No Game No Life

Volume 3 - Capítulo 4

No Game No Life

O Castelo Real de Elkia — Câmara de Presença. Os dois monarcas da Immanity descansavam no trono, esparramados como se estivessem derretendo.

“Ei, isso é muito fraco… Quando diabos a União Oriental vai nos dizer quando é o jogo?”

“…Tão…entediada…”

Já se haviam passado quase cinco dias desde o encontro com Chlammy e Fiel. Depois de todo aquele entusiasmo, agora estavam sendo forçados a esperar até perderem completamente o ânimo. Até Steph, que geralmente os repreendia, não conseguia dizer nada. No fundo da mente de Steph, que parecia nervosa, uma certa possibilidade surgiu.

“P-poderia ser que eles tenham esquecido—ou que não recebemos a carta… talvez?”

Diante de Steph, que falava se lembrando de que anteriormente as cartas que haviam enviado nunca chegaram, Sora, derretido, ergueu-se e formou um sorriso mais sádico do que nunca.

“...Ohh? Se for esse o caso, alguém vai ter que aprender uma pequena lição—sabe?”

Em sua mente, girava a maior pegadinha da história, guardada como seu trunfo final—

“Mestre, desculpe por interromper.”

Jibril desculpou-se, aparecendo do nada. Seus olhares fixaram-se no cilindro em sua mão. Sora e Shiro sentaram-se violentamente.

“Whoa, Jibril! Isso é o que eu penso que é—?”

“Sim, é uma carta da União Oriental, indicando a aceitação do jogo e a data marcada.”

Sorridente, Jibril continuou.

“Parece que estava sendo suprimida dentro do Castelo Real de Elkia para impedir o jogo com a União Oriental. Veja, havia um indivíduo que começou a agir de forma suspeita toda vez que me via—”

“Uh… Você não…”

Esta era a Jibril. Ela não poderia ter matado—

“Por favor, fiquem tranquilos. Convenci-o da maneira mais cortês e pacífica. Apenas olhando gentilmente em seus olhos e o advertindo levemente foi o suficiente para que ele molhasse a parte inferior do corpo, chorasse, soluçasse, me dissesse tudo que eu precisava saber e me entregasse a carta.”

“E-eu entendi…”

—Os Dez Pactos não cobriam intimidação, hein? Mas, então, reter a carta não seria equivalente a saque ou—Mas Steph disse, segurando a cabeça:

“…Eu deveria saber… Afinal, a vida da Immanity está em jogo… Alguém no governo que não tivesse participado do pacto de não fazer relatórios falsos ainda poderia usar um jogo para retirar o direito de alguém de entregar a carta e—”

…Huh, então Steph realmente entendia de política. Secretamente pensando consigo mesmo que deveria aumentar um pouco sua estimativa de Steph, Sora continuou.

“—Não estava especificado quando deveriam entregá-la, imagino. Ei, Immanity, vocês são bem ardilosos quando se trata dessas coisas. Gostaria que usassem esse cérebro para algo mais útil para o país.”

“Por enquanto, você é o inimigo da Immanity. Acho que estão aplicando perfeitamente, não?”

A resposta sarcástica de Steph passou épica e completamente despercebida por Sora.

“Vamos veeer, então, o que diz—Ei, Shiro, qual é a data de hoje?”

“…Vinte e sete.”

A confirmação de rosto tenso de Sora foi respondida imediatamente por Shiro.

“—C-cara, é hoje; hoje é o jogo!”

“Huh?! Uh, ah, que horas—”

Para uma Steph atônita, Sora gritou.

“Começa à noite—não temos nem meio dia! Vamos lá, todo mundo se preparar rápido!”

“T-tá be—”

“Sua humilde serva Jibril está pronta a qualquer momento.”

“…Eu…tô…bem…”

“E seu irmão, Sora, também está pronto a qualquer momento! Então, todos vocês, vamos lá!”

O fato de Sora e sua equipe estarem prontos para partir apenas levantando-se deixou Steph estressada.

“C-c-com licença! Olhem, i-isso é uma batalha oficial entre nações! Pelo menos vocês precisam vestir—”

“O quê? Esta é minha vestimenta oficial. Algum problema com isso?”

Talvez fosse o jeito do mundo que uma pessoa normal entre excêntricos sempre fosse chamada de excêntrica. Os três encararam Steph como se perguntassem, *Qual é o seu problema?*, ao que ela respondeu—

“—T-tá bem! Muito bem, vamos como estamos!”

“E então, mestres e pequena Dora, por favor, segurem-se em mim. Vamos nos deslocar para a embaixada—”

“Oh, Jibril, não.”

Recusando o modo de transporte de velocidade máxima oferecido por Jibril e virando-se para Steph, Sora ordenou:

“Steph, prepare uma carruagem na frente do castelo—vamos sair em grande estilo, pela frente mesmo.”

Enquanto Jibril não entendia o significado de sua sugestão, Steph ficou perplexa.

“O quê… V-você percebe que há um tumulto lá fora?!”

“É por isso—veja. Por que você acha que eu comecei esse tumulto?”

******

A grande praça diante do Castelo Real de Elkia estava tomada por manifestantes, um furacão de invectivas. À frente dela, o enorme portão principal do castelo se abriu lentamente, com um ruído trovejante. O comício estava pronto para lançar uma enxurrada de insultos sobre quem quer que aparecesse—mas. Ao avistar os quatro que surgiram, o silêncio caiu.

Ao ritmo dos passos dos quatro, a multidão na praça, envolta em imobilidade, abriu caminho. Caminhando no centro, com cabelos negros e olhos escuros tão profundos e frios quanto a noite, estava o rei—Sora. À sua direita, com olhos mais encantadoramente rubi do que nunca, a rainha—Shiro. Um passo atrás, com olhos âmbar brilhando suavemente, estava sua serva—Jibril. Cada olhar possuía seu próprio brilho, cada um cheio de uma determinação incomum e uma confiança que parecia absoluta—uma confiança que impedia o povo de formar palavras.

…Bem, isso é romantizar um pouco. Na verdade, era principalmente o olhar de Jibril, combinado com seu sorriso plácido, que dizia: *Se você gostaria de insultar meu mestre, sinta-se à vontade para fazê-lo em troca de sua vida.* Sua presença esmagadora impediu as pessoas de sequer respirar e roubou todas as palavras da multidão. Muito atrás, Steph, com olhos azul-marinho, tentava apressadamente alcançá-los de forma desajeitada.

No final, os passos de Sora e seus companheiros não permitiram uma única palavra de abuso.

Steph, tendo subido na carruagem, sem fôlego, interrogou Sora enquanto recuperava o ar.

“V-você começou o tumulto—o que quer dizer com isso?”

Mas Sora respondeu a Shiro, como se a pergunta tivesse sido inesperada.

“Huh, Shiro não explicou?”

“…?”

Enquanto Shiro inclinava a cabeça, Sora percebeu, assim que disse isso.

…Era uma pergunta estúpida. Não havia como Shiro tomar a iniciativa de explicar algo para alguém além de Sora.

“Ahh, é assim. Quando apostei a Peça da Immanity, estava mirando—três coisas.”

Sora ergueu três dedos e virou-se para encarar Steph.

“Uma, que nem precisa dizer, era arrastar a União Oriental para o jogo. Outra, que você provavelmente sabe, era atrair Chlammy e trazê-la para o nosso lado. E a terceira—”

Sora, ao contar até o último dedo, sorriu maliciosamente.

“—era o olhar desconfiado das massas.”

“Huh…?”

“Quem precisa de um bando de otários que confiam cegamente que vamos ganhar? O que precisamos é de um grupo de desgraçados que vão assistir ao jogo com os olhos injetados de sangue, se perguntando se vamos jogar tudo fora. Efeito prático: isso vai impedir a União Oriental de trapacear descaradamente. Não há espectador em quem você possa confiar mais do que aquele que não confia em você.”

Sora sorriu com satisfação. Ignorando a confusão de Steph, ele chamou o cocheiro com entusiasmo.

“Então, coloque essa carruagem em movimento. Nosso destino—a casa da Izzy!”

“…Avante!”

******

Nos arredores da capital, Elkia, erguia-se um imponente e gigantesco edifício posicionado logo deste lado da fronteira. A embaixada da União Oriental em Elkia. Quando o grupo de Sora desceu da carruagem, foi recebido por um Werebeast idoso, de cabelos brancos, vestido com um traje que lembrava roupas formais japonesas. Era Ino Hatsuse, o vice-embaixador da União Oriental em Elkia.

“…Estávamos aguardando sua chegada.”

“Cara, vocês que nos fizeram esperar. Vamos lá, estão prontos para isso?”

Apesar de Sora começar falando com provocação assim que desceu da carruagem, Ino pareceu, mesmo assim, agir com cautela, respondendo brevemente.

“…Por favor, me acompanhem.”

Guiados para dentro do edifício—embaixada—o grupo de Sora caminhava atrás de Ino, que seguia em silêncio.

“Ei, o velhote tá bem quieto, né? Qual é a dele?”

Para Sora, que murmurou, já imaginando que o Werebeast soubesse se impor em outro momento, Steph respondeu com uma expressão cansada.

“Depois de você ter enganado ele para apostar todo o território continental da União Oriental, isso é o que você tem a dizer?

“Pelo amor de Deus—,” disse Steph, segurando a cabeça. “Ser tão despreocupado bem antes de um jogo com a Peça da Immanity em jogo, não é vocês que têm algo errado?”

Jibril, mesmo sendo a segunda vez ali, olhava ao redor animadamente, praticamente babando de fascinação por tudo que via. Em contraste, Shiro bocejava suavemente, mexendo em seu celular, enquanto Sora caminhava com os braços cruzados atrás da cabeça e tagarelava sem preocupação. Enquanto isso, Steph lutava desesperadamente para conter a dor em seu estômago.

“Tudo bem aí, Steph? Relaxe os ombros. Assim você não vai aguentar muito tempo.”

“Obrigada pela preocupação. Contudo, a causa das minhas dores de estômago, em 100% dos casos, são vocês dois…”

Eles foram levados para a mesma sala de recepção de antes.

“…Se puderem, por favor, aguardem aqui um pouco até o horário marcado para o jogo.”

“Com certeza. E não se esqueça de deixar entrar todos os nossos espectadores, como pedimos, certo?”

Com uma única reverência e partida silenciosa de Ino, Sora falou enquanto se esticava sem hesitação no sofá.

“Então, Jibril, me acorde quando for a hora.”

“Seu desejo é uma ordem. Por favor, aproveite seu descanso.”

“…Eu também.”

…E, no estômago do deitado Sora, Shiro se enrolou sem hesitação e fechou os olhos. Em questão de segundos, os irmãos já respiravam com o som confortável do sono.

“…Eu não consigo acreditar nisso. Que tipo de lógica eles têm?”

Em poucas horas começaria um jogo que determinaria o destino de toda a humanidade. Considerando que Steph estava lutando contra náusea e dores no estômago desde o momento em que soubera do horário do jogo, Jibril, aparentemente tão tranquila quanto Sora e Shiro, sugeriu:

“Dora, por que não descansa também? De acordo com a literatura dos meus mestres, o cérebro da Immanity atinge seu desempenho máximo nas poucas horas após acordar.”

“Se eu tivesse nervos de aço para dormir nessa situação, adoraria—”

“Eu entendo. As coisas devem estar difíceis se meus mestres consideram necessário fazer isso.”

“……!”

Essas palavras fizeram o rosto de Steph se contorcer.

“Parece que este jogo exige a capacidade total até mesmo dos meus mestres. Sendo esse o caso, suponho que terei de levar isso um pouco mais a sério também.”

Steph sentiu sua dor de estômago piorar ainda mais. E assim—para Steph, as poucas horas até o início do jogo se passaram como uma série de idas e vindas entre o banheiro e a sala de recepção.

******

“…Ahh… Oh, Steph. Parece que você perdeu peso nas últimas horas?”

“Acho que o termo certo seria que fiquei abatida…”

À beira do horário marcado para o início do jogo, uma Steph exausta respondeu a um Sora recém-desperto.

“Ótimo. Shiro, como você tá se sentindo?”

“…Tudo, tranquilo.”

Shiro respondeu à pergunta de Sora com olhos brilhando vários graus mais intensos que o normal.

“E você, Jibril?”

“A condição de um Flügel não varia. Estou sempre pronta para devotar todo o meu espírito às suas ordens.”

No entanto, até Jibril respondeu com uma expressão inquieta, completamente desprovida de sua habitual despreocupação.

“Steph—bem… é, acho que aí não tem muito o que esperar.”

Com isso, Sora falou devagar.

“Aliás, Steph, lembra do jogo que jogamos outro dia?”

“…Qual jogo você quer dizer?”

“O jogo em que adivinhamos quando o pombo iria voar.”

“Ah, sim… o dia em que você me transformou em um cachorro; o que tem ele, senhor?”

“Você lembra que fizemos aquela aposta, e eu… ainda não especifiquei o que quero?”

“—Hã?”

“Jibril, pode garantir que os Werebeasts não nos ouçam aqui?”

“Certamente, Mestre; envolverei você e a pequena Dora em espíritos para que o som não escape.”

Jibril acenou com a cabeça uma vez, girando seu halo. Sora virou-se de volta para Steph.

“Beleza, Steph, agora vou fazer um encanto muito especial em você…”

Com um sorriso muito, muito doce, mas se aproximando de maneira meio assustadora, Sora inspirava em Steph apenas as piores expectativas—

******

O horário marcado para o início do jogo. Guiados por Ino, o grupo chegou a um dos andares da embaixada. O vasto salão retangular dava a impressão de ocupar todo o andar do edifício maciço. Cada uma das quatro paredes era preenchida por uma única tela gigante. No centro disso tudo, reuniam-se centenas—não, talvez até mil Immanities, todos observando o palco com olhares carregados de desconfiança. No palco, diante da tela frontal, havia uma caixa preta—e sobre ela, cinco cadeiras.

“……”

Sentada discretamente em uma dessas cadeiras estava a adversária. A embaixadora da União Oriental em Elkia, uma Werebeast de cabelo preto e orelhas tão longas quanto as de uma raposa-do-deserto—Izuna Hatsuse. Com os olhos fechados, como se concentrando sua mente, a garota não demonstrava nenhum traço da gentileza exibida no outro dia.

“…Se puderem se sentar aqui, por favor.”

Com o incentivo de Ino, Sora sentou-se ao lado de Izuna. Então, à direita, Shiro, Jibril e, por último, Steph ocuparam seus lugares. Tendo verificado que todos estavam sentados, Ino, posicionado ao lado de Izuna, leu o documento que segurava.

“Agora—com sua permissão, revisaremos o pacto.”

O som de alguém engolindo seco pôde ser ouvido.

“A União Oriental aposta tudo que possui no continente de Lucia. O Reino de Elkia aposta sua Peça da Raça—em outras palavras, todos os direitos, todo o território e tudo o mais que pertence à Immanity. Sob essas condições, será jogado um jogo especificado pela União Oriental, com um total de cinco participantes, incluindo a representante da União Oriental, os dois monarcas do Reino de Elkia e seus dois assistentes—um contra quatro.”

Vendo que todas as suas exigências—incluindo a de ser um contra quatro—haviam sido aceitas, Sora deu um sorriso de canto.

—Claro que haviam. Eles não tinham escolha.

“Além disso, de acordo com a prática padrão da União Oriental, será feita uma exigência concomitante de que todas as memórias do jogo sejam esquecidas. Essa exigência se aplica a todos os Immanities, incluindo os jogadores e os espectadores.”

Ino continuou neutro.

“Também, as regras serão explicadas após o início do jogo. Portanto, caso o jogo seja recusado após ouvir as regras, a partida será considerada inválida, e apenas as memórias relacionadas às regras serão apagadas—isso é realmente aceitável?”

—Era um absurdo. Você só descobriria qual era o jogo depois de apostar? E então ele enunciava o peso dessa exigência e ainda perguntava: “Isso é realmente aceitável?” Aceitável, o escambau, foi o pensamento coletivo de todos na audiência. Mas, respondendo com demasiada despreocupação:

“Sem problema. Mas quero apenas esclarecer duas coisas.”

Com entusiasmo, o rei da Immanity—Sora.

“Mesmo que desistamos, tudo o que vamos perder são nossas memórias do jogo de hoje. Se estão esperando nos fazer desistir com um jogo impossível para depois tomarem todas as nossas memórias, esqueçam. Não percam seu tempo.”

Então, mirando profundamente nos olhos de Ino:

“E aqui vai a segunda coisa. ‘Se for descoberta trapaça em um jogo, será contado como derrota’—contanto que não esqueçam essa premissa fundamental dos Dez Pactos, não há problema. Vamos começar.”

…Diante de Sora, que tão facilmente—facilmente demais—derrubava uma das armadilhas postas pelos líderes da União Oriental. Diante de Sora, que parecia não considerar nem por um momento a possibilidade de perder. Diante de suas ações, que pareciam insuperavelmente precipitadas para os espectadores. Até mesmo Ino e Izuna, que sabiam que o jogo já estava armado, franziram a testa, cada um por razões diferentes.

“…Então, tomando isso como um sinal de concordância—declaremos o pacto.”

Ao anúncio de Ino, Sora e Shiro ergueram as mãos. Jibril, sem hesitação, e Steph, com hesitação.

“Aschente.”

“Aschente, por favor.”

O agente plenipotenciário da Immanity, Sora e Shiro, e cada um dos jogadores. E o agente plenipotenciário da União Oriental, Izuna Hatsuse. —Cada um pronunciou ao outro a palavra de juramento sob os Dez Pactos.

“Certo, Shiro, não solte minha mão, tá bom?”

“…Você também, irmão.”

Enquanto seguravam as mãos um do outro, Sora se recostou na cadeira e disse:

“Vamos—começar o jogo.”

“…Muito bem, deixem-me fazer as honras.”

Ino, assim murmurando, manipulou a caixa preta—provavelmente ligando a energia. As gigantescas telas que cobriam as paredes se acenderam.

—Era isso: o jogo pela própria raça humana. E pelo domínio continental inteiro do terceiro maior país do mundo. Em meio a um turbilhão de inúmeras emoções: tensão, dúvida, desespero. O salão estava abarrotado com até mil espectadores, mas permaneceu tão silencioso quanto o fundo do mar. Ao lado de Izuna, observando a tela, Sora falou.

“Ei, Izuna.”

“—O que, por favor?”

Palavras do inimigo pouco antes do início do jogo. Por um momento, ela hesitou se deveria respondê-las. Mas sua pergunta, feita enquanto ele encarava a tela sem qualquer excitação ou emoção especial—

—eram palavras das quais Izuna viria a se arrepender de ter dado ouvidos.

“Quando foi a última vez que você achou que um jogo foi divertido?”

Antes que Izuna pudesse processar a pergunta, a tela ficou preta, e—

—sua consciência foi engolida pela tela.

******

Enquanto sua consciência mergulhava, Sora ainda considerava calmamente. *(Descobrimos qual é o jogo pelas informações que o velho rei deixou e pelos dados que reunimos.)* Era, de fato, um videogame, como Sora havia deduzido. A única discrepância era que o jogo acontecia virtualmente, com um mergulho de consciência total. O antigo rei havia escrito que “acontece em outro mundo,” mas isso devia ser o máximo que ele tinha entendido.

*(Na época, ele jogou contra Ino Hatsuse. O velho.)* Estava escrito que o jogo era um “jogo de tiro”—em outras palavras, um FPS. Mas agora que algum tempo havia se passado desde o último jogo, o papel do jogador tinha sido transferido para Izuna Hatsuse. Era provavelmente seguro assumir que o jogo em si tinha mudado… mas—*(Considerando as propriedades dos Werebeasts, as trapaças que provavelmente vão usar e o fato de que este é um jogo público sob os olhos dos espectadores, também podemos presumir que não vão mudar o tipo fundamental de jogo.)*

De fato, nessas condições. Nenhum outro gênero poderia ser imaginado para proporcionar aos Werebeasts uma “vitória certa.” *(Mas eles vão mexer nas regras detalhadas, alterar o mapa, com certeza. Este é um jogo de como vamos responder rapidamente a coisas que esperávamos e coisas que não esperávamos e adaptar nossa estratégia—)* Mas quando o carregamento terminou e o mundo se formou diante de seus olhos, os pensamentos de Sora travaram, e seus olhos se arregalaram ao máximo. Era—

“N-não, pode ser.”

“……”

Os irmãos amaldiçoaram sua própria tolice. Haviam antecipado incontáveis conjuntos de regras, incontáveis mapas, e preparado incontáveis estratégias. Mas—esse era o único mapa que eles não tinham considerado de jeito nenhum. Sem dúvida. Eles o conheciam… nunca imaginaram vê-lo novamente. Ah, aquele lugar tão querido e terrível, tão cheio de seus traumas—

Não havia como errar, se tentassem—era Tóquio, Japão.

“…Desculpa, Steph, Jibril.”

“Uh, o quê?”

“Hh! Ah, eh, você chamou?!”

Para Steph, que estava distraída, e Jibril, babando com o cenário desconhecido, Sora falou.

“Não podemos fazer isso. Desculpa, a Immanity está condenada.”

“Tagarelar tagarelar tremer tremer”

“Huh… o-o que agora?! Depois de tudo o que você disse—”

“Desculpa me perdoem eu nunca nem considerei que poderia ser em Tóquio não podemos fazer isso nosso campo de origem não é nossa vantagem não servimos mais então realmente desculpa mas vocês vão ter que se virar—”

“Tagarelar tagarelar tremer tremer”

Enquanto o irmão balbuciava com os olhos revirando e a irmã se encolhia e tremia com a cabeça entre as mãos, Jibril gaguejou.

“—Você—quer dizer que este é o mundo de vocês?”

Então a voz do narrador—ou melhor, de Ino—ressoou.

“Foi um choque? Bem-vindos ao mundo do jogo.”

“…Mundo… do jogo.”

“De fato. Este é o cenário do jogo. O jogo acontecerá neste fictício—”

“Espere.”

“—Sim?”

“Deixa eu conferir. Você disse—é fictício, um lugar que não existe, certo?”

“Sim. Isso é um problema?”

Olhando ao redor para as placas, Sora verificou objetivamente. Cercado por incontáveis prédios envidraçados, um mundo construído de asfalto e concreto. …De fato, parecia muito com o centro de Tóquio—mas. As placas espalhadas claramente não estavam em japonês, e havia portões de santuários aqui e ali, além de um toque maior de natureza… Observando com cuidado, não era exatamente o Tóquio que Sora conhecia.

>

“—Então você está dizendo que este é um mundo virtual artificial que vocês imaginaram e criaram?”

“Sim. Quão rápido é o seu entendimento.”

“Shiiiiiiiiiiit, não trola a gente assim!”

O rugido poderoso de Sora ecoou por todo o “Tóquio” do jogo.

“—Aaaah, droga! Vocês acabaram de ativar malditos flashbacks! Quase arranquei minhas artérias… Não criem essas porcarias confusas, seu velho maldito!”

Diante do Sora em fúria descontrolada, a confusão de Ino apenas aumentou.

“...O que é que o irrita tanto…? Você está insatisfeito com este palco?”

“Eu estou transbordando de insatisfação! O que te levou a usar este palco?! Isso é guerra psicológica ou griefing?!”

“Senhor… É simplesmente porque os jovens de hoje em dia têm se apaixonado por cenários de ficção científica como este. Não há intenção profunda.”

“Uh…uhh? Ficção…científica?”

—O-oh. Calma. Você tem que se acalmar, Sora, virgem, dezoito anos. Este é um mundo que tem elfos e dragões—exatamente como imaginávamos no nosso velho mundo. Assim como Disboard é fantasia no nosso mundo. Para eles, um mundo como a Terra atual é o produto da imaginação—e só isso. Este é um jogo em que nossa consciência mergulhou; é um mundo fictício; não é Tóquio. Sora respirou profundamente, tentando se tranquilizar.

“Hhh…Hhh… Certo, estou bem. Estou calmo agora.”

“...Tagarelar tagarelar tremer tremer”

“Shiro, calma. Isso não é Tóquio. Só parece. É um lugar imaginário que eles inventaram.”

“...Hig…uh?”

Talvez traumatizada demais. Shiro aparentemente nem tinha ouvido o que Ino disse até Sora repetir para ela.

“Sim, é só um jogo. Podemos andar por aí se for dentro de um jogo, certo, tipo Pe*sona ou Ste*ns;Gate ou Akiba’s *rip. Estamos dentro de um jogo. Tá tudo bem dentro de um jogo. E offline ainda estamos segurando bem a mão um do outro. Certo, né?”

“...Num, jogo…mm…hmm, o…k…”

Com os olhos ainda um pouco vazios, Shiro se levantou.

“Eh, bem, com isso—vamos continuar com o jogo?”

—Pensando bem, este jogo estava sendo observado pela raça humana. Sora não podia vê-los, mas, sentindo olhares mais frios que geleiras fixos nele, limpou a garganta.

“Beleza. Estamos prontos. Vamos lá.”

“Ahem, nesse caso, comecemos com o vídeo de introdução.”

“Perdão? O que é isso?”

“É necessário?”

Sora e Shiro, há muito tempo tendo adotado uma postura ajoelhada, responderam às dúvidas de Steph e Jibril.

“Se você pular o vídeo de introdução, falha como gamer. Então, senhoras, calem a boca, fiquem quietas e assistam.”

“…Aceno, aceno.”

Assim incentivadas, Steph e Jibril relutantemente se juntaram a seus mestres em uma posição ajoelhada. E nos céus do “Tóquio,” uma tela gigante foi projetada.

“Você é—popular entre as garotas.”

...Um segundo após o início da introdução, Sora já tinha quase certeza de que isso ia falhar como jogo. Mas seu orgulho como gamer mal o impediu de falar.

“Você é tão popular entre garotas do mundo inteiro que leva uma vida sendo constantemente perseguido… Mas, no fundo do seu coração, você tem apenas uma garota—um amor com quem sonha.”

Projetada junto com a narração ridícula, a imagem de Izuna, vestida com roupas fofas e floridas, como se ela já não fosse angelical o suficiente.

“Mas mesmo assim, cercado por tantas tentações, há um limite para quanto tempo seus sentimentos podem permanecer puros—”

Um gráfico de uma figura sendo perseguida por hordas de garotas-animal e abraçada quando capturada.

“Você consegue lutar contra as massas de tentação—e entregar seu amor à sua única e verdadeira amada?!”

Living or Dead Gaiden
Love or Loved 2: Conquiste-a com sua Bala do Amor

—A introdução terminou. Ou, podemos dizer, ela finalmente acabou. Sora segurava a cabeça como se tentasse conter alguma coisa. Shiro permanecia em silêncio. Ao lado de Jibril, que babava fascinada, Steph olhava intrigada.

“V-vovô, com licença?”

Eles realmente escolheram um jogo assim para uma disputa que decidiria o destino da nação e da raça humana. Para Sora, prestes a soltar um comentário sarcástico (ou nove), Ino implorou apologeticamente…

“...Por favor, poderiam evitar comentários? Izuna nos fez criar este jogo porque ela não gosta de conteúdo sangrento.”

…Você é bem de conto de fadas, afinal, né, Izzy?

“Mais importante, por favor, olhem para as caixas aos seus pés.”

Quando todos olharam para seus pés, cada um tinha ali uma pequena caixa. Do tipo que você encontra munição em um FPS. Ao abri-la—

“O que é isso, uma arma?”

“…Formato…esquisito.”

“A forma, de fato, parece diferir significativamente das ‘armas’ que aparecem em sua literatura.”

“O que é isso? Como você deve segurar isso?”

Para os irmãos, confusos com o formato bizarro da arma, e para as duas que nunca tinham visto uma arma, Ino prosseguiu.

“Agora, permitam-me explicar as regras.”

Ino continuou em um tom monótono, como se estivesse lendo o manual de instruções.

“Por favor, usem a arma fornecida—para atirar nas garotas NPC que os perseguirem.”

“Você atira nelas?!”

“Às vezes você as atirará, outras vezes as bombardeará—para fazê-las se apaixonar perdidamente por você.”

“O que é isso, Ga*Gun?!”

“Uma vez que se apaixonarem perdidamente, elas perceberão a força do seu amor e desaparecerão, deixando com você seu poder do amor.”

“…Uh, entendi.”

“A ‘Arma Lovey-Dovey’ dispara o poder do amor—tecnicamente chamado de Poder do Amor.”

Sora olhou para a arma bizarra em suas mãos.

“—Isso se chama Arma Lovey-Dovey?”

“…Brega.”

“É, de fato, um nome sem criatividade. A infantilidade deste jogo transparece completamente.”

“Com licença, por favor, o que é uma arma?”

“Sua equipe vence se vocês atirarem na sua ‘única e verdadeira,’ ou seja, Izuna, com a Arma Lovey-Dovey—abreviada para Arma Lovey.”

“…Entendido.”

“No entanto, se algum de vocês for atingido por Izuna, a vítima se tornará seu ‘escravo do amor.’”

“—Hum… você pode só dizer ‘vira contra você’?”

“Em um mundo no qual todas as garotas te adoram, exceto apenas sua verdadeira amada, o objetivo deste jogo é transmitir seu amor para ela e fazê-la se apaixonar perdidamente com sentimentos lovey-dovey—assim explica o manual de instruções.”

A implícita afirmação de Ino, *Isso não foi ideia minha,* gerou um—*Hmm, certo*—de Sora. Resumindo as regras em sua mente, ele abriu a boca, apertando os olhos.

“...Esse conceito me irrita. Basicamente, você tá dizendo que vamos por aí rejeitando todas as garotas que aparecem. Que tipo de babaca vocês acham que somos?”

Então, todos eles tinham carisma vezes, tipo, um milhão agora, né? Tirem o cavalo da chuva. Resumidamente, todos eram hiper-ultra-populares, mas para os quatro do time de Sora, Izuna era sua “única e verdadeira.” Para Izuna, no entanto, eles eram seus “quatro e únicos.”

“Então, basicamente, Izuna tá indo pro final de harém com todos nós apaixonados por ela enquanto estamos mirando apenas na Izuna.”

“Bem, sim, é assim que está configurado.”

“…Isso é, tipo, o quê. É…”

Através de uma névoa de emoções, Sora procurava palavras.

“Eu consigo lidar com isso porque Izzy é uma garota-fera fofa, mas, digamos que fosse você, Vovô? Agora mesmo eu me imagino saindo do jogo, pegando impulso e enfiando os dedos nos seus olhos.”

“Eu posso apreciar perfeitamente como você se sente, mas lembre-se de que foi você quem solicitou que o jogo fosse um contra quatro.”

—Ino reemphasizou que eles eram os responsáveis por este conceito irritante. Mas ele continuou, agora parecendo mostrar alguma simpatia por Sora.

“Hoje em dia, apenas joguinhos fofos como este são populares… Quando eu era jovem, nós éramos sérios—”

—Sora se sentiu estranhamente comovido ao ver que havia saudosistas retrô em todo mundo.

“...Certo, entendi. Quero confirmar as regras, então me deixe perguntar algumas coisas, Vovô.”

“Por favor, pergunte o que quiser.”

  • 1. Atirar com a sua Arma Lovey ou lançar Bombas Lovey consome Poder do Amor.
  • 2. Você pode reabastecer o Poder do Amor derrubando as garotas.
  • 3. As garotas são atraídas pelo Poder do Amor, e, quando tocam em você, o seu Poder do Amor diminui.
  • 4. Se você ficar sem Poder do Amor, as garotas não virão até você, e você será efetivamente eliminado.
  • 5. Se você for atingido pela Izuna, perde o controle do seu personagem e se torna o “escravo do amor” dela—um inimigo.
  • 6. Aliados que Izuna transformou em inimigos podem ser trazidos de volta ao serem atingidos novamente por um aliado.
  • 7. O método no item #6 também pode ser usado para trazer de volta um jogador que ficou sem Poder do Amor.
  • 8. Todos os atributos dos personagens refletem as habilidades dos jogadores na vida real, exceto que magia não pode ser usada.

“—Então, é assim que funciona?”

“Sua rápida compreensão das regras é um prazer de ver.”

...Sora colocou a mão no queixo e pensou. As questões e preocupações previsíveis eram inúmeras, mas não apresentavam problemas. Estava—realmente por pouco, mas—ainda dentro dos parâmetros esperados.

“Ah, bem, é basicamente uma mistura de *Le*t 4 Dead* e *Gal*un.”

Organizando as regras em sua mente, ainda assim Sora tinha que dizer.

“Mas isso é realmente um jogo idiota… do tipo que otakus porcos compram…”

“…Como… você, quer dizer.”

“É. Esse cenário e protagonista são uma droga, mas é preciso coragem para usar um jogo tão estúpido para uma batalha por domínio. E não posso reclamar muito de ser perseguido por garotas-fera.”

Sora, começando a rir maliciosamente e respirar pesado, de repente perguntou:

“Vovô, essa ‘Arma Lovey’—se você atirar em um aliado, eles recarregam; como isso funciona?”

“Muito simples. É porque ela dispara Poder do Amor.”

“…Então, tem os mesmos efeitos de ser atingido pela Izuna?”

“Sim, embora apenas temporariamente, a pessoa atingida se tornará um ‘escravo do—’”

Powww!

Antes mesmo que Ino terminasse sua frase, Shiro puxou o gatilho da arma sem remorso, mirando em Sora. A bala rosa que saiu voou em velocidade sônica, acertando o braço de Sora e levantando uma chuva de pequenos corações—

“Oh, minha irmã—minha querida irmã! Pensar que todo esse tempo, uma mulher tão adorável e encantadora esteve tão perto de mim e eu não percebi… Oh, esses olhos! Quero arrancá-los do meu rosto!”

“…Ei…Irmão, não…somos, irmãos…”

Shiro se remexia, corando, em resposta aos gestos melodramáticos dele.

“Ah! Mas o que importa? Você está certa que o mundo não aprovaria, mas o que aconteceu com o nosso mundo?! Este é Disboard; este é um jogo! Um mundo onde tudo é decidido por jogos—não importa o que digam, vamos—para um lugar além dos conselhos de censura!”

“Ei—tenho algo a dizer!! Vocês esqueceram que as pessoas estão assistindo?!”

Enquanto Steph interrompia, sem entender o que estava acontecendo, mas entrando em pânico, Jibril interveio.

“Então, se me permitem falar também.”

*Powww.* O ponto de Jibril foi feito com uma bala chovendo corações em direção a Shiro.

“…Jibril…Eu te amo…”

“Aaaaaah, Shirooo! Você vai negar o amor do seu irmão?!”

“Ahaugh! Isso é um exemplo de um ‘triângulo amoroso’ ou ‘netorare,’ como descrito na literatura dos meus mestres! Entendo—até para mim, que careço da emoção do amor, há algo nisso—!”

“—Hh!”

…Sora subitamente voltou a si.

“Mngh… Então você permanece consciente mesmo no estado de ‘escravo do amor’… É bem assustador perder o controle do seu personagem quando você está virtualmente dentro do jogo… Eu quase coloquei as mãos na Shiro e fui além do permitido…”

Shiro, voltando aos poucos, lançou um olhar furioso para Jibril com os olhos semicerrados, dizendo:

“…Jib-ril…vou te, punir…depois…”

“Ohh! Perdoe-me, Senhorita Shiro! Eu não pude conter minha curiosidade!”

Tendo compreendido as nuances das regras, Sora começou a construir uma estratégia em sua mente. A primeira preocupação que surgiu foi—

“Ummm… Steph, acabamos de explicar as regras, mas você entendeu?”

“Heh, não admito que me subestimem—eu não entendi absolutamente nada!”

*Da-DUMMM.* Steph ergueu a cabeça, orgulhosa e desafiadora, deixando Sora explicar.

“Hmm. Certo, então, primeiro, esta arma, é assim que você segura.”

“Mm, assim?”

“Isso, isso. E você coloca o dedo indicador neste buraco.”

“Sim, sim?”

“Agora, tente apontar diretamente para baixo e apertar o gatilho com o indicador.”

“Assim?”

Steph apontou para o chão como foi instruída e puxou o gatilho. Um som *powww*. A bala explodiu no pavimento—e ricocheteou.

“…O-ohh…Como você é maravilhosa, Ste-pha-nie—eh-heh-heh, nunca vou te deixar ir!”

Steph, agora sua própria “escrava do amor,” começou a se abraçar e se remexer.

“Hmm, então elas realmente ricocheteiam. Este deve ser o ponto-chave, Shiro.”

“…Mm, eu…sei…deixe comigo.”

Observando Steph se contorcer com olhos sérios, e fazendo arranjos que só faziam sentido para eles, os irmãos articularam sua estratégia.

“’Tá, vamos chamar aqui de Ponto Alfa por enquanto. Vamos nos manter em linha até entendermos o equilíbrio do jogo. Pelas regras, ninguém além da Jibril deve ter atributos físicos que valham algo. Se as garotas tiverem os atributos de Werebeast, talvez seja difícil até mesmo despistá-las. Jibril, você fica na retaguarda. Derrube todas as perseguidoras.”

“…Sim, senhor…”

“Entendido, senhor—mas está tudo bem deixar a pequena Dora assim?”

Nisso, encarando as contorções frenéticas de Steph, Sora disse:

“Nah, não é grande coisa se a Izuna atirar nela. Ela é só a Steph.”

“Você fala a verdade, meu senhor. Ela não passa de uma pequena Dora.”

Diante da rejeição decisiva de Sora, Jibril abandonou Steph sem hesitação.

“Agora, vocês dois, vamos! O destino da raça humana depende desta batalha!”

““Sim, senhor!!””

“Eh-heh-heh, como você é maravilhosa, Ste-pha-nie… Ohhh, por que você é tão fria?”

Deixando Steph para trás, contorcendo-se contra seu reflexo em um painel de vidro, os três correram.

ANDAR DE OBSERVAÇÃO

O jogo havia começado. Em meio à multidão perplexa com a estupidez do jogo, uma garota exalava cautela, uma sombra lançada sobre seus olhos escuros por um véu preto.—Chlammy estava ali.

(…Fi, você consegue ver?)

[Sim, estou vendo muito bem, Chlammy; ora, consigo enxergar perfeitamente através dos seus olhos.]

A Elfa do lado de fora do prédio—Fi—estava sincronizada com a visão de Chlammy enquanto conversava telepaticamente com ela. Para Chlammy, nascida em Elven Gard, isso era algo natural, mas…

(Para outras raças, sério, esse tipo de magia deve ser insuportável.)

—A pálpebra de Ino estremeceu.

(—É isso… a presença de magia?) Sem nervos conectados a circuitos espirituais, como os Immanities, os Werebeasts eram incapazes de usar magia. No entanto, à presença captada por seus sentidos sobre-humanos, Ino lançou um olhar atento.

(…Chlammy Zell! O que ela está fazendo aqui…?!) Não era ela uma espiã de Elven Gard enviada pelos Elfos para o torneio que decidiria o monarca—?

(—Então a convidaram…como monitora de outra raça.)

—As condições do pacto aplicavam-se apenas às memórias dos jogadores e dos Immanities. Se Chlammy estava ali relatando a uma raça remota—os Elfos—por meio de magia, isso significava que todo o jogo estava sendo exposto a Elven Gard. Observando Sora enquanto ele perambulava pelo mundo virtual, Ino pensou. *(Esse homem—até onde ele se prepara com antecedência…?!)*

—Apenas tentem usar uma trapaça óbvia. Todas as manobras suspeitas do jogo serão exibidas. Isso era o que o sorriso fino de Sora dizia enquanto ele fechava os olhos.

[Hee-hee, fingindo que não percebe… Ora, suas orelhas já reagiram à magia.]

Fi riu de Ino enquanto ele mantinha os olhos fixos à frente, mas desviava sua atenção.

—Tudo parecia estar indo exatamente como Sora havia planejado.

(Fi, o jogo que eles estão jogando é exatamente como Sora antecipou. Um mundo fictício, chamado ciberespaço, no qual a magia não pode interferir. Não parece haver nada que possamos fazer—)

[Ora, estou bem ciente; o importante é que estamos assistindo.]

—Essa era Fi para você. Ela devia ter percebido no momento em que ouviu o pedido de Sora.

(Agora a União Oriental não poderá usar trapaças óbvias demais…)

O jogo à parte—se a verdade de suas artimanhas fosse revelada a Elven Gard, qualquer coisa que os Werebeasts tentassem dali em diante… isso seria a ruína da União Oriental. Era por isso que, explorando uma brecha no pacto, Fi havia sido designada como uma monitora cujas memórias não seriam apagadas, mesmo que eles perdessem.

(…Bem, não que eu esteja interessada em ignorar qualquer trapaça. Fi, me ajude.)

[Mmm, bem, este rito é muito difícil de manter, sabia. Mas, ora, farei isso por você.]

—Mais uma vez olhando para a estratégia para vencer este jogo, presente na memória de Sora. Não importava quantas vezes reconsiderasse, era uma corda bamba fina demais, com as partes vitais todas comprimidas umas contra as outras para formar a solução. Ainda assim, exatamente como estava na memória de Sora, aquilo brilhava deslumbrantemente com as palavras *vitória certa*. O que dava a ele essa confiança—o que fazia Sora acreditar no potencial humano? Através deste jogo, Chlammy se perguntava se ela mesma seria capaz de tocar nisso.

“…Vamos ver do que você é capaz—Sora.”

Sim, nos olhos de Chlammy, através do véu, estava Sora, correndo pela tela.

DENTRO DO JOGO

A equipe corria entre os prédios na selva de concreto do fictício Tóquio.

—Sora, habilmente desviando das garotas NPC de orelhas de animal que o cercavam. Seus olhos estavam afiados enquanto processava seus pensamentos. Já que as garotas supostamente eram Werebeasts, sua velocidade de corrida e outros atributos físicos eram extremamente altos—mas. Seus movimentos eram previsíveis o suficiente para que Sora conseguisse lidar com elas. Talvez fosse porque, mesmo entre Werebeasts, havia variações individuais nas habilidades físicas, e porque seus movimentos eram simples: sempre indo direto para o abraço. Mas essas coisas não eram importantes—o crucial era que havia algo estranho sobre essas NPCs que ele vinha derrubando com tiros na cabeça, o hábito de um gamer hardcore.

“Acho que há um pequeno atraso—entre quando as garotas desaparecem e as roupas desaparecem!”

Os olhos de um gamer meticuloso, que não perde nem um único frame, captaram isso. Afinal, você podia—destruir partes individuais! Sora mirou sua arma e disparou. Com um flash de cano seguido pelo som de uma explosão, sua bala rosa voou, raspando na saia de uma de suas perseguidoras—e enquanto a garota não desapareceu em uma chuva de pequenos corações, sua saia se espalhou ao vento!

“Você pode—você realmente pode!! Isso é! Esse é o verdadeiro prazer deste jogo!”

—Então, poderia? Não, ele iria. Derrubar a parte mais próxima do corpo—ou seja. Apenas a calcinha—deve ser possível!!

“Espessura do tecido—assumindo uma calcinha de algodão, em média 1,5 milímetros.”

Sora, mirando o alvo, cuja saia já havia sumido, mas que ainda corria em sua direção para abraçá-lo a uma velocidade muito superior à humana.

“Margem de erro de impacto permitida: menos de um milímetro… mas eu consigo—!”

Os braços da NPC, vindo para abraçar Sora, passaram sobre sua cabeça com o rugido do ar cortado. Tendo se abaixado levemente para permitir que os braços de sua atacante passassem, Sora deixou seu centro de gravidade cair enquanto avançava com a perna direita. Com o movimento mínimo necessário, apenas dois passos, ele mirou o traseiro da garota. À queima-roupa, o cano de Sora apontava—para a calcinha listrada!

“—Agora vai!”

O disparo que ele fez atingiu a calcinha—e desapareceu. No entanto, ao mesmo tempo, a garota em si se desfez em corações cor-de-rosa enquanto sumia, transformando-se em Poder do Amor…

“Drooooga! O quê, não dá pra deixá-las sem nada?! Maldição!!”

ANDAR DE OBSERVAÇÃO

Com o fracasso de Sora em eliminar as calcinhas, a multidão que preenchia a sala soltou um grito coletivo de insatisfação:

“Ohhhhhh……”

Forçada a testemunhar a cena, Chlammy torcia desesperadamente os pulsos, tentando não desviar o olhar.

(É uma tática, é uma tática; deve haver algum significado nisso; ele está tentando descobrir algo; aguente, Fi!)

[Ora, estou bem…exceto pelo fato de que seu olhar está indo para todo lado; vai me deixar enjoada.]

“Yeahhh, sutiã destruído! Cubram com as mãos; vocês sabem como fazer isso!”

Desta vez, com as palavras de Sora audíveis na tela, um grito de alegria ecoou:

“Oooooooohhhhh!”

(…Esquece essa raça estúpida; deixa ir para onde quiser…)

Chlammy desistiu de pensar profundamente sobre o assunto.

[Ah, Chlammy, não feche os olhos; abra os olhos, Chlammy!]

DENTRO DO JOGO

(—Beleza, hora de checar a última coisa.)

Perseguido pelas garotas de orelhas de animal, serpenteando por becos com um sorriso de satisfação, Sora olhou ao redor. Seguindo calmamente, com passinhos pequenos, mas colada a Sora como se fosse uma sombra, Shiro. Lançando-se entre prédios e se divertindo ao derrubar as garotas atrás de Sora e Shiro, Jibril. Trocando olhares com as duas, ele assentiu uma vez.

“Shiro, relatório sobre o desempenho da arma.”

“…Tudo, aproximado…unidades, metros…”

Com essa introdução, Shiro respirou fundo.

“Velocidade da bala: trezentos metros por segundo, alcance: cerca de quatrocentos metros, sem efeito de vento ou gravidade, trajetória linear, colisão elástica, número de ricochetes limitado apenas pelo alcance, ângulo de ricochete proporcional ao ângulo de entrada, simples—”

Concluindo esse longo catálogo, Shiro suspirou, *hff*, e comentou.

“…Cansa…so… falar…”

Aparentemente se referindo não à medição, mas ao esforço de falar, Sora bagunçou o cabelo dela.

“Aww, isso aí, boa garota, essa é a minha Shiro!”

E, verificando que o humor dela havia melhorado um pouco, ele voltou sua atenção.

“Jibril, que tipo de atributos físicos te deram?”

Conforme explicado, os corpos de Sora e Shiro estavam normais. Correr os fazia ofegar. Mas que tipo de limitações tinham colocado em Jibril?

“Não poder usar magia, afinal, faz-me sentir como se eu não fosse eu mesma. Parece que minhas habilidades estão definidas nos limites físicos. Ora, como é inconveniente ter um corpo físico.”

Quão inconveniente era pular entre prédios… Mas Sora perguntou com ainda mais cautela.

“Você mencionou que as habilidades físicas dos Werebeasts se aproximam dos limites físicos. Então, agora você está no mesmo nível?”

“Isso me perturba profundamente admitir, mas é uma suposição razoável.”

No entanto, ela continuou.

“Como mencionei antes, certos indivíduos Werebeast podem usar ‘Bloodbreaks.’ Se isso foi incorporado ao jogo—talvez seja melhor presumir que eu possa até mesmo ser superada por um instante.”

*Bloodbreaks*… Entre os Werebeasts, cujas habilidades físicas se aproximavam dos limites, um poder possuído por um subgrupo que podia romper esses limites por um instante. Este era um jogo preparado pelos Werebeasts; é claro que isso seria incorporado.

“Cara, tem você, e tem os Werebeasts… Esse mundo é cheio de malucos.”

Hff, suspirou Sora—mas tudo bem. Eles reuniram as informações de que precisavam.

“Então, basicamente, o inimigo pretende nos bloquear da magia em um espaço virtual e nos atingir com o que eles fazem de melhor: combate que exibe o auge das habilidades físicas—e acham que isso vai nos ensinar alguma coisa?”

Sora involuntariamente deixou escapar uma risada.

—“ ”, que estiveram no topo de mais de 280 jogos em seu antigo mundo. Havia uma verdade que eles demonstraram ser válida para todos esses jogos, e era—

“Não importa o quão complexo o jogo pareça, no fim há apenas duas coisas que você pode fazer.”

“A saber?”

Diante da pergunta de Jibril, Sora respondeu com um sorriso perverso.

“—Ação tática e reação estratégica. Basicamente, é jogar ou ser jogado.”

Em outras palavras—quem tomasse a iniciativa venceria. Era uma verdade que se aplicava a todos os tipos de jogos. E—

“Eles não percebem. Este é o jogo em que os humanos são melhores desde a antiguidade.”

O nome do jogo—era caça.

“Shiro, você está bem, né? Certifique-se de correr o mínimo possível—certo?”

“…Entendido…”

“Então, vamos começar?”

……

No oitavo andar de um prédio a várias centenas de metros do grupo de Sora, Izuna escondia-se em um depósito com apenas uma janela. Pela janela, opaca para a equipe de Sora devido ao reflexo do sol, ela os observava usando sua visão de Werebeast. O inimigo era quatro, e ela, uma. Por mais invulnerável que o jogo fosse, se ela errasse, tudo acabaria num instante. Especialmente considerando que o inimigo tinha uma Flügel. Izuna imaginou que, antes de atacar, era melhor analisar completamente as capacidades do inimigo.

Enquanto isso, observando os três brincando alegremente ao destruir as roupas das garotas, ela franziu as sobrancelhas em desagrado.

—*Quando foi a última vez que você achou que um jogo foi divertido?* Diante das palavras de Sora, Izuna rangeu os dentes. *(Quem pensaria que essa porcaria é divertida, por favor?)* Jogos eram uma luta. Um meio de matar uns aos outros indiretamente.

…Se ela perdesse, muitos sofreriam. Por eles, ela tinha que vencer a qualquer custo. Mas se ela ganhasse, desonraria seus oponentes derrotados e talvez até tomasse suas vidas. Você chamava isso de “diversão”? Tudo que se podia sentir era—a culpa por aqueles que perdiam. *(Do que esse idiota está rindo, por favor?)* Ficando irritada, os olhos de Izuna, enquanto encaravam Sora, afiaram-se ainda mais.

—E então ela notou uma “bomba” aparecer na mão de Sora. A bomba arremessada explodiu em rosa. Com um pequeno atraso, um rugido e *vmm*—o impacto das ondas de choque.

“—?!”

O prédio onde Izuna estava escondida tremeu. Pulando como uma gata assustada, Izuna observou o ambiente ao seu redor, seus ouvidos atentos.

(…Eles descobriram minha localização, por favor?! Não me sacaneiem, por favor!)

Depois que o jogo começou, Izuna havia imediatamente se distanciado do time de Sora e os observado cuidadosamente. Sem os sentidos de Werebeast—não, mesmo que os tivessem, eles não deveriam ser capazes de encontrá-la. Mas os ouvidos de Izuna—que captavam tudo em um raio de cem metros como um radar—de fato detectaram passos, subindo lentamente pelo prédio. *(Aqueles passos—são da Shiro, por favor.)* Passos constantes, leves, de pouco peso. A jogadora que Izuna havia considerado a menos relevante. Não—não apenas Shiro. Sora e Steph também—os Immanities nem haviam sido um fator no plano de batalha dela. A razão pela qual Izuna não atacou logo no início era apenas sua cautela em relação a Jibril, a Flügel. Não importava o quanto eles fossem bons em jogos, ou o quanto tinham descoberto sobre o jogo, não era possível que um Immanity pudesse se aproximar dela ou sentir sua aproximação—não havia como a reação deles ser rápida o suficiente.

—E ainda assim. O que havia naquela bomba e nesses passos que a deixavam desconfortável? De repente, algo parecia errado. Ela sabia pelo som que aquele prédio estava lotado de garotas. Enquanto isso, os passos subiam calmamente, mantendo um ritmo constante…?

“—!”

Izuna se encolheu, ajeitando seu quimono, e apontou seu cano em direção à porta do quarto apertado e empoeirado onde estava escondida. A única entrada e saída do depósito onde Izuna se escondia. Do lado de fora da porta ligeiramente entreaberta, uma massa de garotas vagava. Os passinhos leves subindo direto até o oitavo andar chegaram ali e, então—

*Ft*—pararam.

(—?)

Izuna levantou suas orelhas, desconfiada, tentando entender a situação—e, no momento seguinte, os passos aceleraram de repente. A velocidade que uma criança Immanity poderia correr não deveria representar qualquer ameaça—não deveria, mas—

(—Que diabos é isso, por favor?!)

As garotas que vagavam lá fora—no andar dela—iam caindo, uma por uma, a cada disparo, sem exceção. Um calafrio percorreu sua espinha. Os passos, disparando repetidamente com precisão impressionante, ainda sem o menor sinal de hesitação ou desordem. Sem diminuir a velocidade, apenas derrubando garotas sem parar, eles vinham direto—

(Essa desgraçada tá vindo aqui—por favor?!)

Não havia mais dúvida: sua localização tinha sido comprometida! Como haviam descoberto—nesse ponto, quem se importava? Utilizando seus sentidos de Werebeast ao máximo, Izuna saiu do depósito—em direção a Shiro, que corria pelo andar fora de sua visão. Ela puxou o gatilho. Com um estrondo e um clarão, a bala que saiu do cano, com precisão extrema, atravessou a fresta da porta ligeiramente torta, foi para a parede, espalhando corações, e ricocheteou. Para perfurar a testa de Shiro sem falhar—Sim, um disparo acrobático utilizando o ricochete, calculado até mesmo para os movimentos de Shiro, vindo de um ponto que ela não podia ver. Mas—essa bala de precisão extrema. Passou assobiando pela bochecha de Shiro enquanto ela dava apenas um passo para o lado e a bala a ultrapassava.

(—Isso é absurdo, por favor!)

Sim, absurdo. Ser capaz de desviar de uma bala disparada a uma velocidade subsônica de trezentos metros por segundo. Para um Immanity, mesmo que sua percepção acompanhasse, seu corpo—seus movimentos—não poderiam ser rápidos o suficiente. Sem mencionar o fato de que estávamos falando das habilidades físicas de uma garota de onze anos—mas. Isso era sobre desviar. Os passos de Shiro, que até então haviam passado correndo por inúmeras garotas sem quebrar o ritmo, levaram Izuna à resposta.

(Pode ser—!)

Apenas para confirmar, ela disparou outra bala, desta vez ricocheteando duas vezes, em direção a Shiro—mas.

“…Sem, chance…”

Uma bala que Shiro já havia disparado—interceptou a dela, após ricochetear quatro vezes.

(É mesmo—verdade, por favor?!)

A essa altura, a compreensão de Izuna foi revista. Com certeza.

Essa Immanity—essa garota de onze anos. Estava se movendo com um entendimento total de todos os objetos ao seu redor.

—Nem balas nem garotas NPC surgiam do nada. No caso de uma bala, alguém verificaria a posição do alvo, estenderia o braço, alinharia a mira e puxaria o gatilho. No caso de uma garota, ela o veria, então se moveria e tentaria abraçá-lo. Elas atacavam com uma série de passos incontáveis—através de um processo, determinadamente. O que significava que—você não precisava desviar. Só precisava não estar lá.

—De fato, o gamer “ ”, que havia se tornado uma lenda urbana em seu antigo mundo—em outras palavras, Sora e Shiro—no gênero FPS, derrotavam gamers hardcore de todo o mundo. Quem havia estabelecido os recordes inquebráveis—não era Sora, mas Shiro. Sua compreensão dos movimentos inimigos graças a seus poderes diabólicos de cálculo, combinada com suas deduções sobre padrões de movimento e oportunidades de ataque, davam a ela habilidades de prever e esquivar ataques que se aproximavam da precognição. Ela realmente fazia seus oponentes sentirem a ilusão de que as balas estavam desviando dela e os perseguindo.

(—Não consigo acreditar nisso, por favor!!)

Claro, Izuna não tinha como conhecer essas histórias do antigo mundo de Sora e Shiro. O que levou Izuna a essa conclusão foi seu senso de Werebeast—certo. Foi seu senso de jogo que lhe disse—essa garota é mais perigosa do que aquela Flügel. Em pânico, ela olhou ao redor. Ela estava escondida em um espaço estreito, abarrotado de estoques. Enfrentando uma oponente que havia interceptado a bala de Izuna disparada de fora da sua linha de visão—com um ricochete. Essa posição—era ruim.

(—Tenho que sair daqui, por favor!)

Para abrir sua rota de fuga, Izuna jogou uma bomba pela fresta da porta. —Mas antes mesmo que pudesse sair. Uma bala que penetrou de fora—explodiu a bomba!

(Que—?!)

*Booooomm*—a explosão ressoou pelo quarto. Escondendo-se rapidamente atrás dos estoques, ela escapou por um triz. Mas o fato de a bomba ter sido interceptada—só podia significar que já sabiam de antemão que ela a jogaria. Os passos de Shiro, impassíveis até mesmo diante disso, finalmente se aproximaram do depósito, e os pelos de Izuna se arrepiaram.

(Essa desgraçada tá vindo, por favor!!) Ainda correndo, ela saltou—e deu um chute na porta. Cortando a fumaça, Shiro voou para dentro do depósito. Mas, enquanto um rack próximo desabava ao mesmo tempo que ela o puxava, a aterrissagem de Shiro ficou oculta para os ouvidos de Izuna. Tentando ouvir a respiração—nada.

(—Só me resta fogo de cobertura, por favor!)

Ainda escondida atrás dos estoques, ela mirou de forma imprecisa e disparou freneticamente. Incontáveis balas voaram. Ricocheteando, transformaram o quarto em um inferno de campo de força. Mas—pouco depois. Ela ouviu Shiro exalar lentamente—e um calafrio percorreu sua espinha. Izuna pulou imediatamente. Impulsionando-se do chão com força esmagadora, quebrou a pequena janela e voou para o lado de fora do prédio.

Olhando para trás, no quarto obscurecido pela fumaça da bomba, Izuna percebeu. O som de todo o inferno de balas que ela havia disparado sendo interceptado. E além disso, o som das balas ricocheteando e convergindo para o esconderijo de Izuna.

(—Q. P. C., por favor?!)

Se ela tivesse esperado mais um momento—mesmo um segundo—essas balas teriam atravessado direto o seu corpo. Mas os olhos de Izuna se arregalaram ainda mais. Não por Shiro, que havia realizado essa sequência de eventos.

—Mas por algo que se aproximava acima.

“Bem, que prazer vê-la.”

(A Flügel—Jibril, por favor?!)

O momento claramente indicava que Jibril sabia que Izuna iria saltar: uma emboscada aérea.

(—Quando foi que ela chegou ao telhado?!)

Respirando com dificuldade devido à surpresa, Izuna pensou. Ela podia ser uma Flügel, mas neste jogo estava limitada por restrições físicas. Não podia usar truques como magia, e também não deveria ser capaz de voar. Mas, se tivesse subido com seus próprios pés, não havia como ela não ter ouvido—! Consternada, ainda assim, Izuna manteve seus pensamentos e sentidos em movimento. Ela percebeu que uma bomba estava descendo da mão de Jibril.

(—É para cobertura! Por favor!)

Ela decidiu na hora. Mesmo que interceptasse a bomba, balas a atacariam sob a cobertura da explosão. O que significava—esqueça a bomba. Atire em Jibril primeiro e lide com a bomba depois! Em um julgamento que literalmente levou um instante, ela puxou o gatilho. Mas.

“Sua mira precisa de um pouco de trabalho.”

Embora sua magia pudesse estar selada, o poder físico de uma Flügel ainda estava à altura de um Werebeast. As balas disparadas a curta distância no ar foram desviadas por Jibril, que torceu o corpo para evitá-las. As balas rasparam o cinto de Jibril, espalhando corações enquanto destruíam e vaporizavam suas roupas. A bomba interceptada em seguida explodiu com um clarão e um estrondo. Os olhos de Jibril, alinhando sua mira para disparar através da fumaça—

—Reconheceram a aproximação de uma terceira bala e giraram. As balas que Izuna disparou—eram três. Os dois primeiros tiros tinham sido ouvidos—mas o primeiro havia sido para induzir Jibril a uma ação evasiva. O segundo havia sido para destruir a bomba que Jibril havia jogado para cobertura e usá-la como cobertura própria. E o terceiro era o real—

“Então—ah? Ah, é mesmo, não posso voar?!”

Jibril, batendo as asas abruptamente para desviar, mas suas asas giraram em vão. Incapaz de recuperar sua postura, ela levou um golpe inevitável na testa—

Pouco antes disso. Jibril viu com certeza. Izuna, desajeitadamente—virando os olhos em pânico para um prédio distante.

De repente—Izuna torceu o corpo e realizou a ação evasiva mais profunda possível. Sua manga esvoaçante foi perfurada por uma bala disparada de longe—que a destruiu. Um instante depois, uma segunda bala vinda da mesma direção atingiu Jibril, que acabara de ser alvejada por Izuna.

(—E se eles planejaram tudo isso, por favor?!)

*Fp*—ela ergueu a cabeça. Para ver Shiro, na janela do prédio de onde Izuna havia saído, apontando sua arma. Mas—

(Essa postura é inútil para atacar, por favor!)

Assim como Jibril momentos antes, Izuna, forçada a se esquivar pelo primeiro tiro, não tinha como interceptar.

—Por melhores que fossem as habilidades físicas de Werebeast, ela não podia voar. Para desviar de uma bala no ar sem ponto de apoio—para realizar esse feito absurdo, ela “puxou” seu centro de gravidade. Era tudo o que podia fazer—já era tarde demais para se reposicionar. Enquanto caía em espiral, o cano de Shiro mirava friamente. Contra-ataque: impossível. Evasão: impossível. Então—!

Detonação. Com a bala que seguia em uma trajetória inevitável, Izuna (—!!) rangeu os dentes e ergueu o braço. Sua segunda manga esvoaçante foi levantada no caminho da bala de Shiro e foi bruscamente perfurada e aniquilada. Mas, no ponto de entrada, a bala espalhou corações—e desapareceu.

“…Então…você pode usar roupas…como escudo…”

Shiro murmurou, impressionada, nunca tendo ouvido falar dessa regra. Ignorando a garota, Izuna, usando todos os quatro membros, finalmente tocou o chão. No mesmo movimento, lançou-se em um sprint como um verdadeiro animal quadrúpede. E Jibril, que havia sido alvejada em sucessão, caiu de cabeça no asfalto.

—Um momento de silêncio. Mas ela se levantou como se nada tivesse acontecido. Com um olhar de coração nos olhos, Jibril olhou para longe.

“Mestre… Ah, meu senhor…por favor, esteja ao meu lado!”

Então, ela avançou, destruindo o asfalto no caminho. Avançou—os trezentos metros em direção ao local de onde Sora havia disparado nela.

—A troca aconteceu em apenas onze segundos desde o ataque original de Shiro.

“…Hff…hff…”

No depósito, ainda coberto de fumaça, Shiro estava terrivelmente ofegante. —Por mais que seus movimentos fossem precisos como os de uma máquina, por mais que ela envergonhasse computadores com seus cálculos, seu corpo ainda era o de uma simples garota Immanity de onze anos, nada mais. Todas as suas estatísticas reais estavam refletidas no jogo como eram, incluindo sua resistência. E, além de tudo isso, assim como seu irmão, ela era uma reclusa. Amaldiçoada por sua eterna falta de exercício—sua resistência era devastadoramente fraca. Deitada para acelerar sua recuperação, mesmo que só um pouco, ela apenas esperava algo enquanto sussurrava.

“…Eu não…hff…terminei…ela…”

“Não foi sua culpa. De qualquer forma—”

Respondendo, a trezentos metros de distância há apenas um minuto, estava Sora. Haviam se passado exatamente quinze segundos desde que a bala de Sora havia atingido Jibril. Jibril, tendo recuperado os sentidos, carregou Sora até o depósito no oitavo andar do prédio onde Shiro esperava.

“Parece que leva quinze segundos até você recuperar o controle…além disso…”

Descendo ao lado de Shiro, Sora perguntou.

“…Jibril, você confirmou?”

“Sim, com estes olhos.”

*Ffp*—Jibril se inclinou ao lado de Sora e falou.

“Ela virou na sua direção antes de você disparar, sem dúvida alguma.”

Sora respondeu a esse relato com outra pergunta.

“Hmm, eu estava deitado, esperando, e disparei sob a cobertura do som da explosão da bomba enquanto prendia a respiração. Mas ela desviou. Um tiro que a pegou completamente de surpresa, um projétil subsônico vindo de um ponto cego, durante uma distração—”

“Jibril—você conseguiria desviar disso?”

Era praticamente uma daquelas perguntas zen: é possível detectar um ataque indetectável?

“—Isso não seria possível. Poderia ser o sexto sentido dos Werebeasts?”

Mas Sora sorriu de canto.

“Não seja ridícula. Se eles pudessem fazer isso, não seria um sexto sentido—seria precognição.”

O chamado sexto sentido era apenas uma intuição avançada possibilitada pela combinação dos cinco sentidos. Se pudessem detectar coisas sobre as quais não tinham nenhuma informação prévia, eles não precisariam mentir que conseguiam ler mentes. Poderiam enfrentar Elven Gard sem jogar jogos como este.

“—Nesse caso…”

“Sim, sem dúvida—trapaça.”

Sora coçou a cabeça.

“Cara, essas trapaças que eles colocaram aqui são tão patéticas. Se tivéssemos conseguido acabar com ela em um golpe enquanto ela nos subestimava, isso teria sido perfeito—ah, bem. Todas as tropas para o Ponto Gama. Jibril, carregue Shiro para que ela possa descansar. Eu vou por outra rota.”

“Sim, meu senhor.”

ANDAR DE OBSERVAÇÃO

“—O quê…”

Ino e Chlammy ficaram pasmos diante da cena na tela. A multidão, que superava mil pessoas, até então desconfiada de Sora e Shiro, explodiu em uma grande aclamação. Era verdade que eles não haviam finalizado Izuna. Mas era evidente—o time de Sora estava dominando a garota da União Oriental.

(O que…foi aquilo?)

Mas Chlammy estava além da surpresa, duvidando do espetáculo diante dela. Pegando um jogo apresentado pelo oponente e girando-o como se fosse deles. Com movimentos e táticas calculados em uma profundidade insondável, eles conduziam sua adversária exatamente como queriam.

(Shiro, a que o inimigo menos se preocupava, a dominou em um confronto direto. Forçaram Izuna a uma evasão de emergência, depois usaram Jibril, a que ela mais temia, como distração e, então, depois de desequilibrá-la no ar, sem apoio, atiraram—)

[…Nossa… Por que, isso é simplesmente incrível…]

Até Fi, compartilhando a visão de Chlammy, interveio como se estivesse comovida.

—Sim, táticas tão perfeitas que eram assustadoras. Mas isso levantava inúmeras questões. Embora as respostas pudessem estar em algum lugar entre os incontáveis sinais na memória de Sora, cujo significado escapava dela—

(—Como eles identificaram a localização do inimigo? Como Shiro é tão absurdamente habilidosa em combate? E eles agiram como se tudo tivesse acontecido de acordo com o plano. Como eles entenderam—não, controlaram a situação tão…?)

Mas mais importante, o mais importante—

(—Como aquela Werebeast evitou aquilo…)

[Assim como Sora disse, por que, deve ter sido um ataque indetectável.]

Sim, mesmo que Izuna tivesse previsto que poderia ser atacada naquele momento, saber a posição—As palavras que Jibril havia dito a Sora.

(Ela reagiu antes do disparo…não foi?)

[—É uma “trapaça”. Um truque—por que, estão jogando sujo.]

(Entendo, trapaça que você não consegue provar… Eles podem simplesmente dizer que é um “sexto sentido” e pronto.)

[Então, é esse tipo de truque que derrotou Elven Gard quatro vezes… Entendi.]

A declaração de Fi expressava o quanto ela estava impressionada enquanto, com apenas um leve toque de hostilidade, Chlammy verificava discretamente Ino. Nenhuma expressão podia ser discernida em seu rosto—mas tinha que ser o caso de que ele estava abalado. Ainda assim, nenhum sinal indicava que ele estava jogando sujo.

(Eu sabia—eles conhecem este jogo. Mais do que nós!)

Ainda sem expressão, Ino rugiu por dentro. Como eles podiam conhecê-lo tão bem? Como podiam ter planejado tanto com antecedência? Não deveria ser possível para ninguém conhecer o jogo da União Oriental melhor do que a própria União Oriental—as perguntas não tinham fim—mas.

(…Mantenha a calma… Mesmo assim, não adianta.)

Sim, mesmo assim. Não era como se eles tivessem uma chance.

DENTRO DO JOGO

“—Ainda assim, devo dizer.”

Jibril comentou.

“—Encurralar o inimigo com matemática… Que abordagem inovadora.”

Ponto Gamma—ou seja, o parque que Sora havia encontrado com uma visão ruim. O parque, cercado por prédios e fechado por barreiras de todos os lados, exceto pelo céu e pela frente, era seu novo acampamento base. Shiro usava o chão como seu quadro-negro, rabiscando equações furiosamente. Ela analisava os locais que Sora havia identificado como possíveis esconderijos de Izuna, aplicava curvas de perseguição e retropropagação para calcular a localização de Izuna probabilisticamente, estimava a difusão usando o delta de Dirac e, então, fazia uso generoso de filtros de partículas e funções discriminantes lineares para deduzir até seus movimentos esperados. O comentário de Jibril era um elogio sincero às equações de Shiro e às táticas de Sora, que haviam encurralado Izuna. Mas Sora balançou a cabeça com uma expressão carrancuda.

“...Não é nenhum truque ousado nem nada. É necessário.”

“Poderia elaborar?”

“…A razão pela qual Izuna não veio nos atacar diretamente desde o início foi provavelmente porque estava preocupada com você. Se for esse o caso, Izuna deve estar mais ou menos no seu nível quando falamos apenas de estatísticas básicas.”

Sora acrescentou com um suspiro profundo.

“Só para referência, eu levo cerca de quinze segundos para percorrer cem metros. Shiro provavelmente ficaria sem fôlego se você pedisse para ela fazer isso em vinte. Então, Jibril, quanto tempo você levaria, do jeito que está agora, para percorrer cem metros?”

Dando um leve chute no chão e inclinando a cabeça como se estivesse pensando, Jibril respondeu:

“…Duas passadas, suponho?”

“Suas unidades são bem estranhas!”

“Francamente, isso é tudo o que consigo fazer com este corpo pesado… Mestres, viver todos os dias apesar de tais inconveniências… Que força de vontade a de vocês… Sinceramente, só posso curvar-me em admiração.”

“…Por favor, não se esqueça de que nossas estatísticas ainda são tipo cinquenta vezes mais baixas que as suas.”

Aos comentários sarcásticos de Sora, Jibril olhou para o céu com uma expressão trágica.

“—C-com uma vida tão frágil, como uma obra de vidro, ainda assim meus mestres desafiam a mim, aos Werebeasts e até ao Deus! Ah, que coragem, que almas valentes!”

“Pode calar a boca, por favor?”

Sora suspirou diante de Jibril, cujo respeito parecia se aprofundar agora que ela vislumbrara sua fraqueza e a de Shiro.

“Bem—é assim que estamos em desvantagem nas especificações. Se Shiro tivesse errado um único tiro naquele inferno, ela estaria fora. Quanto a mim, se Izuna sequer chegar perto, estou frito—se não usarmos matemática, isso nem será uma luta.”

Sim, para a multidão, Sora e Shiro deviam parecer esmagadoramente superiores. Mas, na verdade—se deixassem Izuna chegar perto, seria xeque-mate para eles. Mesmo com a mira diabólica de Shiro, bastava que sua precisão vacilasse devido ao cansaço acumulado para que tudo acabasse.

—Caso isso acontecesse, finalmente não restaria nenhuma força significativa além de Jibril.

“No entanto, uma vez que vocês adivinhem o tipo de trapaça que o inimigo está usando, poderão formular uma nova estratégia e, então, acabar com ela, não?”

Jibril perguntou isso com tranquilidade, mas Sora, com o rosto nada relaxado, declarou:

“Não.”

“—Perdão?”

No lugar de Shiro, que estava completamente concentrada em rabiscar fórmulas no chão, Sora explicou.

“O princípio da incerteza… ahh, acho melhor não me perder em coisas que nem eu entendo direito.”

Coçando a cabeça, Sora expôs do seu jeito.

“…Veja, falando de forma geral, há duas maneiras de vencer um jogo. Ou você esmaga tudo de uma vez, ou continua perdendo até, no final, virar tudo de cabeça para baixo e levar a vitória. Essas são as duas.”

Sora explicou enquanto levantava os dedos, mas logo balançou a cabeça e os abaixou.

“Mas uma condição para fazer o segundo é continuar agindo como um idiota e deixar o inimigo relaxado.”

…Sim, exatamente como o rei anterior fez, por exemplo.

“Quando nosso oponente sabe que somos capazes de superá-la, o segundo jeito não vai mais funcionar. Então, a adversária vai mudar sua abordagem para se adaptar à nossa. E aí fica praticamente impossível fazer uma previsão matemática absoluta…”

Tendo dito isso, Sora se jogou ao lado de Shiro e suspirou.

“Agora vamos ter que simplesmente seguir as regras.”

Ao lado de Shiro, que mordia as unhas enquanto rabiscava equações, o próprio Sora parecia desconfortável.

“—Estou contando com você, Shiro. Já que não conseguimos derrubá-la com a investida, a partir de agora—vamos improvisar.”

“…Mm!”

—Seguir as regras? Contra uma trapaceira com profundo conhecimento do jogo e habilidades físicas esmagadoras? Basicamente, o que ele estava dizendo—era que isso era mais ou menos um caso perdido—

“…Jibril, por favor, ajude a vigiar. Em um jogo como este, que tem o conceito de resistência, mesmo que Shiro se mova como uma máquina de precisão, se ela ficar cansada, não conseguirá manter sua mira firme—ela não tem muitos tiros como os que vocês viram antes. Vamos protegê-la para que ela possa se concentrar nos cálculos.”

A Sora, que interrompeu seus pensamentos com ordens, Jibril respondeu reverentemente.

“Sim, meu senhor, será feito.”

“…Droga, talvez eu devesse fazer mais exercícios no dia a dia…”

Com essa observação, Sora se levantou e encarou as garotas NPC que se aproximavam com ousadia, mas com uma linha de suor escorrendo pela testa.

ANDAR DE OBSERVAÇÃO

Assistindo à tela, Ino aguçou sua audição. Ele podia ouvir os batimentos cardíacos de Sora e seus amigos, dormindo ao lado de Izuna no palco, com perfeição. Seus pulsos diziam que as palavras de Sora, audíveis na tela, não eram mentiras. Mas ainda assim, os batimentos de alguém cuja chance de vitória havia murchado—não era isso que ele ouvia.

—Eles ainda têm algo, murmurou Ino sutilmente, em uma frequência que apenas Werebeasts poderiam captar, para não ser detectado pela vigilante Chlammy.

—De fato, utilizando o mesmo método pelo qual ele havia relatado o disparo de Sora.

DENTRO DO JOGO

—Enquanto assistia à tela, Ino ajustou sua frequência auditiva.

[Izuna, eles estão no parque oeste. Eles ainda têm uma carta na manga. Fique atenta.]

Sim—essa era a primeira trapaça da União Oriental. Se colocassem uma trapaça evidente no jogo em uma partida pública e ela fosse revelada, estariam arruinados. Mas no palco, capazes de ver tudo no jogo—basicamente, uma visão divina—isso só poderia ser detectado por aqueles capazes de ouvir as frequências que ele produzia… ou seja, Werebeasts.

“…Hff, hff…”

Os ouvidos de Izuna, escondida em um prédio multifuncional a alguns centenas de metros do time de Sora, captaram o relatório de Ino.

(—Não precisa me dizer, por favor.)

Não havia como um grupo com habilidades estratégicas como aquelas apostar tudo em um único avanço.

(Ainda é apenas reconhecimento, mas já preparei algo, por favor.)

Como lidariam com isso… seria algo interessante de assistir.

[Izuna, você está bem?]

—Izuna, incapaz de entender o que ele queria dizer. Bem? Claro que ela estava bem. Era verdade que eles a haviam surpreendido um pouco, mas derrotá-la era uma questão completamente diferente—

[…Ah, esqueça. Imagino que você só ficou bastante surpresa.]

Olha só—do que você está falando—

[Seu rosto está tenso. Relaxe.]

……? Depois de ouvir isso, ela tocou o próprio rosto. Ele estava certo; estava tenso. Mas o que era isso—

(…Estou sorrindo, por favor?)

—O que era aquilo? Por que ela estava sorrindo? O que havia de engraçado? Que tipo de expressão era aquela?!

(…E, desde algum tempo atrás—meu coração precisa calar a boca, por favor!)

Por quanto tempo planejava continuar batendo tão forte? Ela não havia se exercitado tanto para estar assim. Por que estava tão eufórica? Por que estava tão feliz?!

—*Quando foi a última vez que você achou um jogo divertido?*

( !!)

Enquanto as palavras de Sora piscavam em sua mente, ela socou a parede. O prédio tremeu, e Izuna retirou o punho da parede quebrada, levantando-se.

(…Hff…hff…)

[Izuna.]

(Cale a boca, por favor!)

Isso não poderia ser divertido; ela não podia admitir que achava isso divertido.

—Ela precisava acabar com aqueles desgraçados rapidamente. Precisava terminar com isso—

……

“Cara, eu gosto que elas sejam garotas-animais, mas é uma droga não poder tocá-las.”

Sora falava enquanto eliminava cada uma das garotas que vinham furiosamente abraçá-lo.

“Por que não, Mestre? Você tem uma reserva tão grande de Energia do Amor que achei que perder um pouco não seria um impedimento para aproveitar mais seu desejo de tocá-las, e coisas do tipo.”

Jibril, protegendo Shiro, conversava despreocupadamente enquanto Sora mal conseguia se desviar de um grupo de garotas.

“Isso seria verdade se elas não fossem Werebeasts! Quero dizer, se elas me pegarem, não tenho certeza se consigo me livrar, e—”

Ele desviou das mãos de uma garota que voava para abraçá-lo. As garras que ele evitou—trituraram o chão.

“Ei, yo, velho! Neste jogo, se Shiro ou eu cairmos de um prédio ou formos abraçados por uma dessas desgraçadas, nós vamos morrer? O que acontece então?!”

Aos gritos de Sora, o locutor—Ino—respondeu.

“Ah, isso não é problema. Vocês não podem morrer neste jogo.”

“Ah, sério? Beleza, então vou me—”

“No entanto, por favor, note que a dor será como se estivessem morrendo.”

“Gaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah, Jibril! M-me ajuda!”

Sora, tendo permitido ser abraçado na esperança de algum assédio sexual, gritou de agonia enquanto ossos estalavam por todo lado. Imediatamente, Jibril eliminou a garota que o abraçava, preocupada:

“Mestre! V-você está bem?!”

“Hff…hff… T-tô de boa…”

Sora, espalhado no chão, suportando a dor intensa, até ergueu um polegar e sorriu.

“Eu consegui… Eu fui apertado… Honestamente, a dor me deixou dormente pra qualquer outra sensação, mas foi bom, sim…”

“Diante da sua força de vontade, Mestre—sua humilde serva só pode se curvar em admiração…!”

—Então. De repente, algo discordante que não era uma garota NPC apareceu, e Jibril e Sora apontaram suas armas juntos. Era—olhando para eles com olhos desprovidos de vida—

“…Ah, é só a Steph.”

Com isso, Sora disparou sem hesitar oito tiros. Cada um atingiu em cheio. E as roupas de Steph—todas, exceto sua roupa íntima, foram destruídas.

“…Jibril.”

“Sim.”

“Você cuida da penalidade.”

“Entendido.”

Cumprindo solenemente as ordens de seu senhor, Jibril disparou contra a testa de Steph.

“Oooooooooooohhhh, Jibril, que injustooooo! Onde você esteve, indo embora com todo mundo e me deixando pra trás? Eu nunca vou te deixar de novooooo! ”

“…Talvez tenhamos errado ao trazê-la junto…”

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ANDAR DE OBSERVAÇÃO

[I-Izuna…]

Enquanto Izuna se preparava para o momento de seu próximo ataque, o relatório de Ino ecoou em seus ouvidos.

[Ehh… como posso dizer…? Parece que eles não mostram misericórdia nem mesmo aos seus aliados.]

Isso era tudo o que Ino podia relatar. Diante do tratamento inacreditavelmente incrível de um aliado, tanto a multidão quanto Chlammy arregalaram os olhos.

(…Aquela garota, ela é demais… Deve ser difícil.)

Para Chlammy, que havia visto o tratamento de Steph nas memórias de Sora e se sentiu inclinada a simpatizar genuinamente, Fi comentou:

[Chlammy… Tenho a impressão de que você e Stephanie se dariam muito beem.]

—Chlammy decidiu não investigar o que ela quis dizer.

DENTRO DO JOGO

—Quase duas horas haviam se passado desde o início do jogo. A quarta investida da equipe de Sora mais uma vez havia terminado em fracasso, e eles voltavam ao Ponto Gamma mais uma vez. Mas desta vez—

“…Agora estamos finalmente presos na defensiva, céus.”

Murmurou Sora, já tendo perdido uma de suas camisas, enquanto observava ao redor com olhos atentos. Era seu julgamento prodigioso que o mantinha com apenas um tiro até agora? Ou seria o trabalho da convicção de que ninguém quer ver um homem nu? Shiro já havia perdido o casaco e o vestido do uniforme, ficando apenas com a camisa, as meias ¾ e os sapatos. Jibril, que já não vestia muitas peças desde o início, havia perdido alguns dos fechos de suas roupas. Se sofressem muito mais dano, a equipe estaria exposta demais.

—Eles eram praticamente a definição da palavra “encrencados”. Com Izuna infiltrando-se de tempos em tempos entre as NPCs que os atacavam, não podiam evitar ficar em alerta constante.

“…Parece que nossos ataques também pararam de funcionar… É só questão de tempo agora?”

“Senhora Shiro, qual é o próximo—”

“…Jibril…cale-se…!”

Jibril também demonstrava sinais de estresse, mas Shiro, puxando os próprios cabelos e mordendo as unhas diante das equações que já haviam se espalhado pelo chão do parque, parecia irritada.

—Não estava funcionando. Não importava o quanto calculasse, ela não conseguia encontrar a última peça necessária. Suas equações estavam perfeitas, mas não eram suficientes para completar o quadro—Vendo a expressão de Shiro, turvada pela irritação, Jibril começou a suar e sussurrou para Sora.

“…Mestre…será que isso é inútil? Mesmo para a Senhora Shiro…”

“Não, ela consegue.”

Com firmeza, sem um traço de dúvida, Sora, olhando ao redor diligentemente, a interrompeu.

“Nos jogos, Shiro pode fazer o que eu não consigo. Sempre foi assim, e sempre será.”

—Com essas palavras. Dentro de Shiro brilhou um método para completar a fórmula. Mas era—simplesmente demais. Sutilmente, Shiro murmurou.

“…Irmão, você…confia em mim?”

“Hã? Você acha que seu irmão já duvidou de você alguma vez?”

Desviando de um grupo que voava para abraçá-lo e derrubando-o com um disparo em um movimento fluido, Sora respondeu.

—Sim, pensando bem. Shiro lembrou-se do jogo de Othello—aquele que tinham jogado com Chlammy. Havia algo que ela ainda não havia contado a Sora.

“…Então, Irmão… Desta vez…é sua vez…ok.”

“Uh, o quê?”

Shiro sutilmente virou os cantos da boca para cima. E na fórmula que preenchia o parque, com uma mão levantada vigorosamente, ela esmagou a última variável.

—B. E, no momento seguinte, uma silhueta brilhou contra a luz do sol por um instante. Entre e das paredes dos prédios que cercavam o parque, a bala de Izuna ricocheteou para descer em direção a Sora.

“Oh, droga…! Jibril, apoio—!”

Desviar era impossível. Sora preparou-se para o impacto, imediatamente ordenando a Jibril que atirasse nele de volta. Mas antes que a bala que se aproximava pudesse atingir Sora—

“O quê—”

No trajeto da bala destinada a perfurar Sora—pulou Shiro.

……

Uma bala, obscurecida pela luz do sol, lançada do ar enquanto Izuna saltava de prédio em prédio. Um ataque forçado. Mas um disparo que ela claramente sentiu atingir. Incapaz de assistir ao impacto, Izuna aterrissou no telhado de um prédio, fraturando-o, e ergueu as orelhas.

“Nenhum som de ricochete—Eu consegui, por favor?”

Às palavras dela, que implicitamente pediam confirmação de Ino—ou seja, que verificasse o pulso de Sora—sem demora, a voz de Ino respondeu.

[Shiro está fora… em um estado completamente relaxado. Não está mais no controle. Você conseguiu, Izuna.]

……E, vendo Shiro virar o cano da arma para Sora com olhos sem vida, Sora, Jibril e toda a multidão que assistia além da tela compartilharam o mesmo pensamento.

—Ali estava um inimigo…pior que Izuna.

Compreendendo o significado disso em um instante, Sora rugiu suavemente. Ela havia se movido para o lado—para atacar de uma posição que o bloqueio de disparos de Sora não conseguia cobrir. Prevendo que sua bala, disparada contra o chão, ricochetearia três vezes, talvez oito, ou até mais—e que ela quicaria de maneira certeira, tornando qualquer contra-ataque impossível de cronometrar, sua convicção inabalável fez o sangue sumir do rosto dele. Perdendo o equilíbrio, ele tirou o sapato restante do chão e o chutou. A bala acertou o sapato de Sora, espalhando corações, e ambos desapareceram.

—Ele bloqueou. Mas. Ele havia perdido o equilíbrio e seus sapatos. Bloquear o próximo disparo, que viria em sucessão—estava além de suas capacidades.

“Jibriiiil!”

Ao chamado de Sora, Jibril respondeu instantaneamente, atravessando uma distância de dez metros em um único passo e levantando seu mestre. Com o segundo passo, ela os lançou cinquenta metros de uma vez. Mas a bala quicante que Shiro havia disparado parecia ter levado em conta a entrada e o voo de Jibril. A bala arrancou uma pequena parte de um dos acessórios metálicos que Jibril usava nos braços.

—O ataque, baseado em cálculos diabólicos do tipo que Izuna deve ter experimentado, causou arrepios até mesmo em Jibril, que detinha as melhores habilidades de combate entre os Ixseeds. Ela conseguiu aterrissar e depositar Sora, mas Shiro, enquanto isso, já havia se virado calmamente para começar seu próximo ataque.

“…Estamos acabados, ao que parece.”

Experimentando pela primeira vez o disparo de Shiro… Se alguém dissesse que aquilo era uma trapaça, Jibril não teria argumentos contra, murmurou tremendo. Afinal, sem as equações de Shiro, eles não tinham esperança de vencer este jogo.

“…Mestre. A decisão de Lady Shiro de protegê-lo escapa à minha compreensão—”

“Sim—eu entendo isso, então não se preocupe.”

Mas a expressão de Sora enquanto encarava as equações rabiscadas por todo o parque…

“A variável B—sou eu, ou seja, o Irmão.”

…consistia apenas de suor frio e um sorriso tenso.

“Em outras palavras, mesmo levando em conta que Shiro se tornaria nossa inimiga, a variável que sou eu completa a equação—esta fórmula mágica que nos levará à vitória prometida… É isso que você está dizendo, certo, Shiro?”

Enquanto Sora soltava uma risada seca diante desse fato, viu-se novamente na mira do cano de Shiro.

—A bala fantasma de Shiro, controlando o espaço para ricochetear e atingir de qualquer lugar, mirava Sora. Havia apenas uma maneira de evitar isso. Ler o ataque de Shiro completamente—o que o ataque de Shiro já antecipava. Para superá-la, ele teria que vencer uma corrida para encontrar a solução ideal. Certamente, você só pode estar brincando—isso é tão simples quanto impossível. Desafiar Shiro em seus próprios termos e vencer era tão provável quanto uma maçã cair para cima.

“…Jibril, enfrente Izuna para mim.”

Sora respondeu com um engolir em seco. Nessa situação, até mesmo um pequeno erro de julgamento não seria tolerado. Ele havia decidido que deveria abrir mão da força mais poderosa deles, Jibril.

“…Tem certeza?”

“Vou estar ocupado com a Shiro. Se Izuna interferir agora, estamos ferrados. Você é a única que pode rivalizar com ela frente a frente—compre o máximo de tempo possível para nós.”

Claro, isso carregava o risco de Jibril também se tornar uma escrava do amor de Izuna—uma inimiga. Se isso acontecesse, então tudo estaria realmente acabado. Mas—

“Se esse é o seu desejo—”

E Jibril sorriu.

“—Mas você não teria problema se eu fosse e destruísse aquilo… Suponho?”

“…Droga, você aprende rápido a sabedoria do nosso mundo, não é? Claro que isso seria ideal, se você conseguir, mas deixe-me dizer o que precisa ser dito. É aí que você morre.”

“Céus… Bem, vou apenas destruí-la normalmente, então.”

Imediatamente, Jibril deu um passo firme e decolou.

Subindo até a parede do décimo andar em um único passo, flutuando cem metros no céu com o segundo. No mesmo ritmo, um disparo voou certeiro em direção às costas de Jibril—mas ela o desviou.

“Você ataca como esperado—sou grata por me poupar o tempo de procurá-la.”

Captando um vislumbre da inimiga—Izuna—no outro extremo da trajetória, Jibril sorriu com desprezo. Ela e Izuna, que pousou no telhado de um prédio de quinze andares e preparou sua arma inquietamente, se encararam. Jibril, com uma reverência adequada, falou:

“Boa tarde, cachorrinha.”

“……”

“Ora, um senso de déjà vu me invade… Poderia ser que a oponente que enfrentei quando desafiei a União Oriental e perdi—era você?”

Tomando o silêncio de Izuna como uma confirmação, Jibril estreitou os olhos.

“Entendo; sempre fiquei intrigada sobre como eu poderia perder para uma mera Werebeast, mas agora tudo faz sentido.”

Jibril, com o sorriso, de fato, de um anjo.

“A conclusão que vocês, bestas, foram capazes de arrancar de seu intelecto foi ‘Vamos convidá-los para um lugar onde apenas nós podemos trapacear o quanto quisermos,’ foi isso? Como meu mestre afirmou que esta é uma estratégia perfeitamente válida, eu me contive, mas certamente posso dizer isto entre você e mim.”

Sua voz clara e altiva—manchada com uma hostilidade letal.

“Acho que é irracional esperar vergonha ou orgulho de cães como você?”

Izuna suou frio e deu um passo ligeiro para trás.

—Sexto Rank, Flügel. Os seres além das nuvens, cuja presença, antes dos Dez Pactos, significava ruína. Izuna havia sido surpreendida por aqueles Immanities, Sora e Shiro, mas desde o início, a quem ela mais temera estava agora diante dela. Os instintos que permaneciam no sangue da Werebeast gritavam. Largue sua arma. Chore, lamente e implore por sua vida. O que está diante de você—é a morte, diziam. Calando esses instintos com a razão, Izuna apertou sua arma com mais força.

“Bem, fui instruída por meu mestre a ganhar tempo, mas podemos nos divertir um pouco.”

Jibril proferiu esta frase com um sorriso radiante como o sol, mas com olhos que pareciam fitar lixo.

“Por favor, sinta-se à vontade para usar todos os truques que tiver e envergonhar-se ainda mais, à vontade.”

As duas se lançaram do chão, dividindo o concreto no ar. Disparando com velocidade divina—suas Lovey-Dovey Guns. As duas raças com o maior poder físico entre os Ixseeds, agora lutando com tudo.

—**AMAR ou SER AMADA: elas se cruzam—!!**

******

Uma bala passou zumbindo pela têmpora de Sora enquanto ele corria pelo beco. Dizer que ele a "desviou" seria ser otimista demais. Era um disparo de Shiro. Mesmo que ele conseguisse escapar de uma bala, seria esperado que ela ricocheteasse várias vezes e voltasse para ele! Pense. Que ação seu perseguidor não estaria esperando enquanto ela ajustava a mira para múltiplos rebotes? Sem tempo, sem espaço para erros, mas responda em um décimo de segundo!

“Hrrrrg, é isso!!”

Com um grito, Sora ousou dar um passo para trás na direção de onde a bala viera, em direção a Shiro. No momento seguinte, a bala que havia ricocheteado passou bem à sua frente.

“—Droga, você previu tudo, até isso!”

A única razão pela qual ele conseguiu escapar foi porque sua velocidade de decisão e distância de salto superaram minuciosamente a expectativa de Shiro… ou algo assim. Mas—na próxima vez, um ataque corrigido para isso viria. Ele sabia: ele não tinha chance contra sua irmã quando se tratava de antecipar esse tipo de coisa.

“Aaaagh, o que você quer que eu faça, Shiro?!”

Assim gritando, Sora continuou correndo. Ele havia sobrevivido aos ataques de Shiro até agora apenas por causa de suas capacidades físicas superiores. Shiro não tinha resistência. Então ela não corria. Se corresse, ela se cansaria, e sua precisão de tiro diminuiria. A vantagem de distância e resistência dava a Sora a menor margem para pensar.

(Não dá para blefar; intimidar é inútil; ela prevê as ações do oponente de forma mecânica e matemática e as bloqueia… Se lançassem um jogo com uma IA assim, os desenvolvedores seriam massacrados por torná-lo impossível!)

Escapando da área de prédios multiuso, ele entrou no próximo edifício que viu. Que tipo de edifício era aquilo, ele não podia dizer sem perguntar à União Oriental, que o projetou, mas—(Entrada estranha, tantas superfícies curvas—quanto mais curvas houver, mais difícil será—)

Mas sua intuição o alertou. Ele passou correndo e derrubou uma mesa próxima. Bish—a bala atingiu a mesa. Ele bloqueou o ataque de Shiro, mas sentiu medo antes de qualquer tipo de alívio.

“—?!”

Ele abaixou sua postura e rolou para frente. No momento seguinte, uma bala atingiu uma lâmpada curva no teto e pousou atrás dele.

“Você consegue calcular os ângulos de ricochete em superfícies curvas sem esforço? Eu sei que você é boa, mas, pelo amor de Deus, Shiro!”

Ele se viu querendo gritar: Você pode ser minha irmã, mas ainda assim tem que estar de brincadeira!

“Droga, é sem esperança. Isso não se resolve mudando o campo de jogo…”

—Corra. Rápido, mas com passos curtos, irregularmente! Elimine os padrões esperados e depois elimine os padrões que seriam esperados disso e então elimine de novo! Alcance o telhado! Se você chegar ao telhado, poderá restringir um pouco os lugares de onde as balas podem—

(—E ela com certeza já está esperando isso também. Se ela está operando continuamente em um estado descontrolado usando a solução ideal—)

No coração de Sora, onde sentimentos de desespero agora rondavam—uma pergunta surgiu. (Espere, isso não é estranho…?) Até agora, Shiro nunca correu. Quando Sora ameaçou escapar do alcance dela, ela fechou a distância bloqueando sua saída. Ela continuou com sua precisão de tiro, sem gastar energia, sem se cansar, mas—

(…Se ela realmente estivesse tentando acabar comigo, deve ter havido um momento em que ela poderia ter me pegado se corresse…)

Quem havia ordenado que Shiro não corresse—era ele, não era? Porque ela precisaria preservar sua precisão de tiro para enfrentar Izuna. Mas, se seu objetivo fosse simplesmente derrotá-lo, que diferença faria se ela ficasse um pouco sem fôlego? Se fosse Jibril, ainda mais, então—

(…Se eu estiver errado sobre isso, vai doer… mas ei.)

Sora decidiu: não tinha escolha a não ser tentar.

Ele arrombou a porta e subiu no telhado.

“Hff, hff… Então, Shiro? Seu irmão está no limite. Como você pode tratar um recluso assim… hff…?”

Seguindo-o, Shiro apareceu no telhado. Em seus olhos, ainda—nenhuma luz residia. Caminhando, balançando, ela gentilmente apontou seu cano em direção a Sora. (Décimo andar acima do chão. Nenhum prédio alto por perto—)

“Uhh, Shiro… Se eu estiver errado sobre isso—”

Desculpe, ele estava prestes a dizer, mas mudou de ideia. Ele não podia se dar ao luxo de estar errado sobre isso. Ele não estava errado. Essa era a resposta certa. Quando jogaram contra Chlammy, ele deixou Shiro cuidar de um seguimento daquela magnitude. Este não era o momento ou lugar para seu irmão mais velho—falhar!

“Rrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!!”

Sora chutou o chão de concreto e disparou para frente. O dedo de Shiro puxou o gatilho. Ele agitou a manga longa de sua última camisa. Ela mirava sem dúvida em sua testa—e ele colocou a manga no caminho da trajetória. Impacto. Sua última camisa voou, trocada por corações e balas. Mas bloquear a bala que ia para sua testa ofuscou sua visão por um momento. O que ele deveria fazer durante esse tempo era claro. Vários tiros ecoaram. Ele não podia ver. Mas sua convicção dizia. Shiro estava mirando para ricochetear as balas nas laterais e na entrada do telhado, criando um campo de força horizontal infernal de balas…! Se existisse uma zona de segurança—ela só poderia ser o resultado de uma ação que Shiro não esperaria. Se houvesse algo que não ocorreria a Shiro, seria:

“—Não tentar desviar, né?”

Com isso, Sora lançou-se diretamente na direção do corpo de Shiro. Momentaneamente, os olhos de Shiro se arregalaram. Ele a abraçou e saltou sobre a grade, caindo do telhado enquanto inúmeras balas passavam zunindo por suas costas. E, enquanto caía, Sora apontou sua arma para Shiro.

“—Não se preocupe. Dizem que você não morre ao cair. Vou estar embaixo para você.”

A queima-roupa. Puxando o gatilho, Sora sorriu. O disparo ecoou pelo aglomerado de prédios—e acertou.

“…Irmão… Eu te amo.”

Apertando Sora com força, Shiro o abraçou. Ele retribuiu.

“Sim, sua irmã te ama também.”

[Izuna, agora.]

—Em resposta ao sussurro em seu ouvido, Izuna arrebentou uma janela e saltou de um prédio do outro lado da rua. Seu olhar e cano fixados em Sora e Shiro em queda livre. Era uma reencenação da cena que havia sido imposta a Izuna no primeiro ataque. Sora, segurando Shiro sem controle de jogador, caía de um prédio de dez andares. Sem como se reorientar. Sem como—escapar.

(—Vocês já me deram trabalho demais, por favor.)

Mas Sora, sem nem ao menos olhar para Izuna enquanto ela vinha ao encontro deles, murmurou:

“…Ha-ha, sério, isso é só patético.”

Sorrindo com prazer, do fundo do coração, ele segurava uma bomba.

“—?!”

A bomba lançada de forma descuidada foi abatida reflexivamente por Izuna—que, num instante, se arrependeu. (Não—eu estraguei tudo, por favor!) O clarão que veio imediatamente queimou suas retinas. Com o estrondo que a assaltou em seguida, seus tímpanos ficaram entorpecidos. Sua audição foi selada. Em sua visão trêmula, balas cortaram a fumaça e voaram, e ela mal conseguiu desviar delas—por pura sorte, admitiu Izuna, atônita. (Ele percebeu o ataque, o desgraçado… não, não é isso, por favor.)

A questão de como ele previu seu ataque não interessava. A verdadeira pergunta era—(Como o desgraçado conseguiu atirar com tanta precisão, por favor?!) Segurando Shiro, que supostamente estava fora de controle, incapaz de ver, e ainda assim disparando com precisão no meio do ar. Sora poderia ser um gamer incrível, mas como um Immanity poderia—

Mas o pensamento de Izuna foi interrompido. Seus sentidos, ainda instáveis por causa da explosão da bomba, mesmo assim detectaram com certeza. Nos braços do Sora em queda. Shiro, supostamente fora de controle, calmamente, mecanicamente e com precisão—mirava em Izuna. Os olhos de Shiro, claramente plenos de sanidade, fixados diretamente nela—

“É por isso que… você guardou sua energia ao invés de correr, né, Shiro?”

“…Irmão… Eu te amo.”

Shiro sorriu. A mesma frase de antes, mas agora com uma secura calculada.

ANDAR DE OBSERVAÇÃO

“Impossível—?!”

Ao testemunhar esse espetáculo, Ino finalmente gritou. Durante todo o tempo, ele vinha retransmitindo os movimentos de Sora e seus amigos para Izuna. Ele acreditava ter dado as instruções e o momento para os ataques de forma perfeita. E, é claro, ele estava ouvindo o tempo todo os batimentos cardíacos de Sora, que fugia, e de Shiro, que o perseguia. A regra era clara: ser atingido pela Lovey-Dovey Gun tirava o controle por quinze segundos. Mas nem dois segundos haviam se passado desde que Shiro fora atingida por Sora. O tiro de Sora definitivamente acertara Shiro. Ele ouvira isso. Mas então… como?!

Nesse instante, tanto Ino quanto Izuna chegaram à mesma possibilidade ao mesmo tempo.

DENTRO DO JOGO

(—Esse desgraçado fingiu o tiro acertando a roupa, por acaso?!, pensou Izuna.)

Shiro, caindo nos braços de Sora. Se eles tivessem simulado o impacto, algum pedaço de roupa dela deveria estar faltando—mas não parecia ser o caso… Contudo, num piscar de olhos, ela sentiu algo estranho nas roupas esvoaçantes na descida. A linha que ia do quadril de Shiro até sua perna penetrou nos olhos de Izuna. E então ela se lembrou das besteiras que Sora estava aprontando no início—(Não pode ser… sério—)

Na véspera desse confronto decisivo, do qual dependia o destino de Immanity:

(—O desgraçado realmente mirou só na calcinha, por acaso?!)

Era uma conclusão absurda—mas, ainda assim, não era suficiente para explicar a situação. Se o tiro de Sora fosse falso, Shiro ainda deveria ser escrava de Izuna. Mas o fato de Shiro estar consciente e apontando sua arma para Izuna levava a apenas uma conclusão. Como se zombasse dos pensamentos de Izuna, Sora falou:

“Você finalmente entendeu? Desde o início—Shiro nunca esteve do seu maldito lado.”

O disparo no momento em que ela protegeu Sora—foi, de fato, uma performance impecável; até mesmo enganou Sora. Olhando para a camisa social de Shiro, esvoaçando ao vento, havia um único… erro de continuidade: apenas um botão estava faltando. Naquele momento, Shiro havia bloqueado o ataque de Izuna ao custo de um único botão. Só Shiro, que conseguia ler a trajetória de uma bala em unidades de milímetros, poderia realizar uma atuação divina como aquela.

ANDAR DE OBSERVAÇÃO

(Isso—isso não pode ser!) Ino gritou internamente, inconformado com aquele fato. (Sora estava genuinamente em pânico! E o batimento cardíaco de Shiro não demonstrava nenhuma tensão de quem está tramando algo!)

Desde que Shiro havia sido "atingida" por Izuna—e até agora—seu pulso permanecia sereno. Seu batimento cardíaco era tão estável quanto poderia ser. Mas, se fosse verdade, isso significava—

(Ela enganou até o próprio irmão?!)

Que ela havia ludibriado Sora, sem tensão, preocupação ou excitação—sem nenhum vestígio de desconforto. Sem um plano prévio, completamente improvisado, eles haviam coordenado aquilo…!

DENTRO DO JOGO

—Mas Izuna, no campo, nem sequer se importava com isso. Não importava o tipo de truque que tivessem usado, essa situação só podia significar uma coisa. (*Os desgraçados me pegaram—por favor.*) Significava que uma intricada teia de intrigas a havia capturado mais uma vez. Tendo perdido o equilíbrio ao desviar da barragem inicial—o alvo que ela mirava era aquela "Shiro". Não havia como errar, e as roupas que antes serviam como escudo mal restavam.

(*Mas—é só isso, por favor.*) A janela do prédio de onde Izuna havia sido lançada—além dela. Da escuridão, uma figura brandindo uma arma de fogo era iluminada pelo clarão do disparo. Aquela que Izuna havia derrotado—Jibril, agora transformada. A bala disparada cortou o céu com precisão, rumando para atacar Sora e Shiro.

(*Parece que armaram uma armadilha e tanto—mas isso acaba aqui, por favor.*) Izuna estava um passo à frente deles. Era só isso, e agora tudo terminaria—Enquanto Izuna se convencia de sua vitória, seu corpo—

—convulsionou com um espasmo violento e irresistível que a envolveu por completo. Shiro puxou o gatilho, e luz explodiu de sua arma. Ao mesmo tempo, Izuna percebeu—que a garota não estava mirando nela. Sentiu todos os pelos de seu corpo se eriçarem. Era…o inconfundível "sexto sentido" dos Ferais. Desde o início, tanto o cano da arma quanto os olhos de Shiro estavam fixos em algo além dela. Em Jibril.

—Mas, tendo compreendido isso, quem poderia antecipar? Que, no momento em que Jibril disparasse sua própria bala—

—a bala de Shiro estivesse destinada a ricochetear nela e atingir Izuna—que ideia absurda.

Prevendo e tramando, camadas sobre camadas de estratégias intricadas e emaranhadas. O contra do contra do contra do contra era impossível de prever—não, sequer de imaginar. A bala atingiu atrás de Izuna—e ricocheteou. Para atacá-la de um ponto cego. Um golpe fatal, impossível de responder ou até mesmo de perceber. O ataque que Shiro havia lançado, enganando seu irmão, enganando Ino, enganando Izuna e até incorporando a derrota de Jibril. Com um cálculo tão divino—não, diabólico, não havia como ser esquivado. Não, definitivamente, não havia.

—Em circunstâncias normais.

“—Agora isso tá ficando divertido, por favor!!”

Rugindo, Izuna mostrou os dentes e zombou. Ao mesmo tempo, seu sangue passou a fluir descontroladamente por todo o corpo. Seus capilares se romperam, e seus olhos e pelagem se tingiram de escarlate. Seus nervos esquentaram, suas células ferviam, seus músculos explodiam, e as leis da física rugiam.

—*Bloodbreak*. A forma carmesim, dita capaz de romper os limites da física—

Os braços de Izuna, encharcados de sangue, desapareceram sem emitir som algum. Era algo além da capacidade dos dois Immanities, Sora e Shiro, de sequer compreender. Os braços de Izuna, que desciam numa velocidade impossível de ser percebida—agarraram o ar. Suas mãos, ultrapassando o som, geraram atrito suficiente contra o ar concentrado para sustentar seu corpo por um instante. E, com um subsequente “chute,” ela saltou. Enquanto Izuna subjugava inércia e gravidade com força bruta, abaixo dela, a bala mortal—passou…de raspão.

—Que tipo de absurdo era esse? A impossibilidade desse feito, que desafiava a compreensão de todos. Mas para aqueles que conheciam intimamente os jogos, o fenômeno poderia ser explicado em uma única frase. A mira de Izuna se ajustava de uma nova posição, seus olhos bestiais inundados de carmesim. Sentindo-os apontados diretamente para sua testa, Sora só pôde—sorrir.

“—Um *double jump*? Ah, dá um tempo, sua trapaceira descarada.”

Lá estava, aquele tal de *Bloodbreak* que Jibril havia descrito. Entre os Ferais, que já se aproximavam dos limites físicos, havia aqueles capazes de transcendê-los.

Um único disparo foi ouvido. Mas duas balas, disparadas no mesmo instante, dispararam em direção à dupla em queda. Sem nada para obstruir suas trajetórias—essas balas fantasmas penetraram as testas de seus alvos quase simultaneamente. Sora e Shiro, imóveis e indefesos, caíram ao chão como brinquedos quebrados jogados fora. Em seguida, Izuna aterrissou na postura de um animal de quatro patas, e o asfalto se rompeu de forma colossal.

“Hhhhhhhhhhhhhh… Hhhhhhhhhhhhhh…”

O olhar de uma fera, a personificação da violência, com a respiração feroz e ávida por combate. Sua sublimidade ensanguentada gradualmente escurecendo no ar—

ANDAR DE OBSERVAÇÃO

“…—”

Silêncio. A plateia que assistia pela tela estava muda. Até mesmo Chlammy e Fi, que deviam estar vendo a mesma cena, não tinham palavras.

—Essa era a Rank Quatorze dos Ixseeds, os Ferais. Agora, finalmente, Chlammy compreendeu. Tarde demais para se justificar, mas—Por que a União Oriental havia aceitado esse jogo. Por que haviam respondido ao chamado para uma partida pública que desativava quase todos os truques. Era verdade que Sora havia armado inúmeras armadilhas. Mas deveria haver outras formas de lidar com isso. Ainda assim, a União Oriental escolheu esse jogo por um motivo claro e simples. Não importava que tipo de cálculos ou estratégias enfrentassem—tudo o que precisavam era varrer tudo isso com a absurda e ridícula diferença de poder que possuíam.

Embora estivessem apenas duas posições acima de Immanity—eram monstros poderosos demais para serem compreendidos. Diante disso, a própria Chlammy engoliu em seco e se desesperou.

—Não havia como vencer. O silêncio de Fi e a derrota de Jibril diziam tudo. Derrotar esses monstros em uma arena onde a magia estava selada provavelmente estava além das capacidades—de qualquer um dos Ixseeds. A própria Izuna—o Ferais em si, nesse campo, era a maior trapaça possível. (*Então isso… é o verdadeiro propósito do jogo da União Oriental?*) Um jogo impossível que desafiava a razão. Essa era a verdade por trás do jogo da União Oriental.

Ino, mantendo a cabeça fria, deixou o choque momentâneo passar. Cuidadosamente verificou os batimentos cardíacos de Sora e Shiro.

—Os dois irmãos estavam sem sinais vitais. Tiros certeiros na cabeça, impossível de falsificar. Mas ao lado deles, o coração de Izuna… Aquele som explosivo, batendo como se fosse saltar de seu corpo e ecoar pelo salão…

[Você os terminou, Izuna; acabou; acalme seu sangue!]

Ino chamou por Izuna, suando frio.

DENTRO DO JOGO

“—Hhh!—Hhh!—Hhhhhhhhhh…”

A voz de Ino não chegou aos ouvidos de Izuna. Mas ela não precisava do relatório; sabia que definitivamente havia terminado com eles. Não eram os corpos dos dois, caídos inertes no chão, mas sua intuição que decretava que os havia derrotado. Izuna, que havia agido de forma a dobrar os limites dos Ferais, subjugando as próprias leis da física, sentiu seu coração, que girava como uma máquina para possibilitar isso, começar a desacelerar. Como se agora lembrando das leis da física, a agonia atacou cada centímetro de seu corpo.

—Seu corpo estava terrivelmente pesado. Embora tentasse estabilizar sua respiração, ela não se normalizava. Seus músculos estavam despedaçados, seus vasos sanguíneos haviam se rompido, seus nervos derretidos—Para Izuna, literalmente quebrada, até mesmo ficar de pé havia se tornado um esforço hercúleo. Mas isso não importava. Valera a pena. Ela precisava fazer isso. Agora—

“…Eu venci, por favor…”

Murmurando com dificuldade, Izuna ficou de pé sobre duas pernas. Baixando o olhar para Sora e Shiro, caídos e imóveis, abriu a boca para dizer algo e, *poof.*

De maneira totalmente anticlimática. De forma completamente repentina—o braço de Izuna… foi atingido por uma bala.

“…Hã?”

…Esqueça Izuna. Todos que assistiam… até mesmo Ino, Chlammy e Fi. Todos soltaram sons atônitos e voltaram sua atenção para onde Izuna estava olhando, boquiaberta—na direção de onde ela acabara de ser atingida. E eles viram…

…agarrada às costas de uma garota NPC, olhos fechados, braço estendido, arma na mão—

“So-Sora, está tudo bem? Posso abrir os olhos agora?”

Steph. Sim, Izuna de fato usara seu “sexto sentido” para desviar de um ataque impossível de desviar. Mas—ainda assim, isso não foi o suficiente. Como Sora havia dito, a habilidade de saber coisas sem qualquer prévio conhecimento não era algo que ela possuía. Para realizar esse tipo de trapaça, seria necessário magia ou superpoderes.

O que Shiro havia calculado furiosamente no chão do parque—não era a estratégia para derrotar Izuna. Era—o algoritmo de deslocamento aleatório dos NPCs em sua deambulação, mas não havia como saber isso. Na realidade—tudo havia sido uma fórmula, apenas para deduzir como conduzir as garotas, enquanto as influenciavam, em sua busca por *Love Power*. Todas as táticas empregadas pela equipe de Immanity—desde a primeira investida até encurralá-la. Tudo havia sido apenas táticas que Shiro havia calculado previamente, preparando inúmeros cenários antes do jogo. Tudo que havia ocorrido durante a partida tinha acontecido conforme o design de Shiro.

>

Tudo havia sido uma fórmula criada exclusivamente para construir aquele momento.

“...Por mais que você tenha esse ‘sexto sentido’...”

Na visão de Izuna, a exibição da palavra DERROTA sinalizou o fim do jogo. Tudo terminado, Sora e Shiro se levantaram e falaram.

“Aquele para quem a Shiro estava mirando quando fez a bala ricochetear na da Jibril nem era você—”

“...Era em-baixo...”

“Era alguém sendo carregado nas costas de uma garota NPC, de olhos fechados—você nunca imaginaria que fosse a Steph, certo?”

Com essas palavras, os olhos de Izuna se arregalaram. A bala que havia sido feita para ricochetear fora de sua linha de visão para atacá-la—era a de Jibril. Ela havia ricocheteado fora de sua visão não para criar um ataque inevitável—mas para que o alvo da bala não fosse… óbvio?

Antes do jogo, Sora havia feito um “encantamento muito especial” em Steph. Ou seja—

“Obedeça o comando que Shiro escrever no chão. Mas esqueça disso—esse foi o pacto que eu fiz com ela.”

Sora deu um sorriso torto.

“Uma fórmula para permitir que Steph, exausta, sendo carregada nas costas de uma garota NPC, cuja única instrução era ‘Atire dez segundos depois de receber um impulso de Love Power,’ mirasse em Izuna e disparasse… não é de se admirar que Shiro estivesse lutando para calcular tudo.”

Fingindo que havia mudado para o lado de Izuna, enquanto conduzia Sora. E então, Sora fingindo que havia disparado contra Shiro. Izuna então atacando enquanto recebia cobertura de Jibril. Um ataque que previa e usava tudo isso sendo esquivado—e culminando no tiro: A estratégia deles considerava tudo isso.

“Sem passos, porque ela está sendo carregada. Sem senso de hostilidade, porque ela não se lembra. Sem consciência, porque já estava inoperante, mas, graças aos Pactos, suas ações ainda podiam ser executadas. Steph, que havia saído do radar de todos desde o início do jogo—atirando no único momento em que Izuna havia gasto todo seu poder...”

Se você pudesse prever isso, então tente, Sora parecia sugerir enfaticamente com um sorriso.

“—Essa é uma coisa que, mesmo com um ‘sexto sentido,’ seria impossível saber, não é?”

Ino olhou fixamente para a tela, seus pensamentos reverberando como um grito em sua mente.

(*Impossível! Isso nem chega ao nível de ‘cálculo’! Isso é—*)

Mas Sora puxou os lábios como se zombasse do monólogo interno do Ferais.

“‘Isso é uma maldita precognição’—não é isso que você está pensando, vovô?”

(*O quê—?!*)

Sora sorria de orelha a orelha, e Shiro esboçava um sorriso semelhante.

“O tempo todo, você estava monitorando nossos batimentos cardíacos e reportando para Izuna, certo?”

—Eles haviam captado isso: Não. Não era algo tão simplório quanto isso. Sim, isso explicava tudo.

“...Entendo, então você explorou isso...”

A compreensão de Ino começava a se formar: Em outras palavras, exatamente como Sora havia dito—

“Isso mesmo—em um jogo, no fim das contas, só existem duas coisas que você pode fazer.”

Ou seja, ação tática e ação de reação. Todos os tipos de jogos, no final, se resumem a tomar a iniciativa.

“A iniciativa esteve em nossas mãos o tempo todo. É só isso. Você achava que estava jogando, mas estava apenas sendo jogado—o resultado é destino, não precognição.”

“A propósito, Shiro.”

“...Mm.”

“Qual era aquela variável B que você colocou, afinal? Se você estava consciente desde o começo até o fim, então viu o final do jogo inteiro, não foi?”

“...Para que eles...não percebessem...”

Quando seus batimentos cardíacos estavam sendo monitorados, embora ela pudesse fingir ter levado um tiro, não poderia esconder seu estado mental. Portanto—Shiro precisava manter-se em um estado relaxado enquanto dava tudo de si. Alguém contra quem sabia que não poderia vencer, mesmo lutando de verdade. Alguém em quem pudesse confiar para entender sua intenção.

“…Eu, não consegui pensar…”

Uma variável que pudesse cumprir esses parâmetros. Desde aquele dia, no final de sua infância, até o presente. Pelo que sabia, apenas um “número mágico” tão conveniente existia.

“…em, ninguém…além de, você…”

Shiro sempre podia fazer o que Sora não podia. E, naturalmente, o contrário também era verdadeiro. Assim, Sora disse com um sorriso torto.

“Sim, não temos obrigação de nos incomodar com combates.

“Os fracos têm sua própria maneira de fazer as coisas. Vamos deixar a tarefa de lutar com leões de mãos nuas para os próprios leões.”

******

Enquanto a plateia explodia em aplausos, todos os jogadores do jogo começavam a recobrar a consciência no palco. Os irmãos estavam de mãos dadas, apertando-as firmemente, e Shiro falou assim que abriram os olhos.

“…De qualquer forma, irmão.”

“Mm? O que foi, minha irmã?”

Sora respondeu como se relutasse em soltar sua mão. —Internamente, ele havia percebido que ser forçado a se separar de Shiro—mesmo em uma realidade virtual—lhe causara arrepios.

“…Por que você teve o trabalho de deixar minha camisa… e atirar… na minha calcinha…?”

“O quê?! Não pergunte algo tão óbvio, tá, irmãzinha?! Você acha que eu poderia deixar essa multidão enorme te ver pelada?!”

“Você fala como se eu não importasse!”

Despertando um passo atrás, a MVP de hoje—Steph—gritou.

“Agora, agora, pequena Dora. Ninguém pode negar que sua jogada decisiva fez o dia. Gostaria de comentar como se sente ao ser confiada com um momento tão crucial para o destino de Elkia?”

“Posso responder honestamente? Não tenho interesse em passar por isso de novo!!”

A pressão de ter sido responsável pelo destino de Immanity. Se Sora não tivesse sido tão gentil a ponto de apagar sua memória, não havia a menor chance de ela aceitar aquilo, ela gritou. Enquanto isso, ao lado dela, levantando-se juntos, Sora e Shiro.

“Então, ainda estamos esperando o anúncio da vitória, vovô?”

Sora provocou Ino.

“—Vencedor: Elkia… Pelas leis dos Pactos, a União Oriental transferirá ao Reino de Elkia todos os seus direitos sobre o continente de Lucia…”

Na declaração de Ino, feita como se estivesse mastigando areia, a aclamação da multidão cresceu ainda mais.

—Quem poderia reclamar de um rei e uma rainha que derrotaram os Ferais e dobraram seu domínio com um único movimento? Contudo, apesar do entusiasmo desenfreado da plateia, o que veio a seguir foi suficiente para inspirar um silêncio profundo.

“Da mesma forma, pelas leis dos Pactos… Izuna Hatsuse… e eu, Ino Hatsuse, ambos renunciamos a todos os nossos direitos—para estes dois, os monarcas de Elkia…”

“Sim, muito bem.”

Enquanto Sora assentia decisivamente, Steph e a plateia ficaram de olhos arregalados. Sim—sua exigência era por tudo que a União Oriental possuía no continente. Isso incluía todos os recursos e territórios—bem como todas as pessoas e tecnologias.

“Então agora conseguimos uma tonelada de tecnologia da União Oriental e levamos Izzy e todos os Ferais do continente de uma só vez—uhhh. Cara, nossa… valeu o esforço que colocamos nisso.”

Steph estremeceu com o tom casual e despreocupado de seu mestre enquanto ele se alongava. O que Sora havia dito no outro dia: “Vamos conquistar o mundo. Todo ele—bum—sem dois jeitos sobre isso.” Ela havia entendido o significado, mas ao mesmo tempo, viu Izuna pelo canto do olho.

“……”

Rosto abatido, imóvel. Ino, escolhendo cuidadosamente as palavras, mas ainda assim fazendo o que podia, tentou consolá-la.

“Izuna… Você não tem responsabilidade… Foi um decreto de nossa terra natal, que eu ordenei…”

—Chegando a esse ponto, Steph finalmente entendeu o que Sora quis dizer. O que repousava sobre aqueles pequenos (pequenos demais) ombros que tremiam enquanto Izuna encarava o chão…

—O peso, massivo demais, de todos os direitos da União Oriental no continente. Tendo perdido isso, quantos… dos compatriotas de Izuna perderiam seus lares, seus empregos, seriam lançados às ruas—talvez até perdessem suas vidas? Steph lembrou-se de sua própria acusação.

—“Como você pretende assumir a responsabilidade?!”

—Não havia como assumir a responsabilidade.

O agente plenipotenciário era encarregado das vidas de centenas de milhares. Não existia alguém capaz de suportar toda a responsabilidade que essa posição trazia. Quem havia tratado o título com leviandade… não era Sora, mas sim… (*Fui eu, suponho.*) Steph baixou a cabeça, mas Sora continuou, impassível.

“Não é assim, certo, Izuna?”

“Huh?”

“—É que foi tão divertido que você nem sabe o que fazer consigo mesma, certo?”

Ino e Steph prenderam a respiração. No final, quando Izuna havia liberado seu *Bloodbreak*… Ela havia—claramente—dito isso.

—Suas palavras exatas: “Agora isso tá ficando divertido.”

“…Isso é, besteira, por favor…”

Mas.

“Agora que perdi, um monte de desgraçados vai sofrer, por favor.”

Izuna não podia admitir isso.

“Mas—por que, por favor?”

Ela não devia admitir isso—e ainda assim…

“Por que—por que meu maldito rosto sorriu, por favor?!”

A mente de Izuna voltou para o encontro final no ar. O momento em que ela claramente sentiu, *isso é divertido.*

“Eu poderia ter vencido se não tivesse me distraído com essa porcaria naquela hora, por favor?! Agora pessoas vão morrer por minha causa, por favor?! Porque eu—achei isso divertido!!”

“I-Izuna, acalme-se—você—”

Os gritos indiscriminados de Izuna—que não conhecia outra resposta—silenciaram o ambiente. Ino, também sem palavras, apenas segurava seus ombros, tentando acalmá-la. Mas ainda havia Sora.

“Relaxa, Izuna.”

Se aproximando da Fera frenética, Sora gentilmente abriu os lábios.

******

“Não importa o que você tivesse feito de diferente, já havíamos vencido você de qualquer forma.”

De alguma forma, proferindo isso e ainda sorrindo como a luz do dia, Sora congelou a assembleia inteira. *Isso é o melhor que esse homem consegue oferecer como consolo?!*—pensou Steph, horrorizada. Ao lado de Izuna, que tremia, Sora, no entanto, se ajoelhou, acariciando sua cabeça.

“Além disso, parece que você está confusa—ninguém vai morrer, e ninguém vai sofrer.”

“…Hã?”

“Este mundo é um jogo. Todos vocês estão errados, fundamentalmente.”

Essas palavras—as mesmas que Sora já havia murmurado no passado tanto para Steph quanto para Jibril. Mas, até aquele momento, seu verdadeiro significado permanecia obscuro.

“Parece que você não está convencida. Então, vamos fazer o seguinte.”

E então Sora fez uma proposta em um momento intrigante.

“Sem truques. Sem trapaças. Você e eu, vamos duelar.”

Ele propôs, com um sorriso travesso, como o de uma criança.

“Se eu ganhar, eu conto como sei disso. Se eu perder—vamos ser amigos, ok?”

******

Exibida na tela para o deleite da multidão estava o centro de uma rua alinhada com prédios. A audiência assistia fascinada enquanto, como em um faroeste, a brisa soprava pedaços de papel pelo cenário. As sombras dos oponentes que se encaravam. Sora, o rei de Immanity. E Izuna, a representante da União Oriental. Shiro, Steph e Ino observavam atentamente as imagens na tela. Chlammy apertava os olhos para enxergar melhor enquanto Fi compartilhava sua visão. E—assim como durante a batalha épica que decidira o destino de Immanity, a multidão de mil pessoas assistia hipnotizada a esta disputa, que nada mais era do que uma aposta tola.

O jogo que Sora propôs era simples. Sora e Izuna se enfrentariam diretamente, usando suas habilidades físicas reais.

—Não havia como ele vencer. Essa era a opinião de todos que haviam visto aquela forma escarlate de Izuna. Era verdade que a equipe de Sora havia conseguido derrotá-la. Mas de forma alguma foi diretamente. Eles mal a derrotaram usando artimanhas, táticas e armadilhas sobre armadilhas, espessas e incontáveis. Um Immanity, em termos de reflexos puros e velocidade de movimento, não tinha chance contra aquele demônio escarlate. Agora que tudo o que a União Oriental possuía no continente havia sido tomado, Izuna e Ino, é claro, estavam incluídos nisso. A posse de Sora sobre Izuna já era um fato consumado. Assim, esse desafio só podia ser interpretado como uma forma pedante de consolá-la implicitamente: “Vamos ser amigos.” Mas, ao mesmo tempo, todos ali se perguntavam. Será que esse homem, o rei, metade do maior jogador de Immanity—esse trapaceiro—já havia feito algo exatamente como dissera?

“’Tá, pronto? Vou jogar esta moeda, e será uma batalha para ver quem saca mais rápido no momento em que a moeda tocar o chão.”

“…—”

Sora tomou o silêncio de Izuna como aceitação. Com um *ting*, a moeda flutuou alto no ar. Nos olhos sombrios de Izuna, que não traíam emoção alguma, o rosto de Sora estava refletido.

—O único que a derrotara. O que tomara todo o território continental da União Oriental de uma só vez e encurralara inúmeros Ferais. O que descartara tudo isso com um “Ninguém vai morrer” e agora oferecia a promessa de uma prova.

—A moeda fez um som ao atingir o chão. Mas… Izuna apenas baixou os olhos, sem se mover para sacar sua arma.

“Hm… Bem, acho que você escolheu isso.”

Com isso, Sora puxou sua arma sem pressa e apontou para Izuna.

…Sim, se Izuna perdesse intencionalmente, Sora mostraria a prova de que ninguém morreria. Se fosse razoável, Izuna ficaria aliviada do peso da responsabilidade que carregava. Mesmo que não fizesse sentido, ela não teria obrigação de se tornar amiga do desgraçado que a derrotou. De qualquer ângulo, o cenário parecia projetado para que Izuna perdesse intencionalmente.

—Isso estava bem. Tudo o que ela precisava fazer era aceitar a derrota e depois pedir a ele suas malditas garantias. E então—e então—

“…Hmm, posso ser honesto com você?”

Sora suspirou. Em um tom profundo de desilusão, ele apertou o dedo no gatilho.

“Estou desapontado com você, Izuna.”

!

“—Não brinque comigo, por favor!”

Então, o cano de Sora brilhou, e a bala foi disparada. Izuna ergueu o rosto, olhos manchados de escarlate.

—*Bloodbreak*. Os movimentos da fera carmesim, mais rápidos do que a velocidade de uma bala. Sua arma foi sacada a uma velocidade impossível para os olhos de um Immanity—para os olhos de Sora—seguirem. Poderosa o suficiente para romper as amarras da física. Um saque digno de ser chamado de divino. Embora disparada após o tiro de Sora, o projétil de Izuna colidiu com o de Sora próximo ao ponto médio entre os dois, alterando a trajetória de ambos. O segundo disparo de Izuna foi instantâneo. Mirado diretamente—na testa de Sora. O feito realizado—o gatilho puxado—ela se perguntou:

(—O que eu estou fazendo, por favor?)

Por que ela estava tentando vencer? Esse era o momento em que deveria estar pedindo a Sora—pelo bem dos Ferais, pelo bem da União Oriental—como ele sabia que ninguém morreria. E ainda assim… por que—

Independentemente da turbulência interna de Izuna, sua bala seguiu em frente. E enquanto Sora inclinava ligeiramente a cabeça… ela passou inofensivamente de raspão.

“Hã?”

Como se—Não. Definitivamente, exatamente como ele havia previsto. Mas, naquele momento… já era tarde demais.

O segundo disparo de Sora. Mesmo para os olhos de Feral de Izuna—com o benefício de seu *Bloodbreak*—a bala estava tão próxima de seu peito que notá-la era o limite.

—Um disparo feito com o conhecimento de que Izuna dispararia uma segunda vez. Cronometrado para coincidir com o clarão do cano da arma de Izuna. Em outras palavras, disparado na fração de segundo em que os sentidos da Ferais estariam obscurecidos. Quando Izuna sentiu a bala penetrar em seu peito, teve certeza de ouvir a voz de Sora em seus ouvidos.

“É isso que eu tô falando… Esse é o seu verdadeiro eu.”

A visão de Izuna, enquanto ela caía, foi preenchida por um céu que se estendia infinitamente.

“Tenho certeza de que você se importa com os outros Ferais que vão sofrer com a derrota da União Oriental. Mas há uma razão mais profunda, bem no fundo, pela qual você estava chorando, e é simples.”

Enquanto Izuna flutuava, incapaz de compreender que havia sido derrotada, Sora continuou.

“—Você estava triste por ter perdido pela primeira vez, não estava?”

……

“Se você não fica triste quando perde, você falha como jogadora. Mas—

“—é exatamente por isso que foi divertido, finalmente.”

“Um jogo em que você entra sabendo que vai ganhar com certeza é apenas trabalho. Não há como encontrar valor nisso, e quando a vida das pessoas está em jogo por algo tão sem sentido, é natural que você sinta que é uma baita dor de cabeça—você estava certa o tempo todo.”

Mas—

“...Como se sente? Saber que existe alguém contra quem você pode testar sua mente, corpo e espírito e ainda assim não vencer?”

Uma imagem da garotinha que ele havia encontrado há muito tempo passou pela mente de Sora.

“Pensar em como você vai enfrentar esse oponente absurdamente OP e derrotá-lo, em como você vai vencer, no que vai fazer para superá-lo.”

A garota de cabelos brancos e olhos vermelhos que continha dentro de si o potencial da humanidade, que desafiava a imaginação. Como se relembrando seu choque naquela época, Sora concluiu com um sorriso fervoroso.

“Pra dizer o mínimo—é estimulante, né?”

—Talvez fosse isso. Talvez essa fosse a identidade do impulso que havia incitado Izuna. Ele era aquele que a havia derrotado, e era exatamente por essa razão… ela não queria deixar que ele brincasse com ela. Ela queria vencer da próxima vez. Esse era o impulso… certamente…

“Se você entende isso, já somos amigos. Bem-vinda, Izuna, ao nosso lado.”

Com certeza, para Izuna, esse havia sido o primeiro jogo que ela jogara em sua vida, ela pensou.

“Então, deixa eu te contar aquele motivo, como prometido. Me empresta essa orelha fofinha sua.”

O que Sora sussurrou na orelha baixa de Izuna enquanto se ajoelhava, ele fez com o jeito de uma criança tramando uma brincadeira travessa. Mas uma travessura que, ao ser imaginada, fazia você começar a se animar também. Ao mesmo tempo, um plano tão duvidoso em sua sanidade, tão improvavelmente grandioso em sua escala—que parecia divertido. Tendo ouvido a razão, Izuna, como se finalmente aliviada, como se satisfeita, fechou os olhos com uma sensação de renovação, dizendo com um sorriso.

“Da próxima vez… Eu vou te derrubar, por favor...”

******

*Câmeras prontas, verificação de memória ok, vapor suficiente…ok!*

“...Confirmado. Vapor suficiente para garantir a decência… confirmado… ok!”

E assim começava mais um dia com Sora virando-se de costas e fazendo sua típica saudação.

“Muito bem, minhas queridas, não se acanhem; podem entrar.”

“…Por que eu tenho que tomar um maldito banho, por favor?”

“Porque meu mestre determinou que este será um ritual para alcançar entendimento ao darmos boas-vindas a novos aliados. Quando meu mestre diz, que se faça a luz, a luz se faz. Isso será realizado em nome da honra.”

“De qualquer forma, Shiro, você parece de bom humor hoje. Superou seu ódio por banhos?”

“…Estou, animada…para, lavar…o rabo…da Izzy.”

Embora houvesse muito barulho, nenhuma figura era vista—não, nenhuma podia ser vista. Mas, com a autodominação que temperara como aço, o próprio desejo de Sora de se virar já havia desaparecido. Graças ao sucesso durante a visita de Chlammy e Fiel de capturar tudo perfeitamente em vídeo!

“Heh, tudo, desde os ângulos das câmeras até a possibilidade de embaçamento das lentes, desde a entrada de cada uma até onde vão ficar de pé ou sentar—eu calculei tudo usando um aplicativo de tablet, e embora eu não consiga calcular como Shiro—sei que não tenho ponto cego aqui!”

Sim, não havia necessidade de pressa, pensava Sora. Embora não buscasse a Primavera dos Pêssegos, pelo menos poderia beber de seu néctar! Ele imaginava Steph lavando o cabelo de Shiro, enquanto Shiro lavava o rabo de Izuna…

…Embora só pudesse ouvir os sons.

“Banhos vão para o inferno, por favor.”

“…Verdade épica… Mas, agora…negada.”

“Assim que terminarmos este banho, vocês desgraçadas têm que me enfrentar, por favor. É bom não fugirem, por favor.”

“…Não, se preocupe; irmão…cumpre, suas promessas…”

“Eu me pergunto. Falamos de um homem mais habilidoso em mentir do que em respirar.”

“Oh, pequena Dora, você não conhece a escritura sagrada que diz que a culpa é sua por cair nisso?”

“Que tipo de culto fraudulento sustenta tal escritura?”

“É uma escritura de minha própria autoria, compilada em meus dias observando meus mestres. Considerando seu status indubitavelmente iminente como escritura sagrada, não consigo conceber uma razão para não atribuir tal título desde já.”

“Eu consigo conceber uma razão! Observar esses dois é apenas um diário de perversões!”

“……!”

*Aguente. Aguente, Sora.*

“A propósito, senhor, posso perguntar o que está fazendo?”

“Hãããããã—aaaaaaaaaahhhhhhhhhh!!”

Saltando na frente dos olhos de Sora—um—um corpo singularmente musculoso e idoso, vestido apenas com uma tanga—Ino fez Sora erguer a voz.

“O-o que você está fazendo profanando a Primavera dos Pêssegos assim, ao natural! Ninguém pediu por velhos musculosos nus!”

Oh, Deus… Afinal, eu realmente calculei o posicionamento das câmeras perfeitamente, poderia ser esse velhote—? Certamente ele não poderia ter ficado bem ali na frente… Se algo assim aparecesse no vídeo, qualquer tipo de *hee-hee-hee* se transformaria em um *ugh-ugh-ugh*.

“Hmm, ouvi dizer que este era um rito de passagem que você estabeleceu para novos membros do grupo.”

“Isso não se aplica a homens! Muito menos a velhos musculosos! Isso está fora de questão! Quero dizer, que diabos você está fazendo entrando aqui todo pelado?! Não disse que é R-18?!”

“Bem, fui informado, mas este ano tenho noventa e oito anos, o que é oitenta anos acima do limite de idade.”

“—Eh, uh, hmng? Espere, o quê—?”

*Espere—acabamos de encontrar uma questão que você não pode ignorar, Sora, virgem, dezoito anos. Uma certa questão, que muda o mundo, mas quente demais para tocar—*

“A propósito, a honorável Jibril me descreveu este ‘código moral’ que parece seguir, senhor…”

“Uh, sim…”

Sora, pensando consigo mesmo, *Eu realmente preferiria que ele mantivesse esse corpo imponentemente musculoso à distância.* Conseguiu apenas responder com dificuldade.

“Veja, ouvi dizer que você tem dezoito anos de idade.”

“S-sim, acho que sim.”

“Então isso implicaria que você tem qualificação para ver materiais que seriam proibidos para menores de dezoito anos.”

“Sim, claro. E daí?”

Hmm, fez Ino, acariciando a barba, parecendo perdido em contemplação.

“Bem, ocorreu-me que, se sua preocupação é que Sua Majestade, a Rainha Shiro, o acompanha, não seria o caso que, se apenas cobríssemos e vendássemos a Rainha Shiro, não haveria necessidade de vergonha se Sua Majestade entrasse nesta cena livremente?”

O mundo parou de girar.

“Ah, aha-ha, aha-ha-ha-ha… Agora então, agora então, agora-agora-agora espere um momento, velhote.”

“Sim, senhor, o que seria?”

“T-t-t-não há como eu ignorar a-a-algo tão evidente; t-t-tem que haver algo errado, algum erro aqui.”

“Hmm, essa era de fato a questão de minha investigação… Mas isso também o intriga, senhor?”

—*Tsk.* Um clique suave, mas inconfundível, alcançou os ouvidos de Sora. Não, não podia ser, impossível. Mas ele também não podia ter ouvido errado, ainda mais impossível.

“C-com licença, Srta. Shiro. Ouvi um clique que parecia dizer ‘Cuide da sua vida, idiota,’ mas você poderia esclarecer?”

Ele não podia se virar para olhar. Mas, com base em uma sensação inegável de que ela estava lá, Sora se dirigiu a ela. Após um breve momento de pausa:

“…Eu…não disse…nada…”

“…Eu…não disse…nada…”

“Desculpe, Professora, mas tenho absoluta confiança de que, de todas as pessoas, eu não confundiria sua voz. Vamos lá, aquele clique foi totalmente seu! Sério, por favor, posso ter uma explicação—você pensou nisso?!”

“Hah-hah-hah… Isso é o que você chama de uma luta épica?”

“Ei, espera aí, seu velho desgraçado! Eu quase deixei passar enquanto você me jogava choque após choque, mas de quem exatamente você acha que está olhando a irmã nua, seu maldito?! Quer que eu arranque seus olhos?!”

“Oh, não se preocupe. Eu simpatizo profundamente com sua provisão de que menores nus devem ser banidos da vista. Acredito que isso é importante para a educação moral de Izuna também, e por isso estou com os olhos bem fechados”, disse o velho.

Então ele podia captar seus arredores perfeitamente apenas com seu sentido de audição? Malditos mutantes desgraçados!

“…Mm, Izzy, você não pode…olhar para as outras, também. Certo…?”

“? Não entendo, mas entendido, por favor.”

“Espere, Srta. Shiro, por favor, não mude de assunto, yo—Q-quê—? Eu joguei incontáveis Primaveras dos Pêssegos pelo ralo?!”

Escorregando para se ajoelhar ao lado de Sora, Jibril falou.

“Mestre, imploro que acalme seu coração. Certamente não é tarde demais.”

“S-sério?”

“Sim, e com este conhecimento, a solução é simples.”

Girando o dedo no ar, desenhando um círculo de luz, talvez para realizar magia.

“Eu, sua humilde serva Jibril, posso nos envolver em espíritos e bloquear o fluxo de som. Se apenas Lady Shiro se abstiver de olhar para cá, considerando que este corpo, em toda sua extensão, pertence a você, Mestre, você é livre para fazer com ele o que—”

“…Jibril…CA-LA-BO-CA.”

Ao breve comando de Shiro, que compartilhava a posse da Flügel com Sora, a boca de Jibril foi silenciada. Logo depois, Shiro disse tristemente:

“—Irmão, você…me vendaria, e…faria coisas sujas…bem ali?”

……

“Haaaa-ha-ha-ha-ha-ha-ha! Como se eu fosse fazer algo tão ruim para a educação moral da minha irmã aah-hah-hah-hah-hah Deus do céuuuuu queime tudo até virar cinzas aaaaaaaaaah!”

Sora, finalmente quebrado, gritou, e sua voz ecoou por todo o banho.

“…A propósito, senhor.”

“O que você quer, velho desgraçado?! Se você aprofundar ainda mais a rachadura na minha sanidade—”

“Bem, a partir de agora, pertenço a você.”

“—É. Não que essa seja uma frase que eu queira ouvir de um velho musculoso de tanga.”

Aparentemente afetado por arrepios por um momento, a resposta de Sora foi sombria. Ino, no entanto, não deu qualquer sinal de quebrar seu sorriso.

“E Izuna também pertence a você—tendo reconhecido essas coisas, posso comentar?”

Com um sorriso jovial, seus olhos ainda fechados, mas com a voz levemente mais baixa, Ino perguntou:

“—O que diabos você disse para Izuna, seu macaco pelado?”

…A “maneira de garantir que ninguém morreria” que Sora havia sussurrado para Izuna. Não havia como algo tão conveniente assim existir. Para o vigarista que havia oferecido um conforto vazio à sua neta, mais importante que sua própria vida, ainda assim, como alguém cujos direitos haviam sido completamente perdidos, a quem nenhuma resistência era permitida, essa foi a única pequena demonstração de desafio do velho. Sem sequer se virar, Sora, displicentemente—

“…Cala a boca, chupa o dedo e assiste, Vovô. Não é como se você pudesse fazer algo.”

—escolheu a resposta perfeita para provocar o velho, trolando-o. Com isso, os punhos de Ino, já cerrados, se apertaram ainda mais, mas com as palavras subsequentes de Sora, em vez de raiva—

“Relaxa—ainda tem uma surpresa no final. Quando você vir isso, vai entender a resposta.”

Sora provocou com um sorriso ousado—que pareceu a Ino, no entanto, um sorriso sinistro. Diante das palavras do homem insinuando um plano ainda maior do que tudo o que havia acontecido antes, Ino, agora mais temeroso do que irritado, ficou sem palavras…

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