por Jibril de Oceand para a praia—e, inadvertidamente, trazendo uma grande quantidade de água do mar junto. Agora, Sora e sua equipe estavam ocupados cozinhando na areia.
“Hwaahh—. …Nada como isso com um pouco de saquê depois de um trabalho bem-feito… Já que estamos aqui—” A Donzela Santuária virou sua taça.
“Já que estamos aqui—bem que poderíamos ter fatiado e frito um tofu—é isso que quer dizer?”
“—Como sabia que gosto de abura-age? Eu te contei?”
Sora e Shiro riram da perplexidade da Donzela Santuária. Um passo distante daquela cena agradável e pacífica—
“O-o que é isso…? Qual o significado disso?” Steph gritou duvidosamente, parecendo incapaz de compreender a situação. Ao lado dela, Izuna olhava para baixo, silenciosa. E, um pouco mais afastada, Plum permanecia também em silêncio.
Lançando um olhar para Steph enquanto mordia seu peixe assado, Sora disse: “Nada em particular—é só que a Plum tentou nos enganar. Só isso.”
Como se respondesse ao olhar arregalado de Steph para Plum, ele acrescentou:
“Quando descobrimos isso, você pergunta? Ei, Plum.”
Agora dirigindo-se a Plum, que abaixava o rosto, Sora continuou com um sorriso. Plum olhou para cima, temerosa, mas Sora prosseguiu, sorrindo casualmente.
“Desde o início—sua história era suspeita do começo ao fim.”
Acompanhando o raciocínio dele, Shiro, a Donzela Santuária e Jibril sorriram.
—Bem, os Dhampirs e as Sirenas estavam em uma relação simbiótica. Essa relação se rompeu quando a rainha adormeceu, e agora estavam à beira da extinção. Plum não havia contestado a avaliação de Jibril—mas. Sorrindo como se tivesse ouvido uma piada boba, Sora riu.
“‘Nós criamos um feitiço que pode acordá-la com certeza; nos ajudem’—ha-ha, claro, claro.”
“…Hã? O-o que quer dizer?”
Steph parecia perdida, então Sora ofereceu-lhe um espeto de peixe assado. “Não seria muito mais atraente mentir que você tinha uma vitória garantida, atrair alguém para um jogo impossível e depois devorar a presa?”
“……”
Ouvindo a declaração sorridente de Sora sobre essa ideia sórdida, o rosto de Steph se contorceu involuntariamente.
“—Dito isso, houve algumas coisas que me incomodaram.”
Enchendo a boca de peixe, Sora continuou.
“Não parecia para mim que Plum estava mentindo. Até tínhamos Izuna na mesma sala, e ela não parecia ter percebido nada—ah, é, isso mesmo. Izuna, você não quer peixe?”
Recordando-se da noite em que conheceram Plum, Izuna recusou o espeto que Sora estendeu—
“……Não, obrigada, por favor.”
Estando um pouco afastada, Izuna balançou levemente a cabeça. Do outro lado, a Donzela Santuária, bebendo seu saquê, também fechou os olhos e balançou a cabeça.
“Sim, é por isso que a levamos ao local da Donzela Santuária, só para garantir—e ela não estava mentindo, afinal.”
Considerando que Jibril estava em alerta, qualquer feitiço ou truque para camuflar uma mentira teria sido detectado. Nesse caso, assumiu-se que, diante da Donzela Santuária, a mais forte entre os Warbeasts, qualquer mentira seria certamente desmascarada. Mas—ele prosseguiu, aplicando pacientemente outro peixe ao fogo—“E então o que Plum nos mostrou, se você pode acreditar, era mesmo um feitiço que poderia fazer alguém se apaixonar com certeza.”
Iluminado pela fogueira, Sora seguiu seu raciocínio, parecendo de algum modo divertido, mesmo enquanto seu sorriso oscilava de forma inquietante.
“Então, se ela realmente tinha uma vitória garantida—por que pedir nossa ajuda?”
“O-o que está dizendo, basicamente, é que ela não estava mentindo, certo?”
Isso não significaria que ela queria genuinamente a ajuda deles—? Mexendo com o espeto na mão, Sora abordou a dúvida de Steph:
“Certo, ela não estava mentindo—e é aí que está o problema.”
—Sora abaixou o olhar para Shiro, encolhida a seus pés, que deu continuidade à explicação para ele:
“…20 de junho, 22h42 UTC… Irmão…” Assim como um gravador, palavra por palavra—
“…‘E o que ganhamos se vencermos esse jogo?’…”
Seguindo o Horário Universal Coordenado de seu antigo mundo, baseado em seu telefone—lembrando tudo até o cronograma e a entonação—Shiro reproduziu as palavras de Sora com a precisão de uma reprodução, e todos a encararam.
“—E o que foi mesmo que Plum disse depois que perguntei isso?”
“…20 de junho, 22h43 UTC… Plum…” Sem expressão, calmamente. “…‘Hum… Garantiremos a vocês trinta por cento dos recursos marinhos de Oceand, e relações amigáveis para sempre…! E-e também… ahh… V-vocês podem fazer o que quiserem comigoeeem’…”
Sora sorriu, sem jeito, ao ouvir Shiro “rebobinar” a oferta de Plum.
“Certo—é isso. Ela não estava mentindo—mas também não estava dizendo a verdade.”
Sora pegou o espeto com o qual estava brincando e o apontou na direção de Steph.
“Steph, quando eles disseram que tínhamos que apostar tudo no jogo deles, você ficou na nossa cola, não foi?”
“Ah, sim… Afinal, foram eles que pediram ajuda, não foram?”
“É, você estava certa.”
“—Ah, o quê?”
Declarando isso calmamente, Sora continuou descaradamente enquanto mordia seu peixe.
“Eu disse que você estava errada só para fazê-los revelar o que precisávamos saber. Deixe-me compensar isso revelando o que estava te incomodando.”
Aquilo que a incomodava… Um temor que ela não conseguia expressar, exceto pela certeza de que algo estava errado.
“Esse jogo, sabe… é como uma corrida de cavalos.”
“U-uma corrida de cavalos? Quer dizer, como apostas?”
Sora, assentindo em pensamento, *Ainda bem que eles apostam em corridas de cavalos neste mundo também.*
“Uma corrida de cavalos é um jogo em que as pessoas apostam em qual cavalo vai vencer… Mas o verdadeiro desafio ainda é a competição entre os cavaleiros.”
Para simplificar:
“Uma corrida de cavalos—é um jogo de sorte baseado em um desafio entre os jóqueis—é um jogo duplo.
“Nós éramos os cavaleiros competindo pelo amor da rainha.”
Mas—
“Enquanto isso, as promessas de Amila e Plum de recursos marinhos e relações amigáveis eram apenas o pagamento da nossa aposta na rainha acordar. As corridas e as apostas deveriam ser dois jogos separados, mas nos fizeram jogar como os cavalos e os apostadores—é claro que isso é suspeito.”
…Oh. Steph prendeu a respiração, surpresa. Seguindo a analogia de Sora, eles eram os próprios corredores, e ainda assim… Foram levados a apostar tudo em si mesmos—obrigados a participar dos dois jogos. Mas Sora, como se lesse os pensamentos de Steph, balançou a cabeça.
“Isso nem é o problema.”
“Então, se dissermos que isso é uma corrida de cavalos, e nós somos os cavaleiros—Onde está nosso prêmio?”
Com um sorriso perverso, ele lançou um olhar para Plum.
“H-hum, n-não seria o amor da rainha… ela acordar?”
“—Se me fizer se apaixonar por você, eu me apaixonarei por você? Ela acordará por causa do príncipe que ama? —Primeiro, isso é uma completa besteira, e, segundo, a rainha sai ganhando de qualquer forma, não é? O que aconteceu com a ‘aposta de valor igual’ para o vencedor?”
Finalmente, Steph chegou à raiz de suas inquietações. Os recursos marinhos, as relações amigáveis, a dominação sobre Plum—nada disso parecia algo que a rainha especificaria. Nesse caso, a aposta da rainha no jogo que ela jurara pelos Pactos antes de dormir… A recompensa que ela julgava de igual valor—a ser paga ao cavaleiro vencedor—
—o prêmio—
não havia sido mencionado de forma alguma?!
A Donzela Santuária sorriu maliciosamente e brincou com o espeto que antes segurava o peixe que acabara de comer.
“É um conjunto de jogos com dois lados. Mas quando o Sr. Sora perguntou o que ganharia ao vencer o jogo, aquela Dhampir respondeu deliberadamente, evitando mencionar essa dualidade. Ela não mentiu.” Mas—sorriu a Donzela Santuária. “O que não é mentira—ainda pode não ser a verdade.”
Ouvindo o som de um tiro certeiro vindo do coração de Plum enquanto essa verdade era exposta, a Donzela Santuária sorriu. Sora, porém, com uma performance exagerada de pensamento profundo—
“Então, aqui está o problema… Por que ela não mencionou a dualidade?”
Brincando com o espeto, Sora virou-se para Plum.
“Até estarmos debaixo d’água—onde você achava que os sentidos da Donzela Santuária e de Izuna seriam cortados—você não tocou no assunto. Por que não podia simplesmente nos dizer algo tão simples quanto, ‘Amila diz que não há risco’?”
Posicionada atrás de Sora, Jibril ocupava-se diligentemente em cortar peixes, espetá-los e temperá-los. Entregando-lhe um pedaço de peixe bem salgado no espeto, ela comentou: “—Dizer essas palavras constituiria uma mentira… Presumo.”
Com um sorriso fino, ela respondeu à pergunta dele. Sora assentiu para Shiro, como quem diz: o que significa…
“—…20 de junho, 04h28 UTC… Plum… ‘Por favor, salvem nossa espéciiie!’…”
Roendo seu peixe como um roedor, Shiro habilmente reproduziu a—
—primeira fala de Plum em “replay.”
“Se isso não for mentira, significa que ela queria que salvássemos a raça dela—ou seja, os Dhampirs.”
O que significava—
“Ela queria que salvássemos os Dhampirs—somente eles—então, qual seria o método?”
Como Steph era incapaz de responder à retórica dele, limitando-se a arregalar os olhos como ornamentos de vidro, ele a ignorou. Pegou o espeto com o qual estava brincando—e o jogou na areia ao lado de onde Plum estava sentada.
“Então, agora temos tudo o que precisamos para descobrir, certo?”
Um—e outro, lançando espetos adicionais da mesma forma.
“As perguntas são três. A conclusão é uma.”
Lançando os olhos sobre a praia onde os três espetos se projetavam da areia, Sora deu início ao raciocínio.
“—Está pronta para isso, Plum?”
Como se em resposta à declaração de Sora, sob a luz apenas da fogueira, da lua vermelha e das estrelas, quatro pares de olhos brilharam, cada um com seu próprio tipo de luz.
A primeira a se mover foi a Donzela Santuária.
“—Por que você evitou mencionar assuntos relacionados à natureza dupla do jogo?”
O espeto lançado pela Donzela Santuária cortou o vento com um assobio e atingiu o primeiro de Sora—partindo-o ao meio.
“Porque ela não podia mentir.”
Ouvindo a resposta de Sora, a próxima a se mover foi Jibril.
“Por que pedir nossa ajuda quando você já tem um feitiço que fará com que ela se apaixone?”
O projétil de madeira de Jibril fez um estrondo sônico e atingiu o segundo espeto de Sora, despedaçando-o.
“Porque Plum não podia mentir.”
Diante da resposta de Sora, a última a se mover foi Shiro.
“…Em primeiro lugar… por que—ela não podia… mentir?”
O espeto de Shiro descreveu um arco pelo ar, acertando o centro do terceiro de Sora—e lá ficou preso.
“Porque, se ela mentisse—nós saberíamos.”
—De fato.
“Se isso é uma corrida de cavalos, então lembre-se—cada um está apostando em cavalos diferentes.”
Amila estava apostando—na rainha. Plum estava apostando—no Time Sora. Dois jogos. Duas vontades. E, considerando tudo isso, havia, de fato, apenas uma conclusão.
“As Sirenas estavam usando o jogo da rainha adormecida como isca para devorar os Immanity.”
“O quê!”
Steph, sozinha, ainda estava chocada. As Sirenas, exatamente como Sora havia dito desde o começo, tinham estruturado o jogo como algo fácil para atrair Sora e Shiro—os agentes plenipotenciários dos Immanity. O objetivo era evitar a destruição de sua raça ao ganhar novos “recursos para reprodução”—os próprios Immanity. Mas—
“Os Dhampirs foram além e planejaram contra as Sirenas—para traí-las e libertar os Dhampirs.”
Sim—Plum estava realmente tentando fazer a rainha se apaixonar. Mas Amila—não estava.
“Então, ela não podia mentir na presença dos Warbeasts, mas também não podia dizer a verdade sobre as duas agendas.”
Como sempre, Steph estava sem palavras, completamente atônita. Mas—Sora ergueu a mão como quem diz, Espere.
—Como quem diz, É agora que a coisa fica interessante.
“Então, vamos pensar, certo? Qual é o prêmio por vencer o jogo da rainha?”
Lançando um sorriso animado para Plum, Sora desviou o olhar. E—sob a lua, brilhando de forma afiada, quatro pares de olhos reluziam.
“Haveria algo que faria Amila—que faria as Sirenas—preferirem manter o status quo em vez de acordar a rainha?”
A Donzela Santuária, com seus olhos dourados encantadores, sorriu de canto.
“Algo que faria Plum—que faria os Dhampirs—acreditarem que a emancipação estava ao alcance de suas mãos?”
E Jibril, com seus olhos âmbar inorgânicos, zombou.
“…Algo que ameaçasse a existência das Sirenas…e permitisse aos Dhampirs…recuperar seus direitos…”
E Shiro, com seus olhos rubi inexpressivos, sorriu suavemente. E, absorvendo cada uma dessas observações em sequência, estava Sora, com seus olhos de obsidiana. Frio, ele as reuniu todas.
“A aposta da rainha era—‘tudo o que eu tenho’…certo?”
—Plum abaixou a cabeça, e Steph prendeu a respiração. Enquanto a rainha atual estava adormecida, ela não era exatamente a rainha—não exatamente a agente plenipotenciária. Mas agora as coisas eram diferentes. Agora, se as condições de vitória para sua aposta fossem cumpridas—isso significaria tudo o que as Sirenas eram.
—Literalmente tudo, até mesmo a Peça da Raça, iria para o vencedor. Mas, ignorando Steph enquanto ela tremia, Sora continuou a sorrir com seu sorriso travesso—e deixou escapar algumas palavras que fizeram Steph duvidar de seus próprios ouvidos.
“Descobrimos tudo isso antes de vir para a praia.”
“—Hã?”
“Mas, ainda assim…não podíamos dizer que tínhamos provas. Então foi por isso que decidimos ir para Oceand.”
Como quem confirma, mas em um tom provocador, Sora revelou tudo.
“Era a praia, afinal. Eu me diverti—em outras palavras…”
Então, depois de dar a Plum o sorriso mais sombrio de todos, em uma única respiração—ele revelou as respostas para todos os segredos restantes—em uma rajada rápida.
“Shiro e eu:
- Arrastamos você para a praia sob o sol escaldante para drenar seu poder;
- Fizemos a Donzela Santuária fingir brincar com Jibril enquanto, na verdade, verificava que ela podia disfarçar seu sangue em ebulição com a pressão da água;
- Simultaneamente, mandamos Jibril ir bem longe no oceano para localizar Oceand;
- Demos tempo para a Donzela Santuária se recuperar de seu sangue em ebulição enquanto Shiro a ajudava acariciando-a até a noite chegar;
- Ignoramos seu barco de boas-vindas, que provavelmente era uma armadilha, e fizemos Jibril nos teleportar para lá;
- Criamos uma situação em que você teve que obter sangue das Sirenas para lançar seu feitiço de respiração subaquática em nós;
- Fizemos você sair enquanto Jibril comprimia e armazenava o ar que havia trazido;
- Depois, fizemos Jibril interferir no feitiço de respiração subaquática para que ele não funcionasse na Donzela Santuária;
- E encontramos Amila com a capacidade de utilizar os sentidos dos Warbeasts ao máximo, mesmo no fundo do mar.
—Então, sim. Já sacou tudo?”
… …… —Tanto Plum quanto Steph estavam totalmente atônitas, incapazes de falar. Mas, aparentemente despreocupado, Sora apenas verificou se seu peixe estava pronto e disse:
“Você não tinha como chegar ao jogo sem mentir. Porque precisava nos fazer apostar ‘tudo’ pelos Pactos. Para desmascarar sua mentira, a Donzela Santuária precisava estar livre da sua magia suspeita.”
Um feitiço que permitia respirar e conversar debaixo d’água—lançado, de todas as pessoas, por Plum, que eles sabiam ser sua inimiga—provavelmente enganaria seus sentidos. Tendo explicado tudo, Sora continuou.
“As Sirenas e os Dhampirs apostaram em cavalos diferentes—mas você esqueceu? Foi você quem nos fez colocar tudo em nossas próprias apostas e participar tanto da corrida quanto das apostas—nós também temos nossos bilhetes.”
—De fato.
“Bilhetes apostando que nós passaríamos à frente de todos vocês e venceríamos.
“Cara, tenho que admitir, Plum. Essa foi uma estratégia incrível vindo de uma posição tão fraca. É assim que uma raça pensa quando tem todo o seu poder amarrado pelos Dez Pactos. Quero dizer, desse jeito, os Dhampirs ainda teriam uma segunda chance se Amila conseguisse devorar os Immanity, enquanto, se nós realmente conseguíssemos acordar a rainha e as Sirenas—”
De coração, sem ironia, Sora bateu palmas em louvor.
“Ela estaria apaixonada por causa do seu feitiço, não por nós, e vocês fugiriam com tudo.”
—Tendo casualmente exposto o motivo pelo qual Plum havia participado do jogo, Sora continuou.
“Olha, eu não sou do tipo que faz elogios à toa, então quando digo isso, é porque é verdade—essa foi uma estratégia esperta.”
Plum criara uma situação em que venceria independentemente do resultado, sem precisar fazer quase nada, apenas colocando os outros para trabalharem por ela e depois colhendo as recompensas. Isso, de fato, era a maneira ideal de ganhar. Mas—
“Acho que tem algo que você está esquecendo.”
“—Hã?”
Com isso, Plum ergueu a cabeça, antes abaixada.
“Não percebe? A questão não é só termos desmascarado você completamente. Não é que você estava escondendo o prêmio do jogo da rainha como parte de um plano para emancipar sua raça, também. Você não conseguiu acordar a rainha mesmo com um feitiço em que tinha total confiança—mas nem isso é o ponto.”
—Então, torcendo a expressão. Com o tom mais irônico, Sora falou:
“É que Amila está assumindo que não existe a menor chance de conseguirmos acordar a rainha.”
“…Oh—”
Plum prendeu a respiração. Sim, porque isso explicava tudo. Por que Ino não conseguiu vencer o jogo—o feitiço de Plum havia sido ativado corretamente. Ele funcionara na rainha, sem dúvida, como Jibril havia confirmado. Ainda assim, ela não despertara.
O que significava:
“A condição para acordar a rainha—não é fazê-la se apaixonar.”
—…*Grsh.* Enquanto Plum rangia os molares audivelmente, Sora prosseguia.
“Amila sabia disso. Se não soubesse, não importa o quanto você a tivesse seduzido, ela jamais teria dado a você a chance de possivelmente acordar a rainha. Isso seria fatal para as Sirenas—entendeu?”
Sora agora deixou cair até mesmo seu sorriso zombeteiro.
“Amila, de quem você pensava tão pouco—levou sua traição em conta.”
“…—!”
Mesmo assim—Sora desferiu outro golpe contra Plum, sentada na praia, superada até pelas Sirenas, das quais ela nada esperava.
“Essa é uma baita estratégia para os fracos, um jogo bem limpo—mas não é de verdade.”
De fato. A sabedoria dos fracos não podia ser usada em todo o seu potencial pelos fortes. Porque o que formava sua base…
…era a covardia nascida de uma fraqueza absoluta.
Sora finalmente deixou de lado o sorriso e falou com seriedade.
“O inimigo natural dos fortes são os fracos, mas o inimigo natural dos fracos não são os fortes—são os ainda mais fracos.”
Os fracos—o homem que encarnava essa palavra avançou intimidadoramente em direção a Plum. Agachando-se até o nível dos olhos da Dhampir sentada, ele anunciou suavemente e diretamente:
“Um tolo que sabe o que é é muito mais temível do que um tolo que se acha esperto.”
Sem mencionar de quem estava falando, Sora prosseguiu:
“Então—é xeque.”
Plum empalideceu. Para começar, os únicos que haviam aceitado aquelas condições eram Sora e companhia. Mas agora que eles haviam exposto tudo e deixado o jogo, ela não tinha mais opções. Isso significava que tudo o que as Sirenas podiam fazer para sobreviver era devorar o último homem ao qual os Dhampirs tão desesperadamente se apegavam. Agora que a traição de Plum havia sido confirmada, era ainda mais provável que as Sirenas fizessem exatamente isso.
—Então os Dhampirs estavam praticamente condenados. Mas, se os Dhampirs morressem, as Sirenas seriam as próximas. As Sirenas—teriam que encontrar alguém disposto a lhes dar permissão para procriar. Mas quem diria “sim” para essas criaturas que exigiam sua morte para se reproduzir?
—Portanto, seguia-se que as Sirenas também estavam condenadas. A única maneira de sobreviverem seria a rendição incondicional—sendo transformadas em gado.
“—Plum, você sabe qual é a maneira definitiva de vencer um jogo?”
Um sorriso frio, diabólico.
“—Por *default*. Não precisamos nem vencer o jogo da rainha para que isso seja nossa vitória.”
Arrastando Plum para as profundezas do inferno—com um sorriso.
“Se acha que pode vencer os mais fracos com as táticas dos fracos, está muito enganada—sua noob maldita.”
—Um movimento. Em apenas um movimento, Sora tomou para si o poder sobre a vida e a morte de duas raças. Sombrio, ele sorriu e falou.
******
“Então, espero que você tenha entendido a situação. A propósito…”
Sora começou a se mexer, inquieto. E, se você olhasse com atenção, Shiro, encolhida em seu colo, também parecia se contorcer—
“Oh, mestre… O que foi?”
……
“—O-o-onde fica o banheiro?” Sora perguntou com uma expressão de desespero que reduziu a atmosfera séria de momentos atrás a pó.
“Banheiro… ah, você quer dizer as câmaras que os Immanity usam para urinar e—”
“O que mais seria?!”
Então, repentinamente, apontando para todos ao redor com o dedo, Sora gritou:
“Quero dizer, que tipo de bexiga vocês têm?! Depois de um dia inteiro na praia, ir ao fundo do mar, voltar para a praia à noite e comer peixe e outras coisas, quem consegue aguentar tanto tempo?!”
“…I-Irmão…e-eu também…preciso ir…!”
A Donzela Santuária riu arrogantemente diante da súplica de Shiro com olhos marejados. “Nenhuma beleza faz essas coisas. Não posso dizer que sei como é, mas por que você não resolve isso onde achar melhor?”
—*Jibril é uma coisa, mas você é um ser vivo, não é?*—ele teria dito. Mas aparentemente nem tinha tempo para brincadeiras como essa. Sora se levantou.
“T-tudo bem, nós—quer dizer, eu vou ao banheiro. Shiro vai…colher flores!”
Sora pegou Shiro e saiu correndo.
“…I-irmão—n-não…me sacudaaa…”
“Aargh, estamos na praia! Deve ter um daqueles quiosques! Onde está?!”
Com a barulhenta saída de Sora e Shiro, tudo o que restou foi a praia silenciosa.
…… As ondas e o crepitar da fogueira eram os únicos sons.
“E assim, tudo o que nos resta é esperar pela rendição incondicional deles, não é? Estou um pouco cansada. Vou me retirar.”
Com essas palavras, a Donzela Santuária se levantou, exausta, e virou-se—
“E-ei, espere aí! E quanto ao Sr. Ino!”
—apenas para ser interrompida por Steph, que finalmente compreendeu a situação.
—Tudo bem, ela havia entendido que as Sirenas planejavam devorar os Immanity. Ela compreendeu que Plum havia tramado explorar isso para a emancipação dos Dhampirs. Ela viu que Sora e Shiro tinham percebido tudo isso e dado um passo à frente. Mas ainda assim—as Sirenas tinham a carta de Ino Hatsuse. Essa era uma questão que permanecia sem resposta, protestava Steph. A Donzela Santuária parou, olhando para trás. Com um sorriso ainda mais encantador sob a luz da lua—assustador como o de um espectro—ela falou:
“Nada pode ser feito. É o suficiente trazer duas raças para nossas mãos—um bom negócio, não acha?”
Diante da afirmação da Donzela Santuária de que não havia carta na manga, Steph finalmente entendeu tudo. Então—resumindo: Nem Sora, nem Shiro, nem a Donzela Santuária tinham a menor intenção de salvá-lo—! Os três haviam conspirado—para fazer esse único movimento que prenderia duas raças. Para isso. Apenas para isso. Como se não fosse nada.
—Eles sacrificaram Ino—!
“…Isso…eu não posso tolerar.”
“Hmm?”
Quase dominada por aqueles olhos dourados, literalmente inumanos, de um predador, ainda assim—de alguma forma—Steph olhou ao redor e conseguiu forçar sua voz. Ino Hatsuse—o Warbeast que havia sido o único a apoiar Steph em Elkia quando Sora e Shiro estavam ausentes—embora por apenas duas semanas. Ele havia jogado ao lado dela, até lutado para reconstruir Elkia junto dela. Ele fizera tanto para estabelecer as bases da Comunidade de Elkia; sem ele, ela não teria chão sob seus pés. Pelo bem da União Oriental e de Elkia—e de Steph!—ele era um ativo intrinsecamente valioso, e, além disso, sacrificar um membro de apenas uma raça enquanto tentava unir duas… O risco de tal ação era incalculável. Era tão óbvio que desafiava a compreensão que a Donzela Santuária não entendesse—
“Ino Hatsuse. Houve um homem de habilidade, que me apoiou desde os primeiros dias da União Oriental. Um homem que aceitaria uma ordem para morrer pela União Oriental com um ‘Como desejar’—de fato, um crédito para seu povo—e agora ele demonstrou sua imensa capacidade até o fim. O que se poderia dizer contra um homem assim?”
A Donzela Santuária falou, olhando nostalgicamente para a lua. Se até ela seria tão calculista a ponto de descartá-lo como se não fosse nada—! (Isso não significa que eu também poderia ser descartada a qualquer momento—?! Quem poderia confiar em alguém assim?!)
Enquanto Steph fervia de raiva, Izuna, que estivera sentada à parte o tempo todo, de repente apareceu em seu campo de visão.
—Claro. Era inconcebível que Izuna pudesse aceitar essa situação. Seu próprio avô havia acabado de ser sacrificado. Se ela pensasse algo sobre Izuna, até mesmo a Donzela Santuária teria que—
“S-Senhorita Izuna, você—”
—aceita isso? Steph ia perguntar, mas a maneira como Izuna estava sentada, abraçando os joelhos como se resistisse a algo, fez Steph engolir as palavras. Era difícil vê-la na escuridão, mas—a Warbeast murmurou.
“…Grampy sabia o que estava fazendo, o idiota, por favor…”
Longe da fogueira, iluminada apenas pela lua e pelas estrelas, a expressão de Izuna era invisível.
“…O coração de Grampy, o cheiro dele… até o fim, ele soava bem, cheirava bem… o idiota, por favor.”
Ainda assim, a voz trêmula de Izuna, suas palavras molhadas de lágrimas—mesmo na escuridão da praia—revelavam sua expressão de forma vívida demais.
“Eu não quero perder o Grampy, por favor… Mas eu sou a única idiota que tem que suportar isso, por favor. E—e-então mais idiotas…serão salvos…por favor—”
No fundo da mente de Steph, surgiu aquela cena na praia. Após a farsa no mar—Sora e Ino haviam disputado quem cuidaria dela. E Izuna, que dissera odiar ser acariciada por Ino, ainda assim não hesitara em ir diretamente para ele.
—Compreendendo que essa seria a última vez… Izuna, desde o início, havia aceitado esse desfecho. Através dos sentidos inigualáveis dos Warbeasts, eles já haviam se entendido. A única que não entendia era Steph—mas, ainda assim.
“—Mesmo assim, você está triste, não está?”
“Eu não estou…triste, por favor—eu só não…entendo, por favor.”
Rangendo os dentes enquanto cuspia as palavras, Izuna, com a voz trêmula, conseguiu formular sua pergunta.
“…Porque o Soraaa…disse que nenhum idiota iria morrer, nenhum idiota iria sofrer, por favor! …Então por que, então por que eu estou sofrendo, por favor? Tem algo errado comigo, por favor…?!”
—Pingos, gotas. A voz de Izuna deixava claro, mesmo na escuridão, que lágrimas pesadas caíam de seus olhos. No entanto, Steph, ao contrário, sentiu o sangue fugir de sua cabeça. Izuna Hatsuse—ela era apenas uma criança. Obediente demais, inocente demais, inteligente demais—uma criança perfeita demais. Que essa garota, com apenas oito anos, fosse forçada a jogar jogos que nem sequer queria jogar… Sentir-se culpada por se divertir, carregar o peso de um domínio continental—Steph percebeu algo.
—Que a União Oriental agisse dessa maneira—não era algo novo.
—Que sacrificassem poucos pelo bem de muitos—sempre fora assim.
“Então essa é a União Oriental, fazendo suas crianças chorarem—isso não pode continuar.”
—Como os Warbeasts, outrora divididos em várias tribos em constante conflito, haviam sido unidos em apenas meio século e elevados ao status de uma grande nação—Steph parecia vislumbrar isso enquanto acusava a Donzela Santuária—com desprezo, até. Mas a Donzela Santuária encarou seu olhar diretamente e respondeu.
“Que os poucos sejam sacrificados pelos muitos—não é nem mesmo um mal necessário. É o destino, garota. Para todos se divertirem juntos, essas são palavras bonitas—mas um estado não se sustenta só com todo mundo brigando pelo que quer…querida.”
…Steph não tinha argumento contrário. Na verdade, era exatamente assim que tinha sido quando lidava com os lordes de Elkia. Por mais que tentasse evitar perdas para alguém, a igualdade perfeita era inviável. Enquanto Steph cerrava os punhos diante dessa verdade amarga, dessa vez foi Jibril quem desferiu outro golpe.
Com uma expressão que parecia genuinamente intrigada, como se não conseguisse compreender o argumento de Steph, Jibril perguntou:
“Dora, o que é que te deixa insatisfeita? Uma vida será suficiente para salvar duas raças à beira da destruição, fortalecer Elkia como nação e até aproximar a federação com a União Oriental—o que mais você poderia querer?”
—Steph, ainda assim, não tinha uma resposta. De todas as coisas—Jibril continuou.
“Você achava que era possível conquistar o mundo—ou mesmo recuperar as fronteiras nacionais de Elkia—sem sacrifícios ou descontentamento?”
“………………!”
“Ou seria simplesmente—”
Jibril indagou com um sorriso ainda mais provocador.
“—que você deseja evitar sofrimento apenas para aqueles próximos a você—afundando-se nas profundezas do narcisismo e do egoísmo?”
Steph rangeu os dentes—ela sabia. O sacrifício de apenas um salvaria duas raças. Isso também significava que elas seriam salvas da extinção que enfrentariam sozinhas. Se ela achava que o sacrifício solitário de Ino não valia a pena, então—
“Então, e daí, posso perguntar…?!”
Mas Steph abriu a boca decididamente e, com a Izuna trêmula em seu campo de visão, desafiadoramente—gritou: “Egoísmo, narcisismo, chame como quiser, mas eu posso te garantir isso! Unir todas as raças por esse método—nunca vai aconteceeer!!!”
—Ela não tinha nenhuma evidência lógica. A Donzela Santuária e Jibril estavam certas. Provavelmente, indubitavelmente. Elas eram realistas. E ainda assim, por algum motivo, a convicção de que estavam erradas mantinha Steph firme. Por quê—era, sim, provavelmente, pode-se supor—porque suas palavras eram plausíveis. Suas palavras eram apropriadas. Precisavam.
—Mas, para começar… O limite existente nunca seria suficiente—para unir todas as raças—
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Quando Sora e Shiro retornaram, enxugando as mãos e com expressões de alívio, foram recebidos pela Donzela Santuária, que estava partindo, e uma atmosfera pesada. Além disso, um olhar perfurante de Steph.
“Uh… o que está acontecendo aqui?”
“Então, essencialmente, você pretende fugir.”
“—Hã?”
“Agora eu entendi perfeitamente. Vocês sacrificariam o Sr. Ino para conseguir duas raças—mera fanfarronice… Perdi a pouca fé que tinha em vocês! E, com isso, ainda ousam dizer que vão unir todas as raças!!”
Diante da fúria de Steph, Sora coçou a cabeça e perguntou confuso à sua irmã:
“Uh, hum. Shiro, por que ela tá gritando comigo?”
“…Porque…demoramos demais…?”
“Não demorou nada. Vamos lá, estamos falando do número um aqui! B-bom, tanto faz, resolvemos nosso negócio, de qualquer forma.”
—Sora limpou a garganta uma vez, *Ahem,* e murmurou: “Voltando ao assunto—
“Então, chegou a hora de novo—vamos acordar aquela rainha.”
…… O quê? Para o grupo silencioso, ainda sem entender a discussão que havia ocorrido em sua ausência, Sora continuou calmamente.
“Se conseguirmos esquecer a magia da Plum e realmente acordar aquela rainha sozinhos, então Dhampir e Sirena serão salvos, recuperaremos o Ino usando isso como condição, e tudo ficará de boa. Quero dizer, nós só ‘saímos’ daquele jogo, sabe. Ir contra nossos princípios e ‘desistir’ dele seria inadmissível. Então, agora é hora de fazermos nosso retorno triunfal—”
Ignorando o grupo atônito, Sora colocou a mão no queixo, ruminando.
“A questão é: como realmente podemos acordar a rainha—hein.”
*Ffp*—cravando o olhar afiado em Plum.
“Certo, deixa eu adivinhar—não tem ninguém que saiba as condições…certo?”
“…S-siiim…”
“O quê—ninguém sabe… como assim?”
Steph olhou para Izuna. Por sua vez, Izuna (que havia chorado até bem recentemente) agora levantava a cabeça como se estivesse intensamente interessada nas palavras de Sora. Ela cautelosamente checou a reação de Plum—e então balançou a cabeça, indicando que a Dhampir não estava mentindo. Mas Sora apenas assentiu diante de uma resposta que já esperava.
“As Sirenas não podem usar magia, e os Dhampirs podem—se alguém soubesse, isso já teria vazado há muito tempo. Mesmo Amila provavelmente só sabe que não é um jogo para fazê-la se apaixonar.”
“…O que te dá tanta confiança?”
“Quando Sua Majestade foi dormir, ela ainda não era a rainha…mmaaass, estava em posição de um dia se tornar a rainha… Se alguém assim dissesse que concederia todos os seus direitos… o que você fariaaa?”
Plum, que pensava ter descoberto isso, falou com um suspiro. Sora e Shiro simplesmente assentiram.
“Isso é bem arriscado. Se houvesse alguém em uma posição como a de Amila naquela época, ela teria encoberto isso—e qual é a melhor maneira de encobrir algo?”
“…Se ninguém… souber… a verdade… ninguém vai… saber.”
—Certo, em outras palavras… Para vencer o jogo da rainha, você teria que descobrir condições que ninguém conhecia, exceto a própria rainha adormecida. Era o jogo da condição de vitória. Praticamente impossível. Você podia dizer que era tão difícil quanto imaginável. Mas—
“Enquanto não for um jogo de romance na vida real—‘Blank’ não perde!”
“…Mm…!”
Ouvindo a afirmação forte dos irmãos—difícil de julgar se poderosa ou patética, mas autoconfiante em qualquer caso—Steph perguntou, hesitante:
“…Uh, hum… Sora, eu achei que você estivesse abandonando o Ino…… Não está?”
“O quêêê? Do que diabos você tá falando, sua maldita Steph?”
—A ponto de nem se incomodar que seu nome tivesse sido empregado como insulto direto, a reação de Sora representou uma clara negação.
“Não há como eu fazer algo que deixaria nossa herança cultural viva, Izuna, triste, e obviamente não poderia abandonar Ino—aquele homem entre os homens. …Steph, sei que tudo isso deve estar cansando você, mas pode esperar até acordar para balbuciar essas coisas meio lúcida?”
…Aparentemente, Sora realmente havia elevado sua opinião sobre Ino ao céu. Não era encenação. Ele continuou.
“Quero dizer—dissemos, ‘Voltaremos’, certo? Amila não vai mexer com Ino. Porque ele é a única carta que ela tem para nos fazer retomar o jogo. Se ela encostar em Ino, então elas estarão realmente condenadas a serem gado.”
Steph protestou. “M-mas a Donzela Santuária disse que ‘não há nada a ser feito’ sobre o Ino…”
“Bem, é. Fizemos a Donzela Santuária enviar Ino para verificação. Agora o resto é nosso trabalho.”
Diante da refutação casual de Sora, os olhos de Steph se arregalaram. De fato, no que dizia respeito à Donzela Santuária—não havia nada a ser feito. Pois, momentaneamente—Sora e Shiro iriam agarrar tudo.
“A Donzela Santuária usou ao máximo seu sangue em ebulição, um poder que ameaça sua própria vida, e até nos deu um de seus oficiais mais valiosos. Agora é hora de irmos com tudo como se quiséssemos morrer—literalmente colocando nossas vidas em jogo, sabe.”
Sora disse isso com tranquilidade, e Shiro assentiu com igual naturalidade. Mas—aquela resolução vagamente assustadora e as próximas palavras tiraram o fôlego de Steph.
“É isso que significa—lutar juntos, certo?”
Uma pequena sombra passou pela Steph atônita, aproximando-se dos irmãos. Com os olhos vermelhos e inchados, Izuna, seu olhar ainda trêmulo e hesitante, olhou para Sora e Shiro.
“…Vocês vão salvar o Grampy, por favor?”
Sora e Shiro não sabiam por que Izuna havia chorado. Ainda assim—Sora colocou a mão na cabeça de Izuna, acariciando-a de forma tranquilizadora, e sorriu.
“Claro. Vamos buscar seu avô—eu prometo.”
Seus olhos inquietos então se voltaram para Shiro, onde foram recebidos com convicção.
“…Izzy…confia no Irmão…”
Izuna não podia saber. O que apenas Shiro sabia. O que significava quando o Irmão—quando Sora—dizia a palavra *promessa*, significava um juramento absolutamente vinculante que tornava os Dez Pactos insignificantes em comparação. Mas—
“…O Irmão nunca…descumpre suas promessas…”
Diante da afirmação de Shiro, Izuna olhou novamente para Sora. A mão firme que acariciava sua cabeça enquanto ela sentia seu cheiro… e então—ela enxugou os olhos molhados.
“’Tá bom, confio em vocês, idiotas, por favor.”
“Certo, ela confia na gente, idiotas, por favor.”
>Steph observava Sora, que brincava, a uma curta distância. Jibril estava ao lado dela.
“Minhas desculpas, Dora. Nosso deboche foi um pouco exagerado.”
“…O quê?”
“Eu estava tão tomada pela curiosidade de como você reagiria, que não consegui me segurar… Mas você está certa, de fato, pequena Dora.”
—Assim disse a viciada em curiosidade com uma expressão que parecia querer dizer: *‘Tee-hee! =P’.* Mas antes mesmo que Steph pudesse lançar um olhar sarcástico, Jibril recompôs-se, afirmando:
“Não há dúvida de que meus mestres vão reformar este mundo.” Mas quanto aos métodos deles—Jibril continuou: “Métodos existentes, de fato, jamais poderiam servir para esse propósito.”
“…………”
Então, agora, sobre como vamos descobrir as condições para acordar a rainha—Enquanto Sora reiniciava seus esquemas, Steph apenas ouvia pela metade.
…Antes, o que a Donzela Santuária e Jibril haviam dito—parecera errado para ela. Steph, tendo buscado o motivo—agora, vendo os dois diante de seus olhos—finalmente percebeu o que era. Sora… Shiro… esses dois nunca usavam o método apropriado.
Afinal, a sabedoria convencional era algo a ser ridicularizado. Afinal, o senso comum era algo a ser descartado. Esses dois… disseram que conquistariam todas as raças sem derramamento de sangue, sem uma única morte. Com um argumento tão sonhador—tão irrealista—não poderia haver sabedoria convencional.
Mas, na forma como ele havia feito com que ela acreditasse que realmente poderiam fazê-lo, naquele dia—o dia da coroação—Steph sentiu que tinha visto isso. Talvez fosse a mesma coisa que Jibril, ao seu lado, enxergava—
—O que ela havia antevisto era o futuro deste mundo, e isso fazia seu coração acelerar, percebeu.
“Ah, a propósito, Steph. Há pouco, você disse algo que não posso deixar passar.”
“Hã?” As palavras de Sora trouxeram a pensativa e distraída Steph de volta à realidade.
“Sobre conseguir duas raças sacrificando Ino—primeiro de tudo, a parte sobre sacrificar Ino está errada. E também—”
—e aí ela voltou direto para o estado de confusão.
“Não são duas raças—são três!”
…… …… Como é que é?