No Game No Life

Volume 3 - Capítulo 2

No Game No Life

**Faltam três jogadas** —Não tenho consciência, memória ou sentidos. Onde estou? Quem sou eu? Essas perguntas já não surgem mais. Não sinto nada. O que eu pergunto quando a própria definição de mim mesma se tornou incerta? Não posso perguntar nada. Não tenho base para perguntar nada. No máximo, suponho que posso perguntar o que devo perguntar. Minha consciência enfraquece, quase vazia, mas ainda assim, de forma tênue e poderosa, ela afirma: Sem nenhuma evidência, apenas: “Está tudo bem.” Essa afirmação, de que tudo o que preciso fazer é esperar aqui pela vitória, é tudo o que me conecta ao que resta da minha sanidade. —Vitória? Em quê? —Eu não sei… Não sei de nada.

“...Como…ela está?” Na frente da câmara real, Steph fez a pergunta a Jibril. Mas Jibril apenas suspirou novamente e balançou a cabeça.

“—Nada. Ela se recusa a me admitir; estou sem opções.” “Ela ainda apenas repete ‘Sora’ sem parar?” “Sim… e você?” “Perguntei a quem pude encontrar entre os funcionários do castelo. Todos deram a mesma resposta—” “Que não conhecem ninguém chamado Sora; o único monarca de Elkia é a Mestra—suponho?” “Sim… o que isso significa?” “Isso é o que eu quero saber,” suspirou Jibril mais uma vez. “A conclusão mais natural seria que as memórias da Mestra foram reescritas, mas…” “Mas isso—” “Sim. Significaria que a Mestra—perdeu.”

—Algo parecia muito errado. Shiro, de repente, perdendo a si mesma e chamando por uma pessoa desconhecida chamada Sora sem parar, em um estado de torpor. A situação em si já era mais do que desconcertante, mas era algo ainda mais estranho que as fazia franzir o cenho.

—Talvez ela tenha ouvido a conversa delas. Um objeto fino e plano deslizou por baixo da porta.

“…? Isso é…?” “Sim, é o tablet da Mestra.”

Pegando-o do chão, Jibril e Steph olharam juntas para a tela.

“Está na língua do mundo antigo da Mestra—diz: ‘Perguntas.’” *Pwok*, fez um som. Uma nova mensagem apareceu. “Entendo. Isso é uma janela de comunicação, não uma troca de cartas, mas um chat.”

O vasto repositório de conhecimento que sua mestra trouxera de outro mundo. Nem mesmo Jibril tinha conseguido compreendê-lo completamente, mas ela captou o essencial.

“O que diz agora?” Steph, espiando a tela, mas no final, incapaz de entender.

“—‘1. Qual é o nome da pessoa que jogou contra Jibril?’” “…É…Shiro, não é?” “De fato. Então… como respondemos—?”

Embora Jibril não entendesse como operar a tecnologia, outro *pwok* apareceu imediatamente.

“Entendo, podemos responder oralmente—‘2. Quem exigiu que Steph se apaixonasse?’”

“E-e-é Shiro, eu digo.”

Imediatamente, a próxima mensagem apareceu.

“…Bem, diz…‘3. Uma garota de onze anos exigiu que você se apaixonasse por ela?’” “S-sim… N-não é por isso que venho te chamando de pervertido e monstro…?”

Sua resposta tensa e a mensagem seguinte chegaram ao mesmo tempo.

“—Diz…‘4. Como você perdeu, em detalhes?’”

Steph, considerando a situação de Shiro, não podia dar uma resposta superficial. Tentando se lembrar com o máximo de detalhes possível, colocou os dedos na testa e pensou intensamente.

“Umm, foi pedra-papel-tesoura. Você me desafiou a um impasse psicológico, buscando um empate. Mas o ponto chave foram as condições; você deu termos vagos no caso de um empate e se aproveitou disso. Protestei que era fraude, mas você me ignorou e mandou… me apaixonar por você.”

No mesmo instante em que Steph terminou, a próxima mensagem chegou.

“—‘5. Por que exigi que você se apaixonasse por mim em vez de se tornar minha propriedade?’” “S-para que eu me ajoelhasse aos seus pés. Mas então você percebeu que cometeu um erro e ficou resmungando sobre isso—Shiro.”

Dessa vez, demorou um pouco para a próxima mensagem aparecer.

“—‘6. Quem descobriu o jogo da União Oriental?’” Nesse ponto, tanto Steph quanto Jibril concordaram.

“Foi você, Shiro, com o legado de meu avô.” “Isso condiz com minha memória.”

…E então a próxima mensagem não veio. Steph e Jibril, sem outra opção além de esperar em silêncio, permaneceram de pé diante da câmara real. Talvez alguns minutos depois. Mas, em vez de uma pergunta, surgiu uma declaração. Mais precisamente… um apelo, uma afirmação aparentemente desprovida de convicção.

Suas memórias devem ter sido apagadas.

A essa mensagem, Jibril respondeu.

“Mestra, se me permite, o detentor dos direitos às memórias é quem as possui. Esse ‘Sora’ poderia ter jogado um jogo para apagar suas próprias memórias, mas seria impossível apagar as de outra pessoa.”

Mas um contra-argumento veio sem pausa.

Todos consentiram com a aposta.

“—Nesse caso, seria difícil explicar por que apenas você, Mestra, ainda reteve suas memórias.”

…Mais uma vez, nenhuma resposta veio. Além da porta, Shiro, com o celular na mão e o rosto enterrado no colo, não conseguiu responder.

—Ela sabia. Seu irmão teria jogado um jogo sem ela? Um jogo com um desfecho potencial como aquele e, além disso, perdido—

“Ah, sim. Seu serviço é apreciado… Não, não é nada grave.”

Da outra lado da porta, a voz de Steph soava fracamente.

“…Shiro, é difícil dizer, mas o mensageiro que enviei acabou de retornar. Estão ocorrendo protestos sobre sua aposta solitária da Peça da Humanidade, e não conseguimos ouvir o que estavam dizendo de dentro do castelo, mas, aparentemente, o alvo das críticas da multidão—não inclui o nome Sora.”

Shiro, ao ouvir esse relato, sentiu sua visão escurecer novamente. Cerrando os dentes para não perder a consciência, ela pensou: Deve haver alguma contradição nas memórias deles. Tem que haver. Já que, afinal—

—se não fosse esse o caso, isso significaria que todas as suas memórias eram falsas. (*Im-possível… isso não é…aceitável!*) Shiro, insistindo consigo mesma, balançando a cabeça desesperadamente em negação. Ela havia perdido em um jogo, e memórias falsas haviam sido implantadas nela—hipoteticamente, suponhamos isso. Mas alguém deste mundo teria conseguido fabricar todas aquelas memórias do mundo de onde ela veio? Isso era demais; ninguém deveria ser capaz de fazer isso. Ela tentou se convencer, mas ainda assim Shiro sabia—isso era discutível. Este mundo tinha Pactos e magia. Poderiam não ter alterado especificamente suas memórias, mas, por exemplo… Dividir todas as suas memórias em duas, talvez.

—Não, para ser mais precisa. Dado que agora ela não tinha qualquer prova da existência de seu irmão. Quem poderia dizer que ela estava sã? Considerando o quão conveniente era para ela a existência de Sora… Essa possibilidade—essa possibilidade mais inaceitável—ganhou um contorno assustadoramente persuasivo.

Isso é—que Sora era apenas uma ficção conveniente que ela havia inventado. (*—Eu, não vou… aceitar, isso… Eu, não posso aceitar isso!*) Não havia como ela aceitar. Se aceitasse, tudo sobre ela—desde sua própria fundação—

O tablet parou completamente de responder. O estado deplorável de Shiro era palpável através da porta, e Steph e Jibril se entreolharam.

“O-o que isso significa? O que devemos fazer?!” “…Vamos organizar nossos pensamentos.”

Jibril falou como se estivesse tentando se acalmar.

“Agora, na véspera de um jogo com a União Oriental apostando a Peça da Humanidade—apostando por todos os direitos da Humanidade—quem se beneficiaria mais ao incapacitar a Mestra?”

“Até eu posso ver isso—o culpado é a União Oriental, não é?!”

—De fato: Que a União Oriental, tendo tido seu jogo exposto, tenha desafiado Shiro em segredo antes da partida oficial, deixando-a irrecuperável e apagando memórias—essa era a conclusão mais natural. Mas, olhando para o registro das mensagens de Shiro, Jibril ponderou.

–6. Quem descobriu o jogo da União Oriental?

“…Se fosse a União Oriental, eles deveriam ter apagado essa memória primeiro.”

A União Oriental, por muitos anos, havia ocultado seu jogo exigindo a exclusão de memórias relacionadas a ele. Foi porque seu segredo foi descoberto que foram forçados a aceitar a partida—sem mencionar o fato de que:

“A Mestra não teria motivo para aceitar o desafio.”

Os Dez Pactos: A parte desafiada tem o direito de determinar o jogo. Naturalmente, isso incluía decidir se aceitava o desafio ou não. Era difícil imaginar um motivo para aceitar uma partida proposta pela União Oriental…

“—Infelizmente, é um beco sem saída… Simplesmente não temos informações suficientes para explicar esta situação.”

Jibril, balançando a cabeça, suspirou com uma expressão carregada de angústia. De dentro do quarto, vinham apenas os soluços de Shiro, como se estivesse prestes a tossir sangue.

Diante de sua soberana, que só conseguia continuar chamando por seu irmão—um homem chamado Sora—Jibril se viu compelida a agir.

—Certamente, ela não podia duvidar de sua senhora. Se sua senhora dissesse que corvos eram brancos, seria seu dever viajar por três mil mundos colorindo todos os corvos dessa forma. Portanto, se sua mestra dizia que uma pessoa chamada Sora existia, ele existia sem sombra de dúvida. Porém, a voz audível além da porta—

“N-não podemos fazer nada?! A esse ritmo, Shiro não vai aguentar!”

Foi o suficiente para fazer Steph cravar as unhas na porta em frustração e gritar.

—**Classe Seis das Ixseed, Flügel**: uma raça de guerra com vasto espírito—poder mágico. Sua essência era uma espécie de “magia completa” tecida pelos deuses e, como resultado, eram incapazes de usar magia complexa. Além disso, careciam de emoções complexas que lhes permitissem compreender totalmente as sutilezas do coração da humanidade. Mas.

“…Isso parece…ser verdade.”

—Mesmo sem usar algo como magia, era evidente que a psique de sua senhora estava a um passo do colapso. Certamente, ela não podia duvidar de sua senhora. Fazer isso mereceria dez mil mortes. Ainda assim—

“—Mestra. Vamos jogar um jogo.”

“…Hã?”

Steph ficou surpresa com a sugestão de Jibril—assim como Shiro atrás da porta.

“Você jogaria um jogo de Aschente comigo? E—sei que isso é extremamente atrevido, mas—poderia, por favor, perder?”

—Os soluços não pararam. Mas, percebendo que Shiro tentava compreender sua intenção, Jibril elaborou.

“Eu exigirei que todas as suas memórias relacionadas a Sora sejam seladas.”

Diante da declaração da Flügel, os olhos de Steph se arregalaram. O significado de seu olhar era claro até mesmo para Jibril. Ela devia ter a mesma sensação de que algo não estava certo. Jibril tinha uma impressão vaga de que não era correto descartar as afirmações de Shiro—mas.

“A esse ritmo, a Mestra vai—desmoronar.”

Isso precisava ser evitado acima de tudo, mesmo que significasse aceitar dez mil mortes. Em circunstâncias normais, o que deveriam fazer era descobrir o pacto que havia sido trocado e agir para desativá-lo. Mas era evidente que, se tomassem tempo para tais medidas, Shiro seria a primeira a se quebrar. Primeiro selariam suas memórias, depois a acalmariam, rastreariam o culpado e então—juro que cortarei suas cabeças no ato e as reduzirei a pó.

Enquanto Jibril perdia todo traço de seu habitual sorriso ameno e passava a exalar apenas uma malícia penetrante e pesada, Steph, praticamente petrificada, tentou debilmente repreendê-la.

“Ji-Jibril, p-por favor, acalme-se—”

Mas a aura de Jibril não permitia mais discussões.

—Os Dez Pactos proibiam a violência… e daí? Ela poderia apenas rastrear os culpados, desafiá-los a um jogo, forçá-los a conceder permissão para serem mortos e, em seguida, assassiná-los com suas próprias mãos. Depois disso, poderia inclinar a cabeça para qualquer tipo de punição por duvidar de sua mestra.

*Booop*, soou um alerta enquanto um aplicativo era iniciado no tablet nas mãos de Jibril. Shiro, de seu celular, havia iniciado remotamente—um aplicativo de shogi. Um jogo finito, de soma zero, para dois jogadores, com informação perfeita, o tipo de jogo em que Shiro não tinha a menor chance de perder. Portanto—se ela tivesse a intenção de perder, poderia fazê-lo com certeza. Uma voz tênue, quase imperceptível entre os soluços, chegou aos ouvidos de Jibril.

“…A-sche…n…te…”

Com uma reverência profunda, a Flügel respondeu.

“Agradeço-lhe, minha mestra… Aschente.”

******

**Faltam quatro jogadas** —Eu não tenho memória; nem sei quem sou. Meus braços já perderam toda a sensibilidade. Ouço vozes, mas não sei de quem são. Quem no mundo sou eu, e por que estou aqui? Por que estou jogando este jogo? Tudo está nebuloso, mas mesmo assim… Se tudo o mais cair no esquecimento, um princípio fundamental ainda me impulsiona para frente. Eu absolutamente não posso perder. Dada a situação dos meus braços, pego uma peça com a boca. Decifrando os números nas peças com a língua, escolho uma. Não pense no que isso significa. Não importa o que significa. **Nós não perdemos.** Isso mesmo—…não perde.

—Quem não perde? …Não, não pense sobre isso; não importa! No meu ombro—o calor da mão de alguém. Não duvide do pequeno sentimento que resta, que diz que esta é a resposta para tudo. Enquanto minha mente começa a se desfazer, varrendo a loucura—ou talvez me entregando a ela—coloco a peça que está na minha boca no tabuleiro.

******

—Puro e direto shogi. Um jogo que Shiro poderia facilmente transformar em vitória… ou, da mesma forma, em derrota. De fato, era simples. Tudo o que ela precisava fazer era deixar Jibril capturar seu general dourado agora, e tudo acabaria. Isso significaria sua derrota sem cerimônia, e tudo seria selado. Todas as memórias que ela compartilhara com seu irmão. Seu tempo com ele, a primeira pessoa que a fez se sentir viva. Quem disse que ela estava fofa quando vestiu seu uniforme pela primeira vez. Quem a abraçou e chorou com ela depois que voltou para casa da cerimônia de entrada na escola que nunca frequentaria novamente. Aquele que pegou uma garota incapaz de fazer qualquer coisa sozinha e a guiou gentilmente pela mão. Seu irmão… Irmão, que era mais importante para ela do que qualquer pessoa—

Com um único movimento, seria como se seu tempo juntos nunca tivesse acontecido.

—…! As memórias, as palavras de um irmão que talvez fosse uma fabricação, transbordaram em sua mente. Sem nem pensar, Shiro moveu a mão.

Jibril fechou os olhos e sussurrou.

“…Mestra, por que…você precisa vencer?”

Sim—um movimento que prendeu sua oponente de forma tão magistral que não se podia sequer zombar chamando-o de invencível. A voz que respondeu à pergunta de Jibril era fraca demais. Mas, ainda assim, com uma força suficiente para empurrar Jibril e Steph um passo para longe da porta, ressoou:

“…Kuuhaku…não—perde!”

Shiro, arfando no quarto escuro e isolado. Seu rosto manchado de lágrimas enquanto agarrava os cobertores, seus pensamentos fixos em seu irmão. Suas palavras naquele dia em que ela voltou para casa chorando após seu único dia na escola.

—Ei, Shiro. Dizem que as pessoas podem mudar, mas isso é mesmo verdade? Se você desejar com toda sua força ser capaz de voar, você pode criar asas? Acho que não. Talvez o que precise mudar não seja você, mas sua abordagem. Você tem que criar—uma maneira de voar como você é. Você tem que pensar em uma. Aposto que você está se perguntando sobre o que estou falando quando nem eu consigo voar, mas vamos tentar pensar em umas asas que te deixem voar… Vamos levar o tempo que precisar. Sei que sou um irmão imprestável, mas vou tentar te ajudar a pensar em algo, tá bom?

—Se ela esquecesse isso, como poderia viver? Se ela selasse suas memórias de seu irmão—a própria razão pela qual podia viver em primeiro lugar—o que mais restaria? Se essas fossem memórias plantadas, que tipo de partida brutal ela teria aceitado? Porque isso—isso—era demais!

“…Ir-mãooo…nãooo…Eu não quero esquecer o Irmão—eu prefiro morrer!!”

Diante daquela voz que parecia prestes a rasgar a garganta de sua mestra, nem Jibril nem Steph conseguiram fazer nada além de engasgar.

…Uma proposta feita sob a dor de dez mil mortes. Tendo sido rejeitada, agora não havia mais nada que Jibril pudesse dizer. Passando pela derrotada Flügel, cujos olhos agora estavam fixos no chão, Steph abriu a boca relutantemente.

“E-er… Eu-eu não posso dizer que entendo bem a situação, mas…”

Não era a lógica que impulsionava os comentários de Steph. Eram apenas a articulação de seu desejo vago, mas sincero, de consolar Shiro.

“Para você, Shiro… Sora definitivamente existiu, certo? Então, sem ele, você fica assim. Você não tem espaço para dúvida—então, definitivamente.”

—Mas as palavras de Steph…

“Se esse for o caso, então essa pessoa chamada Sora deve ter tido um motivo para criar essa situação, certo?”

—As palavras de Steph despedaçaram suposições e trouxeram um raio de esperança. Contudo, das três ali reunidas, ela era a única que não percebeu. Como se o tempo tivesse parado, tanto Jibril quanto Shiro arregalaram os olhos e congelaram.

“P-porém, não é verdade que essa situação não pode ser explicada por um apagamento de memórias pelos Pactos—”

“Ah, isso… quero dizer, isso não é—veja…”

A próxima sugestão de Steph foi a que tirou o fôlego delas.

“—Poderia ser…que o jogo ainda não terminou?”

Os olhos de Jibril se arregalaram como contas de vidro. Incapaz de compreender o significado por trás do olhar, Steph gaguejou.

“V-você vê—não poderia ser que o que está reescrevendo nossas memórias não sejam os Pactos, mas o próprio jogo? E, se assumirmos que Shiro está certa ao dizer que não são as memórias dela que foram reescritas, mas as nossas… então, bem… isso poderia significar que esse ‘Sora’ obteve nosso consentimento para esse tipo de jogo, e ele ainda não acabou… ou algo assim…”

Enquanto a confiança de Steph falhava e suas palavras se apagavam, Shiro levantou seu rosto molhado.

“—Q-que base você tem…?”

Jibril retorceu as mãos enquanto lutava com essa hipótese, que parecia saltar do nada em um desrespeito absurdo às evidências presentes.

“B-base…? Eu—eu só sinto que está errado.”

Não, Steph não tinha evidências—e era exatamente por isso. Palavras impulsionadas pela emoção, e não pelo intelecto, apenas transbordaram dela.

“Essa pessoa—não poderia, de forma alguma, perder.”

Essa pessoa—uma designação neutra que não especificava nem Shiro nem Sora—fez Jibril fechar a boca.

—A hipótese de Steph estava cheia de falhas. Não estava claro como tal alteração da realidade poderia ser possível sem os Pactos. E que propósito seria servido ao deixar apenas a agente plenipotenciária—Shiro—com memórias dessa pessoa específica enquanto as apagava de todos os outros? Mas, caso a suposição de Steph se mostrasse verdadeira, não havia dúvida de que explicaria várias das questões mais espinhosas que as atormentavam.

—O monarca de Elkia, o monarca da Humanidade, sua própria mestra. Quem derrubou um deus, quem derrubou uma Flügel—quem planejava engolir a União Oriental! Para essa pessoa perder? A própria ideia parecia…errada.

E se a hipótese de Steph estivesse correta e essa situação enigmática não tivesse sido orquestrada pelo inimigo, mas sim fosse um cenário projetado para alcançar a vitória—?

“Nesse caso, há uma maneira de confirmar.”

Jibril assentiu e elaborou:

“É verdade que, mesmo usando os Pactos, seria impossível apagar de todas as memórias e registros do mundo o fato de que um objeto ou indivíduo específico existiu. Contudo, se supusermos—”

As condições exigidas por esse cenário hipotético eram bastante severas. Realizá-lo sem o poder dos Pactos só tornava o mistério ainda mais profundo—e, ainda assim.

“—que uma pessoa chamada Sora era o irmão da Mestra e que ele aceitou uma partida como agente plenipotenciário da Humanidade, então talvez todas as memórias dele possam ter sido apagadas da Humanidade. E de mim mesma—mas, mesmo assim…”

Steph reagiu às palavras de Jibril com um ofego.

“As memórias dele não desapareceriam daqueles que não fossem sua propriedade ou constituintes—então poderíamos perguntar a outra raça!”

“Exatamente. Irei imediatamente à embaixada da União Oriental para confirmar isso—e também…”

Ajoelhando-se diante da porta, abaixando a cabeça:

“…Depois, aceitarei qualquer punição por minha conduta vergonhosa ao presumir que meus mestres haviam sido derrotados—mas, por favor, me deem um pouco de tempo antes disso.”

Jibril se dissolveu no vazio assim que fez essa declaração. Desapareceu, deixando apenas uma leve brisa no espaço ocupado anteriormente pela transmigração da matéria. Steph, deixada sozinha, não sabia o que fazer, mas, por enquanto, chamou pela porta:

“E-er… Sh-Shiro… você está bem?”

…Mas, a essa altura, a mente de Shiro já estava em outro lugar.

—A possibilidade concreta de que seu irmão existisse. Tendo tocado em uma parte disso, seus pensamentos, que estavam congelados, reativaram-se rapidamente. Uma revelação de sua esperança em Sora—seu irmão—e a evidência que transformaria essa esperança em certeza. Descolando seu corpo pesado da cama, levantando-se, ela se moveu até o centro do quarto como se estivesse engatinhando. Seus olhos rubros molhados, sempre meio fechados. Ela os abriu amplamente e examinou o quarto, varrendo o olhar para não perder um único grão de poeira, seus pensamentos acelerando cada vez mais.

(…Se o Irmão, realmente… existiu, então, por que, ele… criou, essa situação?)

Se ela aceitasse a hipótese de Steph, então essa situação fora preparada por seu irmão. Tudo o que ela podia fazer era desvendar por que ele poderia ter feito isso—o que seu irmão estava pensando… mas.

—Os pensamentos de seu irmão, que ofereciam estilos de jogo que zombavam da sabedoria convencional como se fosse a coisa mais natural do mundo. Divinar as maquinações de alguém que ela sentia que nunca alcançaria, nem em uma eternidade?

…Era impossível. Ela não tinha a menor chance. No entanto, seu irmão havia deixado pistas concretas e informações decisivas.

“…Não há, como… o Irmão—perder…”

—Não, “Kuuhaku” não perde. O que significava—que ela havia concordado. Seu irmão acreditava nela, e ela acreditava nele. Ela sabia desde o início que uma situação tão enlouquecedora quanto essa seria o resultado. Por que—ela não percebeu antes? Shiro puxou os cabelos.

(—Sou tão… burra! Sou tão, estúpida!) Como ela poderia olhar seu irmão nos olhos agora, como a irmã de quem ele se orgulhava tanto?

—Apenas porque havia perdido algumas memórias.

“…Como, pude…duvidar—do Irmão?”

Mas agora não era hora; ela se conteve. Esse jogo que seu irmão confiou a ela—ela tinha que terminá-lo.

Shiro forçou seus circuitos de pensamento a obedecerem à sua vontade—que queimassem se fosse necessário. Seu pequeno coração, respondendo ao grito de seu cérebro por mais oxigênio, batia no ritmo mais rápido que podia suportar. Sentindo seu corpo aquecer precipitadamente, Shiro revisou todas as suas memórias. Puxando cada recurso sobre Sora—cada palavra, cada movimento, como um filme mudo. Se o presente em que ela estava afundando existia pelo design de seu irmão, ele teria deixado uma dica. Sua última memória de seu irmão: as palavras surgiram, cujo significado ela não conseguira entender antes.

—*Shiro, nós somos sempre dois em um.*

“…Dois, em um… O Irmão, nunca…me deixaria, sozinha…”

Por que—por que ela acordou no que deveria ser o quarto de Steph agora? Por que ela não pensou nisso? Por que ela não percebeu imediatamente?! Shiro rangeu os dentes. Era exatamente por isso que ela nunca estaria à altura de seu irmão. A resposta era tão simples—Sora, seu irmão—

Irmão—

(…Ele está aqui—ele sempre esteve aqui!)

Os olhos de Shiro—penetrantes, vasculhando o quarto real—não tinham mais lágrimas.

******

**Faltam cinco jogadas** …Eu sou… Sora… Idade… Agora já esqueci. …Minha querida irmã—é Shiro, onze anos, uma beleza com lindos cabelos brancos e olhos vermelhos. Tudo bem; ainda me lembro.

“Shiro, você está aí?”

A sensação de um aceno. Minha consciência e corpo, minhas memórias… estão todas uma confusão agora. Mas ainda consigo perceber que o aceno veio de Shiro.

“—Shiro, você ainda está aí, certo?”

Novamente, a sensação de um aceno. Tudo o que me sustenta agora. Mesmo com a maior parte das minhas memórias perdida, ainda sei disso.

—Que é muito além do que eu imaginei. Perdi a visão há tempos. Não sinto meus membros. Ouço vozes—mas não consigo lembrar de quem são, onde estou. Nunca poderia ter imaginado o quão aterrorizante seria ver tudo desaparecer gradualmente.

“Shiro… acho que está na hora, sabe… então você vai—”

A sensação de um terceiro aceno com o sentimento de uma contenção desesperada. —Eu sei… disse uma vozinha. Para essas palavras, Sora responde com um sorriso torto, como se estivesse implorando:

“Pode fazer um favor pra mim? Minha mão… bem, ela já não sente mais nada… haha.”

Com uma risada generosamente temperada com desespero, ele continua.

“Em qualquer lugar. Só, segure-me em algum lugar que eu possa sentir—para que eu não enlouqueça.”

Seu ombro agarrado firmemente, Sora, ligeiramente aliviado, suspira. Ahh. E coloca a peça que está em sua boca no tabuleiro.

******

O ritmo cardíaco de Shiro, enquanto ela encarava o vazio, subiu ainda mais. —Organize todas as informações. A lembrança de seu irmão: somos dois em um. Então ela também fazia parte do jogo—não, o jogo não tinha acabado—então ela ainda estava no jogo. A convicção de seu irmão: sempre somos vitoriosos antes mesmo de o jogo começar. Então tudo isso estava se desenrolando conforme esperado, exatamente como planejado. A afirmação de seu irmão: nós não somos os protagonistas de um mangá shounen. O protagonista de um mangá shounen—cresce. Se isso fosse um mangá shounen, esse seria o momento de Shiro crescer como pessoa. Ela perceberia que poderia se virar mesmo sem Sora, algo assim—mas seu irmão havia negado isso de forma categórica. A fé de seu irmão: somos vinculados por uma promessa. Os dois… eram dois em um. Dois formavam um produto acabado. (*…Um, produto…acabado—não, precisa…crescer!*)

Embora sua pequena cabeça latejasse e começasse a protestar com dor, Shiro ignorou e se forçou ainda mais: Pense mais, pense mais—! Por que criar essa situação foi necessário? Seu irmão havia dito: Vamos pegar a última peça. Ele havia aceitado uma partida para ganhar uma peça que lhes daria mais vantagem contra a União Oriental no jogo deles—

(*…Então—quem…é o inimigo?*) Sua última memória com seu irmão. Seu irmão, que havia deixado palavras enigmáticas. Naquele momento, ele estava olhando de seu trono para alguém, falando com alguém—Mas, não importava quantas vezes Shiro revisasse sua memória—era invisível. Por que invisível? Por que visível apenas para seu irmão? Alguém usando magia de invisibilidade que—talvez Jibril pudesse—in suas memórias—algo—apenas—então—

(*…Pense mais…pense mais, mais, pense mais!!*)

O pulso de Shiro, seus pensamentos—aceleraram a uma velocidade que, em comparação, fazia os ponteiros do relógio na parede parecerem parados. —Isso nunca seria suficiente para rastrear os pensamentos de seu irmão. As ações de seu irmão sempre tinham duas ou três—às vezes dez ou vinte—

******

**Faltam oito jogadas** Vamos recapitular… Eu sou Sora. Irmão de Shiro, dezoito anos, virgem, socialmente incompetente, viciado em jogos. De outro mundo, espere. Joguei um jogo com um deus, venci e vim para este mundo com Shiro… e—

“Q-quê…o que é isso?!”

Com uma voz aguda—não—quase um grito, Chlammy congela. —Ao mesmo tempo, algo transborda de mim e desaparece.

“O-o que…no mundo…você é?!”

O que ela está me perguntando é exatamente o que ela acabou de gritar *quem é você?* —Certo, vamos repassar mais uma vez. Eu sou… Sora. Irmão de Shiro e………e o quê?

“?!”

Um frio indescritível, uma sensação que ameaça congelar e despedaçar meu corpo inteiro, me domina. Quem sou eu? Onde estou? De onde vim? Onde estive?! Deixando de ser eu mesmo—um medo que não pode ser descrito. Incapaz de suportar, meus dentes batem, tremo, e sei disso por meio de sentidos que não passam de um casulo do que foi tomado. Em algum lugar na minha cabeça, uma voz grita: *Você sabia disso! Está conforme o planejado. Está tudo bem.*

—Esse medo de desaparecer gradualmente estava conforme o planejado? Bobagem! Se planejei esse terror, quem eu achava que era?! Achava que seria capaz de permanecer são através disso—?

“…Irmão…”

Mas. O frio penetrante de zero absoluto. “…Eu estou…aqui…por você.”

Com essas poucas palavras, o gelo derreteu com uma facilidade inacreditável e recuou.

“—Sim… você está, não está?”

Eu sou… Sora. O orgulhoso irmão de minha querida irmã Shiro. Agora estou—jogando um jogo. Perdendo por enquanto, mas no final para vencer. É só isso. Enquanto eu souber disso, isso basta. Não há problema nenhum. Sussurrando isso no meu coração, cerro firmemente os dentes que batiam para calá-los. Para pegar a próxima peça—abro minha boca lentamente.

******

—… “Mestra?!” “Shiro!! Você está bem?!”

Ao som das vozes preocupadas de Jibril e Steph chamando por ela, a consciência de Shiro voltou à superfície. —Aparentemente, ela havia desmaiado. Encontrando-se nos braços de Steph e avaliando a situação—

“…!”

—sem encontrar seu irmão em lugar nenhum, não importava onde fixasse o olhar, quase saltou de si mesma novamente. Mas, de alguma forma, conseguiu se ancorar com seus pensamentos. —Seu irmão estava naquele quarto. O que significava—que não havia mais nada a temer.

“Está, t-tu…do bem…”

Enquanto Shiro, segurando sua cabeça latejante, tentava levantar seu corpo encharcado de suor, Steph a segurou de volta.

“Não está tudo bem! Ficar em silêncio de repente e depois desmaiar assim—você sabe o quanto fiquei preocupada?!”

Notando que os olhos de Steph, enquanto gritava, estavam levemente vermelhos.

“…Des-culpa…”

Shiro murmurou baixinho. Enquanto isso, Jibril, que mantinha uma distância incomum de Shiro, disse como se tivesse tomado uma decisão—

“Mestra, eu tenho algo a dizer. Fui verificar sobre Sora—Mestra…”

Quando Jibril tentou dar seu relatório de confirmação da embaixada da União Oriental—

“…Não, pre-ci-sa…”

Shiro a interrompeu.

“…Irmão…existe…”

“—Sim, como você diz. Por favor, aplique qualquer punição—”

Provocando a embaixada da União Oriental—em Ino Hatsuse—Jibril conseguiu confirmar definitivamente que “Sora” existia. Para ela, que havia duvidado das afirmações de sua senhora e até considerado a derrota de seus mestres—

“…Tudo bem…uma, ordem.”

“Sim, Mestra, diga a palavra.”

Jibril, pronta para cumprir sem hesitação se sua senhora exigisse sua vida ali e naquele momento. Mas a resposta de Shiro foi suave, embora um tanto apressada.

“…Ajude, a…encontrar…o Irmão…”

Jibril recebeu essas palavras como se fossem uma revelação divina. E, como se dissesse, agora está realmente tudo bem, Shiro gentilmente soltou o braço de Steph e se levantou em pés trêmulos. O brilho em seus olhos mais uma vez normal, Shiro lançou seu olhar sobre suas servas e perguntou:

“—Vocês, duas…o que, estavam fazendo…ontem?”

Como se já soubesse as respostas delas de antemão, era mais uma confirmação do que uma pergunta. Olhando uma para a outra, Steph e Jibril responderam.

“Ontem—eu estava ocupada com os protestos, mas no canto do olho, vi você jogando no trono.” “Sim, e eu estava com ela.”

—Mas Shiro declarou com autoridade que isso estava errado.

“…Isso foi…anteontem…dia dezenove…”

Enquanto as duas trocavam olhares, Shiro continuou pressionando.

“…Outra pergunta…onde…vocês estavam…naquela, noite?”

Colocadas diante dessa questão de forma direta, Steph e Jibril vasculharam suas memórias. Mas.

“……”

Elas não conseguiam se lembrar de nada. Observando a expressão de Shiro, que parecia implicar que isso era apenas natural, Jibril inquiriu—

“Mestra, quer dizer que você se lembra da última… não, da noite anterior à última?” “…Não, então…tudo bem.”

—Ela estava confirmando o fato de que as memórias haviam sido apagadas de todas elas. Em outras palavras—

“Então quer dizer—que o jogo ocorreu da noite anterior à última até ontem?”

Impulsionada por seu juramento de ajudar, Jibril girou seu cérebro em velocidade máxima para acompanhar, e Shiro assentiu.

“Com licença, mas o que isso significa?”

Steph parecia confusa, como se não entendesse nada, o que levou Jibril a explicar.

“A Senhorita Shiro tinha memórias que nós não tínhamos, e nós tínhamos memórias que a Senhorita Shiro não tinha. Isso causou confusão—no entanto, se houver memórias que desapareceram de todas nós, isso muda as coisas.”

Steph, ainda mais confusa. Jibril simplificou mais:

“Isso é prova de que todas nós estamos participando do jogo e de que o jogador é o único com influência sobre toda a Humanidade—o agente plenipotenciário.”

—Sim. E agora tudo o que restava—

“…Próximo…Steph…vamos verificar.”

“S-sim, Majestade, por favor, diga sua vontade.”

Shiro a encarando com uma expressão mais séria do que Steph lembrava ter visto antes. Aturdida por uma garota de onze anos, a resposta de Steph foi bastante solene, sua voz tremendo enquanto ela se preparava.

—Demorou alguns segundos para ela entender a situação.

“………C-co-com licença…o que você está fazendo?”

Se Steph não estava entendendo errado ou tendo alucinações, ela estava assistindo Shiro—mantendo o mesmo semblante severo—com suas duas pequenas mãos… aquelas mãos apalpando-a—

“…Estou…apertando…seus, peitos…”

Shiro continuava sem se deter com gestos que caberiam em onomatopeias fofas como: *squish squish, boing boing*.

“—…Ehh, er, como devo reagir a isso?”

Totalmente indiferente à pergunta, Shiro apenas assentiu uma vez, perguntando de forma inquisitiva:

>

“…Isso, não, te excita?”

“Claro que não! Se isso me excitasse, eu estaria desqualificada como humana em tantos níveis!”

Como se tivesse recebido a verificação que precisava, Shiro soltou Steph.

“…Mesmo, que…eu tenha, mandado…você, se apaixonar por mim?”

“Ah…”

…Era verdade. Se Shiro tivesse sido a pessoa pela qual ela fora obrigada pelos Pactos a se apaixonar, Steph deveria sentir algo. Em outras palavras, isso significava que quem a havia obrigado a se apaixonar era Sora… Enquanto Steph finalmente encaixava as peças em sua mente, Jibril interveio de forma apologética.

“Mestra, posso perguntar…não era necessário confirmar isso, certo?”

“…Certo…”

Shiro assentiu de forma indiferente, sem aparente interesse.

“—Perdão?”

“…Já que, eu, já sei…que o Irmão, está aqui…”

“…Então posso perguntar com que propósito você me apalpou?”

Steph parecia arrasada, como se dissesse: *Depois de eu ter me preocupado tanto com você, Shiro—!*

“…Como um agradecimento.”

“Como isso constitui um agradecimento?! O que eu ganho com meus seios sendo—”

Mas o que Shiro disse em seguida interrompeu seu protesto imediatamente.

“…Porque…sem você…eu não teria, percebido—”

Então—justo quando Shiro estava prestes a dizer suas próximas palavras—ocorreu-lhe. Alguma vez já as havia dito para alguém além de seu irmão? Ela ponderou. —Não, foi sua conclusão. Talvez por essa razão, Shiro, de forma desajeitada, inepta, desviou o olhar e corou antes de articular…

“…Obrigada…Steph…”

Suas palavras e a sinceridade em sua expressão deixaram Steph sem fôlego. Embora pelos próximos dias Steph ficasse se debatendo mentalmente sobre se ter seu coração acelerado por uma garota de onze anos era algo anormal, Shiro não notaria o dilema de Steph. Ignorando o conflito interno de Steph, Jibril perguntou calmamente.

“Com isso, Mestra…posso assumir que a situação foi completamente compreendida?”

“…Mm.”

Seu irmão calculou que, ao apostar a Peça da Humanidade, Chlammy—e, por extensão, Elven Gard—viria até ele. Seu irmão, ao convocar Chlammy dessa forma, devia estar tentando conquistá-la para seu lado.

“…Só, uma…coisa a mais.”

Restava apenas uma questão, mas era crucial. Era—o próprio jogo. Mas mesmo para isso, quase todas as respostas já haviam se consolidado nos pensamentos de Shiro.

—Seu irmão sabia que seria desafiado. E que seu oponente seria Chlammy e, por extensão, os Elfos, Elven Gard. Mas considerando que suas memórias estavam sendo reescritas antes mesmo de o pacto ser selado, tinha que haver magia envolvida. Um jogo preparado pelos Elfos?—Não. Enfrentando a Classe Sete, os Elfos, seu irmão tinha que ter antecipado o uso de magia.

“…O Irmão aceitou…com um jogo, feito…pela, Jibril.”

Sem dúvida, ele havia respondido com um jogo com o poder de resistir a trapaças por meio da magia élfica. Havia apenas uma pessoa—entre elas—capaz de fazer isso.

“—Por mim, você diz?”

Sim, a Classe Seis. Jibril, a Flügel, capaz de construir um mundo virtual inteiro.

“…Jibril…você poderia, construir? Um jogo, que apague, memórias…”

Tendo sido questionada, Jibril pensou profundamente. Se sua mestra pedisse agora para construir tal jogo…?

“Eu poderia construir um mundo virtual como o de *Shiritori de Materialização*…mas isso é o mundo real…”

“…E com, os Elfos, juntos?”

“J-juntos—?! Com aqueles rústicos das florestas?!”

Um desânimo genuíno coloriu sua voz. Tal ideia provavelmente nunca havia nem passado por sua imaginação. Mas, com os olhos de Shiro fixos nela, Jibril deu séria consideração ao assunto e concluiu:

“—Dependeria da habilidade do mago élfico… Mas pode ser possível. Em termos de quantidade absoluta de poder disponível, nós, da Classe Seis, somos superiores. No entanto, quando se trata de tecer um rito complexo…a Classe Sete, os Elfos, são melhores do que nós de longe.”

Jibril, de quem raramente se ouvia uma admissão rebaixando sua própria posição. Mas agora, tendo cometido a atrocidade de duvidar de seus mestres… sendo escrutinada pelo olhar de sua mestra…que pretensão poderia sustentar?

“Por exemplo—se eu fornecesse o núcleo do tabuleiro de *Shiritori de Materialização*, e um mago élfico construísse o jogo ao redor dele…então poderia ser possível tecer um feitiço de distorção espaço-temporal dessa escala.”

Mas ainda faltava algo. Ainda havia um componente necessário, deduziu Shiro.

“…Além disso…eles não podem, colocar…trapaças. Você, pode garantir?”

“Sim.”

A preocupação de Shiro foi descartada por Jibril de forma direta.

“Para realizar um rito que induza uma distorção espaço-temporal dessa magnitude, seria necessária uma quantidade de espírito muito além dos limites de qualquer Elfo. No final, seria eu quem lançaria o jogo. Caso houvesse alguma impropriedade no rito, eu detectaria no momento.”

“…Certeza?”

“Sim, se essa série de eventos foi causada por magia, tenho uma noção da quantidade de poder que seria necessária.”

Jibril, olhando ao redor, continuou.

“Falando francamente—é no nível do Golpe Celestial que eu desferi sobre a capital dos Elfos na Grande Guerra.”

Com naturalidade, ela continuou como se estivesse relatando uma trivialidade.

“Lembro-me que, ao lançar um único golpe com a intenção de apagar todo vestígio da cidade da terra, os Elfos tentaram bloqueá-lo com um feitiço que consumiu os nervos conectados ao corredor espiritual de três mil magos élficos e suas vidas para ativá-lo, e ainda assim não conseguiram detê-lo.”

Shiro, decidindo que era inútil se surpreender com qualquer coisa que Jibril dissesse a essa altura, continuou refletindo. Mas Steph, incapaz de conter-se, lançou uma repreensão à arma decisiva diante dela.

“V-você…o que exatamente estava fazendo?!”

“Os Elfos desenvolveram suas artes mágicas desde a guerra, mas a quantidade absoluta que podem manejar não mudou. Se assumirmos que essa distorção espaço-temporal faz parte do jogo, sob a direção de meus mestres, então quem a lançou fui eu. Não poderia possivelmente ignorar uma impropriedade.”

Jibril continuou imperturbável, sua convicção absoluta.

—Em outras palavras, a resposta sempre esteve neste quarto. Em algum lugar neste espaço abarrotado de incontáveis jogos estava a base. O tabuleiro do jogo em andamento. Mas, ao olhar ao redor, nenhum item assim se apresentava. Então—

“…Jibril…neste quarto…deve haver…uma, resposta mágica…”

Seu irmão estava no quarto—mas havia sido tornado imperceptível. Isso podia significar que o próprio tabuleiro do jogo também estava excluído da percepção de Shiro.

“…O dia e meio que perdemos…nossas memórias do jogo…então, também não conseguimos…perceber o jogo…”

Mas mesmo se estivesse excluído da percepção delas, se o jogo ainda estava em andamento, então tinha que haver magia em uso—

“…Deixe-me investigar.”

A Flügel não podia sentir nenhuma magia ali. Mas—relutante em duvidar de sua mestra novamente, Jibril abriu suas asas e seus olhos âmbar.

“Eek—o que…é isso?”

Mesmo Shiro e Steph, que não deveriam ser capazes de detectar magia, quase foram achatadas pela pressão. Jibril havia movido uma quantidade obscena de espíritos—a fonte da magia. Seu halo girava freneticamente sobre sua cabeça, e havia uma ilusão como se o próprio quarto estivesse oscilando—

“—Localizei.”

Essa frase foi suficiente para fazer os rostos de Shiro e Steph relaxarem espontaneamente, mas Jibril apontou para um canto do quarto.

“…Contudo, devo me desculpar. O melhor que consigo fazer é sentir que, ali, há um campo que bloqueia a percepção. Se, como minha mestra infere, isso é um rito élfico usando um núcleo de tabuleiro fornecido por mim, então suspeito que superar essa barreira de percepção—é impossível.”

“…!”

Rangendo os dentes, Shiro gemeu.

—Faltava apenas mais um passo. A resposta estava bem ali diante delas, e ainda assim—

“P-por aqui? Vou ver se consigo encontrar algo.”

Steph caminhou pela área indicada por Jibril, abaixando os olhos para procurar qualquer pista. Enquanto isso, Shiro murmurava para si mesma.

“…Irmão, você é…tão, incrível…”

Shiro sentiu um filete de suor frio ao perceber que, finalmente—havia chegado à intenção de seu irmão.

******

**Antes da primeira jogada** “—Vamos lá, então, vamos revisar as regras do jogo.”

Sora fala para Chlammy, sentada na cadeira do outro lado da mesa. E atrás dele estão Shiro, Steph e Jibril. E, atrás de Chlammy, a garota élfica.

“Dividiremos os conceitos que nos constituem em trinta e duas peças cada—e jogaremos Othello.”

Brincando na mão com uma peça branca de um lado, preta do outro, e com um número gravado, Sora continua.

“As peças têm números gravados; números mais baixos para conceitos mais importantes. Como suas memórias, personalidade, corpo e coisas assim, suponho? Fora isso, é apenas Othello normal. Você vira as peças do oponente—e toma a existência dele.”

O jogo que Sora havia pensado, Jibril havia fornecido a fonte de poder, e a garota élfica havia tecido. Embora Sora explicasse as regras de forma casual, elas estavam longe de ser ordinárias, e todos engoliram seco com a tensão.

“Além disso, a importância é julgada pela magia do jogo com base na importância inconsciente. O que significa que você não pode dizer a si mesmo quais peças regem o quê.”

Sora parecia bastante animado, mas—

“…Você não sabe o que vai perder dependendo de quais peças forem tomadas—isso é emocionante, não é?”

Para Sora, com a loucura transparecendo nos olhos, Chlammy responde com olhos calmos e frios.

“Eu quero expor sua verdadeira identidade e apoiadores. Você quer expor os meus…”

“—Mas para que tudo volte ao normal depois que o jogo acabar… seria entediante, não seria?”

Sim, isso é magia. Mas, mesmo com o enorme poder fornecido por Jibril, não é possível tornar os resultados permanentes. Lendo o desejo interior de Chlammy de apagar completamente a existência de Sora, ele sorri.

“Para tornar os resultados permanentes após o jogo—há duas coisas que apostaremos.”

Levantando um dedo, Sora começou.

“Uma é a configuração permanente dos resultados do jogo—ou seja, a eliminação, troca e retenção dos traços da existência um do outro que transferimos. E, além disso, teremos outro pedido.”

Antecipando sua intenção, Chlammy continua.

“…E esse é o seu verdadeiro pedido, suponho?” “Sem dúvida. Sem isso, mesmo que você consiga apagar minha existência, não poderia fazer nada sobre Shiro.”

Isso é, afinal, o objetivo de Chlammy enquanto ela visa usurpar o papel de agente plenipotenciário da Humanidade, ele insinua.

“Da mesma forma, eu não seria capaz de tomar sua Elfa. Segue-se que nossa segunda exigência—”

“—é tomar a parceira um do outro, entendi.”

Em outras palavras, se Chlammy vencer, ela ficará com Shiro, sem suas memórias de Sora—a agente plenipotenciária da Humanidade. E, se Sora vencer, ele ganhará a maior maga de Elven Gard.

“Mas, sabe, ainda vamos dizer que você pode mudar seu pedido depois de vencer.”

Ao ouvir isso, Chlammy sorriu com superioridade.

“…Você acha que terei piedade de você e permitirei que você exista?” “Ha-ha, essa foi boa; claro que não.”

Sora, sorrindo de volta e descartando a ideia, olha nos olhos de Chlammy.

“Se eu desaparecer, mesmo que você vincule Shiro pelos Pactos, ela provavelmente não será útil. E posso presumir o mesmo sobre a sua. Então a retenção pode não bastar—talvez precisemos de um pacto de suicídio ou mudança de personalidade, sabe?”

Um tremor percorre a espinha de todos presentes, exceto Shiro e Sora.

“Então, para resumir—vamos tomar um do outro, apostando a existência um do outro e o direito de destruir nossos parceiros.”

Sim—é um jogo de tudo ou nada, incluindo até mesmo seus parceiros. Isso é insano—será que só Steph pensa assim? Shiro, que fazia parte da aposta, talvez nem considere o cenário de derrota de seu irmão. Ou talvez tenha sido completamente informada sobre a estratégia dele e a compreenda—de qualquer forma, seus olhos estão semicerrados como de costume.

“Até o movimento final que torne alguém incapaz de continuar, até que a existência de um seja tomada por completo—por essas regras, agora—todos se prepararam para começar o jogo?”

Diante de Sora, brincando e olhando ao redor, seus olhares convergem. Sora, que pensou e estruturou este jogo de sanidade duvidosa. Diante desse homem, de alguma forma mantendo a compostura, Chlammy pensa. Sim, este—é um jogo que Sora idealizou. As regras parecem justas à primeira vista—e é exatamente por isso que Chlammy tem que suspeitar delas. Pois, em um jogo em que foi desafiado, ele tinha que configurar as coisas de forma favorável a ele. Em algum lugar, há uma brecha, ou então—Chlammy desvia o olhar para a garota que é sua parceira. Mas a garota apenas balança a cabeça negativamente. —Não dá para ler nada. Não dá para entender o significado. Mas ela disse que não havia truque no jogo. A garota élfica que teceu o rito do jogo disse que não poderia construir um truque no jogo. Mas, por outro lado, era inconcebível que Jibril tivesse construído um truque.

“—…Muito bem.”

Então sua única escolha é expor a verdadeira intenção dele dentro do jogo. Qualquer que seja a intenção de Sora, isso não importa, pois do lado dela está o poder dos Elfos, ela decide. Shiro, Steph, Jibril e Sora. E Chlammy e a garota élfica levantam levemente as mãos—e falam.

“—*Aschente*!.”

******

Shiro segurava uma peça branca de um lado, preta do outro, com [III] gravado. Fitando o vazio—não, um tabuleiro que estava ali, mas que simplesmente não podia ser visto. Este devia ser o jogo de Othello no qual a existência e as memórias de cada um eram divididas em trinta e duas peças, e as peças eram tomadas umas das outras. As peças que restaram tinham números pequenos—o que provavelmente significava que eram importantes. Que eram peças que poderiam terminar o jogo com um único movimento caso fossem tomadas e, por isso, tinham sido deixadas. Mas quem havia estabelecido essas regras—era o desafiado, ou seja, seu irmão. O que significava que havia um propósito em jogar este jogo, e até mesmo em desaparecer. Então isso devia ser—Shiro fechou os olhos e pensou.

—Era intrigante por que seu irmão a havia deixado sozinha. Contudo, uma vez que a resposta apareceu, estava clara como o dia. O primeiro motivo era muito simples. A intenção dele de dar a ela suas memórias intencionalmente enquanto levava uma surra temporária.

(*…Eu, nunca conseguiria…fazer isso.*) Imaginando isso, Shiro riu tristemente para si mesma e chegou a essa conclusão. Se ela tentasse fazer o que seu irmão tinha feito… não conseguia imaginar manter a sanidade. Apenas perceber que ele não estava mais ao seu lado já fora suficiente para, por um momento, fazê-la duvidar da existência de seu irmão.

—Ser esquecida seria uma coisa. —Mas esquecer ele—ela tinha certeza de que nunca permaneceria sã. Shiro encarou o tabuleiro invisível, o tabuleiro que ela nem sequer podia perceber pelo toque. De fato, ela não conseguia ver o tabuleiro. Contudo—seu irmão odiava a luz do sol. Ele nunca sentaria perto da janela. Seu irmão, quando dormiam—mesmo quando sentavam juntos—escolhia o lado que colocava Shiro junto à parede. Seu irmão entendia que espaços abertos faziam ela se sentir solitária e sempre a protegia do espaço vazio. Ela não conseguia ver o tabuleiro. Mas todas as suas memórias de seu irmão, suas peculiaridades, seus gestos, sua gentileza. Revelavam a localização da cadeira em que ele sentava, até mesmo o lugar que ele dava a ela, como se ela pudesse vê-lo.

(*…Irmão…está…aqui…*) No vazio, mas com certeza, ela sentia onde seu irmão estava. Sentindo as bordas de seus olhos ficarem quentes, ainda assim Shiro se conteve e continuou pensando.

(*…E, este…é o segundo…e o…maior…motivo!*) Shiro pegou a peça marcada com [III], virou o lado branco para cima e a segurou entre os dedos. Não havia espaço para dúvida. Se seu irmão era branco ou preto. Se ele havia deixado os movimentos finais para Shiro—isso já respondia. O jogo que ela ainda não conseguia ver, nem sequer perceber. O estado do tabuleiro que ela não lembrava nem mesmo no início. Muito menos no meio da partida. Os movimentos que seu irmão havia feito para perder intencionalmente e depois deixar que Shiro vencesse. Os movimentos que levaram o oponente direto para sua armadilha, que seu irmão havia guiado o oponente a fazer. E todas as posições que seu irmão havia tomado para ela virar o jogo.

Ela leu todos—e viraria o jogo em apenas três movimentos. Isso…somente Shiro poderia fazer! Com convicção, Shiro abaixou sua mão—*click*, um som inaudível atingiu os ouvidos das três. No momento seguinte.

“Uh—agh—!” “Ah—…o-que é isso!”

Shiro, Jibril e Steph seguraram suas cabeças devido à dor que as atacou. Como se em resposta ao movimento que Shiro acabara de fazer, um ruído passou por suas mentes. O tabuleiro de Othello que não haviam conseguido perceber apareceu e, *flip, flip*, o tabuleiro preto virou branco. E—as memórias perdidas de um dia e meio—irromperam de volta—

******

**Dia 19: Durante o dia** Era, sem sombra de dúvida, a sala do trono onde ela estava jogando com seu irmão. “Oh, finalmente chegaram. Vocês já ouviram falar de pontualidade?” Para onde o olhar de Sora se dirigia, havia duas garotas. A garota de cabelo preto e véu negro, Chlammy. E, aparentemente sem nem tentar esconder as longas orelhas élficas que espiavam por seu cabelo, uma garota élfica. “…Você fala como se soubesse que viríamos—então, naturalmente…” Para Chlammy, Sora respondeu com um sorriso. “Sim, sei por que vocês estão aqui. Estou pronto a qualquer momento, é claro.” “Então, rápido. É imperativo que você desapareça antes que a Peça da Humanidade seja entregue.”

“Shiro, ouça com atenção.” “…Mnn?” “Eu acredito em você.”

**Dia 19: Ao entardecer** “—Então essa é a ideia, mas, Jibril, você consegue fazer isso?” Para essas especificações de jogo que dificilmente poderiam ser produto de uma mente sã, Jibril ainda assim confessou: “—Lamento sinceramente, mas está além das minhas capacidades. Remodelar um jogo tão drasticamente—” “Eu não disse que você precisa fazer isso sozinha. Você e aquela elfa que Chlammy trouxe fazem isso juntas, certo?”

Para a garota élfica, que nunca se voluntariava para dizer seu nome, Sora se virou. “…Criar um feitiço com uma Flügel, juntas? Senhor, receio que devo recusar.” “Que coincidência rara. Eu também mal posso ser pressionada a aceitar.” Para as duas, faíscas voando entre seus olhares, Sora insistiu desinteressadamente. “Oh, sim, então eu não vou jogar. Vocês podem arrumar as coisas e ir para casa, certo?” Enquanto Sora as dispensava friamente, ainda assim Chlammy disse à garota élfica. “…Achei que você disse que iria me ajudar.” “Bem, claro, mas trabalhar com essa diaba… nghh… Está bem, tudo bem.”

“…Irmão.” Tendo ouvido as regras especificadas por Sora, Shiro olhou para ele preocupada. “Shiro, nós somos sempre dois em um.”

**Dia 19: À noite** Com o “núcleo” do tabuleiro de *Shiritori de Materialização* de Jibril em suas mãos, a garota élfica murmurou: “Por que usar espíritos de maneira tão explosiva que poderia destruir os próprios corredores espirituais, isso é simplesmente loucura.” “Minhas desculpas. Parece que, ao apenas colher do fluxo que alimenta os circuitos espirituais, criei a falsa impressão de uma bomba para aqueles que apenas têm orelhas compridas. No futuro, pensarei em anexar uma nota que diga: ‘NÃO É PARA IDIOTAS.’” “Vocês… Sério, existe alguém com quem consigam se dar bem?” “Mas, tipo, havia uma Flügel, durante a Guerra, e quando penso em quantos de nós foram sacrificados com aquele único golpe… Sempre agindo tão superior, e depois é um Golpe Celestial, por quê, é tão infantil.” “Se vocês apenas tivessem ficado no seu lugar e se abstido de lançar um feitiço antiaéreo no céu, eu nem teria notado vocês, então devo dizer que tiveram o que mereceram. Vocês me fizeram cair e bater a cabeça. Quem pode me culpar por me empolgar e massacrá-los a todos?” “Olha, tanto faz, só calem a boca e construam isso, as duas! O dia vai mudar!!”

**Dia 20: Durante o dia** “…Agora, o dia mudou, se vocês observarem.” Sora, estreitando os olhos friamente para Jibril. E Chlammy, da mesma forma, estreitou os olhos para suas parceiras. “E-eu peço desculpas profundamente. Esta orelhuda continuava levando o circuito à beira do descontrole, entende.” “E-e toda vez que você tentava impedir o descontrole à força, eu tinha que recompilar o rito do zero, sabia?” Com um profundo suspiro, Sora, com o rosto apoiado na mão, murmurou. “Tá, tanto faz, hum—Então, vamos revisar as regras mais uma vez?”

“…Irmão.” “Shiro, seu irmão agradece por você se preocupar com ele, mas relaxe. Você sabe, não sabe? ‘Shiro, nós somos vinculados por uma promessa. Shiro, nós sempre somos vitoriosos antes mesmo de o jogo começar. —Vamos pegar a última peça que precisamos para engolir a União Oriental.’”

“…Mm!”

Com Shiro assentindo firmemente, Sora acariciou sua cabeça e disse: “Venha, que o jogo comece!”

**Dia 20: À noite…** “……”

Shiro apertava o ombro de Sora com sua mão direita com força. Sua mão esquerda, ainda mais pressionada, cravava as unhas, arrancando sangue. Diante de seus olhos, a memória de seu irmão, seus braços, suas pernas, seus sentidos sendo tomados—tudo que ela podia fazer era assistir. —Isso era acreditar em seu irmão. Retribuir as palavras dele quando disse que acreditava nela. Por enquanto, ela só podia suportar. Sua expressão era tal que até mesmo Steph hesitava em interromper o jogo, mas, talvez incapaz de continuar assistindo, Steph cobriu o rosto com as mãos e gemeu como se estivesse prestes a chorar. E Jibril, da mesma forma, já não conseguia dizer nada diante da determinação de seus dois mestres. Apenas observava cada movimento com os olhos arregalados.

“—Vamos lá, está quase no fim.” Chlammy disse isso com uma peça na mão. Ela mesma mal poderia ser chamada de intacta. Todos ali haviam perdido algumas memórias, e ela sabia que uma boa parte das suas também fora tomada. Mas o tabuleiro estava claramente dominado pelo preto—por Chlammy, de forma esmagadora.

“…Você realmente tem um conjunto interessante de memórias. Mas, como sempre, não consigo captar sua intenção.” Apesar de já ter tomado quase todas as memórias de Sora, ela ainda não conseguia compreender seu verdadeiro objetivo. Estremecendo com as memórias de Sora—com os flashbacks que vinham à tona—Chlammy comentou.

“Você só tem três peças restantes. Que suas memórias de seu objetivo real estivessem entre os conceitos principais que constituem você, devo admitir, é impressionante…mas o que você pretende fazer—com isso?”

*Snap.* Chlammy jogou sua peça. “Eu acho que isso basta.”

Como se em resposta às palavras dela, Sora desapareceu diante dos olhos de todos. E os três que, até agora, estavam assistindo ao jogo com emoções escancaradas. Agora, como bonecos, com olhos desprovidos de luz ou consciência. Cambalearam, como se não pudessem ver Chlammy ou mesmo o jogo, para fora da sala. Os participantes deviam ter perdido memórias que incluíam o fato de que o jogo havia acontecido. E Shiro, sozinha, foi direto para a cama e começou a respirar em um sono tranquilo.

“…Agora ninguém jogará por ele. Sora se foi. Não pode continuar—suponho que venci.” Até o fim, ela foi incapaz de entender a verdadeira intenção de Sora. Ele havia despejado nela inúmeras memórias desagradáveis, mas o que—

“Chlammy…tem algo errado.”

O tabuleiro deveria declarar a vitória. —Mas não havia sinal de que o jogo tinha terminado.

“O que é isso? Você disse que não havia truques!” “C-certo, eu disse! Por que, eu fui quem teceu o rito?” “Então como você explica isso—quer dizer que eles ainda podem continuar?!”

Diante dos olhos de Chlammy, as três peças restantes de Sora. As peças mais importantes que o constituíam, rotuladas como (I), (II) e (III).

“—Espere. Se a existência dele já desapareceu, então o que são essas três peças?” Poderia ser—será que, até mesmo sua própria existência. Não era tão importante para ele quanto sua estratégia para vencer o jogo? Isso era absurdo—mas, se fosse verdade, explicaria por que ela não conseguiu tomar aquela memória—

“Chlammy, o que você vai fazer?” “O que eu posso fazer?!”

Se alguém fosse capaz de forçar o fim desse jogo, só poderia ser aquela Flügel.

“O que há para fazer além de esperar aqui com nossas memórias dilaceradas—e assistir!” Como se estivesse raivosa contra o tabuleiro de jogo que aparentemente ainda não havia julgado sua incapacidade de continuar, Chlammy lamentou:

“…O que é isso? O que ele fez, aquele homem—?!” O homem que acabara de perder sem cerimônia e desaparecer. No entanto, suas memórias, quase inteiramente tomadas por Chlammy, no vazio, mostravam. Ele sorrindo com vitória, em sua imaginação—e ela não conseguia evitar que suas pernas tremessem.

……Sim, Sora de fato havia incorporado um “truque.” Assim como Chlammy suspeitara, este jogo foi feito desde o início para favorecer Sora. Mas—sua metodologia…não podia ser compreendida por ninguém. Nem mesmo por quem havia criado o jogo, usando magia élfica—era capaz de revelá-la. Pois esse truque era uma trapaça que funcionava sem infringir as regras.

—Porque, neste jogo, a importância das peças era determinada como um reflexo do inconsciente. E, sob circunstâncias normais, os conceitos mais significativos que constituem alguém eram desconhecidos por qualquer pessoa.

—Sim.

******

“…Exceto, pelo Irmão…e por mim.”

Shiro sorriu levemente e encarou o tabuleiro que agora se revelava. Então era isso—o verdadeiro truque que seu irmão havia plantado.

“Agora me lembro. Mesmo admitindo que as regras do jogo determinassem isso, esquecer meu mestre…”

Mesmo admitindo que fosse inevitável pelo design do jogo ao qual ela havia consentido, Jibril abaixou a cabeça, lamentando sua inutilidade por duvidar de seu senhor e tentar apagar sua existência.

“M-mas por que Sora desapareceu? Foi intencional, não foi?!”

Steph, também tendo recuperado a maior parte de suas memórias perdidas, levantou a voz. Mas, mesmo assim, nem mesmo Shiro tinha qualquer memória que sugerisse o verdadeiro propósito de Sora. —Não, provavelmente ela nunca tivera tal memória desde o início. Seu irmão devia não ter contado seu verdadeiro objetivo, pensou Shiro. Porque, se essa memória fosse tomada, todo o plano seria arruinado. Mas isso não importava—porque agora Shiro sabia.

—Othello era um jogo finito, de soma zero, com dois jogadores e informação perfeita. Seus padrões eram mais simples do que os de shogi ou xadrez, e a jogabilidade perfeita já havia sido claramente estabelecida. Para vencer pelos métodos normais, tudo o que Sora tinha que fazer era deixar Shiro jogar por ele. Provavelmente, o motivo de ele não ter feito isso, mas escolhido Othello, era para facilitar a leitura de Shiro.

…Então, do vazio, algo colocou uma peça preta de forma independente. Hesitante, vacilante… Sim—como Sora havia especificado, neste jogo, você não podia passar. A substituta—Shiro—havia jogado uma única jogada. Uma jogada que bloqueava completamente Chlammy, sem brechas, que Sora havia preparado. Isso significava que Chlammy teria que colocar uma peça importante em vão—era natural que ela hesitasse.

Admirada pela estratégia de seu irmão, Shiro tomou a peça rotulada como (II) em suas mãos. Agora ela sabia. O conceito regido pela peça que segurava, e o verdadeiro propósito de seu irmão. —Portanto, sentindo até mesmo simpatia por sua oponente, ela disse:

“…Ninguém, poderia…ler algo…assim…Irmão…você é incrível.”

Shiro então sorriu e fez sua segunda jogada. As peças que viraram dessa vez transformaram quase todo o tabuleiro em branco. Indistintamente, Chlammy e a garota élfica—e. A figura do irmão começou a reaparecer para Jibril e Steph, que arregalaram os olhos. Enquanto isso, Shiro lutava contra as lágrimas que ameaçavam escorrer de seus próprios olhos. O jogo criado por seu irmão, que havia desaparecido de seu telefone, das memórias da Humanidade e de Jibril. Desse jogo, podia-se ler o significado das três peças que restavam. Elas eram:

[III] — Como vencer o jogo [II] — Sua confiança absoluta em Shiro E [I] —

“…Tudo, de mim, de Shiro… eu mesma…”

Essas eram as identidades dos elementos que constituíam Sora como pessoa, mais essencialmente do que sua própria existência. Como ela podia ter tanta certeza? A resposta era simples. Porque, se os papéis fossem invertidos—Shiro sabia que os seus seriam os mesmos. Sem seu irmão, ela não seria Shiro. Que as coisas em risco—o próprio irmão, a possibilidade de derrota—seriam mais importantes do que ela mesma—era evidente. Sora, entendendo isso, sabia desde o início que desapareceria e que Shiro assumiria para virar o jogo—com um truque como esse, mesmo se alguém o percebesse, o que poderia fazer? No tabuleiro que se tornava branco, trêmula, hesitante…uma peça preta foi colocada.

“…Vamos, Irmão…” E, como se fosse o que ela estava esperando: “…Volte—!”

Diante dos olhos de Shiro, uma vez que ela bateu a peça rotulada com (I) no tabuleiro, Sora reapareceu claramente. —Com uma margem de vitória de apenas quatro peças, o tabuleiro emanou uma voz que declarou: “Vencedor: Sora.” Com o vencedor anunciado, Shiro saltou ao mesmo tempo. A primeira coisa que Sora disse foi:

“Tá bom, Shiro, agora você pode me bater. Estou prepar—” Mas Shiro, sem hesitar, enterrando o rosto no peito de Sora, foi mais rápida. Com o rosto escondido no peito de seu irmão, deixando grandes lágrimas escorrerem, ela apenas disse:

“…Desculpa…me desculpa…Eu deveria ter—percebido…!”

Jibril e Steph, incapazes de acompanhar a situação, só podiam olhar. Mas uma voz veio de uma direção inesperada.

“Chlammy! Por favor, Chlammy! Você não me ouve?!”

Virando os olhos em direção à voz, o que viram. A garota élfica chamando Chlammy repetidamente, sua expressão desesperada, e… Steph, involuntariamente, cobriu a boca e engasgou. Diante do que era uma casca—não, para todos os olhos normais, o cadáver de Chlammy, mole na cadeira.

…Steph ainda não sabia como Sora havia vencido. Mas, o fim que Sora teria encontrado se tivesse perdido nesse jogo que ele mesmo propôs. Com apenas um movimento errado… ela visualizou o destino de Sora, e suas pernas tremeram. O que quer que Chlammy tivesse perdido—ou talvez tendo perdido tudo exceto o corpo. Agora, a entidade, a personalidade conhecida como Chlammy—não existia mais.

(Q-q-que tipo de pessoa poderia jogar este jogo aceitando tamanhos sacrifícios?!)

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—Preenchida por um temor diante desse jogo que ultrapassava em muito sua compreensão, Steph olhou para Sora. O jogo cujos resultados atrozes ela nem mesmo poderia ter imaginado antes de vê-los. Diante de tais resultados, Shiro continuava a chorar enquanto Sora, puxando-a para perto, abriu a boca com secura.

“—Então, parece que vencemos. Hora do meu primeiro pedido, né?”

Ao ouvir suas palavras, a garota élfica implorou quase gritando: “Espe—Eu faço qualquer coisa! Não deixe a Chlammy—por favor, qualquer coisa menos isso!!”

Mas Sora olhou de volta com olhos que perderam toda temperatura. “…Se eu tivesse perdido e a Shiro tivesse feito o mesmo pedido, vocês teriam aceitado?”

Sim—este era um jogo sob consentimento mútuo por Aschente. Assim como Sora disse, na mesma posição, ela dificilmente teria olhado duas vezes… mas—

“E-eu sei que não tenho direito de pedir uma coisa dessas! M-mas foi você quem especificou que as exigências poderiam ser alteradas! V-você pode fazer o que quiser comigo—só não…não abandone a Chlammy—!”

Sora respondeu com o sorriso sádico de um demônio, como se estivesse descendo o machado do carrasco: “Nnnããão! Vou fazer vocês cumprirem meus pedidos exatamente como planejei. Então, lá vai—”

“Nãoooooooo!!!”

“Pedido Um: Todas as memórias que tomamos uns dos outros permanecerão—e tudo o que tomamos será devolvido.”

“—Hã…?”

Com essa declaração, todos fizeram o mesmo som juntos.

“—Guh!—Hh…hh…”

Ao mesmo tempo, Chlammy despertou como se tivesse acabado de lembrar de respirar. Mas, mesmo após acordar, continuava encarando o vazio. A garota correu até ela.

“Chlammy! Chlammy, você está bem?! Você sabe quem é?!”

Diante da voz desesperada da garota, Chlammy ainda permanecia vazia, com os olhos sem vida. Então, sendo sacudida fisicamente várias vezes, eventualmente mostrou sinais de que a consciência estava voltando.

“Sim…Certamente, estou bem…Ou melhor…”

—Chlammy segurou os ombros trêmulos e olhou para Sora como se visse um pesadelo.

“Eu estava apenas atordoada, incapaz de compreender por que aquele homem—Sora—está bem.”

—Num instante, com a execução do pacto, o tabuleiro de jogo criado por Jibril e pela garota élfica fez um *boom*. Diante disso, quem suou mais frio, inesperadamente—foi Sora.

“O-oho… mesmo com o núcleo da Jibril, acho que esse pedido foi no limite…”

—Um pacto teoricamente impossível não poderia ser cumprido. Parecia que executar o pedido de Sora forçava os limites da capacidade mágica do tabuleiro. Vendo Sora assim, Jibril aproximou-se calmamente.

“…Mestre. Da próxima vez, permita-me, como sua serva, a indulgência de impedir que participe de um jogo como este.”

“Negado. Pensando nos caras que vamos enfrentar no futuro, devemos nos sentir felizes de passar apenas por essas loucuras.”

Ainda assim—disse Sora, acariciando a cabeça de Shiro enquanto ela enterrava o rosto em seu peito e chorava. “Certo, vou ser um pouco mais cuidadoso da próxima vez. Honestamente—foi além do que eu imaginei.”

“—Foi além do que você imaginou? Essa é minha fala.”

Chlammy, tendo as memórias de Sora gravadas nela, ainda mal podia acreditar. Meros humanos realmente superaram um deus e derrubaram uma Flügel—mas pior do que isso foi o que veio antes. Ao tocar no passado de Sora e Shiro, ela tinha que dizer. As muitas memórias que ela tomou de Sora, fixadas nela pelo pacto. Torcendo o rosto de medo a cada flashback, Chlammy gritou:

“Como—depois de passar por tudo isso, você conseguiu manter sua sanidade?”

O que provocou esse grito de Chlammy? Se até mesmo a psique de Sora durante o jogo foi tomada no final, ela deve ter visto. Poderia ser isso, ou talvez—algo que nem mesmo Shiro sabia. Mas o único que teria ideia sobre tudo isso, Sora, perguntou a todos como se estivesse surpreso:

“Hã? Eu pareço alguém que manteve a sanidade?”

—Não. Todos ali balançaram a cabeça. Um relacionamento de confiança mútua que ultrapassava os limites normais?—Não. Colocar outra pessoa no topo da lista de elementos que constituem a si mesmo não é chamado de confiança. Nesse ponto, era uma condição para existir. Esses dois, sem metáfora ou hipérbole, eram realmente—dois em um. Distorcidos. Quebrados. Mas, quando juntos, encaixavam-se como se tivessem sido projetados para formar um todo completo. Isso desafiava a compreensão. Mas, tendo tocado no passado de Sora, Chlammy agora sabia. Agora ela entendia. Destino—essas memórias eram pesadas demais para uma palavra tão simples, e ainda assim nenhuma outra surgia. Para esses dois—se não tivessem se encontrado—

“…Agora, Pedido Número Dois.” De fato, das exigências proporcionadas pelo pacto—restava uma. A garota élfica se preparou, mas Chlammy, tendo entendido a intenção de Sora, a conteve. “Está tudo bem.”

“Elfa ali—‘Fiel.’ Eu recebo o direito de alterar uma de suas memórias. Nestes dias em que você resolve as coisas não com os punhos, mas com jogos, você entende, né, Chlammy?” Chlammy suspirou e assentiu. “…Sim, eu entendo o que você quer dizer—você quer que sejamos agentes duplos, correto?”

Sora sorriu diante da surpresa de todos ao seu redor. Chlammy falou, contrariada. “Você assumiu que, entregando suas memórias para mim, poderia me trazer para o seu lado sem usar os Pactos; como você é ingênuo.” Mas seu rosto era como o de uma criança fascinada por um quebra-cabeça intrigante, e ela sorriu. “—Tudo bem. Vou participar; este seu plano é bem interessante.”

Ao vê-la, Fiel compreendeu a situação. A intenção de Sora—compartilhar todas as suas memórias, espiar as memórias de Chlammy e fixá-las. Sem qualquer força vinculante dos Pactos, deixar apenas uma—para alterar a memória dela no momento certo… Considerando a partida contra a União Oriental—e, além disso, tudo o que viria a seguir—Chegando à conclusão, a garota élfica só pôde dizer isto:

“Entendo… Bem, serei honesta—vocês nos derrotaram completamente.”

Jibril e Steph apenas olhavam em branco, como sempre. Apenas Shiro compreendeu o significado dessas palavras e arregalou os olhos, murmurando. “…Irmão…você é incrível…”

“Eu sei, né? Você pode elogiar seu irmão legal mais um pouco, sabia.” Com o rosto ainda enterrado confortavelmente no peito de Sora, aumentando a força de suas mãos que o abraçavam, Shiro respondeu à provocação de Sora. “…Mm… Meu…irmão…legal…”

“Mmnph—Quando você diz isso sem sarcasmo, faz seu irmão ficar envergonhado…ufa.”

Com a tensão do momento dissipada, Sora desabou no chão, vencido pela exaustão feroz, com Shiro ainda agarrada a ele. Parando Steph e Jibril com a mão enquanto elas corriam preocupadas, Sora falou.

“—Shiro…posso dizer agora, né?” “…Mm, a postos…pronta, quando você estiver.”

E Chlammy também, segurando a mão da garota élfica—Fiel. “Desculpa, Fi…mas você se importa se eu também…?” “Ah, oh, claro, diga o que quiser!”

Sora, Shiro e Chlammy respiraram fundo juntos. “Ahhhhhhh, isso foi tão assustadorrr, eu nunca mais vou fazer uma coisa dessas de novoooo! Desculpa, Shirooo!” “Mm-mmghhh…H-hic…Hmghh…” “Waaaaaaaaaaaaaaaah! Eu não acredito neste homem! O que há de erradooo com ele?!”

Ignorando os companheiros atônitos, os três derramaram todos os sentimentos guardados como crianças, e continuaram chorando e chorando até adormecerem de puro cansaço—

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