No Game No Life

Volume 4 - Capítulo 1

No Game No Life

Nos confins da União Oriental, na capital dos Werebeasts, Kannagari, erguia-se a mansão de Izuna Hatsuse, antiga embaixadora da União Oriental em Elkia. Construída em madeira, remetendo ao estilo tradicional japonês, em um cômodo perfumado pelo frescor dos tatames trançados com simples palhas de arroz, sob o silêncio e a escuridão que evocavam a clássica frase “No silêncio da noite, quando até as árvores e a grama dormem”, uma sombra solitária se movia.

“...Shiro, você está acordada?”

A sombra ergueu-se de seu futon e sussurrou baixinho para sua vizinha. ...Não houve resposta, apenas os sons tranquilos do sono. Apressado, mas prendendo a respiração para não fazer nenhum barulho, a sombra tateou em busca de algo ao lado de seu travesseiro. Então, agarrando o contrabando que procurava, retirou-se furtivamente para um canto do quarto.

“Limpo à direita, limpo à esquerda—tudo limpo, só tem a Shiro aqui,” sussurrou, manipulando o objeto que segurava em suas mãos enquanto seu rosto emergia da escuridão.

Um jovem de olhos negros, cabelo preto e olheiras que arruinavam sua aparência. Sora, dezoito anos. Um dos dois monarcas de Elkia, a última nação da raça Immanity. Observando cuidadosamente os arredores, com um tablet na mão esquerda e uma caixa de lenços na direita, ele proclamou baixinho e com orgulho:

“Acredito que esta é a oportunidade—finalmente poderei liberar meu veneno!!”

—Ele era um pervertido. Caso o povo visse seu rei nessa situação, certamente lamentariam e derramariam lágrimas de tristeza. Mas, por favor, não julguem apressadamente. Faziam mais de dois meses desde que ele e sua irmã haviam sido convocados para Disboard, um mundo onde tudo era decidido por jogos. Em um piscar de olhos, ele havia ascendido ao trono da raça humana encurralada e participado de incontáveis jogos mortais ao lado de sua irmã, Shiro—jogos em que eles superaram outras raças que descaradamente trapaceavam usando magia e poderes sobrenaturais. Recuperaram territórios de Immanity, chegando até mesmo a subjugar a terceira maior nação do mundo. Sora esteve no centro de todos esses jogos.

Ele interagiu inúmeras vezes com diversas garotas—não apenas humanas, mas também uma garota-anjo, uma garota-elfa e várias garotas-animais. Em certos momentos dos jogos, ou no banho, elas expuseram sua pele, enquanto ele, como um verdadeiro cavalheiro, desviava o olhar e jogava areia para obscurecer sua visão. Embora pequenas lembranças desse "Paraíso da Primavera" estivessem registradas em seu tablet e smartphone, sua irmã mais nova sempre estava ao seu lado, e até hoje ele nunca havia... como dizer? Aproveitado! Você condenaria um homem assim como um mero pervertido?

—Sim, mulheres, desprezem-no à vontade. Mas, senhores, certamente vocês compreendem?! Pensando na alma de aço desse jovem virgem de dezoito anos, que resistiu até agora, conseguem conter as lágrimas? Não é, de fato, digno de respeito ter chegado tão longe? Sim, chegar até aqui—não seria isso o que chamamos de amor? Sua jovem irmã era uma coisa, mas proteger os enxames de garotas ao seu redor de seus próprios impulsos—essa virtude e vontade honrável—se isso não é amor, então como deveria ser chamado?

...Há espaço para argumentação—certamente não! Bem, provavelmente não... Acho.

“Chamem-me de pervertido se quiserem. Não consigo mais me segurar—não, isso é um gesto nobre!!”

Com uma resolução heróica no peito, Sora colocou as mãos em sua cueca e—

“Ah, hm...com-licençaee…”

“Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeek!”

Sora caiu no tatame com um grito agudo ao ouvir a voz que o chamou por trás. Três indivíduos reagiram ao grito.

“...Irmão...se vai fazer isso, pelo menos faça em silêncio...” Desistindo de fingir que estava dormindo, sua irmã com os olhos vermelhos semiabertos sob o longo cabelo branco como a neve—Shiro.

“Mmf... Ei, já tem idiotas demais aqui, por favor. Deixe-me dormir com vocês, seus desgraçados, por favor.” Uma pequena garota Werebeast, com cabelos negros e orelhas de animal espiando do sótão—Izuna Hatsuse.

“Mestre, há violência em andamento? Devo matar? Há cabeças a serem cortadas?!” A Flügel que apareceu do nada, com um halo geométrico flutuando acima da cabeça—Jibril.

Cada uma das três vozes ressoou com seu próprio significado distinto. Rolando no tatame e ajustando sua cueca, Sora não conseguiu evitar gritar,

“Esse mundo não tem o conceito de privacidade? Minha privacidade está sendo invadida ou o quê?!”

Então, enquanto fechava o zíper— “Espere—quem diabos é você? Como ousa espiar as práticas sagradas de um sábio?!”

Enquanto Sora apontava e gritava, todos finalmente perceberam e seus olhares se voltaram para uma silhueta que parecia se fundir com a escuridão. Uma sombra no quarto escuro—tão inconspícua que parecia antinatural.

“Eu digo,” comentou Jibril enquanto iluminava o quarto com luz mágica de sua ponta dos dedos e franzia os lábios, desgostosa. “Alguém capaz de se aproximar de meu mestre sem que eu perceba—o que poderia ser senão um Dhampir…?”

“U-um Dh-Dhampir?”

Com isso, Sora e os outros olharam para a “sombra”. A iluminação de Jibril revelou apenas de forma vaga uma garota vestida de preto, como se sua roupa fosse tecida com a própria noite. Ela tinha cabelos azuis, olhos violeta cintilantes, presas brancas e asas de morcego nas costas. Embora parecesse uma garota de meia-idade em termos humanos, era a própria personificação do que Sora e Shiro conheciam das lendas de vampiros.

—Nosferatu, Rei Sem Vida, andador da noite… Seus incontáveis apelidos falavam do terror que inspiravam—mas no caso dessa garota—

“N-não consigo maaaiss... Por favooor… S-salvem...mee.”

—A expressão aflita e a voz debilitada da garota rapidamente dissiparam qualquer temor que pudessem inspirar.

“Tão furtivos e fantasmais como sempre—infelizmente, embora tenham a habilidade de se esgueirar nas sombras, eu possuo um talento para lançar raios de luz…” comentou Jibril com um sorriso sarcástico. “Achei que você finalmente tinha usado seu talento de maneira útil e desaparecido discretamente. É com profundo pesar que vejo que esse não é o caso.”

“C-casualmente cruel como sempre, Jibril.”

Até Sora estremeceu com o insulto dirigido à garota, que parecia estar prestes a parar de respirar a qualquer momento. Mas Izuna, descendo silenciosamente de cima, inclinou a cabeça e disse: “Sim, ouvi do Grampy que os Dhampirs tinham morrido miseravelmente, por favor.”

“...Hã?”

O abuso verbal de Jibril era simplesmente a expressão implacável de seus verdadeiros sentimentos. Já Izuna não tinha malícia, apenas escolhia as palavras erradas. Isso significava que essa era uma raça que deveria estar extinta—?

“...Ixseed…Classe Doze…Dhampir…” explicou Shiro, lançando uma boia para o à deriva Sora. Saindo de seu futon, ela recitou a informação que havia memorizado. “…Uma raça que sobrevive…sugando sangue—almas, de outros…Ixseeds.”

Mas, conforme Shiro continuou—“…os Dez Mandamentos…”—Sora fez uma careta silenciosa de “ah”. —Os Dez Mandamentos: as leis absolutamente vinculantes que Tet, o Deus Único, estabeleceu no mundo de Disboard. O Primeiro: “Neste mundo, qualquer lesão corporal, guerra e saque é proibido.” Se você aplicasse essa regra aos “vampiros” que Sora conhecia—ou seja, uma raça que atacava e mordia pessoas, causando ferimentos para sugar seu sangue—

“Hum, então, o quê? Isso significa que eles não podem sugar sangue sem permissão?”

O silêncio da garota, exceto pela respiração mais leve, confirmou a suposição de Sora. ...Para Sora, que parecia convencido pela expressão aflita da garota, Jibril assentiu.

“Se me permite adicionar, Mestre, se alguém for mordido por um Dhampir—”

“Você vira um vampiro, né? Bom, isso é padrão.”

O que significava que dificilmente alguém daria permissão, a menos que quisesse se tornar um vampiro—

“...Com licença? Não. Bom, não é o caso.”

“Hã, o quê? Não é assim que funciona?”

“Dhampirs sugam a alma de uma pessoa através do sangue ou de outros fluidos corporais e a desenvolvem misturando-a com suas próprias almas, amplificando assim seu poder. Enquanto isso, a pessoa mordida também experimenta uma mistura de almas—e sucumbe a uma doença peculiar.”

O que significava, como Jibril afirmou com seu sorriso radiante: “De modo geral, isso é absolutamente desvantajoso para quem é mordido.”

“...Que tipo de vampiros patéticos vocês são?”

“Que te conceda imortalidade e o vasto poder da noite.” Uma raça que nem mesmo podia recorrer a essas palavras sedutoras era apenas uma peste. Depois de ouvir o lamentável relato dos Dhampirs, Sora voltou-se para a garota e murmurou para si mesmo. Bom, isso explicava por que era surpreendente que não estivessem extintos. Mas, por outro lado, isso também levantava uma questão para Sora. —Por que eles não estão extintos?

“P-por favooor… E-eu sinto que vou realmente…morreeer… Co-concedam-me sua alma…”

Enquanto Sora ponderava sobre a questão, a garota começou a respirar de maneira rápida e superficial, como se implorasse. Fiel à sua afirmação de que morreria, sua voz estava rouca e rachada—e, ainda assim.

“Olha, a Jibril acabou de me dizer que, se eu te der minha alma, vou pegar uma doença. Então por que eu faria isso? Morra, sua idiota.”

E, no entanto—não era exatamente agradável acordar com alguém morrendo na sua frente. Não é como se ele não quisesse ajudar. Mas, convenhamos, ser um virgem com uma doença? Sora coçou a cabeça.

“Ah, Mestre, eu não expliquei suficientemente. Se alguém não for mordido, não é afetado.”

—Hmm?

“Morder e sugar sangue através de suas presas—‘mistura de almas’—é a única forma dos Dhampirs se desenvolverem. Mas, no que diz respeito a apenas manterem sua vida, o consumo oral de fluidos corporais do sujeito é suficiente.”

“...Qual o ponto?”

“O fluido corporal que é mais denso em alma depois do sangue, além de ser ingerível sem morder, é—”

O movimento de Sora ao ouvir a próxima palavra de Jibril…

“Seme—”

“Você está bem, senhorita?! Vou salvá-la agora mesmo! Como eu poderia deixá-la morrer?!”

...desafiou a habilidade de qualquer um presente—Shiro, é claro, mas até mesmo Izuna, a Werebeast, e Jibril, a Flügel—de captar mais do que sua pós-imagem. Chamar isso de instantâneo seria um terrível desserviço; foi uma mudança de postura em velocidade assustadora. Sora pegou a garota Dhampir, carregou-a para um canto do quarto, deitou-a cuidadosamente lá e—assentiu profundamente.

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“Entendi, eles não são vampiros. Meu Deus, ela é uma súcubo!”

Não era de se espantar que não estivessem extintos. Quem os deixaria desaparecer? Enquanto sua mente gritava, Sora começou a abrir o cinto, mas—

“…O que é ‘se-men,’ por favor?”

“…Irmão…Conteúdo para maiores…é proibido…”

E lá estavam os olhares de duas crianças menores de dezoito anos para considerar. Ou, em outras palavras, o sinal para forçar o encerramento do evento “te-he-he” havia aparecido.

“…De novo? Sério, de novo?”

À beira das lágrimas, Sora olhou para o céu. Sempre terminava assim. Sora—virgem, dezoito anos—você permitirá que sua esperança seja bloqueada aqui? Você desviará os olhos de incontáveis paraísos, lançará areia mais uma vez para obscurecer sua visão—e fará isso para sempre?

…Isso não é certo. Isso não pode estar certo!!! Rrrgh! Sora rangeu os dentes. A mente que ele havia usado para resistir e superar todos os obstáculos! Não era hora de utilizá-la para superar isso também? Agora, de todas as vezes!

—E então Sora se virou e olhou nos olhos frios de sua irmã com uma determinação endurecida.

“…Shiro, imagine que alguém caiu no rio com as roupas e quase se afogou.”

“…Mm.”

“Para realizar respiração artificial, é necessário remover as roupas molhadas que roubam o calor da vítima e depois fornecer aquecimento… Isso é conteúdo para maiores?”

“…………Hum, não…”

“Certo, e por quê? Porque é para ajudar alguém! Porque é para salvar a vida de alguém! Porque é um ato virtuoso!!”

Sora assentiu exageradamente, ainda com o olhar inabalável de um cavalheiro, para a garota deitada no canto do quarto—definhando no sentido mais literal, aparentemente já incapaz de produzir palavras.

“Ah, é verdade, aos olhos humanos, devemos parecer insensíveis. Mas não pode haver dúvidas de que isso é um resgate necessário, um ato virtuoso! E então, Shiro, seu irmão não tem escolha! Preciso abandonar a vergonha, mergulhar na cultura de outra raça e salvar a vida dessa donzela!! Então, pode olhar para o outro lado por um minutinho, por favooor?!”

—Racionalização Perfeita equipada. —Que comece a rebelião!

“…Se ela só precisa de, fluidos corporais…então que tal, saliva…?”

O breve murmúrio de Shiro trouxe a Racionalização Perfeita (lol) ao fim de sua vida de um segundo, e Sora ficou paralisado. Jibril ponderou por um momento e, com um sorriso de quem tem pena de uma raça problemática, respondeu:

“Deveria funcionar. A concentração de alma não está no mesmo nível, mas deve ser suficiente para salvar a vida dela, creio eu.”

“…Mm, então, eu vou…”

Shiro se aproximou da garota Dhampir deitada aos pés de seu irmão. Então, trazendo o rosto para perto da garota—

“E-e-espera, Shiro! Isso é… errado, de alguma forma! Seu irmão não permitirá isso!”

“…Respiração artificial… Um ato, virtuoso…”

Sora correu para detê-la, mas Shiro o olhou de volta com reprovação cínica. Enquanto Sora ativava suas células cerebrais rapidamente para formular algum tipo de objeção, de repente—

—Ei, meninas se beijando não é tão ruim, né? Não era conteúdo para maiores. Era totalmente inocente. E era, de fato, um ato humanitário. Também vale mencionar que Sora pessoalmente não tinha problema com um pouco de… interação entre garotas.

…Mas Shiro fazer isso é errado, de alguma forma. —Por quê? Sora balançou a cabeça para a questão que surgiu momentaneamente. “Não! É prejudicial para a educação moral das crianças fazê-las usar a língua! Eu recuso!!”

Decidiu não pensar muito nisso e olhou em volta apressadamente. Izuna parecia entediada. Shiro parecia cínica. Mas Jibril—

“J-Jibril! Dê seus—”

Izuna era muito jovem; Shiro era um não. Em momentos como esse, ele desejava que Steph estivesse por perto, mas—

“Se for sua ordem, Mestre—eu ficaria encantada em beijar uma vida defeituosa e miserável que faz um mosquito parecer afortunado por poder sugar sangue livremente. Mas, se seu desejo é salvar a vida dela, não posso recomendar.”

Sora estremeceu levemente com a língua venenosa de Jibril, sutilmente gelada, mas ela continuou.

“Se eu fornecesse meus fluidos corporais, suspeito que ela se vaporizaria. O receptáculo da alma dela, entende, simplesmente não está à altura da concentração.”

—Classe Seis do Ixseed, Flügel. Por que elas sempre têm que ser, sabe… absurdamente desbalanceadas em tudo?

“…Tudo bem, então…eu vou só…”

Shiro ergueu sua franja com a ponta dos dedos e aproximou o rosto da garota—

“I-i-isso mesmo! Vamos usar suor!!”

O cérebro de Sora, fervendo instantaneamente para revelar a alternativa, fez com que ele gritasse sem hesitação.

“S-s-suor também é um fluido corporal! E-e então, Jibril?!”

“…É uma boa pergunta. A quantidade de alma no suor é bastante ínfima…”

“N-n-não há outro jeito! Não temos escolha senão tentar!”

Antes que Sora tivesse tempo para qualquer outra ação, Shiro lentamente tirou uma de suas meias até o joelho e estendeu o pé diante dos olhos da garota Dhampir.

“Você vai, rastejar…e, lamber.”

Shiro, Rainha de Immanity, exibiu um sorriso completamente sádico o suficiente para honrar seu título.

“Minha irmã, seu irmão sempre soube que você era uma sádica reprimida, mas até ele está um pouco chocado em ver que você não hesita nem um pouco…”

Com um suspiro, Sora sentou-se desanimado. Enquanto isso, a garota Dhampir, que estava praticamente um cadáver a essa altura, estremeceu. Parecia que ela farejou algumas vezes até que, bam, abriu os olhos e se levantou. Como se voasse direto daquela posição, ela levou o pé de Shiro diretamente à boca—

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“Q-q-que é isso? É delicioso, tão deliciooooso!”

...Todos que observavam a cena de maneira atônita tinham o mesmo pensamento. —Ixseed Classe Doze, Dhampir. Muito abaixo da Classe Seis, Flügel, ou da Classe Sete, Elfo, mas ainda assim uma raça superior à Classe Quatorze, Werebeast. E lá estava uma dessas, no chão, saboreando o pé de uma garota da mais baixa classe e exaltando seu sabor…

“Isso é saudável…?”

Admitidamente, não era conteúdo para maiores. Mas, de alguma forma, parecia muito, muito errado. A garota Dhampir, como um personagem em um daqueles mangás de culinária apresentado ao prato mais requintado, como se flores estivessem prestes a brotar ao seu redor, repetia “delicioso, delicioso” várias vezes enquanto lambia e lambia o pé da irmã de Sora—

“…Ei, Dhampirs são pervertidos?” Sora perguntou a Jibril, subindo num cavalo tão alto quanto o Monte Everest.

“Bom, isso é… Mas, então, as almas de meus mestres devem ser deliciosas, não?”

“—Uh, o quê?”

“Afinal, é evidente que há poucos como vocês, meus mestres—com almas tão resolutas, tão poderosas, tão idiossincráticas, tão incomumente refinadas, que, mesmo que alguém procurasse até os confins do mundo, haveria poucos dignos de comparação.”

Com as palavras de Jibril, até Izuna, que apenas assistia, assentiu. “…As almas de Sora e Shiro…cheiram limpas, por favor. Não são ruins, por favor.”

Mas Sora olhou de volta para elas com desespero nos olhos. “…Talvez seja coisa da minha cabeça. É impressão minha ou vocês estão dizendo, de forma indireta, que somos teimosos, egocêntricos, distorcidos, solitários e virgens?”

“Mas que disparate—não significa simplesmente que suas almas são incompreendidas? Haveria algo mais nobre do que isso…? Francamente, isso me dá vontade de experimentar por mim mesma, geh-heh-hehh…”

“……Sora, Sora…Posso dar uma mordida, por favor?”

Duas miradas distintas travaram em Sora como se estivessem prestes a babar.

“Ei, tem alguém aqui com a cabeça no lugar?” perguntou Sora.

“…Você…é a pessoa certa para, falar isso?”

—O comentário ácido e silencioso de Shiro ecoou pela casa de Izuna, que estava, notavelmente, desprovida de qualquer pessoa sensata como Steph.


Tendo recuperado sua força e um certo brilho na pele, a garota Dhampir finalmente falou:

“Hff… Foi tão delicioooso… Agradeço pela refeeição.”

“…Nghh…toda grudenta…preciso lavar isso…nghh…banhos são ruins…”

Em contraste com a garota que juntava as mãos em êxtase, Shiro parecia estar arrependida de suas ações. Mas, deixando isso de lado, percebendo que finalmente podia questioná-la, Sora olhou para a garota.

“—Então, enfim, quem diabos é você?”

“Ah, esqueci de me apresentaar. Meu nome é Plum… Como pode ver, sou uma Dhampir.”

A garota, Plum, sentada de maneira adequada com as costas eretas, continuou com uma expressão séria.

“Hojeee, hum…vim pedir um favoorr.”

Entre murmúrios e hesitações, ela pegou algumas anotações ou algo assim. Limpou a garganta. Colocando lentamente os dedos à frente e curvando-se, anunciou de forma trêmula, como se estivesse lendo um roteiro:

“P-por favor, perdoem minha aparição inicial indigna… Monarcas de Elkia, da raça Immanity, que derrotaram uma Flügel e a União Oriental. Rei Sora e Rainha Shiro—por favor, salvem nossa raça!”

…Sora, aparentando ter entendido tudo a partir dessas palavras:

“Ahh, então você pode beber sêmen como substituto de sangue, precisa da minha permissão para viver—e quer que eu te salve.”

Considere, se puder, o tipo de cenário—o tipo de jogo—sugerido por essas condições. E então? Conseguiu imaginar? Sora não hesitou nem um pouco em sorrir docemente—

“Vai se divertir em outro lugar. Tá bom? Obrigado, tenha uma boa viagem de volta.”

“Nooooo! Ohhhhhhhh, espera, por favoooooooooooooor!”

—e despediu a raça R-18 sem a menor cerimônia.

******

O grande plano proposto por Sora para vencer esse mundo era uma frente comum que transcenderia as raças—uma tentativa de realizar algo assim apesar das inúmeras diferenças de origem, filosofia e cultura. Um ideal que desafiava as barreiras raciais. Realizar uma nação multirracial. Em um mundo onde tudo era decidido por jogos, em teoria, isso deveria ser possível. Teoricamente, claro—mas.

“…Podemos mesmo contar com esse pessoal?”

Pensando nos dois que haviam dito que transcenderiam as raças, reuniriam as Peças Raciais e desafiariam Tet, o Deus Único, ela curvou os lábios em um sorriso discreto. Um projeto que falava de um sonho que desafiava toda a sabedoria convencional. Será que seria realmente capaz de sair do tabuleiro? Eles conseguiriam cumprir as condições necessárias—? Ela—uma garota de longos cabelos e orelhas que lembravam as de uma raposa, com duas caudas igualmente douradas—ponderou sobre o assunto. Aquela era a agente plenipotenciária da União Oriental—dos Werebeasts—conhecida como Shrine Maiden. No Jardim Interno de seu templo, encostada no corrimão da ponte vermelha sobre o lago, ela observava a lua refletida na água—e pensava.

Havia muitos obstáculos. Escalar as barreiras entre as raças seria extremamente difícil, mesmo para apenas duas delas—Immanity e Werebeast. Reunir até mesmo uma única raça em um objetivo comum já era um feito fantástico. A Shrine Maiden havia acompanhado os Werebeasts em inúmeros conflitos internos ao longo de milhares de anos, entre tribos divididas incontáveis vezes, e de alguma forma conseguiu uni-los—arriscando tudo, a ponto de esquecer seu próprio nome verdadeiro—em uma única nação.

…E por causa disso, ela sabia muito bem das dificuldades envolvidas na tarefa. Ir além disso para formar uma nação multirracial Ixseed—seria impossível por meios normais. Se fosse possível, nesse ponto, significaria…

“Bem, só podemos esperar mais um pouco, não é—eh-heh-heh.”

—Olhando para si mesma, alguém que no passado havia falado de um sonho de unir os Werebeasts e conseguido realizá-lo, ela se perguntou ironicamente quando tinha se tornado tão conservadora. A Shrine Maiden serviu saquê em sua taça.

“Vamos todos, nos divertir, juntos…eh.”

Recitando o Décimo dos Dez Mandamentos, ela tomou um gole de saquê. —Ela havia buscado isso uma vez e também o havia abandonado. A continuidade daquele sonho havia terminado—esse era seu curso natural. Mas essa nova história que os dois contavam, cheia de confiança, era algo diferente. E ainda assim—

“Perder-se nas flores distantes pode fazer você tropeçar nas pedras aos seus pés.”

Qualquer um podia sonhar. Mas proclamar sonhos—exigia qualificações. Ela poderia esperar até avaliá-los adequadamente…antes de mostrar o resto de sua mão.

Enquanto a Shrine Maiden estendia a mão no ar, sua palma brilhou—e a Peça Werebeast apareceu. Uma das peças atribuídas por Tet, o Deus Único, quando ele criou este mundo e os Dez Mandamentos. Uma das peças que brilhava como se fosse tecida de luz, incorporando tudo que representava o agente plenipotenciário de cada uma das dezesseis raças.

—Ela refletiu sobre o verdadeiro significado disso, enquanto colocava sua taça vazia no corrimão e brincava com a Peça Racial entre os dedos. A Shrine Maiden simplesmente olhou para os céus e riu melancolicamente do que a havia feito abandonar seu sonho.

—Esperando para si mesma que o tempo para isso não demorasse muito a chegar.

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