Volume 2 - Capítulo 6
No Game No Life
…Já fazia uma semana desde a incursão deles na embaixada da União Oriental e a declaração de hostilidades.
O rumor de que Sora havia apostado o *Race Piece* começou em algum lugar e se espalhou de uma vez. Considerando que Sora derrotara um espião Élfico no torneio para decidir o monarca e, depois, até mesmo vencera um Flügel, uma noção estava ganhando força—*“E se o próprio Sora for um espião estrangeiro?”* Os nobres, que já tinham suas desavenças com Sora, inflamaram a situação, e protestos começaram a surgir. O Castelo Real de Elkia foi cercado por multidões, e dia após dia palavras de abuso caíam como chuva.
—E assim, com passos cansados, Steph apareceu na sala do trono e murmurou:
“Sora…eu não consigo mais controlar isso…”
As dúvidas sobre Sora haviam se espalhado até mesmo entre os ministros. Alguns deles estavam participando dos protestos.
“Até os nobres que estavam do seu lado disseram que não podem mais defendê-lo… E agora os ministros estão em greve, deixando Elkia em um estado de anarquia de fato…”
Ainda que Steph parecesse tão desconfiada de Sora quanto os outros, ela aparentemente havia feito de tudo para tentar manter as coisas sob controle. Como se sem opções, ela caiu no chão ao terminar seu relatório.
“Bom trabalho, Steph. Mas tudo será resolvido assim que terminarmos nosso jogo com a União Oriental.”
Como de costume, sentado no trono e jogando com Shiro, Sora elogiou os esforços de Steph, mas, ao mesmo tempo, deu um sorriso amargo.
“Estão dizendo que somos espiões estrangeiros? Meio tarde, né. Deviam ter pensado nisso quando derrotamos o espião dos Elfos.”
—De fato. Diante de Sora, que ria de seu próprio povo, Steph não conseguia afastar sua desconfiança, afinal.
“…O que você está planejando fazer? Eles estão até fazendo uma manifestação lá fora.”
“Tanto faz; deixem que façam o que quiserem.”
Neste mundo, não fazia diferença se eles organizassem uma manifestação. Se tivessem um problema com a decisão de Sora—a única opção seria tomar para si a autoridade do agente plenipotenciário.
—Mas ninguém apareceu para desafiá-los. Em outras palavras, essa era toda a coragem que tinham.
“…Então, posso perguntar o que você tem feito nessa última semana?”
Sua pergunta era metade irônica e metade buscando genuinamente uma explicação. Mas a resposta que veio foi breve.
“Esperando.”
Isso era tudo.
“…Esperando a União Oriental responder que aceita, quer dizer?”
“Mmm, não, ainda não estou pronto pra isso; quero que esperem um pouco mais.”
Com essa resposta enigmática, Sora continuou.
“Tem mais uma ‘peça’ que quero antes disso—nossa, o que tá demorando tanto…”
Enquanto Sora resmungava contra algum destinatário desconhecido, Jibril, que aguardava ao lado, reagiu.
“—Mestre, isto…”
Mas, antes que Jibril pudesse terminar, Sora a interrompeu com a mão e falou.
“Ah, finalmente você chegou. Já ouviu falar em pontualidade?”
—Todos seguiram a linha de visão de Sora. Mas, no final dela, não havia ninguém. Talvez Jibril apenas tivesse sentido a presença de algo. Ainda assim, para a entidade invisível para Steph—e até para Shiro—Sora falou.
“Sim, eu sei por que você está aqui. Estou pronto a qualquer momento, claro.”
—Com isso, ele pegou Shiro de seu colo e a colocou no chão. Então se levantou e olhou ao redor.
…Encara, audaciosamente, Shiro, Steph, Jibril, e aquela entidade visível apenas para ele, Sora, após uma longa exalação, disse para Shiro:
“Shiro, escute bem.”
“…Mnn?”
“Eu acredito em você.”
“…Eu acredito em você também.”
Enquanto Shiro respondia sem hesitação, ele apenas devolveu um sorriso.
“Shiro, somos sempre dois em um.”
“Shiro, somos unidos por uma promessa.”
“Shiro, não somos os protagonistas de um mangá shounen.”
“Shiro, sempre vencemos antes do jogo começar.”
Com Sora pronunciando calmamente essas declarações de significado obscuro.
De alguma forma—
“…Irmão…?”
Sentindo um incômodo crescente, Shiro chamou seu irmão com inquietação. Sora, irradiando confiança, acariciou a cabeça dela e disse:
“—Vamos pegar a última peça de que precisamos para engolir a União Oriental.”
E então—encarando aquilo, ele sorriu e falou.
“—Venha, vamos começar o jogo?”
…— ……
******
O sol deslizou pela janela e tocou suas pálpebras.
“…Mmm…nngh…”
Mas, sua consciência resistindo ao despertar em favor de cochilar um pouco mais, Shiro apenas se virou na cama, fiel ao seu desejo de continuar dormindo. Segurando o braço de seu irmão como de costume—mas. Sua mão, tateando ao redor enquanto seus olhos permaneciam fechados, agitava-se em vão, sem encontrar aquilo que deveria estar ali.
“…Ngh?”
Talvez—ela tivesse caído da cama de novo. Mas, através da mente turva pelo sono, lembrou-se de que não estava mais dormindo na cama do quarto real. Relutantemente, abriu os olhos aturdidos para procurar seu irmão e agarrá-lo, mas—. A pessoa—que deveria estar sempre ali—…
……
O Reino de Elkia: a capital, Elkia. Nesta cidade, agora o último bastião de Immanity após perder território em uma tentativa fracassada após outra de domínio. Em um corredor do Castelo Real, uma garota caminhava cambaleante. Stephanie Dola. Uma jovem nobre de cabelos vermelhos e olhos azuis da mais alta linhagem, neta do rei anterior.
—No entanto, o cansaço profundo indicado pelas olheiras sob seus olhos e seus passos pesados roubavam da jovem dama sua natural elegância. Segurando cartas de baralho com um sorriso inquietante, cambaleando em direção ao quarto do rei, ela mais parecia…um fantasma.
“Heh, heh-heh-heh… Hoje é o dia em que você recebe o que merece.”
Enquanto o sol recém-nascido ameaçava colher sua consciência pós-virada de noite, Stephanie—também conhecida como Steph—riu de forma nervosa.
“—Shiro, você está acordada, não está?! Já é de manhã!”
*Bam, bam.* Com as mãos ocupadas segurando as cartas, Steph chutou a porta, chamando a rainha de maneira rude pelo primeiro nome. Mas… talvez a porta não estivesse bem fechada. Pois seu golpe foi suficiente para abri-la suavemente—
“E-er… Você está acordada…?”
—e Steph espiou o quarto real, mas o que viu—
“Irmão… Irmão, onde você está…? Eu…desculpa…foi minha culpa… Eu…não vou cair da cama…de novo… então, por favor, volte…eugh…”
—foi Shiro, encolhida com os joelhos contra o peito, apenas tremendo e chorando grandes lágrimas.
“—O-O que—o que houve, Shiro?!”
Steph, que momentos antes estava convencida de que Shiro receberia o que merecia, ficou tão chocada com a cena que deixou cair as cartas no chão e correu até Shiro.
“O que aconteceu? Você está doente?!”
Mas, como se nem mesmo ouvisse Steph, Shiro apenas continuava chorando e murmurando:
“Irmão… Irmão… Volte… Não me deixe…soziinha…”
Steph, genuinamente aflita com as palavras de Shiro, disse:
“E-er… De quem você está falando quando diz ‘Irmão’? Eu só preciso trazê-lo para você, certo?”
Então. As palavras de Steph finalmente alcançaram os ouvidos de Shiro. O que era aquilo—que Steph estava dizendo? Shiro só tinha um irmão. Shiro pegou seu celular e abriu a lista de contatos—mas.
“…Não pode ser…”
—Isso não podia ser verdade. Só havia um número registrado no celular de Shiro: o de seu irmão. Ainda assim. Por que—. Por que seu celular mostrava—*0 Contatos*?
“…Isso é impossível… Não pode ser… não pode ser, não pode ser…”
Vendo o sangue sumir da pele já pálida de Shiro, Steph sentiu algo de imensa importância e falou desesperadamente com ela.
“Sh-Shiro, por favor, você está bem?! Diga o que está acontecendo!!”
Mas Shiro parecia já nem mesmo perceber que Steph estava ali. Enquanto passava freneticamente pelos registros de e-mails, contas de jogos, endereços, abriu a pasta de imagens, explorando os subdiretórios—nada.
—Não havia traço algum de seu irmão.
“…Não pode ser… Isso…não é possível…”
Em pânico, Shiro verificou a data no celular.
—Dia 21. Seu irmão estava jogando com ela no trono—no dia 19. Shiro instantaneamente voltou por sua memória fotográfica, através de todos os consoles portáteis, tablets e telas de celulares que tinha visto, e verificou que mostravam o dia 19. Sim, definitivamente era o dia 19. Mas então deveria ser dia 20.
—Então, o que ela havia feito ontem?
—…Nada. Ela não tinha memória—nenhuma. A memória de Shiro, capaz de ler livros que ela havia lido cinco anos atrás de trás para frente apenas com base em sua mente, tinha um buraco completo, como se ela tivesse dormido um dia inteiro.
—Seu irmão não estava ao seu lado. Ele não estava na lista de contatos do celular dela. Ele não aparecia em e-mails, registros, logs ou qualquer coisa.
—Seu irmão não podia ser demonstrado como existente de forma alguma. Tendo montado o cenário com as peças disponíveis, Shiro conseguiu pensar em apenas três possibilidades.
**Possibilidade 1:** Alguma força desconhecida havia apagado a existência de seu irmão deste mundo.
**Possibilidade 2:** Ela finalmente havia perdido o juízo.
**Possibilidade 3:** Ela já tinha perdido o juízo—e estava apenas agora recuperando a sanidade.
Mas, independentemente de qual dessas possibilidades fosse a correta, nenhuma, para Shiro, era uma resposta suficiente para impedir que a escuridão consumisse sua visão. Com uma voz trêmula, com dificuldade, ela abriu a boca.
—Para dizer o que ainda não havia dito, já que podia adivinhar a resposta, mas de forma alguma queria ouvi-la. Com o último resquício de sua esperança—ela disse o nome dele para Steph.
“…Ste-ph… Onde está o Irmão… Onde está o Sora…?”
Mas a resposta que então recebeu foi, como temia.
—A resposta que ela desesperadamente não queria ouvir.
“…Sora? Esse é o nome de alguém, certo? Quem é ele?”
—Ah.
Por favor. Que isso seja apenas um terrível, horrível pesadelo. Que eu acorde e encontre meu irmão dormindo ali como sempre. Que ele apenas diga—“Bom dia.” Era tudo o que ela desejava enquanto se entregava à escuridão que consumia sua consciência.
—Shiro soltou o fio de sua consciência.
**TO BE CONTINUED**
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