Volume 2 - Capítulo 5
No Game No Life
A embaixada — não, o que antes fora o castelo de Elkia, agora o “Empire State Building”. Enquanto olhava para cima, Shiro fez um comentário.
“…Meu pescoço dói.”
“Caramba, por que isso precisa ser tão grande...? Espera, Immanity não tem tecnologia de construção assim, tem?”
Enquanto Sora reclamava, segurando o pescoço, Jibril respondeu com indiferença.
“Isso é óbvio. A União Oriental remodelou o prédio inúmeras vezes depois de tomá-lo.”
Hmm… Sora respondeu: “…Bem, eu já estava desconfiado… mas, é, acho que vamos ter que invadir essa belezinha.”
“…? Do que você está falando? — E, espera —”
Steph, com um tom de irritação, apontou para o chão.
“Posso finalmente perguntar o que estamos fazendo aqui?”
— Da mesma forma, Shiro e Jibril, que também haviam sido trazidas até ali sem nenhuma explicação, olharam para Sora como se concordassem com as palavras de Steph.
“Calma, calma, eu só vim para admirar as belas ‘garotas animais.’”
Sora desviou da pergunta e marchou adiante.
“E-ei, espera um minuto, isso pode estar dentro das fronteiras de Elkia, mas é uma embaixada, sabia?!” protestou Steph.
“Eu sei. E era o nosso castelo.”
“Ngh, não, eu-quero dizer—i-isso é uma violação de soberania!”
“Quem disse algo sobre violar a soberania de alguém? Nós temos um compromisso.”
“O quê? Isso é—”
Impossível, Steph estava prestes a dizer antes de ser interrompida.
“Certo, vovô?”
Logo que Sora disse isso…
…A porta do prédio gigante se abriu, revelando uma figura.
“—Bem-vindos, Rei Sora e Rainha Shiro de Elkia.”
Um homem de cabelos grisalhos, orelhas de lobo, cauda espessa e usando *hakama* desceu os degraus da entrada, que tinham altura equivalente a quatro pessoas, e fez uma reverência profunda.
“É um prazer conhecê-los. Sou o vice-embaixador da União Oriental em Elkia — meu nome é Ino Hatsuse.”
Assim falou respeitosamente o velho — Ino Hatsuse.
“Uhh, o quê? C-como vocês entraram em contato?!”
Sora não sabia por que Steph estava tão animada com aquilo, mas respondeu:
“Bem, sabe, hoje de manhã, esse cara estava me olhando enquanto eu estava na varanda da biblioteca.”
— Hã?
“Então, sinalizei, ‘Vou passar aí daqui a pouco,’ e o vovô assentiu. Viu? Nós temos um compromisso.”
“…Hmm, não, isso não faz sentido,” protestou Steph.
“E-ei, espera um minuto. São trinta quilômetros daqui até aquela biblioteca!”
“Você está certa. Fiquei realmente surpreso ao ver o quão bons os olhos dos Werebeasts são.”
— Não. Esse não era o ponto. Se estivéssemos falando dos Werebeasts, tudo bem. Mas a questão era: como Sora viu aquilo? Mas sem responder a essa questão em absoluto, Ino respondeu calmamente, como se os detalhes já fossem conhecidos.
“Tenho entendido que vocês têm negócios com a embaixadora da União Oriental em Elkia — Izuna Hatsuse.”
Assim — Ino antecipou seus negócios. Seus olhos semicerrados, os olhos leitores de mentes dos Werebeasts, encararam a todos.
A respiração de Steph foi roubada por um momento. Aqueles olhos eram — sim, como os de Sora, não, até mais. Olhos que pareciam enxergar tudo, que pareciam vasculhar a mente dela —
“Fico feliz por irmos direto ao ponto. Então, vamos logo; nos mostre o caminho.”
Mas, de Sora, que ficou ali como se não fosse nem um pouco afetado por aqueles olhos, encarando-os de frente, o que foi que Ino percebeu?
“—Por aqui, por favor.”
Foi tudo o que ele fez ao convidá-los para entrar.
******
Entrando, passando pelo saguão e embarcando no elevador. Entre os botões que iam até o 80º andar, ele apertou o 60º, e o elevador começou a subir.
“Uh?! O-o quê é isso? O chão está se mexendo?!”
Ignorando a perplexa Steph, Ino comentou:
“Ainda assim, devo dizer que apreciaríamos se, da próxima vez, vocês fizessem sua visita de acordo com os procedimentos oficiais.”
Às palavras dele, que insinuavam *e não uma dessas artimanhas*, foi Steph, surpreendentemente, quem reagiu.
“Falar é fácil. A União Oriental alguma vez respondeu aos procedimentos oficiais?!”
Como se genuinamente surpreso com as palavras sarcásticas de Steph, Ino a encarou nos olhos e respondeu:
“—O quê, vocês realmente enviaram…?”
Vendo que Ino parecia ler os pensamentos de Steph e confirmar a verdade surpreendente, Steph estremeceu por um momento diante daqueles olhos que sondavam sua alma, mas manteve-se firme.
“C-claro que enviamos! Desde o reinado do meu avô, enviamos inúmeras cartas sobre comércio e diplomacia, e nunca recebemos uma resposta sequer. Como ousa fingir ignorância?!”
“…Peço desculpas profundamente. Da próxima vez, por favor, encaminhe suas consultas diretamente para mim, Ino Hatsuse.”
Com isso, Ino suspirou e levou a mão à testa.
“Como vocês sabem, desde aquele incidente, há muitos entre nós que guardam uma hostilidade excessiva em relação a Elkia… Desde o último jogo com o rei anterior, não ouvi falar de uma carta sequer…”
“O quê—! Isso é menti—”
“Suspeito que suas cartas tenham sido descartadas entre os escalões mais baixos. Não há desculpa para isso; identificarei aqueles que ordenaram e realizaram essa grave descortesia e garantirei que sejam severamente punidos. Imploro pelo seu perdão.”
As palavras finais de Ino, cortando o protesto de Steph, a silenciaram, trazendo ao seu rosto uma mistura de raiva e vergonha.
—Parecia que ele realmente não sabia.
“Que ‘grande país’; mas suponho que não se pode esperar muito mais dos Werebeasts.”
Com a provocação sarcástica de Jibril, o olhar de Ino se estreitou sutilmente.
“Espera aí, Steph, o que é ‘aquele incidente’?”
Sora parecia supor que, como as cartas não estavam chegando, nenhum compromisso poderia ser agendado.
“…Envolve a reconstrução depois que nosso castelo foi tomado.”
Suspirando com um ar dolorido, Steph explicou:
“Elkia construiu um novo castelo com o argumento de que ter uma embaixada mais grandiosa que o nosso próprio castelo afetaria nossa dignidade como nação.”
“Hmm, o castelo que temos agora, certo?”
“Em resposta, a União Oriental realizou uma grande remodelação e, depois, outra, como se quisessem esfregar isso na nossa cara… Elkia não é páreo para a União Oriental quando se trata de tecnologia de construção, então, bem, você sabe, as coisas aconteceram.”
“Ah, sim, odeio esses eventos; eles realmente me irritam…” murmurou Sora.
Com isso, Jibril aproveitou para mais uma provocação. “É ainda mais irritante devido à tendência dos Werebeasts, no Rank Quatorze, de menosprezarem desproporcionalmente os Immanity, no Rank Dezesseis.—Creio lembrar-me de uma certa frase que li em um dos livros do meu mestre.”
Com um sorriso reconhecível, Jibril disse:
“—‘O sujo falando do mal lavado.’”
Hah-hah-hah, Ino riu, e respondeu:
“Quão apropriado; não poderia concordar mais. E, ser lembrado disso pelo Rank Seis, como dói.”
Mas, continuou Ino:
“Nesse caso, suponho que as suas velharias flutuando no céu sob uma pilha de livros constituem o ‘sujo’, presumo?”
“Hee-hee; não há necessidade de se esforçar tanto; sinta-se à vontade para falar o que realmente pensa,” respondeu Jibril, sem que nenhum dos dois perdesse o sorriso.
“Ou seja, em rank, expectativa de vida, habilidades físicas, conhecimento, sabedoria… em tudo somos inferiores a vocês, ó Flügel, mas como criaturas miseráveis e inadequadas rastejando pela terra, permitam-nos o luxo de menosprezar uma das poucas formas de vida que podemos encontrar abaixo de nós!”
“Hah-hah-hah, eu não esperava ouvir uma perspectiva tão nova senão de um produto defeituoso como você, que viaja em companhia desses macacos sem pelo.”
“Ora, sim, para vira-latas de mente fechada como você, deve ser mesmo algo surpreendente!”
“Hah-hah-hah!”
“Tee-hee-hee!”
“…Ei, Steph.”
“…Não que eu não consiga adivinhar, mas o que foi?”
“Sou só eu, ou tem tensão demais neste mundo? E, por ‘macacos sem pelo’, ele quis dizer a gente?”
“Em um mundo que lutou por quase uma eternidade, quando você proíbe o combate de uma hora para outra, algumas mágoas precisam ficar…”
Sem mencionar o fato de que—
“…Eles são as duas raças mais sanguinárias entre todos os Ixseeds.”
Quanto à segunda pergunta—Steph balançou a cabeça, indicando que uma resposta não era necessária.
“Hee-hee-hee, imagino que seus filhos possam dormir mais tranquilos agora que a violência é proibida.”
“Hah-hah-hah, talvez sim, ao contrário de alguns, cujas únicas habilidades eram matar e que agora estão aposentados.”
…… .
Os dois irmãos, Sora e Shiro, pensaram a mesma coisa: Não é à toa que a violência foi proibida neste mundo.
******
Escapando do ar quase eletrizante do elevador, no sexagésimo andar onde chegaram, Steph já parecia exausta. Assim que foram conduzidos a um espaço que sugeria ser uma sala de recepção, ela se jogou em uma cadeira imediatamente.
“T-tão cansativo…”
Embora Sora simpatizasse totalmente, ele apenas olhou ao redor.
“…Com sua licença, irei chamar Izuna Hatsuse e volto em breve.”
Após observar Ino fazer uma reverência e sair de vista, Sora começou a analisar o ambiente, e Steph seguiu seu exemplo, olhando ao redor da sala.
“…Mas, é preciso dizer, é magnífico. A diferença entre nossas civilizações é dolorosamente óbvia,” disse ela.
Uma sala feita de mármore e outros materiais raros, visivelmente preciosos à primeira vista. Dentro do sofá de couro, até mesmo molas estavam embutidas. Mas essas coisas não eram o que Sora estava procurando.
“A propósito, Mestre, como entrou em contato com os Werebeasts?”
“…Jibril, percebeu que ninguém perguntou isso? Pegue a dica.”
“Peço desculpas; ao contrário dos Werebeasts que leem mentes, não pude evitar a curiosidade.”
Sora sabia que Jibril, diante do desconhecido, era como um cavalo diante de uma cenoura pendurada.
“……Shh.”
Sora, colocando o dedo indicador nos lábios, sacou o celular. Um vídeo que aparentemente havia gravado usando zoom óptico e um aplicativo de ampliação para capturar na maior aproximação possível. Nele, era visível apenas um contorno que lembrava o de um velho.
—Ou seja, Sora na verdade não tinha visto Ino de verdade. Simplesmente aconteceu de uma figura, que parecia estar olhando para ele, aparecer na lente. Ele só havia gesticulado assumindo que a pessoa provavelmente o vira. Em resumo — foi apenas um blefe.
A intriga de Jibril era evidente. Contudo—(Que propósito teria um blefe contra Werebeasts, que podem ler pensamentos?) ela parecia refletir. Também não parecia que Ino sabia que as cartas não estavam chegando… Enquanto Jibril ponderava—
“…Irmão, olhe.”
“Sim, eu vi.”
Outra questão foi lançada sobre ela.
“…Mestre, você sabe o que é isso?”
Jibril apontava para aquilo—. Uma TV. Sim, era exatamente o que Sora estava procurando. A forma era significativamente diferente do que Sora conhecia, mas não havia como negar — era uma TV.
“—Hmm, agora tenho certeza…”
“Certeza de quê?”
Mas ele respondeu com um sorriso malicioso.
“Te conto depois. Os Werebeasts têm bons ouvidos. Tenho certeza de que já estão escutando — não é, vovô?”
“—Peço desculpas pela espera.”
Ino, abrindo a porta, voltou.
“Esta é a embaixadora da União Oriental em Elkia — Izuna Hatsuse.”
Com essa apresentação, o que passou pela porta…
…tinha olhos negros, cabelo preto em corte bob, uma cauda e longas orelhas de animal, grandes como as de uma raposa fennec, junto com trajes tradicionais ao estilo japonês amarrados na cintura com um grande laço — e, de qualquer ângulo que se olhasse, sua idade não parecia sair dos dígitos únicos.
“Fo—”
Embora Steph quase esquecesse sua posição e dissesse *fofa*, antes que pudesse terminar as palavras…
“King Crimson!”
“Ee-hee-hee, linda garotinha com orelhas de animal, por que não vem brincar com o mano aqui? Não sou nem um pouco suspeito…”
“…Boing, boing… fofinho, fofinho… macio, macio… hee-hee-hee-hee-hee…”
—Quando eles se moveram? Nem mesmo os olhos de Jibril conseguiram acompanhar, mas Sora e Shiro já estavam bem próximos, acariciando a cabeça e a cauda da garota com precisão. Para os dois, a jovem Werebeast—Izuna—respondeu com uma voz fofa e inocente:
“Quem disse que vocês, babacas, podem me tocar, por favor.”
…—.
“—Hã?”
“…Menos cinquenta… pontos de fofura.”
Os irmãos murmuraram suas reações e deram um grande passo para trás. Mas—
“Quem disse que vocês podiam parar, por favor.”
“Ah… hã, o quê?”
“Continuem logo com isso, por favor.”
Izuna estava como um gato que queria ser acariciado, apertando os olhos e esticando o pescoço.
“Uhh, ah, tudo bem?”
“Idiota, claro que está tudo bem, por favor. Vocês já me tocaram sem nenhum aviso, por favor.”
Apesar do tom e da expressão dela não combinarem, de alguma forma Sora pareceu captar o sentido.
“…Ah. Só pra constar, colocar ‘por favor’ no final de qualquer frase não faz com que seja educado, por favor!”
“…?! Não faz, por favor?!”
Agora que pensavam nisso. Neste mundo, você não podia fazer nada a alguém sem o consentimento dela. Então, se puderam acariciar Izuna, era porque ela havia permitido.
“Por favor, não deem atenção à minha neta. Ela está em Elkia há apenas um ano e ainda não domina bem o idioma de Immanity—e, além disso.”
Com isso, Ino mudou rapidamente sua expressão.
“Seus malditos macacos sem pelo! Só porque me dei ao trabalho de abaixar a cabeça pra esses seus traseiros magrelos, não se atrevam a ficar convencidos, seus pirralhos de merda, quem vocês pensam que são pra colocar essas mãos imundas na minha adorável netinha? Vocês estão mortos—”
—E, logo em seguida, restaurou seu sorriso polido.
“—Esse é um exemplo do tipo de conversa que devo alertá-los a evitar.”
Sora respondeu com os olhos semicerrados e um comentário suave:
“—Vovô, isso não tem nada a ver com o idioma de Immanity e tudo a ver com você.”
“Receio que seu significado me escape, senhor.”
Na sombra de Sora, Shiro falou, encarando Ino:
“…Odeio esse velho chato… Menos mil pontos.”
E, enquanto Izuna demonstrava querer mais carinho, Shiro a acariciou e murmurou:
“…Mas a Iz-zy… tão fofa com essa boca suja… mais dez pontos.”
Enquanto Shiro a acariciava e a deixava mais fofa, Ino, visivelmente suprimindo a raiva, falou calmamente:
“—Izuna. Se você não gostar, pode dizer a eles.”
>“Eu gosto muito, por favor. É bom, então continuem, seus idiotas, por favor.”
“Ah, então eu também.”
*Fluff fluff fluff fluff…*
“Vocês são bem competentes para uns malditos macacos sem pelo, por favor. Continuem mais, por favor.”
Enquanto Izuna, tão inexpressiva quanto um gato, fechava os olhos enquanto falava, Sora comentou:
“Nesse caso, pode parar de nos chamar de macacos sem pelo?”
“Por que diabos eu faria isso, por favor?”
“Porque ficaríamos mais felizes se você nos chamasse pelos nossos nomes. Eu sou Sora. Esta é minha irmã, Shiro. Prazer em conhecê-la.”
“…Prazer em conhecê-la…”
“Entendido, por favor. Prazer em conhecê-los, por favor. Sora, Shiro.”
*Fluff fluff fluff…*
“—Argh, você não deixa seu vovô te tocar, mas deixa os macacos sem pelo, Izuna?!”
“Vovô… você é péssimo; suas garras machucam, por favor.”
Sora riu de Ino, que parecia deprimido com a resposta instantânea de Izuna.
“Heh-heh-heh… Minha irmã é uma mestre em *Nintendogs*, e eu sou um mestre nos jogos eróticos baseados em toque. Para nós, ajustar o toque com precisão baseado nas reações dela é uma trivialidade. É bom respeitar a coordenação mão-olho de um gamer, velhote.”
“…Não que… tenhamos…experiência…com o mundo real.”
“Por que tem que estragar tudo desse jeito, hein?!”
******
Sentados no sofá, Izuna, olhando para o teto com uma expressão de êxtase, e Ino, visivelmente tenso. Do outro lado da mesa, Sora e Shiro, formando um quarteto, sentados frente a frente.
“Bem, então, posso perguntar por que vocês, macacos desgraçados, estão aqui?”
“Você pode ler meus pensamentos, não pode? Por que eu precisaria dizer alguma coisa?”
“Isto é um local de diplomacia, um lugar onde as palavras são trocadas oralmente ou por escrito; ou será que isso é muito complicado para um macaco entender?”
“…Só porque somos melhores com sua neta do que você, velhote, não precisa ficar tão irritado. Nossa.”
Enquanto o sorriso de Ino começava a se desfazer, Jibril interveio, radiante:
“Mestre, a inadequação é uma parte central da alma dos Werebeasts, tão frágil quanto vidro. Talvez devesse evitar provocá-lo desnecessariamente. É realmente lamentável.”
Ino, com o sorriso à beira de se quebrar, pareceu decidir que deveria simplesmente esquecer tudo e expulsar aqueles malditos dali. Mas, ao encarar os olhos de Sora—
—Um calafrio inesperado percorreu sua espinha.
O que estava ali já não era o palhaço despreocupado de momentos atrás. O que se via era um homem cheio de confiança, beirando a arrogância, uma mente envolvida em cálculos absurdos, e, sem dúvida — o rei de uma raça.
“Minha exigência é simples, Ino Hatsuse.”
Com isso, Sora exibiu um sorriso atrevido e então falou com seriedade:
“Me dê a calcinha da sua neta. Eu dou a da Steph.”
“—Com licença?!”
“Ei, seu macaco desgraçado, tem uma linha que você definitivamente não quer cruzar!”
Steph, subitamente jogada na confusão, e Ino gritaram ao mesmo tempo. Mas, como se estivesse surpreso, Sora respondeu:
“O quê, você não quer a da Steph? Prefere a da Jibril?”
“Não tenho objeções, se for uma ordem do meu mestre.”
Assim que Sora falou, Jibril começou a abaixar sua calcinha. Ino levou a mão ao rosto, tentando conter alguma coisa, e falou com a voz forçada:
“Ei, macaco. Se você só veio aqui pra ser um idiota, caia fora—”
“O quê, você não pode pegar a da Shiro; desejar a calcinha de uma garota de onze anos? Algo de errado com você, vovô. Ou—v-você queria a minha?! Uhh, espera, isso é… Quero dizer, sou um cara tolerante, mas isso me dá um pouco de nojo…”
Enquanto Ino finalmente começava a perder o controle, Sora continuava:
“Vamos lá, vovô, tem certeza? Estou dizendo que faria um acordo só pela calcinha da Izuna!”
“Escuta aqui, seu filho da mãe—se você não vai dizer o que realmente veio fazer, então vá—”
Enquanto Ino segurava a testa como se estivesse com dor de cabeça, Sora, como um jogador que acabara de fazer o lance do século, exibiu um sorriso irônico.
“—Vovô, odeio dizer isso, mas sabemos que você está fingindo ler mentes.”
Bip. De Ino veio uma reação quase imperceptível ao olho humano, mas mais do que suficiente para Sora.
“Se você não vai dizer o que realmente veio fazer… Huh. Isso foi bom; faz parecer que você está lendo minha mente. Mas, se pudesse realmente ler minha mente, teria aceitado um jogo pelas calcinhas. Porque não seria realmente sobre as calcinhas; seria sobre o efeito colateral, ou seja—
“Você jamais ignoraria a importância de apagar minhas memórias que contêm tudo sobre os jogos da União Oriental.”
Diante das palavras de Sora e de seu sorriso insinuante—
“……”
—Ino não teve outra resposta além de permanecer inexpressivo. Afinal—sim, as pupilas de Sora, seu batimento cardíaco, até o som do fluxo de sangue. Cada pequeno detalhe indicava que o homem ali falava com absoluta convicção.
“Então, agora que isso está confirmado, devo atender ao seu pedido e dizer o que realmente vim fazer?”
Sora cruzou as pernas e ajustou sua postura.
“Em nome dos agentes plenipotenciários do reino de Elkia, a última nação do Rank Dezesseis, Immanity: Sora e Shiro.”
Segurando a mão de Shiro e erguendo-a como se em juramento, Sora.
“Sua nobre nação, a União Oriental, do Rank Quatorze, os Werebeasts, foi escolhida como o primeiro sacrifício em nosso caminho para uma gloriosa conquista global, e por isso celebramos. Agora, em uma batalha de nações, exigimos—”
Com um sorriso de hostilidade descarada, ele declarou transcendentalmente:
“—tudo o que vocês, filhos da mãe, têm no continente.”
—Com essas palavras, os olhos de todos, exceto os de Sora e Shiro, se arregalaram. Até mesmo Ino, e até Izuna, que até então estava no mundo da lua, mudaram suas expressões. Era simplesmente—uma exigência insana demais.
“Ah, e o que estamos apostando ainda são as calcinhas da Steph, só para constar.”
“C-c-com licença?!”
“Uma pena você não ter aceitado a aposta pelas calcinhas da Izzy enquanto teve chance, vovô.”
As apostas eram todo o território da União Oriental no continente—e as calcinhas de Stephanie Dola? Até Jibril começou a questionar a sanidade mental de Sora. Mas ele continuava com confiança inabalável.
“Desculpe, vovô—é cheque.”
Enquanto todos ficavam perplexos com o significado das palavras dele, talvez a mais corajosa, ou obedecendo à sua curiosidade, Jibril perguntou:
“M-Mestre, hum, o que você quer dizer?”
“Hã? Ainda não entendeu?”
“…Ah…” disse Shiro, saindo de um pensamento profundo.
“Essa é a minha Shiro; você entendeu, né? Pois é—isso significa que a União Oriental está encurralada.”
Mas, como ninguém além de Sora e Shiro parecia entender o significado de suas palavras, Sora falou de forma displicente.
“Hmm, tudo bem, vou explicar para vocês, incluindo este vovô que se diz leitor de mentes.
“A União Oriental, há meio século, desenvolveu rapidamente um alto nível de tecnologia… Mas ser uma civilização avançada pode ser complicado.”
Afundando no sofá — um confortável e macio sofá — Sora continuou.
“A TV nesta sala, o elevador lá atrás, este sofá… toda essa tecnologia moderna não seria possível sem recursos continentais. Eles são a linha de vida deles, sem dúvida. Mas a União Oriental começou como uma nação insular. Eles precisavam arranjar recursos continentais de qualquer maneira—mas, antes disso, Elven Gard os desafiou.”
“Que enrascada! O único truque que eles tinham era aceitar desafios, mas, se derrotassem o maior país do mundo, ninguém mais se atreveria a desafiar o misterioso jogo invencível deles, e eles não conseguiriam o continente. Mas também não podiam perder—por quê?”
Com um sorriso largo, Sora levantou um dedo.
“Vamos desvendar o enigma passo a passo. Pergunta um: Por que eles precisavam apagar as memórias de um jogo invencível?”
Shiro respondeu a pergunta.
“…Porque…se não apagassem…ele não seria invencível…mais.”
Por que a União Oriental incorporaria uma exigência que contradizia sua estratégia de aceitar desafios? Devia ser porque, apesar das desvantagens, eles tinham que fazê-lo. Se perdessem intencionalmente para Elven Gard, o jogo seria revelado—e deixaria de ser invencível.
“Mas ainda assim há uma falha.”
Apagar todas as memórias do jogo certamente parecia a melhor maneira de torná-lo impossível de se contra-atacar. E ainda assim…
“Mesmo apagando as memórias—não dá pra apagar o resultado de que eles perderam.”
Jibril engasgou, enquanto Ino permanecia inexpressivo.
“Agora vamos para a próxima. Pergunta dois: Por que Elven Gard tentou quatro vezes?”
“…Depois de perder…eles tentaram desmontar…o jogo invencível…pelos resultados?”
De fato—diferente de Elkia, Elven Gard era um país vasto. Suportar algumas perdas para exploração era uma questão insignificante para eles.
“Depois de perder uma vez, Elven Gard deve ter suspeitado que era um jogo onde não se podia usar magia. Para os Elfos perderem, sabe, essa é praticamente a primeira coisa que se pensaria.”
Erguendo um dedo, Sora continuou.
“Sem saber ainda qual era o jogo, com as memórias apagadas—mas sabendo que devia ser um jogo que anulava magia—da segunda vez, eles chamaram alguém de fora para lançar magia enquanto jogavam. Mas perderam de novo. E então, da terceira vez, provavelmente descobriram a natureza do jogo.”
*Cara, se ao menos eu pudesse usar algum truque oficial absurdo como magia*, comentou Sora.
“E então, na tão esperada quarta vez—perderam de novo. Acertei, vovô?”
“……Você certamente tem uma imaginação impressionante.”
Ino respondeu como se o palpite de Sora não passasse disso. Mas pensar que poderia vencer Sora em uma batalha de blefes—esse foi seu maior erro. Captando o leve vacilo na expressão de Ino, Sora sorriu e ergueu dois dedos.
“Mas isso levanta duas questões. Primeiro, por que Elven Gard perdeu? E, depois, esta é a grande pergunta—por que eles não tentaram de novo?”
—De fato. A questão não era por que eles tentaram, mas por que pararam de tentar. Essa era uma informação grande demais para ser ignorada em um jogo onde o simples fato de ter perdido dizia tudo.
“Há duas possibilidades. Uma é que perceberam que o jogo era teoricamente impossível de vencer.”
Então, abaixando um de seus dedos.
“A outra—que descobriram como era o jogo, mas não entenderam por que perderam.”
Com uma risada e um sorriso confiante, Sora disse:
“—Mas, no primeiro caso, eles venceriam se descobrissem como. O que significa que deve ser o segundo.”
Jibril, de Rank Seis, Flügel, sentiu um calafrio de admiração na espinha. O raciocínio de Sora era sustentado e complementado por todos os fragmentos de informação que Jibril conhecia. Um poder de dedução tão extraordinário, quase divino—.
“Mas isso torna as coisas confusas. Um jogo que pode ser compreendido sem entender por que você perdeu?”
Sora, sorrindo secamente, como se dissesse *isso é tão estranho, como isso pode ser?*
“E acabamos de conseguir a chave para destravar esse mistério de você, vovô.”
Nos olhos de Ino. Os olhos do Werebeast, que afirmava ler mentes, Sora olhou com um sorriso irônico.
“Pergunta três: Por que você mentiria que pode ler mentes?”
“…Porque eles não podem…”
Acenando com a cabeça para a resposta imediata de Shiro, Sora continuou.
“E eles devem mentir porque isso implica algo que não podem deixar ninguém saber, certo?
“Já estão começando a entender? Pergunta quatro: Que tipo de jogo parece que você pode vencer na teoria, mas na prática faz você perder?”
Sora, aparentemente se divertindo.
“—Agora, aqui vai uma dica!”
Com um gesto teatral, como se estivesse curtindo contar um enigma, Sora prosseguiu.
“Flügel, Elfo, Immanity. Faz todas essas raças, com características completamente diferentes, perderem toda vez, só pode ser usado na defesa, requer apagar as memórias dos oponentes, é ideal para uma raça com tecnologia superior que não pode ler mentes—o que é?!”
Com um olhar em direção à TV, Shiro respondeu.
“…Um videogame…com todos os cheats ativados…”
Parecia que nem Steph nem Jibril entenderam a resposta. O que não era surpresa: a União Oriental devia ser o único país no mundo que conhecia o conceito de videogames. Por isso—eles precisavam apagar memórias para escondê-los. Por isso, eles nunca podiam perder.
—Usando videogames, com eles como mestres do jogo, poderiam trapacear à vontade, fazer o que quisessem, e não havia como—
—ninguém perceber.
“Isso torna até magia inútil… Bem, bem, agora sim, isso é uma nação tecnológica; não é nada mal, hein?”
Nessas palavras de Sora não havia ironia, mas genuíno elogio.
“Toda aquela conversa sobre ler mentes era para dar a eles algo que apaziguasse a pergunta que ficaria na mente de quem perdesse—*Por que perdemos?*—para que não fossem investigar. Tudo o que vocês podem fazer é detectar quando alguém está mentindo—vocês não conseguem ler mentes.”
Sim—era exatamente o mesmo que Sora era bom em fazer. Ver através de expressões, gestos, vozes, as mentiras por trás delas. Eles apenas usavam seus sentidos extraordinários para incorporar batimentos cardíacos, fluxo de sangue. Era exatamente o mesmo, logicamente, que como um trapaceiro talentoso se passaria por um espiritualista.
“……”
—Acerto em cheio. Ino, atingido de forma direta, não encontrou palavras. Contudo, sem demonstrar em seu rosto, sua mente era consumida por dúvidas. Desde o momento em que Sora percebeu que eles não podiam ler mentes—até mesmo durante toda aquela conversa absurda sobre as calcinhas de Izuna—Sora não demonstrou qualquer reação de inquietação. Parecia que ele simplesmente havia eliminado desde o início o risco de ter sua mente lida. Mas, diante desses pensamentos e, ironicamente, como se estivesse lendo sua mente, Sora respondeu:
“Não é estranho, vovô? Eu nunca reagi ao seu blefe desde o começo.”
Erk. A expressão de Ino quase mudou—ou mudou? Enquanto esse pensamento preenchia a mente de Ino, Sora continuou, provocador.
“Sim. Eu sabia que vocês não podiam ler mentes—desde o começo. Como pode ser isso?”
E agora, para a pergunta final—começou Sora.
“Pergunta cinco: Por que nosso antigo rei perdeu para vocês tantas vezes quanto oito?”
Shiro, Steph e Jibril sabiam a resposta para essa pergunta. Portanto—
“Essa pergunta é pra você, seu velho peludo. Você deve ter alguma ideia.”
“—…!”
—O antigo rei? Ele foi o único que jogou contra a União Oriental sem ter suas memórias apagadas, quando eles tomaram o território continental dele. Mas jogaram sob a condição de que ele não contaria a ninguém; como poderia—
—Não, espere. Não era isso; era—! Como se estivesse esperando os pensamentos de Ino alcançarem esse ponto, Sora sorriu e então falou.
“Isso mesmo, você entendeu, né? O fato de que o antigo rei pôde nos contar tudo é a prova de que vocês não podiam ler suas intenções—vocês não podiam ler seus pensamentos.”
Que eram—.
“—Que o pacto de não contar nada a ninguém durante toda a vida dele—não cobria o que aconteceria depois que ele morresse.”
Enquanto Ino tentava manter sua máscara de calma, podia sentir o sangue fugindo de seu rosto. Se fosse esse o caso—. Significaria que este homem, de fato—sabia tudo sobre os jogos deles. Se fosse exposto, a União Oriental estaria—.
“Então, entendeu a situação agora, vovô?”
Sorrindo de orelha a orelha, Sora continuou casualmente.
“Agora você está numa posição difícil, hein? Você tem que apagar minhas memórias de algum jeito. Mas, se aceitar jogar apostando o território continental apenas pelas calcinhas da Steph, vai basicamente admitir que estou certo.”
Sim—e, portanto. O movimento de Ino era evidente. Nessa situação—
“Você vai descartar tudo o que eu disse como um delírio absurdo—essa é sua única escolha, recusar o jogo e fugir.”
Sora interceptou os pensamentos de Ino sem piedade, como um caçador alegremente encurralando sua presa.
—E então disse: “Você achou que eu deixaria uma rota de fuga?”
“Nós apostamos toda a humanidade—o *Race Piece*.”
No momento em que Sora disse isso, diante de seus olhos materializou-se uma peça de jogo, brilhando suavemente, como se feita de luz. Sim, era… o que, neste mundo onde até mesmo o Deus era decidido por jogos, era necessário para desafiá-lo—uma das dezesseis peças a serem coletadas, pela conquista de todas as raças.
—O *Immanity Piece*. A peça da humanidade—era o rei.
—Ninguém ali jamais tinha visto isso. Nem mesmo Jibril, que havia vivido por seis mil anos, estava vendo um *Race Piece* com seus próprios olhos pela primeira vez. Fazia sentido. Pois, em todos os jogos jogados desde os Dez Pactos, ninguém jamais apostara uma *Race Piece*, pois isso significava apostar todos os direitos de uma raça. No caso de uma derrota, equivalia a condenar a raça à escravidão por toda a eternidade. Em outras palavras, significava—o fim.
“V-você está lou—gmph?!”
Steph, que parecia finalmente ter compreendido a situação, estava prestes a gritar, “Você está louco?” quando Jibril rapidamente tapou sua boca.
—Com isso, uma peça de raça foi apostada em mais uma disputa por território continental.
“Com isso, você também dirá ao mundo que eu estava certo se fugir!”
Assim, com um sorriso, Sora olhou nos olhos de um Werebeast que afirmava ler mentes—
“Olha, é cheque de novo—não, agora é xeque-mate.”
—sem mostrar traço algum de medo, e falou sem modéstia.
“—Você viu isso chegando, vovô?”
Enquanto Sora sorria, uma gota de suor escorreu pela testa de Ino.
—O que era aquilo? Para a raça mais inferior, uma raça reduzida à sua última cidade, prestes a apostar sua *Race Piece* e perder tudo, iniciar um desafio contra a União Oriental, que possuía um jogo invencível, e, além disso, tomar a dianteira, encurralando-os logicamente—o que estava acontecendo?
Mas—Ino, apenas recuperando sua compostura—não, fingindo tê-la recuperado—respondeu:
“Só posso aplaudir sua imaginação notável. Contudo, Rei Sora, não há algo que você deixou passar?”
Ino contra-atacou o desespero em seu coração com um único fato inabalável.
“Mesmo assumindo que essa fantasia sua seja verdadeira—isso não significaria que Elven Gard perdeu mesmo sob essas condições?”
—Era verdade que a União Oriental havia sido colocada em uma situação em que precisavam aceitar aquele jogo. Mas, se alguém assumisse que a interpretação de Sora estava correta, isso era simplesmente um desafio contra a União Oriental em um jogo no qual eles poderiam trapacear à vontade. Assim como antes, não havia dúvida de que obteriam uma vitória certa—mas. A isso, Sora apenas zombou e respondeu:
“Vovô, se você soubesse como consegui me comunicar com você da biblioteca—se você pudesse realmente ler meus pensamentos, não estaria só fingindo que sabia. Você mostraria surpresa abertamente.”
Olhando nos olhos de Ino, e, como se fosse derrubá-lo, Sora falou com um sorriso profundamente malicioso enquanto jogava sua cartada final.
“Surpresa por nós não sermos—humanos deste mundo.”
—Que, no mundo deles, entre os inúmeros rumores, havia um sobre um gamer que emergira invicto em mais de 280 jogos, ascendendo ao nível de lenda urbana—isso, Ino não podia ver.
Ele não podia ver que nem mesmo trapaças e assistências automatizadas seriam suficientes para vencê-los...
“……”
Reflexivamente, Ino tentou descartar aquilo como uma mentira. Mas, em nenhum movimento ou som de Sora, havia qualquer reação indicando que mentia. Se suas palavras fossem mentira, significaria que aquele homem poderia mentir sem reagir minimamente. Se fossem verdade, demonstraria, como ele mesmo havia dito, que Ino realmente não podia ler mentes.
“……!”
Em qualquer dos casos—Ino ficou sem nada a dizer. É, eu imaginei, parecia rir Sora.
“Quando eu cheguei, você deve ter pensado, ‘Aqui vem outro trouxa,’ igual ao velho rei.”
Mas—.
“—Desculpa, mas, desta vez, é sua vez de ser feito de trouxa—Werebeast.”
Ino não podia sentir nenhuma reação além de convicção no batimento cardíaco do rei de Immanity ao dizer isso, e só conseguiu engolir em seco.
“Então.”
Quando Sora se levantou, todos se apressaram para imitá-lo.
“Isso é tudo. Bem, sei que você provavelmente não tem autoridade para fazer uma aposta tão absurda como todo o seu território continental sozinho, então por que não consulta os chefões lá em casa e me avisa quando vamos jogar?”
Ah, sim—acrescentou como se fosse um pensamento de última hora:
“Nem preciso dizer, mas, para um jogo apostando o *Race Piece*, todos os membros de Immanity têm o direito de assistir. Certifique-se de preparar o local e o equipamento para isso, tá? Além disso, vamos enfrentá-los como um time de quatro. Vocês não têm nada a dizer sobre isso, então até mais.”
Sora, cantarolando alegremente, acenou para Izuna, ainda sentada à sua frente.
“Prazer em conhecer você, Izzy; da próxima vez, vamos jogar, tá?”
“…Eu não entendo essa porcaria, por favor. Mas—”
Mas, sem qualquer traço da doçura que ela havia mostrado antes:
“Sora e Shiro—vocês estão…tentando começar uma briga, por favor?”
Seus olhos eram os de alguém pronto para encarar um inimigo. De alguém com o dever de proteger algo—de um animal preparado para a batalha.
“Uma briga? Não. Só um jogo.”
Embora Sora tenha dito isso, Izuna ainda o encarava com olhos atentos.
“Ainda assim, nos torna inimigos, por favor.”
Seus olhos se encheram de clara hostilidade, e a pequena Werebeast rosnou:
“Vocês vão perder, por favor.”
No entanto, Sora respondeu com olhos que, em contraste, pareciam amigáveis.
“Desculpe, mas vocês é que vão perder, Izuna, sem dúvida. *Blank* não perde.”
“…Tchau-tchau… Izzy, até mais…”
Enquanto os irmãos se despediam, acenando de forma brincalhona e leve, Jibril os seguiu, carregando Steph, ainda cobrindo sua boca enquanto ela lutava.
Observando as costas daqueles quatro enquanto saíam da sala de recepção, observando a porta se fechar quando eles apertaram o botão do elevador sem hesitação, nem Ino Hatsuse nem Izuna Hatsuse puderam dizer uma palavra…
******
“O-o-o que vocês fizeraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaam?!”
Assim que voltaram ao castelo, Steph gritou isso enquanto Sora tapava os ouvidos.
“P-p-por que vocês fizeram isso sem avisar nada antes?!”
“Se eu avisasse, você teria dito não, certo?”
Enquanto Sora respondia tranquilamente, sentado no trono e jogando uma partida sem fio com Shiro em seus DSPs, Steph rugia furiosamente.
“É-é claro que teria! V-você ao menos entende o que acabou de fazer?”
“Eu bloqueei a fuga do inimigo colocando a vida de três milhões de Immanitys em jogo.”
—E daí? Parecia dizer Sora com sua resposta desinteressada. Steph, quase sem palavras, conseguiu finalmente articular:
“E-e-e como você pretende assumir a responsabilidade se perdermos?”
Mas as palavras que vieram de volta foram—
“Responsabilidade? Que responsabilidade?”
—o suficiente para deixar Steph completamente sem resposta.
“Se perdermos, então a humanidade está acabada. Que tipo de responsabilidade haveria para assumir?”
Sora falou como se não tivesse o menor interesse nesse tipo de questão.
“Mas, vamos lá, Steph—não tá empolgante?”
Não—na verdade, ele começou a sorrir, como se achasse aquilo de alguma forma incrível.
“Se perdermos, levamos as vidas de três milhões de Immanitys conosco e será *‘game over.’* Se vencermos, dobramos nosso território de uma vez só e pegamos todas as garotas-animais da União Oriental—tem que ser um dos jogos mais emocionantes de todos. Não tá animada?”
“…(Balança a cabeça afirmativamente!)…”
Com Sora sorrindo inocentemente, e Shiro balançando as pernas satisfeita no colo dele, Steph sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
Eles eram insanos. Não era apropriado descrever esses irmãos com expressões leves como “desajustados” ou “desequilibrados.” Correto. Verdadeiramente. No sentido literal—eles eram loucos.
“V-vocês tratam assim a vida… a vida humana…?”
Diante dessa loucura, que ultrapassava qualquer mero desprezo, Steph sentiu medo. Ela queria fugir, escapar, enquanto sussurrava, à beira das lágrimas:
“Eu perdi toda a esperança que um dia tive em vocês…! Achei que, não importasse quão absurdas fossem as suas ações, tudo era pelo bem da raça humana, mas eu estava tão errada—!”
Steph denunciando Sora era uma cena que já havia se repetido inúmeras vezes. Mas desta vez era claramente diferente; seus olhos estavam cheios de genuíno desprezo e desilusão.
Sora sorriu frivolamente e respondeu:
“Calma, Steph… É só um jogo, sabia?”
—Com isso, a suspeita de Steph se tornou convicção. Acreditar naquele homem—havia sido um erro. Este homem, não, esses dois irmãos estavam apenas jogando. Eles não se importavam de verdade com Immanity ou com a União Oriental. Eles simplesmente achavam que este mundo inteiro era um jogo—!!
—Eu estava errada em confiar o legado do Vovô a este canalha covarde—! Desespero, desilusão, terror—enquanto Steph era consumida por inúmeras emoções, em contraste havia Jibril, que, servindo Sora e Shiro com respeito ainda mais profundo, declarou:
“Quão sábio é meu mestre… Esta é a prova de alguém digno de governar sobre nós—”
>—Por causa da vitória, ele estava disposto a colocar a vida das massas em risco. Isso não era imprudência nem descuido, mas a confirmação de uma vitória certa. Steph, ao olhar para Sora e Shiro, reagia ao desconhecido com medo. Mas, para Jibril, esse mesmo desconhecido despertava adoração, inveja e fascínio.
“O-o que você está falando! Como ele poderia—”
“Então deixe-me fazer uma pergunta, pequena Dora.”
Steph recuou diante do olhar inesperadamente sério de Jibril.
“Você perguntou como ele assumiria a responsabilidade caso perdesse, mas pense no contrário. Se meus mestres vencerem, todos os Werebeasts do território continental perderão seus empregos, seus direitos sobre as terras e bens, ficando à deriva, talvez até morrendo de fome. Você acha que meu mestre deveria assumir a responsabilidade por isso? Ou diria que essa é a responsabilidade deles por terem perdido?”
“—I-i-isso…bem…”
Ela não tinha um argumento. Mas, mesmo assim—o que Sora tinha feito parecia simplesmente irresponsável demais. Pelo menos…pelo menos ele deveria ter consultado as pessoas ou algo do tipo, não? Mas Jibril continuou.
“Mesmo agora que a guerra foi proibida, matar e morrer ainda continuam neste mundo.”
—Um mundo onde a força das armas foi banida. Mas, inversamente, isso era tudo. Era simples tomar, dominar e matar por meios indiretos. Essa era a natureza dos Dez Pactos e, também, exatamente o que havia acontecido com Immanity até agora.
“Dora, você propõe que Immanity não participe e simplesmente pereça?”
“N-não, mas—! Ainda assim!”
Ainda assim, dizer que eles não tinham responsabilidade alguma era…era loucura, insistiu Steph.
“Isso é o que significa ser um agente plenipotenciário.”
Jibril, que também era parte do agente plenipotenciário dos Flügel, lançou a Steph um olhar gélido, desprovido de emoção, e declarou os fatos.
“Para começar, realidade e jogos são, em essência, sobre destruir uns aos outros—que tipo de responsabilidade você espera?”
—Diante dessas palavras pesadas de alguém que havia vivido pela Grande Guerra há muito passada, Steph ficou em silêncio. Mas, inesperadamente, foi Sora quem falou para contradizê-la.
“Hã? Não, ninguém vai morrer. Eu não acabei de dizer que é só um jogo?”
“—O quê?”
“Perdão?”
“Hã?”
“…Mnn…?”
Como se algo não fizesse sentido. Todos ficaram em branco. Então Sora falou, como se finalmente tivesse entendido.
“Ohhh… Certo, agora entendi; é assim que as coisas são.”
Sora finalmente identificara o desconforto que sentia o tempo todo.
“Ééééé, eu achava que este mundo era estranhamente emperrado, mesmo com tudo sendo decidido por jogos, mas, cara, vocês realmente pensam igual àqueles caras do nosso velho mundo… Não esperava por isso.”
“…Ohh…”
Shiro, talvez tendo se questionado sobre a mesma coisa, assentiu como se finalmente entendesse.
“Entendi, ninguém sabe como vencer este jogo—não é à toa que Deus ficou entediado e nos chamou.”
Mas, como se tivesse tido seu momento para saborear a compreensão, ele voltou seu olhar para o console de jogo em suas mãos e respondeu vagamente.
“Bem, relaxem. Vamos conquistar o mundo, exatamente como dissemos que faríamos. Tudo, *whabam*, sem sombra de dúvida.”
Então, como se lembrando de algo, ele continuou:
“Ah, e Steph.”
“Ah…o-o que foi?”
“Vou te dar uma resposta de verdade à sua pergunta sobre o que acontece se perdermos.”
Sem nenhum traço da palhaçada de um momento antes. Olhando nos olhos de Steph com um olhar sério, Sora falou:
“—Não há nem mesmo uma chance em um milhão de perdermos. Não te disse? É xeque-mate.”
Essas palavras decisivas de Sora—
“Nosso jogo com a União Oriental já acabou. Já é impossível para eles nos derrotarem.”
—Foram tão além de sua compreensão que, no final, Steph não conseguiu acreditar nelas.
“Bem, para ser preciso, falta uma última peça—mas logo a teremos.”
“Até lá, tudo que temos a fazer é jogar alguns jogos e esperar,” finalizou Sora, voltando ao jogo com sua irmã.
—A única que entendeu foi sua irmã. O que restou foram incontáveis pistas, e duas pessoas que não conseguiam segui-las até a resposta.
Jibril e Steph apenas—se entreolharam.