No Game No Life

Volume 4 - Capítulo 2

No Game No Life

O Reino de Elkia. A última nação da Classe Dezesseis do Ixseed, Immanity, situada no oeste do continente de Lucia. Com a vitória conquistada há meio mês pelo “monarca”—Sora e Shiro—sobre a União Oriental em um jogo, seu território havia dobrado.

…E seus problemas também haviam dobrado. Dentre eles, dois eram os principais.

O primeiro era o conceito proposto pelos “monarcas”—Sora e Shiro—de uma “Comunidade” em federação com a União Oriental. Este era um desafio sem precedentes—construir um país que cruzasse as linhas raciais. Mesmo tendo recuperado parte de seu antigo território, Elkia ainda não possuía os meios para utilizá-lo, enquanto a União Oriental, apesar de ter perdido seu domínio continental, permanecia como um dos maiores e mais poderosos países do mundo.

—Deixando de lado poder, moeda e estruturas sociais, os dois países sequer compartilhavam uma raça ou língua em comum, e agora deveriam se unir em bases de igualdade. Não havia necessidade de explicar quão difícil essa tarefa era. Talvez fosse um dos desafios mais intratáveis da história dos povos. E o segundo problema—

“Francamente—”

A garota de cabelos ruivos suspirou enquanto olhava para a mão de cartas aberta diante dela. Stephanie Dola, também conhecida como Steph. Ex-realeza—sua aparência, repleta de uma elegância que condizia com a neta do rei anterior, ainda bela apesar do cansaço profundo causado pela privação de sono—mas agora retorcida em raiva, espalhando uma sensação de desordem. E isso se devia ao segundo problema. A saber—

“Por quanto tempo mais aqueles dois reais desgraçados pretendem matar aula numa hora dessaa?!”

—Castelo Real de Elkia: a Grande Câmara de Conferências. Seu rugido ecoou, fazendo todos os presentes se encolherem.

“…Vossa Graça, eu compreendo sua frustração, mas devo questionar até que ponto a palavra ‘desgraçados’ convém a uma dama.”

O que abriu a boca em tom de reprovação, ao lado e atrás de Steph, foi um homem idoso de cabelos brancos. Seu rosto estava vincado por uma amargura que o alinhava com o estado de Steph. Ele tinha orelhas ligeiramente caídas, como as de um cachorro, além de uma cauda. Era Ino Hatsuse, um Werebeast com um físico impressionante, mesmo sob as tradicionais vestes japonesas que usava. Ele era o avô da antiga embaixadora da União Oriental em Elkia, Izuna Hatsuse, e agora, sob as ordens absurdas dos ausentes monarcas de Elkia, Sora e Shiro…mais uma vítima, assim como Steph.

“‘Vossa Graça’…? Hã—? Está falando comigo?”

Ino assentiu em resposta à confusão de Steph.

“Sim. Considerando que este é um ambiente oficial, julguei que essa seria a melhor forma de tratá-la. Mas há algum problema?”

“Eu nem sei de quem você está falando. Se quiser, pode me chamar de ‘Senhorita Subalterna do Rei e da Rainha Matadores de Aula.’” Steph soltou uma risada desesperada, mas Ino apenas abriu as mãos.

“Gostaria de atender ao pedido, mas então seguiria que eu deveria receber o mesmo título… Em vez disso, Vossa Graça, não seria melhor focarmos no que está à nossa frente?”

Seguindo o olhar de Ino, Steph lembrou-se da situação—e disse a si mesma:

“Hff… Sim, acho que sim…”

Sim, agora mesmo—eles estavam jogando um jogo importante. O jogo em si não era nada especial, apenas pôquer. Exceto pelo fato de terem introduzido curingas, era um jogo bastante tradicional. Os oponentes ao redor da mesa eram nobres de Elkia.

—Construir uma “Comunidade” com a União Oriental, sob a liderança de Elkia. O território de Elkia havia dobrado instantaneamente, e a questão de quem iria gerenciar e utilizar quais recursos e de que forma fez os poderosos senhores se apressarem para disputar esses enormes direitos. No momento, a ideia de uma nação igualitária e multirracial era algo distante. Poderiam negociar as estruturas à vontade, mas isso não teria peso contra a diferença de poder entre os países. Se o comércio livre fosse introduzido, a economia de Elkia seria esmagada. Então, o que deveria ser feito com os recursos continentais pelos quais a União Oriental ansiava? Dizer que este único ponto segurava as rédeas do destino de toda Elkia não seria exagero.

—Era uma conclusão óbvia que as várias figuras de autoridade apareceriam em massa para aumentar seus ganhos. Como Steph havia sido deixada com a autoridade para legislar por enquanto, esses lordes de Elkia surgiam um após o outro para avançar suas exigências desafiando-a em jogos. Assim, por meio mês inteiro—Steph havia estado ocupada jogando sem sequer ter tempo para dormir adequadamente. Isso, em si, não era um problema… sim, Steph sussurrou em sua mente. Pois—esse era o plano. Tudo estava conforme o esperado. Sim… Se ao menos os desafios não fossem tão frequentes.

“Sinceramente, senhores, estou all in—podem, por favor, se despir e ir para casa já?”

…Onde estava a graça de uma dama? Com olheiras profundas e escuras sob os olhos, o rosto torcido de raiva, era como se— …Lembrasse aos lordes do temido rei deles, e eles se entreolharam. Por fim, escolheram desistir—o que significava que aceitaram a proposta de Steph sem condições. Mas—estalando a língua alto, Steph empurrou a cadeira e levantou-se.

“Se era só para aceitar meu plano, poderiam, por favor, não desperdiçar meu tempo?!”

Ela revelou sua mão com desdém: —Cinco iguais. Se não tivessem desistido, como ela havia declarado—essa mão teria destruído os lordes por completo, e isso os fez empalidecer. Mas, sem se importar com isso, Steph se virou enquanto jogava para trás:

“Tudo ou nada! Por que não criam coragem para serem destruídos antes de me incomodarem?!”

E, no lugar de Steph, Ino Hatsuse declarou com um sorriso complacente:

“E agora, conforme o pacto—tomaremos suas memórias. Espero que compreendam.”

******

—Em resumo, uma luta por poder. Administrar as terras que haviam recuperado de maneira apropriada e fazê-las servir aos interesses de Elkia—ou melhor, da Comunidade. Não havia escolha senão encontrar alguém para cuidar disso e, se fosse bem-sucedido, naturalmente haveria benefícios a serem colhidos.

—Isso, na verdade, era como deveria ser. E deveria estar tudo bem. O problema era como os nobres apareciam falando alto sobre de quem eram aquelas terras originalmente. De fato, as terras haviam sido território de vários lordes antes que o rei anterior—o avô de Steph—perdesse tudo. Verem suas posses dispostas como fichas de aposta, de maneira tão grosseira, certamente teria gerado objeções. Eles deviam ter reclamações. Mas—então por que, naquela época, não haviam enfrentado o rei anterior em um jogo?

“Eles não querem assumir responsabilidade! Perdem seus direitos e depois ficam choramingando que a culpa é do rei! E então, quando Sora e Shiro recuperam as terras, eles vêm implorar pelas migalhas. Quando foi que a nobreza jogou sua vergonha fora?”

“Se continuar assim, temo que o próprio conceito de nobreza possa ser posto em questão.”

Ino sorriu ironicamente atrás de Steph enquanto ela atravessava furiosa os corredores do Castelo de Elkia.

Não era como se todos os nobres fossem necessariamente ruins. Mesmo sendo corruptos, eram governadores. Possuíam grande conhecimento sobre gestão e administração de territórios. Se mostrassem motivação e habilidade, Steph não teria problemas em conceder-lhes feudos—era nisso que ela havia contado. O problema era—

“Todos esses malditos nobres que vêm babando—cada um deles tem estampado no rosto ‘Eu só quero o leite e o mel; por favor, não me façam trabalhar!’”

—E esses caras, de todos, eram os figurões que não podiam ser ignorados. Um passo em falso poderia desencadear uma luta por poder—uma revolta tumultuada agarrando qualquer desculpa para tornar o estado ineficaz. E—

“Eu me pergunto se tais lordes poderiam, de fato, ser adequados para…serem fáceis de manipular.”

O que tramava, por trás de Steph, levantando um sorriso sombrio—era Ino Hatsuse. Com Sora e Shiro ausentes, e Steph, a neta do rei tolo, segurando as rédeas em seu lugar, Ino havia espalhado o rumor. Quando os lordes aparecessem pensando que essa era sua chance de conquistar os espólios, Ino e Steph os fariam aceitar o plano de compromisso de Steph caso perdessem—e também os fariam jurar esquecer todas as memórias do jogo, assim os eliminando de forma eficiente. Isso permitiria que as políticas e os acordos de concessão planejados por Steph avançassem sem oposição. Era muito eficiente e típico de Ino—uma armadilha condizente com a União Oriental multiétnica. Mas, considerando o mecanismo e a frequência com que essa armadilha funcionava tão bem—

“Eles não me dão nenhum crédito! Que isca maravilhosa eu sou!”

—Estava mais do que claro o quão pouco pensavam dela e, por extensão, de seu avô.

“Agora, agora, Vossa Graça… não vamos ignorar o quão bem-sucedido isso tem sido em manter tudo funcionando suavemente. Vamos antes saudar o desprezo dos tolos—tudo o que precisamos fazer é sorrir e explorá-los.”

“…Senhor Ino, pode, por favor, parar de me chamar assim? —Pode me chamar de Steph.” Antiga realeza, chefe da casa de Dola, Steph, é claro, tinha o título de duquesa. No entanto, continuou, exausta e desgostosa: “Você faz uma mera subalterna como eu soar como alguém de qualidade…”

“Mas não é o caso que, com Suas Majestades Sora e Shiro ausentes, você, senhorita Stephanie, seja, de fato, a representante do monarca—a ministra-chefe e a atual detentora do status mais alto dentro de Elkia?”

Ino continuou de forma teatral:

“—A Duquesa de Dola, ministra-chefe de Elkia, a última nação remanescente da Immanity e neta do rei anterior. Encarregada do empreendimento crítico, sem precedentes na história, de construir uma nação multirracial com a fusão do Reino de Elkia e a União Oriental. Uma dama de juventude, beleza e talento…! O que acha? Este é um epíteto apropriado?”

—Santo Deus, quem era essa pessoa?

Steph olhou para o teto com um vazio no olhar.

“Então a heroína épica era na verdade só uma subalterna. Essa foi boa. Bem afiado.”

Ela continuou—Por que não escreve isso e publica?—mas Ino sorriu sem jeito e mudou de assunto.

“Ainda assim, passar por esse meio mês sem uma única derrota. Você mesma é bastante admirável, senhorita Stephanie.”

“Eles são simplesmente absurdamente fracos.” Jogando fora o elogio sincero de Ino, Steph franziu a testa. “Caem em armadilhas mesquinhas e bobas que Sora e Shiro ridicularizariam com uma ou duas centenas de palavras de desprezo antes de explorá-las—de fato, é uma grande piada.”

“Bom, isso eu não posso negar…”

Mas—. Ino refletiu. Steph, no início, havia contado com o suporte dos sentidos de Werebeast de Ino. Mas, à medida que acumulava vitórias, Ino havia sido reduzido ao papel de mero acompanhante. Essa garota se depreciava sem parar…mas já era mais do que forte o suficiente. O problema era que compará-la a Blank era crueldade. Agora, podia-se dizer que dificilmente qualquer Immanity normal poderia vencê-la. Mas, sem meios de saber os verdadeiros pensamentos de Ino, Steph continuava.

“Como se isso não bastasse, eles nem percebem que estão sendo enganados. Será que o objetivo desses lordes é só me privar de sono até que eu morra de exaustão?!”

“…Senhorita Stephanie, você começa a se assemelhar a Suas Majestades.”

—Pt. Steph parou de bater os pés no chão.

“Senhor, o que acabou de dizer?”

Virando a cabeça de forma tão abrupta que parecia que ela ia estalar, perguntou:

“Que eu me pareço com nosso rei e rainha pródigos, que passam os dias folgando na União Oriental—é isso que você disse?!”

“S-S-Senhora, por favor, acalme-se! Eu só quis dizer que você se assemelha a eles no estilo de jogo!”

Steph estava vencendo de várias maneiras—desde o uso regular de contagem de cartas até truques como esconder cartas, manipulação de mãos e embaralhamentos cegos. Ela via através dos truques dos oponentes, usava-os contra eles, blefava e até jogava com jogos mentais. Todas essas técnicas eram truques que ela havia aprendido desafiando Sora e Shiro e perdendo repetidas vezes. No início, Steph, ameaçada pela possibilidade de falhar na promessa da Comunidade, pensava: O que Sora e Shiro fariam? Sim, ela imitava conscientemente o estilo deles. Mas, à medida que a privação de sono e a frustração com a ausência da dupla fizeram essa ameaça recuar para o fundo de sua mente, em algum momento, ela começou a jogar como se estivesse jogando contra Sora e Shiro. Mas seus oponentes eram fracos demais. Ela não podia acreditar que por um momento sequer havia comparado aqueles inúteis a Sora e Shiro.

—Aqueles inúteis. Que haviam olhado de cima para baixo. Para ela e seu avô—isso a fazia sentir tanta raiva que—

“Ah!”

De repente, a expressão de Steph mudou, como se um espírito maligno tivesse sido exorcizado.

“Ahh, entendi. O problema é que ter nobres só atrapalha nossa Comunidade.”

“S-Senhorita Stephanie?”

Com essa transformação, Ino perguntou nervosamente. Mas, como se não o ouvisse…como se visse algo que não podia ser visto, Steph, com os olhos brilhando, girou no lugar quase dançando—

“—Ohh, Senhor Inooo, não seria maravilhoso se simplesmente destituíssemos toooodos os nobres, os mercadores, as guildas—destituíssemos de tudo, os jogássemos numa vala e os triturássemos até as cinzas e fôssemos direto ao ponto, governando tudo pelo estado? Preencheríamos as lacunas de pessoal com magistrados escolhidos entre o povo e, se fossem corruptos, bastaria arrancar-lhes a pelée! Vamos nos livrar de todos esses cães podres que nos puxam para baixo, encher o tesouro, ditar as políticas e resolver tudo. Certo? Não sou um gênio?! Eu-eu não sou idiota… Eu não sou idiota, reealmeeeeente!!”

—E ela desabou.

“S-Senhorita Stephanie, recomponha-se! O que você está descrevendo equivale a uma purga—um regime de terror!”

Rindo ou lamentando enquanto batia a cabeça contra a parede e gritava, Steph de repente…sentiu algo—e virou seu olhar…para ver…

—Sora.

“Oh—oh…!”

Onde ele esteve, vagabundeando e se divertindo à vontade enquanto me deixava fazer todo o trabalho? Inúmeros sentimentos surgiram dentro dela, mas, antes de qualquer outra coisa, seu rosto corou com o simples fato de que Sora estava bem ali. A incapacidade de seu coração de esconder a alegria a inundou com emoções complicadas, mas—

“S-Sora! Você voltou—ngeeh?!”

Correndo e colidindo de frente com a coluna em direção à qual havia pulado, Steph soltou um barulho engraçado enquanto o sangue escorria de seu nariz. Ela se estatelou de costas no chão, olhando para o teto…então percebeu que o “Sora” que vira era apenas um reflexo na coluna de mármore polido—dela mesma. Ela murmurou uma frase pensativa:

“…………Eu sou um caso perdido.”

“Senhorita Stephanie. Por que não tira um cochilo? Aliás, poderia, por favor, dormir um pouco? Eu imploro.”

Erguendo a Steph mole como um pano, Ino continuou. “…Não há motivo para alarme. Rei Sora e Rainha Shiro, bem, eles são um par de pessoas difíceis de entender, mas—” Ele lutou para encontrar uma interpretação positiva para os irmãos enigmáticos. “—Pode ser que eles estejam permanecendo na União Oriental para resolver questões com a Santa Shrine Maiden… talvez?”

Uma Comunidade construída sob a liderança de Elkia—claro, não era um assunto que poderia ser resolvido apenas por Elkia.

“Eles mesmos devem estar avançando de forma constante—uma ‘cúpula de negociações,’” disse Ino.

—Sim, isso poderia ser. As ações de Sora e Shiro sempre desafiavam o senso comum. E, ainda assim, todas as vezes, essas ações acabavam beneficiando Elkia. Esse era um fato. Era melhor confiar neles—mas—

“…Eu me pergunto. Tudo o que eles dizem e fazem é baseado na mistura de interesses públicos e privados…”

Também era um fato que eles sempre encontravam uma maneira de satisfazer seus desejos pessoais. Lançando os olhos na direção da distante União Oriental, Steph murmurou:

“…Tenho certeza de que, neste exato momento, eles estão apenas bajulando garotas com orelhas de animal, trancados em algum lugar, enchendo a cabeça de jogos como os vegetais inúteis que são.”

…Ino não conseguiu encontrar palavras para refutar o comentário dela.

******

—E assim levamos nossa cena para a União Oriental: a capital, Kannagari. Equivalente ao Castelo Real de Elkia, a residência da agente plenipotenciária dos Werebeasts: o Santuário. Em sua Divisão Central: o Jardim Interno. Um espaço que de alguma forma lembrava um jardim japonês da Terra, repleto de natureza fresca, vermelho e preto. Aqui, neste lugar normalmente proibido para visitantes, uma multidão havia se reunido ao lado do lago sagrado.

“…Ei, Shrine Maiden, o que é o amor?”

“…Conte para nós, Shrine Maiden…”

Os autores dessa séria indagação eram um jovem de cabelos negros e olhos escuros, vestindo uma camisa com “I PPL”, e a garota de cabelos brancos e olhos vermelhos sentada em seu colo: o monarca de Elkia e a agente plenipotenciária da Immanity, Sora e Shiro. A multidão consistia em várias garotas Werebeasts, soltando ruídos coquetéis enquanto eram acariciadas pelos dois. E havia uma fila, aparentemente formada por pessoas invejosas, aguardando pacientemente sua vez.

“…Eu não sei, há tantas coisas que eu gostaria de dizer a vocês…” A voz que murmurava como sinos suaves era da garota sentada do outro lado da mesa de jogo. A raposa dourada de duas caudas, cujo nome verdadeiro ninguém conhecia. A agente plenipotenciária dos Werebeasts—conhecida como Shrine Maiden.

“…Agora, isso tem dois significados, claro—o que está passando nessas cabeças de vocês?”

Os três jogavam zohjong, um jogo tradicional único da União Oriental. Embora compartilhasse algumas características com mahjong, era fundamentalmente um jogo completamente diferente.

“O que está passando? Oh, opa. Ganhamos de novo.”

“…Este jogo…é…bem, divertido…”

Enquanto jogavam, Shiro e Sora acariciavam várias garotas Werebeasts e faziam perguntas malucas como: “O que é o amor?” Tendo visto o jogo pela primeira vez e aprendido suas regras há cerca de meia hora, eles já o haviam dominado. Num piscar de olhos, haviam descoberto as estratégias mais eficientes, inúmeras convenções e até mesmo maneiras de trapacear. Mas a verdadeira questão era—. A Shrine Maiden suspirou com um sorriso fraco.

“Poderiam me explicar um pouco como conseguiram trapacear bem na minha frente?”

Nem mesmo os sentidos da Shrine Maiden eram aguçados o suficiente para perceber o que haviam feito. Sora sorriu de volta.

“Como pode dizer que estamos trapaceando? Shiro simplesmente memorizou todas as peças viradas para baixo e acompanhou suas posições o tempo todo, e eu só senti casualmente as peças que Shiro provavelmente queria—não dá para chamar isso de trapaça, dá?”

Certo, das duas razões pelas quais a trapaça não podia ser denunciada, essa era uma delas. Porque eles não estavam se comunicando de forma alguma, apenas inferindo a mão um do outro.

“Além disso, convenhamos, você também está fazendo isso. Estamos quites, certo?”

E a segunda razão era que estavam competindo considerando isso como um dado adquirido. Com apenas essas poucas rodadas, para a Shrine Maiden, que jogava esse jogo há mais de cinquenta anos, ser claramente superada em habilidade genuína e ter a liderança de pontos tomada dela…não restava mais nada a dizer. Essa foi uma derrota tão completa que, de alguma forma, parecia até revigorante. Enquanto a Shrine Maiden sorria debilmente com o queixo apoiado na mão, Sora começou. “Certo…

“Então, temos três demandas conforme os Pactos—você está de acordo, certo?”

A Shrine Maiden riu com resignação, e Sora continuou. “Primeiro, faça uma tabela tarifária detalhada, baseada objetivamente nos interesses de ambos os países.”

Era claro que a União Oriental entendia melhor a importância dos recursos no continente do que Elkia. O que significava que, para definir tarifas compatíveis com os interesses mútuos dos dois países, levando em conta suas diferenças de capacidade, não havia ninguém mais qualificado do que a agente plenipotenciária da União Oriental—ou seja, a Shrine Maiden. E enquanto as palavras “interesses de ambos os países” estivessem incluídas, ela não poderia favorecer unilateralmente a União Oriental. Perfeito como sempre, a Shrine Maiden comentou consigo mesma. Ainda assim.

“…Em essência, então, vocês estão jogando tudo para cima de mim de novo, não é…?”

Sora e Shiro realmente estavam, no último mês, trabalhando. Dia após dia, iam até a Shrine Maiden e jogavam partidas com os destinos dos dois países em jogo. …Sim, isso era trabalho de verdade. Se você ignorasse o fato de que eles venciam a Shrine Maiden em todos os jogos…e depois jogavam toda a execução das políticas sobre ela.

“Dizem que devemos deixar as coisas para os especialistas. Você é a Shrine Maiden que construiu um grande país em meio século. Nós acreditamos em você!”

Com a resposta alegre de Sora, a Shrine Maiden gargalhou e coçou a cabeça. Reestruturar estados aliados em uma federação—Sora e Shiro aparentemente usaram o precedente dos “Estados Unidos da América” do mundo deles como referência para propor soluções e compromissos para os inúmeros obstáculos, enquanto lançavam sobre a Shrine Maiden a tarefa de minimizar os atritos. Na verdade, essa era a decisão certa. Sora e Shiro eram gênios em jogos, não políticos. Mas havia uma razão diferente para a Shrine Maiden ter rido.

Até hoje, ela havia tentado superar Sora e Shiro várias vezes. Desta vez, achou que poderia vencê-los com um jogo que eles nunca haviam visto, e ainda assim foi derrotada. Além disso, tentou criar várias artimanhas para favorecer a União Oriental…mas, no final, nunca conseguiu superá-los ou vencê-los. No entanto, as políticas decididas dessa forma, como eles haviam dito, eram inteiramente montadas para os interesses de ambos os países. Elkia e a União Oriental perderiam no curto prazo para que ambos ganhassem no longo prazo. Suspirando enquanto olhava os documentos que incorporavam essas políticas, ela não tinha reclamações. Estava até começando a se sentir culpada por sempre tentar enganá-los. O problema era aquela segunda exigência que eles sempre adicionavam—

“’Certo, então, a Segunda Exigência é a de sempre—nos deixe acariciar você!”

“…Acariciar…você…!”

—Sim, era isso: todas as vezes, eles apostavam inutilmente o direito de acariciar a Shrine Maiden.

“Considerando que vocês realmente pensam nas políticas, não posso objetar, mas…”

Com um suspiro profundo, a Shrine Maiden lançou um olhar para a montanha crescente de documentos. —Vão em frente, indicou ela, acenando suavemente suas duas caudas douradas.

“Wooot! Conseguimos, Shiro!” “…Hoje, é o dia…em que vamos te fazer…ofegar…”

Enquanto observava Sora e Shiro avançarem com olhos brilhantes, a Shrine Maiden sorriu e ponderou.

—Classe Quatorze do Ixseed, Werebeast, era uma raça com habilidades físicas que se aproximavam dos limites humanos. Mas alcançar isso na forma de uma pessoa, como é óbvio, normalmente seria fisicamente impossível. O que tornava isso possível era o uso dos espíritos dentro de seus corpos. …Todos os seres vivos neste mundo tinham espíritos em seus corpos, mesmo que em uma quantidade mínima. As classes eram baseadas na quantidade de espíritos que cada raça possuía e na aptidão de seu “corredor espiritual”—nervos conectados, ou seja, quão bem poderiam manipular espíritos externos—magia. A aptidão dos Werebeasts era extremamente baixa: eles não podiam usar magia de forma alguma. No entanto, todos os seres vivos, até mesmo os Immanity, tinham a habilidade inconsciente de controlar os espíritos em seus próprios corpos. Os Werebeasts alcançavam sua força física impressionante explorando isso ao máximo. Os “bloodbreaks” usados por Izuna e pela Shrine Maiden eram exemplos notáveis. Werebeasts nasciam com a habilidade de agitar os espíritos em seus corpos para aumentar suas habilidades físicas ao nível da autodestruição. Mas o preço era a peculiaridade de que os espíritos fluindo através de seus corpos estavam sempre em desordem. Esse efeito era mais forte quanto menor e mais esguio fosse o Werebeast. Como resultado, Werebeasts—especialmente crianças e mulheres—sofriam de distúrbios crônicos relacionados aos espíritos em seus corpos…um desconforto constante. Não era um problema que pudesse ser facilmente resolvido sozinho—

……Então, se você quer saber o que isso tinha a ver com a situação…

“…Fofo, fofo…acariciar, acariciar…hee-hee…”

“—!”

Sentindo a vontade de soltar um gemido com o toque das mãos de Shiro, a Shrine Maiden tentou conter seus pensamentos. Sora e Shiro…os dois eram anormalmente habilidosos—em manipular os espíritos dela. Certamente não era o caso de que os Immanity podiam ver espíritos. Mesmo considerando que eram de outro mundo, manipular os espíritos corporais estava no domínio da magia de alto nível. Ainda assim, esses dois—

“—Heh, acho que aqui está o ponto!” “ !!”

—Captando instantaneamente suas reações ao toque, eles estavam, efetivamente, manipulando os espíritos dela por meio de carícias. Como resultado, estavam resolvendo o distúrbio crônico de espíritos corporais da Shrine Maiden—sem sequer pretender fazer isso. Qual era a palavra para isso—deveriam ser chamados de “massagistas celebridades”?

—Agora você entende por que há uma fila para ser acariciado, certo?

“…Então, você disse que hoje suas exigências são três… Hum.”

Quase gemendo com a carícia no local exato, mas resistindo pela pura força de vontade, a Shrine Maiden perguntou:

“—Será que posso obter uma explicação agora? Claro, deve ter algo a ver com esta situação, certo?”

Sora e Shiro estavam cercados por um grupo de estranhas garotas Werebeasts, ocupados acariciando todas elas. Só isso já era o suficiente para a Shrine Maiden querer dizer uma ou mil coisas, mas, deixando isso de lado… Os dois haviam enrolado tiras de tecido, aparentemente de Izuna, para esconder a parte inferior de seus rostos. Além disso, Sora usava o que pareciam ser orelhas de gato falsas, enquanto Shiro usava orelhas de coelho. Até mesmo Jibril, esperando atrás deles, por algum motivo tinha orelhas de cachorro caídas na cabeça, e, ao lado dela, Izuna observava as garotas sendo acariciadas por Sora e Shiro como se esperasse ansiosamente sua vez. Então, a Shrine Maiden lançou um olhar estreito para o último membro do grupo. Diante dela, encolhida e tremendo no canto da sala, estava uma garota Dhampir.

“Parece que esta Dhampir—Plum—cujo ‘favor’ nós recusamos na noite passada, respondeu indo por toda Kannagari contando a todos sobre nossas habilidades de acariciar.”

Isso aparentemente explicava a fila de garotas-animais esperando para serem acariciadas. Eles haviam escondido seus rostos e se teleportado para a frente do Santuário, mas apenas a curta caminhada do portão já havia sido suficiente para produzir essa situação. Sora abriu as mãos e riu.

“Ela disse que vai continuar interferindo no nosso trabalho até salvarmos os Dhampirs.”

“……Entendo…”

“Mestre, não acha que já está na hora? Vamos fazer com que ela aposte a cabeça em um jogo. Então, a enredaremos no jogo e a tomaremos. A cabeça dela, quero dizer.”

“E-eu—eu sinto muitooo…m-m-mas, veja bem, a própria vida da minha raça está em jooogo!”

Encolhendo-se diante dos olhos assassinos de Jibril, Plum guinchou de forma lastimável.

“—Então, sim, minha terceira exigência…”

>

“Mm-hmm.”

“Por favor, use o poder que você tem como agente plenipotenciária dos Werebeasts e ordene que nos deixem em paz até que os procuremos. Agora há uma fila na frente da casa de Izuna. Nós temos uma fobia de sermos observados e nem podemos abrir a porta. E também não conseguimos chegar ao verdadeiro assunto.”

……

—Aparentemente, Sora tinha muitas coisas a dizer. Querendo ouvir qual era esse suposto “verdadeiro assunto,” a Shrine Maiden abriu a boca abruptamente.

“—Por que vocês não vão logo?”

Isso foi o suficiente para fazer os pelos das garotas-animais se eriçarem, e elas se curvaram repetidamente enquanto fugiam do jardim como se estivessem rolando para longe. Observando-as partir, Shiro acenou. “Tchau-tchau.”

“Minha nossa—bem, vocês falam de algo importante, espero?” perguntou a Shrine Maiden com um olhar incrédulo, e Sora assentiu de volta, seu rosto tenso.

“Sim—é um assunto importante que diz respeito a Elkia e à União Oriental.”

Começando assim, Sora já não tinha mais a expressão boba de momentos atrás. Seu rosto era uma máscara de seriedade, como se tivesse esbarrado em um problema intransponível. Hmm—A Shrine Maiden endireitou-se, encarando Sora enquanto ele falava.

“Você sabe sobre aquele país no oceano ao sul da União Oriental—Oceand?”

“É nosso vizinho; claro que sei. O lar das Sirens, não é?”

—Siren. Classe Quinze do Ixseed: a raça um nível acima de Immanity e um abaixo dos Werebeasts. Construindo uma metrópole nas profundezas do mar, elas só podiam viver na água e, portanto, tinham poucas preocupações com território. Uma raça insular com um modo de vida peculiar, conduziam apenas o comércio mínimo com outros países. Que tipo de problema poderia surgir envolvendo pessoas assim…? Com o olhar da Shrine Maiden que parecia perguntar isso, Sora assentiu dramaticamente e falou:

“Certo, tem a ver com elas, então, Shrine Maiden—”

Ele fez uma pausa para respirar.

“—Shrine Maiden, o que é o amor?”

“Vou te dar apenas mais uma chance de se explicar. Se você quer brigar, estou mais do que disposta.” Com um sorriso despreocupado, mas pronta para liberar seu *bloodbreak*, a Shrine Maiden rosnou, seus cabelos começando a avermelhar.

******

—Voltando um pouco para a noite anterior. Sora, tendo acabado de dispensar tudo sem rodeios, dizendo: Vá viver seu cenário de jogo adulto em outro lugar. Segurando-se nas pernas dele, Plum choramingava, parecendo à beira das lágrimas.

“P-p-por favor, esperem! Suas Majestades, não temos ninguém além de vocês para pedir ajuda!”

“Cala a boca! Não posso me envolver com uma raça cujo próprio conceito é R-18! Já ouviu falar em áreas de restrição?”

A raça alimentada por um fluido branco viscoso no lugar de sangue—Dhampir. —De um jeito ou de outro, envolver-se com eles era uma passagem sem volta direto para a seção adulta.

“Não! …Bom, há algumas garotas que veem dessa forma…”

“Eu sabia! Vocês vieram direto de um jogo adulto!”

“D-d-deixe-me explicaaaar! Neste ritmo, seremos exterminadooos!”

“—Hmm?” “…Mm?”

Respondendo a uma frase que não podiam ignorar, Sora e Shiro pararam em seus passos. Eles se entreolharam, confirmando—

—Que não poderiam deixar isso acontecer.

“…Vamos ouvir sua história, então. Só para você saber, vou te cortar no momento em que isso começar a virar pornografia.”

Relutantemente, Sora sentou-se de pernas cruzadas, suspirou e abriu a boca. Shiro acomodou-se em seu colo, e Jibril, seguindo o exemplo, sentou-se sobre os calcanhares. Izuna—aparentemente com sono—enrolou-se em uma bola ao lado de Sora e acenou lentamente.

“M-muito obrigadaaa!” Chorosa, Plum fez várias reverências. “Uh, uh…me dêem um momento…”

Um padrão irregular surgiu em seus olhos violeta—e, naquele momento—

—Quando haviam se movido? Num instante, Jibril estava bem na frente de Plum, e Izuna tinha tomado sua retaguarda. A brisa criada pelo movimento delas percorreu o quarto, parecendo chegar um pouco atrasada.

“…Muh?”

Enquanto Plum soltava um som bobo, Jibril olhou para ela com intensidade:

“Eu elogio sua habilidade em se aproximar do meu mestre sem que eu percebesse, mas, para que não pense que sou tão tola a ponto de permitir isso uma segunda vez, deixe-me dar este conselho—não seria melhor que você prestasse atenção à sua posição, verme?”

“Grampy disse que, se você sentir magia de Dhampir, é melhor sair correndo de sua linha de visão, por favor.” Izuna rosnou com uma voz gélida, suas suspeitas levantadas.

Sora, nervosamente, tentou acalmar as tensas companheiras. “H-h-ei… Os Dez Pactos não impedem que qualquer dano seja causado?”

“Dano ou não, é possível disfarçar percepções. Por exemplo—”

Jibril dirigiu sua profunda hostilidade para um lugar ao lado de Plum. “Fazer malas volumosas ficarem invisíveis—e coisas do tipo.”

Com lágrimas nos olhos, Plum acenou com as mãos para Jibril enquanto olhava para o espaço vazio. “É-é um mal-entendiiiido! Eu só quis disfarçar minha própria percepçããão!”

—De repente, várias malas volumosas apareceram…

“……Mm.”

Izuna, com suas suspeitas aliviadas, fungou e voltou para perto de Sora e Shiro.

“Então, basicamente—ela ocultou a existência da bagagem para se livrar do peso?”

“Não. Tudo o que isso faz é evitar que ela sinta o volume e o peso da bagagem, mas não elimina.”

“Então, quando ela apareceu pela primeira vez, estava exausta…”

“…por causa…disso?”

“E-eu sinto muitoooo… Quero dizer, e-era pesaaado…”

Com Plum se curvando e se desculpando, ainda assim Jibril declarou:

“A aptidão dos Dhampirs para furtividade mágica e ilusão—manipulação de percepção—pode superar até mesmo a dos Elfos. Essas malas estavam lá o tempo todo…e simplesmente não as observamos.”

“Hmm. Mas você as notou, certo?”

“Para minha vergonha, elas ameaçaram escapar da minha atenção se eu não tivesse prestado muita atenção. Contudo, isso não acontecerá novamente.”

Jibril cerrou os punhos e abaixou a cabeça. Sora, desviando o olhar para o lado, perguntou:

“…Izuna, por que você relaxou?”

“Hã? A vadia não cheira como se estivesse mentindo, por favor,” respondeu a enrolada Izuna com um bocejo, como se estivesse bastante cansada do movimento abrupto.

—Hmm—Sora e Shiro estreitaram os olhos. Diante deles, Plum estava remexendo em suas malas, procurando algo. Então, ela exclamou: “Ah, aqui estáaa,” puxando um documento—

“Ahem, hum… Ouvi dizer que Suas Majestades pretendem conquistar todas as raças.”

“…Uh, sim.”

Foi assim que apresentaram a ideia. O fato de estarem trabalhando em uma Comunidade com a União Oriental—bom, provavelmente já era algo sabido, mas, de qualquer forma, o movimento de peças ainda deveria ser um segredo entre a Equipe Sora e a Equipe Shrine Maiden. Sentindo que não havia necessidade de explicar, Sora confirmou.

“Deixe-me ser franca—” Como se satisfeita com a resposta dele, Plum prosseguiu. “Agora mesmo, nós—Dhampirs e Sirens—nossas duas raças estão à beira da extinção. Tentamos de tudo o que podíamos, mas…não há mais nada que possamos fazer. Gostaríamos de solicitar seu apooiio.”

…—Hmm.

“Jibril, você me diz, certo? Qual é o relacionamento entre Dhampirs e Sirens?”

À pergunta de Sora, Jibril abaixou a cabeça silenciosamente e começou: “Após os Dez Pactos, os Dhampirs não puderam mais ingerir sangue sem permissão, o que significa que sua própria sobrevivência passou a depender da permissão de outros—e as Sirens estavam em uma situação semelhante.”

“…O que isso significa?”

“…Sirens…Classe Quinze, uma raça que só pode viver no…oceano.”

Shiro elaborou. Classe Quinze do Ixseed, Siren—para simplificar—era uma raça de sereias. Elas viviam no fundo relativamente raso do oceano, possuindo corpos superiores semelhantes aos humanos e caudas de peixe da cintura para baixo. Elas tinham um modo de vida extremamente peculiar, exemplificado, antes de mais nada, pelo fato de não poderem permanecer fora do mar por muito tempo. Por isso, construíram a metrópole subaquática Oceand, reivindicando uma vasta extensão marítima como território. Sua segunda peculiaridade era existirem como uma raça exclusivamente feminina. O que significava que seu método de reprodução—

“…Requer…um homem…de outra raça…”

Com a explicação de Shiro, Sora estreitou os olhos para Jibril. “Ei, esses Dhampirs e Sirens não são ridiculamente ruins como organismos?”

“Originalmente—isto é, antes dos Dez Pactos—não havia problema algum.” Jibril continuou, “Tudo o que as Sirens precisavam fazer era reivindicar e devorar um homem de outra raça. E os Dhampirs podiam simplesmente sugar sangue à vontade. São os Dez Pactos que os colocaram em desvantagem—bem, devo dizer que são poucas as raças que não foram afetadas por eles—mas as duas raças mais prejudicadas pelos Pactos devem ser essas.”

À história sorridente e selvagem de Jibril sobre tempos antigos, Sora respondeu: “…Quê, reivindicar e devorar? Você quer dizer, literalmente?”

Por um momento, a imagem de uma mulher, metade peixe da cintura para baixo, exibindo uma expressão repugnante enquanto devorava outras raças desordenadamente—uma cena que parecia R-18 por outro motivo—passou pela mente de Sora, e ele estremeceu. Mas Jibril balançou a cabeça em resposta. “Não, eu mantive isso vago, já que você mencionou querer algo mais inocente. Mas quis dizer sexualmente.”

“O quê?? Quero entrar nesse paraíso! Jibril, vamos agora!!”

Enquanto Sora se levantava, exclamando de alegria, Jibril o encarava com um olhar vazio. “Você será sugado até secar e morrer. Está bem com isso?”

“O quê?? Quero sair desse infernooo… Nunca vou lááá.”

…Sereias que não podiam se reproduzir sem sugar um homem de outra raça até a morte? Até onde esse mundo tinha que ir para trair expectativas e clichês? Sora, sua energia indo ao máximo e depois esgotada no piscar de olhos, suspirou e sentou-se novamente. Ignorando Sora, Jibril continuou, “De qualquer forma… “Dhampirs e Sirens são duas raças que não podem sobreviver sem prejudicar outra, e por isso os Dez Pactos ameaçaram sua própria existência. Assim, os Dhampirs voltaram sua atenção para as Sirens.”

Hmm, Sora assentiu. “Sim, acho que sim. Como as Sirens são Classe Quinze, entre Immanity e Werebeasts, isso significa que não podem usar magia, certo? Os Dhampirs têm suas habilidades mágicas de furtividade e ilusão. Eles devorariam as Sirens no café da manhã.”

Como outra raça à beira da extinção, a aposta deles não poderia ter sido muito difícil. Era cruel como sempre, mas quando sua sobrevivência dependia disso… Mas Jibril continuou com um sorriso.

“Infelizmente, a história escalou rapidamente… Tornou-se um conto famoso em todo o mundo.”

—Nem sequer escalou gradualmente? Jibril continuou sua narrativa, divertida.

“Mencionei que ser mordido por um Dhampir…traz uma doença.” “Sim…” “Resumindo, é uma doença que faz com que alguém morra se exposto à luz solar direta. Portanto, é uma doença que não apresenta ameaça especial para as Sirens, que vivem no fundo do mar e raramente saem para a superfície.” “—Mm? Ei, então…”

Plum respondeu com um sorriso fugaz. “…Siiim, nós, Dhampirs—propusemos uma simbioseee…”

Jibril continuou. “A estratégia deles era que as Sirens concederiam sangue, enquanto os Dhampirs retribuiriam com magia e ajudariam a capturar outras raças para se alimentarem. Dhampirs e Sirens rapidamente formaram uma frente comum.”

“Isso é—como posso dizer…?” “…Incríveeel…”

Sora e Shiro expressaram juntos uma admiração genuína. Mesmo considerando que estavam presos em uma situação na qual não podiam se preocupar com aparências, essas duas raças propuseram um plano perfeitamente baseado em seus interesses mútuos, com precisão e—irritantemente—eficaz.

“Sim, de fato. São uma raça digna de assombro—Sirens, quero dizer.” —O quê? Mas Jibril continuou, sorrindo com pena para Plum. “Quanto aos Dhampirs, tendo trazido a proposta de simbiose—contra todas as probabilidades, foram esmagados!”

……Hã?

“No final—os Dhampirs foram completamente derrotados pelas Sirens, e um contrato misterioso foi concluído, no qual os Dhampirs machos ajudariam as Sirens a se reproduzirem, enquanto eram proibidos de sugar o sangue de não-Sirens.”

……Com licença? Essa informação, talvez nem mesmo conhecida por Shiro, fez com que ela olhasse surpresa para Jibril, parecendo duvidar de seus próprios ouvidos.

“…Ha-ha…é uma história realmente engraçada, não ééé.” Plum, enquanto isso, parecia resignada ao seu destino.

“Imagino que nossos ancestrais não tenham pensado…que as Sirens seriam incapazes de entender os Dez Pactos e nem sequer perceberiam que estavam à beira da ruína…ha-ha.”

—Seu rosto aflito era ainda mais acentuado por sua exaustão, enquanto um sorriso apagado emergia.

“…Uumm…? Irmão…o que…é?”

Shiro inclinou a cabeça em uma confusão atípica para Sora.

“—Ohh…será que poderia ser…? Não pode ser…” Ele não conseguia acreditar, mas—. Sora continuou. “Os Dhampirs trouxeram para elas um jogo onde não usaram magia, e basicamente armaram tudo para que terminasse em empate como um passo em direção a uma proposta de relacionamento simbiótico—mas as Sirens não entenderam o que aquilo significava, acabaram com os Dhampirs, e houve grande regozijo—algo assim?”

O sorriso de Jibril e a versão cansada e resignada de Plum disseram a ele: Na mosca.

“…Ei, as Sirens são burras, ou—?”

“Elas são burras o suficiente para ressoar pelos céus e terras em três mil mundos.”

“Tenho que dizer, elas realmente alcançaram o auge da estupidezzz…ha-ha.”

“Grampy disse que elas nem chegam ao nível de macacos sem pelos, por favor.”

Jibril, Plum e até mesmo Izuna, que supostamente deveria estar dormindo, responderam de imediato à pergunta de Sora.

“…Uau, há uma raça que é ainda mais desprezada do que os Immanity…De certa forma, isso é tocante.”

Jibril continuou seu relato, ainda no auge da forma.

“Então, isso tem várias implicações interessantes!”

Primeiro—ela levantou um dedo.

“Antes de mais nada, Dhampirs podem sobreviver mesmo com fluidos corporais diferentes de sangue.”

Segundo—levantou outro.

“No entanto, seu crescimento depende de sangue—sem a mistura de almas, eles permanecem crianças para sempre.”

Terceiro—levantou mais um dedo.

“A proibição de sugar sangue de outras raças só se aplica aos machos. Porém, os Dhampirs não são capazes de se reproduzir entre si enquanto forem crianças. Para receber sangue, os machos são forçados a obedecer às Sirens, e, para ter filhos, quase todas as fêmeas são efetivamente forçadas a obedecer às Sirens também.”

Quarto—levantou mais um dedo.

“Mesmo que alguém fugisse da cidade das Sirens, ainda seria portador de uma doença—e vocês sabem o que isso significa?”

E com um sorriso, quinto—Jibril ergueu toda a mão.

“Isso significa que os Dhampirs, sem querer, se encontraram presos por esses idiotas!”

……Diante dessa história, estúpida demais para sequer reagir, Shiro já havia perdido o interesse e começado a cutucar as unhas. Sora, também, encarava o teto em um estupor—mas então. Pelas bordas de sua mente, as palavras de Plum flutuaram:

—Não—bom, há alguuuumas garotas que veem dessa forma—

…Vamos reunir e revisar as informações aqui. Primeiro de tudo, Dhampirs fêmeas não têm obrigação de obedecer às Sirens e podem sair. No entanto, se não sugarem sangue, permanecerão crianças. Ainda assim, elas podem sobreviver enquanto tiverem os fluidos corporais de outra raça. Além disso, o segundo melhor fluido corporal para elas depois do sangue é *aquele*. E—há algumas garotas que veem dessa forma…?

—Espere. Espere só um momento, se puder.

……Legalmente *loli*.

“M-mas ainda assim? Por um…tempo, nós conseguimos…”

“O quê, a-ha, uh, sim?”

Sora, completamente distraído, foi trazido de volta à realidade de maneira desajeitada pela objeção de Plum.

“Eu acabei de descrever o estado logo após os Dez Pactos. Os Dhampirs de fato conseguiram uma simbiose, a partir daí.”

Jibril, assentindo, continuou:

“As Sirens se reproduzem ao roubar a essência, a alma, dos machos de outras raças. No entanto, existiam indivíduos capazes de deixar o suficiente para manter o macho vivo enquanto ainda assim reproduziam. Embora apenas uma Siren assim surgisse por geração—e, portanto:

“Os Dhampirs cumpririam sua obrigação vinculante de auxiliar na reprodução apenas com essa uma Siren—que foi designada como a rainha, a agente plenipotenciária das Sirens, de geração em geração, sendo a única capaz de reproduzir.”

“—Huhhh!” “…Incríveeel…”

Sora bateu palmas em admiração, e Shiro igualmente aplaudiu.

“Os Dhampirs só precisam ajudar as Sirens na reprodução, então isso não viola os Pactos. Eles ainda podem recusar as outras Sirens que sugaram sua essência até a morte, e, ao mesmo tempo, os Dhampirs podem sugar sangue—GG, perfeito, né?”

Ora, ora—podiam ter cometido erros espetaculares, mas isso era um grande golpe de sorte. Haviam encontrado um sistema que garantiria de forma confiável a existência contínua de ambas as raças. Em outras palavras, haviam alcançado a harmonia entre raças antes de Sora e Shiro.

“—Os Dhampirs estão com tudo, afinal. Não são Classe Doze à toa, né.”

“Infelizmente, Mestre, este sistema também entrou em colapso sob a atual rainha.”

—Quantos reveses essa história ainda teria?

“Certo, o que essa rainha atual fez, então?”

À pergunta de Sora, Jibril respondeu com os olhos semicerrados, mas ainda sorrindo, abrindo os dedos das duas mãos. “—Nada. Absolutamente. Nada.”

Ao ouvir isso, Plum, como se seu rosto já não estivesse cheio de problemas suficientes, soltou uma risada para si mesma, como se estivesse pronta para tossir a própria alma, enquanto murmurava:

“Ela disse: ‘Eu não vou acordar até que meu príncipe venha me despertarrr’…e entrou em criobernação.”

Hã? Com um sorriso tão radiante que alguém poderia se perguntar o que exatamente havia de tão divertido, Jibril disse:

“Em outras palavras—”

“A rainha atual, que detém o poder de fazer as Sirens se reproduzirem sem que os Dhampirs morram—aparentemente foi influenciada por um dos contos de fadas de sua mãe enquanto ainda era rainha, e assim fez essa declaração pelos Pactos e adormeceu.”

…Ei, espere um minuto, isso só pode ser brincadeira.

“Até que o príncipe que ganhará seu amor apareça—ou seja, até que alguém vença o jogo que ela estabeleceu pelos Pactos—ela não irá acordar. E veja, a criobernação é um poder especial das Sirens—como o bloodbreak dos Werebeasts. Ela é capaz de dormir por mais de mil anos—mas, por sorte…”

Com essas palavras, Jibril sentou-se sobre os calcanhares e fez um gesto como se estivesse abanando um leque.

“E agora, senhoras e senhores, estamos prestes a chegar ao clímax da parte mais absurda da história verdadeira que este mundo já conheceuooou!”

…Será que ela estava tentando ser uma comediante japonesa à moda antiga? Jibril continuou alegremente sua apresentação com seu estilo idiossincrático de falar.

“Então agora!! A rainha estabeleceu esse jogo—mas! “Como diabos ela vai se apaixonar enquanto ainda dorme?!”

—…Não havia palavras. Plum apenas olhava para o horizonte com um sorriso tênue. Sora parecia segurar uma dor de cabeça, e Shiro, a essa altura, abafava um bocejo, com Izuna já bem longe no mundo dos sonhos. A única ainda em plena forma, Jibril prosseguiu.

“Os Dhampirs machos, que até então só trabalhavam com a rainha, que podia se reproduzir sem matar seus parceiros, e usavam isso como desculpa para recusar a reprodução com as Sirens normais—ah, agora! Quando a rainha está dormindo, o que vai acontecer?!”

E, como se estivesse abrindo um leque e cambaleando…whoa-whoa-whoa…para o lado.

“Já se passaram oitocentos anos desde que a rainha atual entrou em criobernação. A antiga rainha já se foi, e ainda levará centenas de anos antes que a rainha atual acorde naturalmente… Como resultado—os Dhampirs machos, um após o outro, estão sendo devorados—”

E então, Jibril fez uma reverência profunda.

“Espero que tenham apreciado esta farsa histórica verdadeira, a mais estúpida do mundo, capaz de varrer os sete continentes—porque parece que é hora do próximo ato.”

“…Bem, eu não sei sobre isso, mas…entendi.”

Não era de se estranhar que todo mundo achasse que os Dhampirs já haviam sido extintos há muito tempo. —Mas havia uma coisa.

“Se devorarem o último Dhampir macho, então as Sirens serão as próximas a perecer, certo?”

“…Se as Sirens fossem inteligentes o suficiente para entender issso…não teríamos esse probleeem…”

“…O quê, você quer dizer que…elas ainda não entenderam…?”

Com Plum, que olhava para o vazio com olhos sem vida, Sora involuntariamente fez uma careta. Então, o que era?

“—Na verdade, estamos no nosso último maaacho…e ele ainda é uma criança…”

…Então, estavam a cinco segundos de perecer de verdade. Isso ele entendeu—mas…

“Mas o que você espera que façamos sobre isso? Pelo que você me contou, vocês estão completamente ferrados.”

“Ah, há mais na história que a boa Flügel começooou!”

O rosto de Plum se iluminou, finalmente chegando ao ponto principal.

“A rainha está em criobernação, mas está conscienteee! E entãão, criamos um ritual para interferir na consciência dela—nos sonhos dela—de forma que seja possível fazê-la se apaixonar nos sonhos—um jogo de romance!”

…Huhh—eles haviam trazido um jogo de simulação de romance. Sora riu.

“Jibril, não viola os Dez Pactos mexer com os sonhos das pessoas?”

“Não, desde que não seja com má intenção e sem causar dano, direto ou indireto. Na verdade, neste caso, como a rainha está esperando o príncipe que a fará se apaixonar, ela efetivamente já deu permissão, não acha?”

Com um aceno, Plum aproveitou para expor seu pedido.

“—Por favor, façam nossa rainha se apaixonar! Eu trouxe um plano para que vocês possam conseguir issso!”

Sora e Shiro se entreolharam—a resposta já estava ali. Para Sora e Shiro, cujo objetivo era conquistar todos os Ixseeds—não havia escolha senão salvar todos. Mas, ainda assim, havia uma coisa que precisava ser confirmada.

“E o que ganhamos se vencermos este jogo?”

Plum pegou suas anotações novamente. “Hum…Garantiremos ‘trinta por cento dos recursos marinhos de Oceand e relações amigáveis para sempreee’!” Plum suspirou. “…Só isso já levou uma semana inteira para explicar às Sirens e fazê-las entenderem…hff…”

Hmm, eram condições decentes. Não era ruim. Mas ainda não era exatamente… Sora franziu a testa, mas Plum continuou. “…E-e também…uhh…”

Brincando embaraçosamente com os dedos, Plum desviou o olhar. Ela olhou para a pilha de malas que trouxera e, com o rosto vermelho, disse:

“V-vocês podem fazer o que quiserem comigoee… É-é por isso que trouxe todas as minhas—”

“Não vamos perder tempo, senhoras! Não há um segundo a perder! Precisamos salvar aqueles à beira da destruição!!”

—Sora terminou seus preparativos e estava pronto para sair de casa imediatamente. E, para Plum, com os olhos cheios de compaixão, continuou:

“Não tema, jovem dama. Jogos de simulação de romance são minha especialidade entre especialidades.”

Então. Vamos lá, diga os detalhes. E depois iremos reivindicar a *loli* legal—! O rosto de Plum se iluminou ao intuir essas palavras que os olhos de Sora comunicavam tão poderosamente.

“M-muito obrigadaaa! Hum, como estamos trabalhando com sonhooss, temos a liberdade de ajustar o cenário como quisermos, mas, basicamente—o objetivo é fazer a rainha se apaixonar e confessar sua devoção a vocês!”

O que passou pela mente de Sora foi *Tokimeki Memorial*. O grande precursor dos jogos de simulação de romance. Isso confirmou, em sua estimativa—seria moleza. Concordando mentalmente que não havia personagem que ele não pudesse conquistar, ouviu:

“É um jogo de romance onde as condições de afeição são indeterminadas e as conversas e ações acontecem em tempo reeaal!”

……Mais uma vez, Sora e Shiro trocaram olhares. Eles sorriram—tomando a conclusão inevitável. E a descartaram.

“Isso é outra história. Recusamos. Tenha uma boa viagem de volta para casa.”

“…Tchau-tchau…não sejam extintos…boa sorte.”

Sorridentes, essa foi sua decisão.

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“Espero que tenham apreciado esta farsa histórica verdadeira, a mais estúpida do mundo, capaz de varrer os sete continentes—porque parece que é hora do próximo ato.”

“…Bem, eu não sei sobre isso, mas…entendi.”

Não era de se estranhar que todo mundo achasse que os Dhampirs já haviam sido extintos há muito tempo. —Mas havia uma coisa.

“Se devorarem o último Dhampir macho, então as Sirens serão as próximas a perecer, certo?”

“…Se as Sirens fossem inteligentes o suficiente para entender issso…não teríamos esse probleeem…”

“…O quê, você quer dizer que…elas ainda não entenderam…?”

Com Plum, que olhava para o vazio com olhos sem vida, Sora involuntariamente fez uma careta. Então, o que era?

“—Na verdade, estamos no nosso último maaacho…e ele ainda é uma criança…”

…Então, estavam a cinco segundos de perecer de verdade. Isso ele entendeu—mas…

“Mas o que você espera que façamos sobre isso? Pelo que você me contou, vocês estão completamente ferrados.”

“Ah, há mais na história que a boa Flügel começooou!”

O rosto de Plum se iluminou, finalmente chegando ao ponto principal.

“A rainha está em criobernação, mas está conscienteee! E entãão, criamos um ritual para interferir na consciência dela—nos sonhos dela—de forma que seja possível fazê-la se apaixonar nos sonhos—um jogo de romance!”

…Huhh—eles haviam trazido um jogo de simulação de romance. Sora riu.

“Jibril, não viola os Dez Pactos mexer com os sonhos das pessoas?”

“Não, desde que não seja com má intenção e sem causar dano, direto ou indireto. Na verdade, neste caso, como a rainha está esperando o príncipe que a fará se apaixonar, ela efetivamente já deu permissão, não acha?”

Com um aceno, Plum aproveitou para expor seu pedido.

“—Por favor, façam nossa rainha se apaixonar! Eu trouxe um plano para que vocês possam conseguir issso!”

Sora e Shiro se entreolharam—a resposta já estava ali. Para Sora e Shiro, cujo objetivo era conquistar todos os Ixseeds—não havia escolha senão salvar todos. Mas, ainda assim, havia uma coisa que precisava ser confirmada.

“E o que ganhamos se vencermos este jogo?”

Plum pegou suas anotações novamente. “Hum…Garantiremos ‘trinta por cento dos recursos marinhos de Oceand e relações amigáveis para sempreee’!” Plum suspirou. “…Só isso já levou uma semana inteira para explicar às Sirens e fazê-las entenderem…hff…”

Hmm, eram condições decentes. Não era ruim. Mas ainda não era exatamente… Sora franziu a testa, mas Plum continuou. “…E-e também…uhh…”

Brincando embaraçosamente com os dedos, Plum desviou o olhar. Ela olhou para a pilha de malas que trouxera e, com o rosto vermelho, disse:

“V-vocês podem fazer o que quiserem comigoee… É-é por isso que trouxe todas as minhas—”

“Não vamos perder tempo, senhoras! Não há um segundo a perder! Precisamos salvar aqueles à beira da destruição!!”

—Sora terminou seus preparativos e estava pronto para sair de casa imediatamente. E, para Plum, com os olhos cheios de compaixão, continuou:

“Não tema, jovem dama. Jogos de simulação de romance são minha especialidade entre especialidades.”

Então. Vamos lá, diga os detalhes. E depois iremos reivindicar a *loli* legal—! O rosto de Plum se iluminou ao intuir essas palavras que os olhos de Sora comunicavam tão poderosamente.

“M-muito obrigadaaa! Hum, como estamos trabalhando com sonhooss, temos a liberdade de ajustar o cenário como quisermos, mas, basicamente—o objetivo é fazer a rainha se apaixonar e confessar sua devoção a vocês!”

O que passou pela mente de Sora foi *Tokimeki Memorial*. O grande precursor dos jogos de simulação de romance. Isso confirmou, em sua estimativa—seria moleza. Concordando mentalmente que não havia personagem que ele não pudesse conquistar, ouviu:

“É um jogo de romance onde as condições de afeição são indeterminadas e as conversas e ações acontecem em tempo reeaal!”

……Mais uma vez, Sora e Shiro trocaram olhares. Eles sorriram—tomando a conclusão inevitável. E a descartaram.

“Isso é outra história. Recusamos. Tenha uma boa viagem de volta para casa.”

“…Tchau-tchau…não sejam extintos…boa sorte.”

Sorridentes, essa foi sua decisão.

“—Por que vocês recusaram? Foi uma proposta excelente, se me permitem dizer.”

A Shrine Maiden, que ouvira a história em silêncio, expressou brevemente suas considerações.

“Sempre pensei que as Sirens e todos os seus recursos marinhos seriam algo interessante de se ter. O que há a perder em ajudá-las? E essa história de relações amigáveis para sempre—não é exatamente o que vocês desejam?”

Essa era a Shrine Maiden—com um sorriso discreto, ela entendia o cerne da questão. Foi disso que Plum estava falando quando disse que não tinha ninguém além de Sora e Shiro a quem recorrer. Dhampir e Siren não tinham nada de substancial a oferecer. A mera promessa de relações amigáveis e recursos modestos não seria motivo suficiente para salvá-las. Se alguém quisesse o território e os recursos que elas possuíam, bastaria deixá-las perecer. De qualquer forma, não havia muito a ganhar ao dominar uma raça que não podia viver sem prejudicar outras.

—Mas. Para aqueles cujo objetivo final era a conquista dos Ixseeds—e além—Sora e Shiro eram uma exceção. Permitir que uma raça sequer perecesse era um problema para eles. Os recursos cobiçados pela União Oriental também poderiam servir para preencher a lacuna de poder entre Elkia e a União Oriental. E—se tudo desse certo—duas raças adicionais seriam incorporadas à Comunidade de Elkia. Era uma proposta impecável, acima de qualquer reprovação.

—Mas Sora balançou a cabeça com uma expressão aflita e lançou um olhar penetrante para Plum.

“…Não vai funcionar, Shrine Maiden… Você não estava ouvindo? O maldito ‘jogo’ que a Plum propôs.”

“Mm, um ‘jogo de romance,’ certo? O que tem de errado? Você não gosta?” perguntou a Shrine Maiden, desconfiada, ainda sem captar a objeção de Sora.

Rasgando os cabelos, Sora jogou sua correção para ela.

“—Não. É um ‘jogo de romance onde as condições de afeição são indeterminadas e as conversas e ações acontecem em tempo real.’”

“…Isso é diferente?”

“Claro que é diferente! Isso nem é um jogo de romance! É um ‘jogo de romance da vida real!’”

Agitando dramaticamente as mãos, Sora finalmente gritou: “Quero dizer, um jogo de romance da vida real…isso é mesmo um jogo?! Se for—então o que, afinal, é o amor?!”

Era uma questão filosófica.

—Mas, dado que foi apresentado como um jogo, Sora ponderou seriamente sobre isso.

“Se estivermos falando de um jogo de romance normal, é simples. Basicamente, você só precisa ativar bandeiras e ganhar pontos de afeição. Mas olhe isso. Ela acabou de dizer, sem pestanejar, que as condições de afeição são indeterminadas e as conversas e ações não são de múltipla escolha, mas em tempo real! Pergunto novamente: Isso é um jogo?!”

Os filósofos e oradores da Grécia Antiga provavelmente pareciam assim enquanto expunham seus argumentos. Sora, com uma grandiosidade que remetia àquelas épocas, ergueu os punhos e a voz enquanto prosseguia com seu argumento.

“O que significa o amor romântico no mundo real? Pode um jogo envolvendo a troca de conceitos cujas bases nem sequer são claras realmente ser chamado de jogo? Poker jogado sem definir os valores das cartas ou as mãos ou o que trocar é um jogo?!”

—O que, afinal, era o amor romântico? Amor romântico—era composto de romance e amor. …Dois termos. Em primeiro lugar, eles diferem em ortografia. Se diferem em ortografia, segue-se que deveriam ser pronunciados de maneira diferente também. E se fossem pronunciados de forma diferente, então, é claro, deveria haver alguma diferença em seus significados. Romance e amor. Então o que eles eram, para começo de conversa? Certamente, quando aquele cara santo antigo disse: “Ame o próximo,” ele não quis dizer: “Durma com a esposa do vizinho.”

No entanto, a Shrine Maiden respondeu com desdém, com olhos frios, ao discurso apaixonado de Sora.

“—Vocês não podem simplesmente jogar aquele papo furado de sempre para fazê-la se apaixonar? Não é exatamente isso que vocês, impostores, fazem de melhor?”

Mas a isso, balançando a cabeça com expressões graves, Sora e Shiro responderam:

“…De jeito nenhum…” “Sim, parece que há uma coisa que precisamos esclarecer para você, Shrine Maiden.”

Os dois afiaram ainda mais os olhares e disseram:

“—Nós somos Blank, que ostenta um recorde invicto em todos os tipos de jogos, mas há jogos que nunca vencemos—não, nunca sequer tentamos jogar seriamente—porque não conseguimos entender as regras…apenas dois.”

Esses eram—

“—O jogo da vida real e o jogo do romance da vida real—!”

Nós que, em nosso mundo antigo, gravamos nosso nome Blank no topo de mais de 280 jogos. Nós, dois em um, sussurrados como uma lenda urbana—somos os maiores jogadores da Immanity.

—Ainda assim, não se esqueça. No mundo real, não passamos de um par de virgens, sem amigos, socialmente incompetentes e perdedores reclusos—!! Os olhos de Sora e Shiro declararam isso—sua postura digna, sua posição beirando o orgulho. Transformaram convicção em verdade, em espírito. E essa verdade, por sua vez, transformaram em uma aparição…que sacudia o ar—

>

“M-meus mestres, de fato—que força de espírito!”

“Não entendi direito, mas vocês meio que são incríveis, por favor.”

Jibril e Izuna engoliram em seco audivelmente. Enquanto isso, a Shrine Maiden e Plum ofereceram opiniões mais objetivas.

“É isso o que acontece quando você pega suas fraquezas conhecidas e as exibe com orgulho…? De certa forma, é impressionante.”

“…É-é um tipo de confiança que é bastante inconveniente para miiim, no entanto…”

“Bom, foi assim que aconteceu, então pedimos para ela se acalmar por um tempo, com a condição de que discutiríamos isso com você.”

“…Hff, é mesmo…?”

“E com isso, Shrine Maiden, diga-nos o que é o amor.”

“…Diga…Shrine Maiden…”

Para os dois que perguntavam com rostos cheios de pureza e seriedade, a Shrine Maiden soltou um suspiro. Sentando-se confortavelmente em sua cadeira e brincando com suas caudas como se estivesse se arrumando, ela refletiu: “—Minha nossa, o que seria, afinal…?”

Sua voz era suave e despretensiosa.

“Desde que me lembro, tudo o que pensei foi no Werebeast—na União Oriental… Agora que penso nisso, o que é o amor, de fato? Em algum momento, esqueci até de pensar sobre isso…”

A visão da Shrine Maiden, sussurrando com olhos distantes como se estivesse rememorando um passado longínquo—

—Estranho. Sora e Shiro de alguma forma sentiram uma afinidade que nunca haviam sentido antes.

“Entendi…” “…Bom, acho que…é isso.”

Suspiraram juntos e então se viraram de volta para Plum.

“Desculpe, Plum, sem sorte para você por enquanto. Não vá se extinguir, tá?”

“…Fique, forte?”

Plum, casualmente abandonada pela terceira vez, gritou com uma expressão como se estivesse prestes a explodir em lágrimas. “Vocês estavam me ouvindo? Eu disse que trouxe um plano para que vocês consigam fazeeeer isso!”

Sua voz tremia, à beira de um colapso, enquanto apontava para suas anotações.

“N-não é como se nós, Dhampirs, estivéssemos nos deixando devorar silenciosamente todo esse tempooo… Analisamos a rainha—o ‘jogo’—ao longo de muitos anos, e, finalmente, chegamos a um plano infalíveeel!”

Mas parecia que tanto Sora quanto Shiro haviam perdido completamente o interesse. Seguindo o exemplo da Shrine Maiden, procuravam pontas duplas em seus cabelos enquanto respondiam distraidamente, “…Se você…resolveu o, jogo…vai, em frente…”

Reclamando, Nghhhhh, Plum gritou: “E-eu vou mostrar isso para vocês! Rei Sora!”

E apontou um dedo para ele, gritando: “Diga o nome de uma pessoa que você acha que nunca se apaixonaria por você!”

“Qualquer pessoa.”

“…Hã?”

Plum congelou diante da resposta imediata e séria de Sora, dada enquanto ele cutucava as unhas. Sora, com olhos distantes—com o rosto sereno de um monge que viu a luz—continuou:

“Os céus cairão e a Terra será virada antes do dia em que alguém se apaixonar por mim sem ser forçado pelos Pactos.”

Ele prosseguiu como se elucidasse um estado de iluminação—uma verdade efêmera deste mundo.

“—U-ummm…I-isso é muito triiiste!”

Com seu ímpeto reduzido pelo sorriso quase iluminado de Sora, Plum mal conseguiu formular as palavras. Então, para tentar propor uma alternativa—

“N-nesse caso, está tudo bem se eu usar isso em você…?”

“Hmm?”

“Um feitiço—para forçar a rainha a se apaixonar por você!”

—Hrmm, Sora murmurou espontaneamente. De fato, se fazer com que ela se apaixonasse era a condição para acordá-la, então, se tivessem um feitiço assim, realmente seria uma vitória certa. Se fosse o caso, isso mudaria muito o panorama. Mas, lançando olhos de dúvida sobre a afirmação, Jibril interveio.

“—Manipulação forçada de emoções, você diz? Os Dez Pactos deveriam anular—”

Mas Plum respondeu como se já estivesse esperando essas palavras. “Sim, normalmente esse seria o casoee! Contudo, a rainha pediu para se apaixonar antes de dormir—o que significa que temos permissãão. Esse é o ponto! Podemos aproveitar isso!”

Era a mesma lógica pela qual podiam interferir nos sonhos dela, explicou Plum, colocando a mão no quadril. O rosto da Dhampir, geralmente marcado pela má sorte, agora exibia um pouco de confiança enquanto ela estufava o peito.

Vendo-a assim, Sora deduziu que ela realmente parecia confiar nesse plano. Olhando para Jibril, ele acenou. “Certo, então. Se funcionar em mim, que não entendo muito bem o sentimento de amor romântico, acho que tem que ser eficaz.”

Com essas palavras, Sora deu um passo à frente.

“Tudo bem, use em mim. Shiro vai determinar se—”

—Mas então.

“…Não…”

Puxando a barra da camisa de Sora enquanto ele avançava, Shiro o deteve.

“Mm? O que foi, Shiro?”

“…Não.”

“Mm, uh, por que não?”

“……”

Por um momento—realmente apenas por um momento—os olhos de Shiro vagaram. A razão era indetectável para Sora, então ela lançou seu cérebro em máxima potência para inventar uma explicação…uma desculpa, algo. Finalmente encontrando algo, Shiro murmurou, “…Nós não, sabemos…o que você, faria…se se apaixonasse…por alguém.”

“Sh-Shiro—você ainda duvida da vontade de ferro do seu irmão?!”

Sora suplicou tragicamente que, a essa altura, sua autocontenção já deveria ser digna de elogio. Mas—a Shrine Maiden, com as habilidades únicas dos Werebeasts de captar as sutilezas do coração, aparentemente entendeu os sentimentos melhor do que Sora e riu agradavelmente.

“—Ah, sendo assim, podem testar em mim, certo.”

“Shrine Maiden?”

A Shrine Maiden continuou como se estivesse observando algo reconfortante.

“Também é verdade para mim que careço de entendimento desses sentimentos de romance. Que queixa vocês têm?”

Mas Shiro, aparentemente ainda cautelosa, perguntou a Plum: “…Você…pode…desfazer isso?”

“Hã? Ah, s-sim! Claro que poosso!”

“Ah-ha-ha, fique tranquila. Ele não faz meu tipo,” assegurou a Shrine Maiden.

Shiro e a Shrine Maiden, de alguma forma, pareciam ter chegado a um entendimento mútuo, mas Sora ainda estava completamente perdido.

“…Ei, o que é isso?”

“Receio, Mestre, que também me escape.”

“…? Desculpa, não tava ouvindo, por favor.”

Não havia como Jibril entender, com seu olhar igualmente confuso—ou Izuna, que já estava roncando. Ignorando essas três, a Shrine Maiden se levantou—e deu um passo à frente. Silenciosamente, posicionou-se diante de Plum.

“Vamos lá, então. Vai tentar em mim?”

“S-sim. Muito bem, Rei Sora, e todos os outros…”

Plum, hesitando por um momento diante do comportamento da Shrine Maiden, recompôs-se e abriu suas asas.

“Não é um feitiço que posso usar inúmeras vezes sem suprimento de sangue, então certifiquem-se de observar, okay?!”

No mesmo instante em que um padrão complexo surgiu nos olhos de Plum, uma brisa soprou pela sala. Nas asas de Plum, negras como se fossem tecidas da noite, correram—totalmente diferentes da natureza geométrica do halo de Jibril—linhas escarlates, ondulantes, irregulares, imbuídas de um vermelho intenso. Essas linhas irregulares, vermelhas como se fossem feitas de sangue, passaram a permear também o braço direito de Plum. Sua mão—de forma calculada e complexa—começou a se mover. Com a presença dos espíritos sendo manipulados—o rito, formando o feitiço—as orelhas de Izuna e da Shrine Maiden reagiram sutilmente. Mas, sendo Immanity incapaz de detectar magia de qualquer tipo, Sora e Shiro nem sequer estavam cientes disso. A única capaz de perceber a magia com precisão e até mesmo compreender o significado do rito sendo compilado era Jibril.

“—Ora…será que isso é genuíno?”

Ela murmurou, como se genuinamente surpresa. Após alguns segundos, Plum fez um gesto lento com a mão em direção à Shrine Maiden.

—Em um instante, com o som de algo se partindo, um redemoinho de luz vermelha girou ao redor da Shrine Maiden.

……Mm?

“…O que é isso? O feitiço já foi lançado?” perguntou a Shrine Maiden, aparentemente sem sentir nenhuma mudança óbvia.

Plum, com um pouco de cansaço se esvaindo de seu sorriso, respondeu:

“Sim! E agoora—Rei Sora, aproxime-se da Sagrada Shrine Maiden—! “E aperte o peito dela!”

“…Quê?”

Sora e a Shrine Maiden exclamaram ao mesmo tempo.

“Com este ‘comando’—o rito…será completadooo!”

Plum não demonstrou nenhuma consciência das reações ao seu redor, apenas irradiava confiança ao fazer seu anúncio. Sora trocou um breve olhar com Shiro e, após confirmar o aceno de aprovação dela—

“Uhh, tá bom. Shrine Maiden, você está de boa com isso?”

“…Bem, suponho que fui eu quem disse que faria…embora não possa dizer que me agrade muito que ela não tenha explicado antes.” A Shrine Maiden suspirou, abanando o peito.

“…Isso é meio difícil de engolir, mas…ok, aqui vou eu…”

Com essas palavras, estendendo a mão timidamente em direção ao peito da Shrine Maiden, Sora, com o rosto marcado pela determinação—fez pressão com sua mão.

Ele quase deixou escapar um grito pela elasticidade que permitia afundar, mas ao mesmo tempo repelia. Sora ficou profundamente comovido com a sensação—ainda diferente da de Steph. Mas seu fascínio pela sensação foi ignorado.

“Hmng…?”

A Shrine Maiden, franzindo a testa em aparente desgosto, sentiu algo se ativar dentro de si, e sua expressão…mudou. Então, voltando um olhar lânguido para Sora—em um transe—murmurou:

“O-o que é isso? Essa sensação arrepiante…transcende o mero desgosto pelo seu sorriso repulsivo, incorporando também irritação—E-eu vejo…É isso—é isso que chamam de amor?!”

“De jeito nenhummm! E ei, isso dói, droga!”

—A Shrine Maiden sussurrou seus sentimentos com um olhar como se estivesse vendo algo horrível, ao que Sora prontamente gritou em desespero. Mas, como se não tivesse ouvidos para seus gritos, a Shrine Maiden continuou.

“Ah, isso é amor. O que é isso? Nunca poderia ter imaginado, mas agora posso dizer com certeza que estou apaixonada pelo Rei Sora. De fato…essa sensação nauseante que me faz querer vomitar é amor… O mundo é realmente um lugar vasto.”

“—Ei, Plum. Você falhou, né?”

De qualquer ângulo que olhasse, parecia que a Dhampir tinha estragado tudo. A expressão de Sora se contorcia num misto de incredulidade e cansaço, mas Plum apenas estufou o peito com orgulho e respondeu.

“Hee-hee-hee, ah, só escutem… É aqui que está a chaveee.”

—E agora, seu rosto habitualmente aflito brilhava, tendo realizado um feito que só uma Dhampir poderia alcançar.

“O feitiço do amor é algo sussurrado desde tempos antigos em reinos distantes, mas jamais realmente alcançado—”

“…É mesmo, Jibril?”

Poções do amor, feitiços de amor—coisas assim eram comuns em histórias de fantasia, mas…

“—De fato. Embora me custe admitir, o princípio escapa completamente a todos nós,” Jibril admitiu, incapaz de esconder sua surpresa. Relutantemente reconhecendo o triunfo de Plum, ela assentiu.

“Pelo que sei, um feitiço capaz de intervir em algo tão vago e incerto como o amor romântico, algo que nem mesmo aqueles nas artes conseguem definir, jamais foi alcançado nem por Elfos…”

Por mais extraordinária que fosse a aptidão deles para ilusões, Dhampir ocupava o Rank Doze. Enquanto aptidão mágica era praticamente sinônimo de Rank Sete, a imagem dos tecelões de magia complexa, Plum havia alcançado algo que nem mesmo os Elfos conseguiam. E Plum apenas assentiu como quem diz: O que mais você esperava?

“Siiim, a parte complicada é como a definição de amor romântico é indeterminada—varia de pessoa para pessoa, entendem?”

Batendo alegremente suas pequenas asas, Plum explicou. Estufando o peito como se o ar estivesse enchendo seus pulmões, ela continuou:

“Nenhum rito pode ter significado sobre um elemento indeterminado que desafia definição. É por isso que tudo o que vulgarmente chamavam de ‘magia do amor’ não passava de magia de luxúria—mas!”

“Ei, espere aí, senhorita Plum. Na verdade, estou mais interessado em luxúria—”

Ignorando o interesse de Sora, Plum estufou ainda mais o peito, como se estivesse inclinando-se para trás.

“Nós Dhampirs finalmente a concretizamos!”

“……”

E então a magia que nem mesmo os Elfos haviam alcançado, que havia surpreendido até uma Flügel, foi explicada de uma vez por todas:

“Se é indeterminado, tudo o que precisamos fazer é determinar noooosso próprio conceito!”

Que lógica absurda era essa? Magia do amor, tão comum em jogos, nunca pareceu tão errada como hoje. Lançando um olhar para a Shrine Maiden—que retribuiu como se olhasse para um monte de lixo—

“…Uhh, mas isso obviamente não é amor.”

Sora murmurou, revirando os olhos.

“Não! Se a Shrine Maiden percebe isso como amor, então é amooor! Pois o amor—é uma ilusão, afinal!”

*Whaaaaam.* A raça que mais se destacava em furtividade e ilusão—na manipulação da mente e da percepção—declarou isso sem qualquer qualificação.

“…Shiro. Nunca fiquei tão desiludido com o amor quanto hoje.”

“…O que…é, amor…de fato…”

Ignorando os irmãos enquanto mergulhavam na filosofia, Plum deixou-se levar por seu momento.

“Vamos, Rei Sora. A Shrine Maiden agora deve reconhecer todas as coisas assustadoras como amor! Chegou a hora de você soltar uma frase decisiva, esmagadoramente assustadora, só para garantir! Faça isso!”

Ao ouvir a palavra "assustadora" ser repetida sem parar, uma vontade de dizer algo começou a crescer em Sora—mas ele engoliu por enquanto.

“Uhh…‘Shrine Maiden, eu quero ficar todo suado e te lamber todinha…’”

Ao ouvir essas primeiras palavras que vieram à mente de Sora, a Shrine Maiden reagiu—dando um passo para trás. “Ohh… Não, Sora, você não deve dizer essas coisas—isso só me faz ficar mais e mais apaixonada por você!”

“Ei, Plum! Você acha que essas frases e essa expressão combinam?! Você notou que ela está me olhando com absoluto desprezo?! Cara, ela está claramente dizendo com os olhos que eu devia me ferrar e morrer, sabe?!”

Com lágrimas nos olhos, Sora agarrou Plum pela gola e gritou, mas a Dhampir inflou-se ainda mais de orgulho enquanto balançava a cabeça.

“Essa é a forma do amor da Shrine Maiden. É assim que é agora, entendeu? Não é magnífico?”

“Claro, é magnífico. Agora trate de parar com isso! Minha sanidade está se desgastando na velocidade Mach!”

—Não, eu digo. Isso não pode ser um feitiço de amor, nem um código de trapaça…

……

“Ohhh, isso foi uma experiência… Realmente vale a pena viver tanto tempo.”

Com o rito desfeito, a Shrine Maiden ria alegremente. Relegando essa visão ao canto do olho—para que o Werebeast não percebesse suas feridas emocionais—Sora se dirigiu a Plum.

“Certo, entendi a história do seu ‘plano infalível’ ou o que quer que seja. Mas por que vocês não fazem isso sozinhos?”

Se tinham os meios para fazer alguém se apaixonar tão incondicionalmente, os Dhampirs poderiam muito bem ter resolvido isso por conta própria. Mas Plum abaixou os ombros enquanto respondia:

“Vejam, o último Dhampir macho ainda é muito jovem… O que a rainha deseja é um ‘príncipe’—”

Girando as mãos e fazendo alguns círculos mágicos flutuarem no ar, Plum continuou:

“É um feitiço para disfarçar a percepção… Pode ser um feitiço impressionante, mas, mesmo assim, ele não pode, digamos, fazer a Shrine Maiden se apaixonar por uma pedra que está ali no cantoo… Tem que ser, no mínimo, um homem com capacidade de reproduçãouu.”

—Então, puxando silenciosamente a barra da roupa de Sora, Shiro mostrou-lhe o telefone. Olhando para as palavras digitadas ali, Sora respondeu:

“Hmm… ‘Então não precisa ser o Irmão,’ huh. Bem verdade.”

—Às palavras de Sora, as orelhas da Shrine Maiden e de Izuna se mexeram.

“Ei, Plum, várias pessoas podem entrar no jogo da rainha?”

“Hã? Ah, sim. Acho que sim… Embora vá dar trabalho, já que o rito para interferir nos sonhos da rainha já é algo tão complicadooo… Posso perguntar por que o senhor não pode fazer isso sozinhooo?”

“Desculpe, mas trapaças são o último recurso. Se vamos fazer isso, quero testar nossa habilidade de forma justa e honesta.”

“O trapaceiro tem um discurso sobre honra…”

“Ei, Shrine Maiden, não comece a falar besteira—trapaça é um golpe imbatível que quebra as regras; um truque é um método contido dentro das regras que significa que você perde se for pego. São fundamentalmente diferentes, certo?”

—Embora a Shrine Maiden e os outros não soubessem disso, Sora e Shiro—mesmo em seu mundo anterior, apesar de usarem jogos mentais e truques—tinham a política de nunca usarem trapaças.

“Um jogo deve ser jogado até o limite dentro do escopo das regras estabelecidas. Se você ignora as regras fundamentais, não pode chamar isso de jogo. Vamos usar bugs, vamos usar personagens quebrados, vamos usar qualquer coisa que nos ajude a vencer, desde que seja oficial—mas quebrar as especificações? Isso está fora de questão.”

Ele pontuou isso com um único aceno de cabeça.

Então Sora percebeu algo—e, com um olhar para a Shrine Maiden e outro aceno, perguntou:

“—Ei, Shrine Maiden—você sabe nadar?”

A Shrine Maiden respondeu com um balanço de cabeça. “—Mesmo que eu não saiba, para mim é suficiente simplesmente caminhar sobre a água. O que tem isso?”

“Estava pensando… Se você concordar, podemos aceitar a proposta dela—e ir para Oceand.”

“…Hmm, bem, suponho. A recompensa é bastante boa, e parece que vocês têm uma chance de vencer.”

“V-vocês vão mesmo?!”

“—Shrine Maiden, conhece alguém que seria adequado para isso?”

Com essa pergunta, a Shrine Maiden pausou brevemente para considerar. Então—colocando estrategicamente a mão sobre a boca para ocultar o sorriso que surgia involuntariamente enquanto imaginava a iminente mudança na expressão de Sora—a Shrine Maiden anunciou:

“—Ino Hatsuse. Pelo que sei, esse homem já tomou trinta esposas.”

******

Elkia Royal Castle: o quarto real. Steph, entregando-se pela primeira vez em muito tempo ao êxtase do sono, vagava agora pela terra dos sonhos—

“Nós ouvimos a história, seu velho depravado! Agora seu destino está selado!!”

Ela caiu da cama ao ouvir o barulho explosivo que sacudiu o castelo e o rugido de fúria que o eclipsava.

“O-o que está acontecendooo?!”

Gritando e se contorcendo após bater a cabeça, Steph, no entanto, reconheceu imediatamente de quem era a voz—correção: o uivo—e partiu em sua direção sem hesitar. Esquecendo que ainda estava em suas roupas de dormir, agarrou os lençóis e disparou para fora do quarto.

Praticamente arrombando a porta da Grande Câmara de Conferências, Steph encontrou o que era provavelmente—não, indubitavelmente—a origem do estrondo: Jibril. E talvez por causa disso—

“O-o que está acontecendo aqui…?”

As cartas de Ino Hatsuse—que estava jogando em nome de Steph—junto com as de seus oponentes (presumivelmente nobres) e pilhas de papéis, flutuavam no ar entre os destroços da Grande Câmara de Conferências. A fumaça ainda não havia assentado. E a origem desse desastre, agora notando Steph, finalmente falou:

“Oh, pequena Dora, bom dia. Meus mestres instruíram que nos teleportássemos para Elkia imediatamente, e como temos um número considerável de pessoas, abri um buraco um pouco maior no espaço. Está tudo bem?”

—Será que havia alguma chance de que tudo não estivesse bem? Steph ignorou a preocupação e espiou pela fumaça. E lá estava Sora, avançando como se fosse destruir o chão—berrando enquanto marchava em direção a Ino com tanta força que parecia que poderia atravessar o chão a qualquer momento.

“Réu Ino Hatsuse! Acusado do grave crime de ter tanta vida ao ponto de ter tomado mais de trinta esposas! No tribunal de jurisdição sumária dentro da minha cabeça, todos os membros de mim, com meu julgamento arbitrário e tendencioso, unanimemente o declaram culpado e sentenciam você à pena de morte! De acordo com as leis da galáxia, você—agora mesmo—deve virar poeira estelaaar!!”

“…Ahh… Rei Sora, Senhor, as coisas que gostaria de dizer a você são tantas quanto as estrelas no céu.”

Confrontado com o retorno do Rei Fugitivo—e, vamos acrescentar, do Rei Louco—após meia quinzena, Ino se contorceu enquanto segurava algo para não explodir—e ainda assim. Uma única frase de Izuna, que surgiu atrás de Sora, fez Ino congelar.

“…Vovô…você é um ‘monstro do secks,’ por favor?”

“Huh—?! Izuna, onde você aprendeu isso—?!”

Talvez sem saber o significado, Izuna inclinou a cabeça.

“…Foi o que aquele idiota do Sora te chamou, por favor.”

“Ei, seu macaco careca imbecil!! Depois de me largar com essa montanha de trabalho, o que você ensinou para a minha neta, seu bastardo?!”

Incapaz de manter a compostura, Ino esmagou uma mesa enquanto berrava. Mas, vendo isso, Sora olhou dramaticamente para o céu e agitou as mãos, apontando.

“Ho! Contemple, Izuna! Este é o rosto de um criminoso confrontado com o peso de seu pecado grave. Não é uma visão terrível?!”

Izuna, parecendo desiludida, murmurou mais:

“…Vovô, você é um mulherengo, por favor.”

“Wha n-não, Izuna! Seu vovô deu amor a cada uma delas—”

“Aah, aah! Silêncio, silêncio, escravo dos seus desejos! Cesse suas desculpas e aceite com honra—gkhh!!”

“…Irmão…cale a boca…”

Montada nas costas de Sora, o sussurro de Shiro foi tão suave quanto a força que ela aplicou com os braços ao redor do pescoço de Sora para calá-lo.

—Quando a fumaça finalmente começou a se dissipar:

“Eh-heh-heh, vocês são sempre tão animados, toda vez…”

Com o som de pequenos sinos e o ruído de tamancos batendo contra o chão—a raposa dourada revelou-se.

“O quê—S-Santa Shrine Maiden?!”

Para Ino, que se prostrou no momento em que a viu, a Shrine Maiden ordenou:

“Ino Hatsuse—daqui em diante vamos para Oceand, em força total.”

Ela continuou em seu tom divertido e agradável:

“Explicaremos no caminho, mas acontece que chegou a hora de você demonstrar toda a força da sua predileção por aventuras amorosas. Tem alguma objeção?”

“S-Santa Shrine Maiden… O Santa Shrine Maiden, pensar que até você me vê de tal forma—”

Apesar de Ino parecer prestes a derramar lágrimas no chão, a Shrine Maiden baixou ligeiramente a voz e fez novamente a pergunta:

“—Tem alguma objeção?”

—Ino levantou o rosto e olhou ao redor. Observando os rostos ali reunidos, quem sabe quais conclusões ele tirou no fim—mas sua resposta foi sucinta:

“…Como desejar. Será feito.”

“—…”

Confusa, Steph permaneceu à espreita perto da porta, incapaz de entender a situação.

“Yo, Steph. Você está ótima. Já fazem duas semanas, né?” perguntou Sora casualmente, como se só tivesse notado sua presença naquele momento. Ao vê-lo, incontáveis emoções tomaram conta de Steph. Raiva, reprovação, curiosidade, palavras que queria despejar—. Mas antes de tudo isso, o rosto de Sora, que ela não via há tanto tempo, fez sua visão se turvar. Todas as falas que tinha preparado para quando o visse novamente desapareceram como fumaça.

Steph decidiu deixar que as gotas que se formaram em seus olhos, enquanto os apertava, caíssem livremente. Optou por não pensar no que essas lágrimas significavam e, simplesmente seguindo seus sentimentos, abriu a boca para falar—

“Ah, a política parece estar avançando bem rápido em Elkia também, sob a direção de Ino Hatsuse, não é?”

“Cara, foi a Steph. Nós só colocamos o Ino lá para mantê-la sob controle e como conselheiro.”

“…Hã?”

—Foi assim que, após essa troca entre a Sacerdotisa e Sora, apenas um som tolo escapou da boca de Steph, que permaneceu aberta de espanto. Seus olhos se arregalaram com essa explicação, uma mudança nada sutil que foi ignorada pela Sacerdotisa, que sorriu como se tivesse compreendido a situação.

“—Entendo, entendo. Então foi por isso que vocês levantaram a bandeira de construir uma maldita Comunidade e, como os supostos monarcas regentes, os dois se esbaldaram livremente na União Oriental… Você continua o mesmo canalha de sempre, pelo visto.”

Com as palavras presunçosas da Sacerdotisa, Sora respondeu com um sorriso semelhante.

“Dizem que devemos deixar as coisas para os especialistas—podemos sempre contar com a Steph quando o assunto é política.”

“…E considerando que você não estava presente, ainda mais, certo?”

“Pois é. O que nos preocupava mais era que algum outro país pudesse aproveitar a oportunidade para mexer conosco.”

—Ino e Steph engasgaram. Mas, enquanto olhava os papéis, Shiro calmamente continuou o raciocínio do irmão.

“…‘Irmão e, eu, não estamos em casa’…De qualquer forma que, olhem…é uma armadilha…” Ela continuou:

“…Para cair, nessa…armadilha…você precisa ser, muito idiota.”

“Esses idiotas não têm a menor chance contra a Steph, que nos enfrenta o tempo todo—e aprende a cada derrota. Por isso pudemos relaxar e nos concentrar na União Oriental!”

Steph e Ino só podiam olhar boquiabertos, atônitos. Mas Sora endureceu um pouco a expressão e acrescentou:

“Mas jogar tantas vezes assim é exagero. Steph, por que você aceitou todas as partidas?”

—Diante dessa repreensão, os pensamentos de Steph congelaram. Pensando bem… ele tinha razão—por que havia aceitado todas as partidas? Era ela, quem era desafiada, quem tinha o direito de decidir o jogo ou mesmo se jogaria. Por que tinha se esforçado tanto? Os olhos de Steph se arregalaram mais uma vez enquanto se fazia essa pergunta, mas Sora continuou:

“Steph—eu confio em você, mas não se force tanto. Além disso—bem, tipo…” Ele coçou a cabeça, como se estivesse ligeiramente envergonhado, e murmurou: “…Obrigado, Steph.”

—Eram essas as palavras que ela queria ouvir. Só isso era o que queria enquanto se esforçava tanto. Suas lágrimas afloraram, o entendimento tomou conta de sua mente, sentiu o corpo aquecer, suas bochechas corarem—tudo isso a atacou de uma vez, mas ela ainda conseguiu responder:

“N-não… É só porque vocês dois são tão incompreensíveis que presumi que precisava me apressar—só isso!”

Sora se aproximou da Steph que gaguejava. Seu coração acelerou.

“Então, Steph. Odeio te pegar de surpresa quando você está cansada, mas, como a Sacerdotisa disse, estamos indo para a cidade das Sereias.”

“Eh, uh, tudo bem… E-então?”

Steph desviou o olhar. Os olhos de Sora flutuaram para onde estava uma garota desconhecida, de pele escura, com uma expressão cheia de problemas.

“Vê, aparentemente as Sereias e os Dhampiros estão prestes a ser extintos ou algo assim, então vamos salvá-los rapidinho—ou melhor…”

E então, como quem não quer nada—

“…vamos pegar os recursos e o território que precisamos tanto para construir nossa Comunidade com a União Oriental.”

Diante da declaração de Sora, os olhos de Steph ficaram um pouco mais quentes.

No fim das contas, era verdade. Esse homem havia feito tudo pelo bem de Elkia. E agora era Shiro quem se aproximava.

“…Então, Steph… Você sabe, costurar…?”

“—Com licença?”

“Então, basicamente, vamos para a praia. Você pode fazer roupas de banho para todos nós? Eu te dou os designs.”

—Isso significava, em outras palavras, que sua carga de trabalho aumentaria novamente. Steph, sorrindo, decidiu simplesmente desmaiar em silêncio…

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