No Game No Life

Volume 2 - Capítulo 4

No Game No Life

Um pouco além do centro de Elkia, nos subúrbios, ficava a Grande Biblioteca Nacional de Elkia. O lugar havia sido retomado de Jibril, mas permanecia sob sua administração. Na cozinha, aparentemente montada pela própria Jibril, estava Steph. Seu rosto, porém, demonstrava exaustão total, sugerindo que ela não havia dormido direito.

“… A essa altura, eu preferia que eles continuassem presos no quarto real…”

Sora e Shiro, tendo retomado o repositório de conhecimento de Elkia, não estavam mais trancados no quarto real, mas agora ocupavam a biblioteca. Steph, ocupada com os assuntos domésticos, ainda precisava ir até a biblioteca para fazer relatórios e até preparar chá.

“O que me obriga a fazer isso? Eu não sou nenhuma serviçal de chá, afinal!”

Mas, no fundo da mente de Steph, enquanto resmungava, uma cena veio à tona, aquela após a partida com Jibril.

“Obrigado, Steph.”

— Tum-tum, fez seu coração…

“É uma emoção implantada! Eles estão apenas me usando para benefício próprio!!”

Enquanto Steph gritava e começava sua nova rotina diária de bater a cabeça na parede, de repente, foi interrompida por uma voz.

“Oh, se não é a pequena Dora. Vejo que está tão industriosa como sempre.”

“Pode não me chamar de ‘pequena Dora’?! Espera, quando é que você entrou aqui?!”

Apesar de não ter havido som de porta, Jibril estava ali, como se sempre tivesse estado.

“Tenho uma mensagem do meu mestre.”

“Oh? Uh, você pode responder minha—”

“Vejamos… ‘Jibril diz que tem todo tipo de coisa na cozinha, como açúcar, manteiga e tal. Aparentemente, é tudo nosso agora, então você pode usar; divirta-se’ — foram as palavras dele.”

“… Hã?”

— Ela podia usar açúcar e manteiga? I-isso expandiria drasticamente a variedade de doces que ela poderia—

“Ei, eles estão apenas me dizendo indiretamente para fazer doces deliciosos para eles, não estão?! Até onde eles planejam me explorar?! Eu preferia que dissessem que posso tirar uma folga!!”

Bam, bam, bam.

“Desculpe incomodá-la no meio do seu treino de cabeça…” disse Jibril, extraindo uma anotação. “Porém, meu mestre deixou uma nota sobre um tipo de doce que chamou sua atenção em um livro de receitas encontrado na minha coleção—”

“Muito obrigada! ♥ Certamente farei—ah!” Os olhos de Jibril pareciam nitidamente divertidos, e Steph agitou os braços, corando. “N-não—isso é…”

“Ouvi a história. Parece que meu mestre ordenou que você se apaixonasse por ele.”

“E-e-exatamente! E por algum tipo de fraude que chega a ser equivalente a um golpe, sabia?! Pode acreditar?!”

Steph, aproveitando qualquer desculpa para justificar suas ações, levantou uma cortina de fumaça. Enquanto isso, Jibril parecia cada vez mais curiosa.

“Bem, não sei. Tenho pouco entendimento sobre os modos do amor dos Imanity. Peço perdão.”

“Oh—i-isso é mesmo?”

“De fato. Pois somos uma raça que apenas se reproduz quando necessário. Tudo o que preciso é de amor pelo meu mestre. Minha compreensão das sutilezas do coração às quais os Imanity chamam de ‘romance’ se limita ao que ouvi.”

Jibril mencionou casualmente seu mestre — ou seja, Sora — na mesma frase decidida que “amor.”

“Uh, bem… Hum, por ‘amor,’ você quer dizer… o tipo mestre-discípulo, certo?”

“Sou pouco capaz de fazer tais distinções. O que quer dizer com amor normal?”

“Ah, sim… É como se, quando os vê perto de outra pessoa, seu coração apertasse; quando estão longe, você se sente inquieta; esse tipo de…—Hã?”

Steph percebeu que seu primeiro amor era Sora, por quem fora forçada a se apaixonar contra a vontade.

Ela percebeu, em outras palavras, que tudo o que acabara de dizer era sobre Sora.

Ela percebeu que Jibril, observando com um sorriso radiante, conseguia ver tudo. Corando mais do que um tomate e entrando em pânico, disse:

“E-e-e-e-eu estou falando só no geral, sabe, no geral! E-eu não tenho nenhum interesse pessoal—”

Jibril apenas sorriu diante de sua defesa completamente nada convincente.

“Entendo. Com isso, como já entreguei minha mensagem, vou me retirar.”

“Ah, certo… Obrigada por—hã?”

Ela havia sumido. No segundo em que desviou os olhos… para onde ela foi?

“……—(Espirada!)”

Steph espiou a receita sobre a mesa dos doces que Sora havia mencionado ter interesse.

“B-bem… Se temos manteiga, há certos doces que eu gostaria de experimentar fazer, afinal. E, se eu já vou fazer para uma pessoa, não dá muito mais trabalho fazer para todos. Sim, sim, é isso. É só por acaso, apenas por acaso.”

Steph começou a vasculhar a cozinha de Jibril.

“Hmm… A primeira coisa é descobrir onde está tudo, suponho…”

“Deixe-me explicar.”

“Eegh?!”

Jibril apareceu mais uma vez, sem som, atrás dela.

“Os utensílios de preparo que você precisa estão neste armário. As louças estão ali. Os ingredientes e temperos estão na prateleira acima. O conjunto de chá está aqui. O forno foi feito em Avant Heim, mas resumi as instruções para você em Immanity aqui. Com isso, deixo-a com seus afazeres.”

“Ah, uh, certo… Obrigada por tudo,” disse Steph, encolhendo-se um pouco.

“Não, é tudo em serviço ao meu mestre. Adeus.”

Mais uma vez, ela desapareceu. Ao mencionar seu mestre… Steph sentiu uma certa ênfase nessas palavras. Parecia vagamente algum tipo de ameaça, ou será que ela só estava imaginando coisas? Mas Steph apenas sacudiu a cabeça.

“Esses são… para mim!! Sim, agora, é hora de preparar doces tão deliciosos que até eu mesma ficarei surpresa!!”

Sua mente foi novamente cruzada pela imagem após a partida com Jibril. Sua cabeça sendo acariciada — com apenas as palavras modificadas.

— Você é incrível, Steph. Obrigado.

“Como. Eu. Disse—!”

Batendo as mãos com força sobre a mesa.

“Não é nada dissooo!”

Enquanto Steph batia a cabeça contra a mesa. Do lado de fora da porta, Jibril observava.

“‘Apaixone-se por mim’… Um pedido tão fascinante é realmente obra do meu mestre.”

Ainda assim, ela falava como se estivesse vendo algo ainda mais interessante. Embora Jibril não compreendesse bem os sentimentos dos Imanity, pelo menos sabia algo sobre a teoria da afeição romântica.

“… O amor arde num instante e esfria quase tão rápido — por que será que Dora, que não recebeu a ordem ‘Continue apaixonada,’ continua afetada a longo prazo? Hee-hee, que coisa infinitamente intrigante.”

Assim, rindo suavemente, ela desapareceu mais uma vez no vazio.

“Ah—vermelho… Aaah, é sangreee?! Ugh…”

Com Steph desmaiando ao ver o próprio sangue, parecia que os doces iam demorar um pouco mais para ficar prontos.

******

Tendo passado pomada na testa e feito um curativo, Steph carregou com esforço as quatro porções de bolinhos de chá que havia conseguido terminar após se recuperar do desmaio.

“Hee-hee-hee, agora estão perfeitos!”

Steph se parabenizou por ser impecável agora que tinha açúcar e manteiga novamente, então seguiu em direção ao quarto no fundo da biblioteca, para que não pensassem que ela havia vindo apenas para ouvir elogios de Sora.

— E descobriu que, com as mãos ocupadas, não conseguia abrir a porta.

“Essa situação me dá uma estranha sensação de déjà vu.”

Se o déjà vu continuasse, ela abriria a porta apenas para descobrir que não havia ninguém ali… pensou ela. No final, felizmente, o déjà vu não continuou. Pelo contrário—

“Então—Jibril.”

Um homem interrogava Jibril com a expressão mais séria imaginável.

“Você pode me contar sobre o país das garotas com orelhas de animais que estou prestes a conquistar—sobre essa União Oriental?”

…Um homem em quem não se queria acreditar que o destino de Immanity havia sido confiado estava ali.

“Sim, Mestre, a União Oriental é um país com uma história complicada.”

A União Oriental — o país de Rank Quatorze, os Werebeasts. Embora os Werebeasts fossem considerados uma única raça, incluíam inúmeras tribos baseadas em diferenças de características físicas. Como resultado, por muitos anos, eles alternaram entre guerra civil e tréguas em diversas pequenas ilhas distintas. Então, de repente, uma figura conhecida como a Donzela do Santuário os subjugou e unificou em um período de apenas meio século. Agora, era um vasto império marítimo, a terceira maior nação do mundo.

“Diferenças nas características físicas… tipo, alguns têm orelhas de gato e outros têm orelhas de raposa?”

Sora respondeu a essa parte com expressão séria, ao que Jibril respondeu:

“Sim. Mas talvez ainda mais importantes que as diferenças de aparência sejam as diferenças de função. Embora sejam chamados de Werebeasts, por favor, não pense que suas habilidades físicas são apenas semelhantes às de animais. Algumas tribos e indivíduos possuem habilidades que chegam aos limites físicos, e habilidades tão inacreditáveis lhes permitem até mesmo ler mentes. Além disso, alguns indivíduos, chamados *bloodbreaks*, vão ainda além—”

“Hm, entendi, já saquei — então.

“As garotas com orelhas de animais são minhas; agora, como vamos esmagar essa União Oriental?!”

— Esse rei era irrecuperável.

“Lamento dizer, Mestre, mas isso é provavelmente impossível.”

Quem jogou água fria na empolgação dele foi ninguém menos que aquela que o chamava de Mestre e jurava obediência: Jibril.

“O quê—Jibril, pra que eu te coloquei no meu grupo—como sábia?! Como você pode dizer uma coisa dessas sobre o meu esquema divino, que cumpre tanto meus desejos privados quanto o interesse nacional — acariciar garotas com orelhas de animais!”

Apesar de exibir sem medo até que ponto seus interesses pessoais sobrepunham-se a questões nacionais importantes, Jibril permaneceu inabalável.

“Mestre, fico profundamente honrada. No entanto — temo que até mesmo vocês dois possam ser incapazes de derrotar a União Oriental.”

Com essas palavras, Sora, e até Shiro, que estava lendo um livro ao seu lado, apertaram os olhos e encararam Jibril.

“Mmm? Você está dizendo que *Blank* vai perder?”

“Não, me expressei mal. Apenas quis dizer que as coisas podem não sair como o planejado.”

O motivo sendo—

“Eu mesma já desafiei a União Oriental — e perdi.”

…O quê…?

“... Sério? O quê, no shiritori?”

“Não, como fui eu quem iniciou o desafio.”

…Quantos jogos poderiam derrotar uma arma humanoide multifuncional e decisiva como ela…?

“É mais provável que o outro lado tenha escolhido o jogo.”

— *Mais provável*?

“Se me permitem acrescentar, os Elfos — Elven Gard desafiou a União Oriental em uma batalha formal entre nações quatro vezes nos últimos cinquenta anos, e todas essas vezes — foram derrotados,” disse Jibril, como se estivesse afirmando um fato desagradável, mas inevitável.

Mas, mais importante — Sora precisava entender o significado das palavras dela e por que Jibril havia ido tão longe ao ponto de afirmar que era impossível.

“… Pode ser que…”

Mas, se fosse verdade — significaria, afinal…

“… A União Oriental… exige como aposta que você perca a memória do jogo?”

… que, no momento, era impossível vencer.

Curvando a cabeça em reverência, Jibril falou.

“Meu mestre, de fato, é sábio. Por essa razão, não se conhece um único detalhe do jogo ou dos jogos deles.”

… Bem, então. A raça conhecida por seus sentidos superiores e algum tipo de sexto sentido que lhes permitia ler mentes havia chegado ao ponto de apagar memórias para ocultar seus jogos. Não havia lugar para investigar; não havia como aprender com a derrota. De fato, desafiá-los nessas condições, sem qualquer informação prévia, seria suicídio.

— Mas isso deixava várias perguntas sem resposta.

“Elven Gard perdeu… quatro vezes?”

Elven Gard. A questão era que ele sabia, pela experiência no torneio para se tornar monarca de Elkia, o quanto aqueles Elfos eram problemáticos. Mesmo contra Chlammy, que havia apenas usado o poder deles de forma indireta, ele teria perdido sem informações prévias. Mesmo atacando com duas ou três linhas de defesa preparadas, ela os obrigara a lutar com dificuldade. E eles eram o maior país do mundo. Ser capaz de se manter contra isso—

“Sim, e, como consequência — suspeitei do envolvimento de uma raça superior.”

Sim, assim como Elven Gard havia tentado fazer com Elkia. Alguém mais, que poderia até ter afastado os Elfos, poderia ter transformado a União Oriental em um estado fantoche.

“E eu estava tão curiosa para saber quem poderia estar por trás disso, caso fosse verdade—”

“Você os desafiou e tomou uma surra.”

“… Não tenho nada a dizer em minha defesa.”

Bem, então. Isso explicava por que Jibril havia declarado que era impossível. Se não sabiam nada sobre o jogo e não tinham como blefar, não havia espaço para estratégia. E, nesse caso, a equipe de Sora, que não tinha armas além de inteligência e artimanhas, estava praticamente condenada a ser presa.

— Mas, mesmo assim, havia uma dúvida que não podia ser apagada.

“… Não é o desafiado quem tem uma vantagem esmagadora neste mundo?”

O Quinto dos Dez Pactos: A parte desafiada terá o direito de determinar o jogo. Obviamente, alguém que pudesse escolher o jogo que mais lhe conviesse estava em uma posição superior.

“Mas então, se eles apagam todas as memórias… depois de um tempo, ninguém tentaria, certo?”

— Sim. Era como a dissuasão nuclear no mundo de Sora. Ninguém escolheria uma briga depois de perceber que não havia como vencer o oponente.

“… Defesa defensiva…?”

Shiro especulou sobre as implicações da postura da União Oriental. Mas Sora apontou algo.

“Shiro, você pode ser mais inteligente que seu irmão, mas é por isso que perde para ele em jogos de estratégia. Não tem graça nisso, certo?”

Se eles tinham uma jogada imbatível que derrotava até Elfos e Flügels, por que parariam em uma defesa defensiva? A verdadeira diversão era fazer parecer que havia uma brecha, atrair os outros para atacar e, então, chutar suas bundas.

“… Irmão, seu… estilo de jogo… é patético.”

“Você está dizendo que a estratégia na qual eu usei todos os meus neurônios é patética? Isso deixa seu irmão realmente triste, sabia?!”

Mas é. Shiro reconheceu que tinha seguido a direção errada.

“… Para um país… que ascendeu nos últimos cinquenta anos… adotar uma defesa defensiva… é estranho.”

“N-não é?”

Sora, agarrando-se a Shiro com lágrimas nos olhos. Jibril falou com os irmãos, que pareciam confusos com a contradição insolúvel.

“Mas, de fato, nos últimos dez anos, nenhum país desafiou a União Oriental para uma batalha entre nações—”

… Jibril sorriu.

“— oh, sim… com exceção de um.”

“… Mm…”

“Hã, o quê, qual?”

Apenas Jibril e Shiro reagiram. Shiro devia ter lido sobre isso nos livros de Jibril, mas era novidade para Sora.

— Ah, isso não é um desenvolvimento bem-vindo.

Steph percebeu um desastre iminente e tentou sair da sala silenciosamente.

“Acredito que seja mais fácil verem com seus próprios olhos. Dora também deve vir, é claro.”

“Hngmh?!”

Sem saber quando havia sido abordada, Steph levantou a voz ao sentir uma mão em seu ombro.

“Por favor, segurem-se em mim, todos.”

“Segurar?”

Sora e Shiro obedientemente agarraram as roupas de Jibril.

“E por favor, não soltem—pois começaremos agora.”

Então, no instante em que Jibril falou, um som como vidro se quebrando chegou aos ouvidos de Sora, fazendo-o fechar os olhos por um momento — e então. Quando abriu os olhos novamente, o que ele viu… hmm, poderia ser um truque da imaginação?

— Parecia que ele estava flutuando a alguns milhares de metros acima do chão; uma vista e tanto, não?

“Que tempo esplêndido temos hoje; a visibilidade deve estar—”

“Espera, Jibril, pera aí; antes de tudo — o que você acabou de fazer?!”

Sora interrompeu Jibril, que falava como se nada tivesse acontecido. Enquanto ele exigia uma explicação para aquela situação na qual haviam sido lançados no ar a altíssima altitude em zero quadros, Jibril respondeu sem a menor cerimônia que ela apenas havia realizado uma teleporte.

“O que quer dizer…? Eu apenas me desloquei.”

… Então era por isso que parecia que ela podia surgir em qualquer lugar, Sora percebeu. Ela era, na verdade, uma teletransportadora. Difícil de acreditar, mas fazia sentido.

“… Até onde você consegue se deslocar?”

“Qualquer lugar que eu consiga ver. Ou, caso contrário, qualquer lugar que eu já tenha visitado.”

— Sora e Shiro acabavam de esbarrar no maior mistério daquele mundo.

“—Ei, Shiro, como foi que os Imanity sobreviveram à antiga guerra?”

“…… Não sei…?”

Se eles tiveram uma “guerra” contra os Werebeasts, com suas habilidades físicas ditas próximas aos limites físicos, os Elfos, que ignoravam completamente o bom senso, e formas de vida insanas como Jibril, isso significava que os Imanity realmente tinham sido capazes de lutar contra tudo isso? Mas cada um dos habitantes daquele mundo responderia a essa pergunta assim:

“Esse é considerado o maior mistério da história da raça humana…” disse Steph, com um suspiro.

“Talvez simplesmente ninguém tenha notado os Imanity?” respondeu Jibril com um sorriso encantador.

“Estávamos principalmente ocupados com os Dragonia, os Gigant e os Velhos Deuses. Oh, lembrar daqueles dias em que mal conseguíamos derrubar um dragão com cinquenta Flügels, ou quando enfrentamos um deus com uma força de duzentos e, mesmo assim, fomos dizimados.”

… Ela estava dizendo que uma raça que precisava de uma hipernova para ser derrotada, que podia se teletransportar livremente e voar, não conseguiu derrubar uma dessas coisas nem com duzentos em grupo, e era isso que todos estavam enfrentando na guerra.

“Isso levanta outra questão:

“—Como é que este planeta sequer manteve a sua forma?”

Mas Jibril respondeu à pergunta de Sora com um sorriso um tanto envergonhado.

“Essa é exatamente a razão pela qual o Verdadeiro Deus foi decidido por padrão.”

………………………… Então ele não havia… mantido sua forma, afinal.

“Mas deixando isso de lado. Olhem ali.”

Enquanto Jibril sorria como se quisesse varrer más lembranças, ela apontou para um lugar perto da fronteira de Elkia, claramente visível do ar. Do lado de dentro da fronteira nacional, isto é, dentro do território de Elkia, uma torre imponente se erguia à distância. Sim, uma torre, imponente.

— Uma estrutura que claramente era impossível para os Imanity terem construído — ou, indo direto ao ponto…

“… Uhh, o que, isso é… um arranha-céu?”

De fato, era um edifício mais ou menos como o *Empire State Building* dos Estados Unidos.

“... Tão grande.”

Até os olhos de Shiro se arregalaram. A noção de perspectiva deles quase se perdeu, exceto pelo contraste com os prédios alinhados abaixo, que pareciam um bairro de Imanity.

“Pequena Dora, poderia, por favor, explicar?”

Desmoronando — *Eu sabia que isso aconteceria* — Steph falou.

“… É a embaixada da União Oriental em Elkia.”

“…… Hmmm, embaixada?”

Virando o rosto para longe do olhar semicerrado de Sora, Steph continuou. “A-a verdade é… é onde ficava o palácio real do nosso país.”

“………… Ei.”

Com Sora apertando ainda mais os olhos para o rosto de Steph, ela virou o pescoço mais para trás, numa tentativa de escapar do olhar dele.

“M-meu avô p-perdeu e perdeu e, uh, f-finalmente apostou o palácio.”

“… E perdeu…” disse a irmã suavemente, sem um pingo de piedade.

“……”

Sora e Shiro não tinham mais palavras, enquanto Jibril sorria como se estivesse assistindo a um filhote brincando.

“O-o que vocês estão me olhando assim?!”

“Se sua capital tem uma embaixada maior que o Castelo Real, isso é realmente patético…”

“Unghh…”

Hmm… Sora começou a pensar.

“Então como esse Castelo Real foi tomado pela União Oriental?”

“Mais importante ainda — tudo daquele lado foi tomado pela União Oriental.”

“— Hã?”

Jibril falou alegremente, enquanto Sora arregalava os olhos, incrédulo. Sua irmã explicou com informações que havia memorizado.

“… Nos últimos dez anos… o antigo rei… perdeu para a União Oriental… oito vezes.”

“Oito… Uh, bem, consigo ver a motivação da União Oriental. Um país marítimo com esse tipo de tecnologia—”

A dificuldade para uma nação marítima era a falta de ferro e pedra, ou seja, recursos além dos marítimos. Julgando pelo estilo daquele edifício, parecia que tinham uma civilização bastante avançada. Havia muitos recursos de que precisariam, como metais raros, que não poderiam ser obtidos em um arquipélago. Então, era natural que tentassem obtê-los no continente — mas.

“Mas foi a União Oriental que quis o confronto, certo? Por que ele aceitou?”

Porém, Shiro balançou a cabeça. E então Jibril respondeu.

“Mestre, esqueceu-se? A única nação que desafiou a União Oriental nesses últimos dez anos…”

“… O iniciador foi… Elkia…”

… O quê…?

“Primeiro aquela montanha. Depois aquela planície, e então… no fim, ele apostou o Castelo Real que ficava no centro da nação — e é onde estamos agora.”

Jibril explicou que havia levado todos até ali para mostrar isso.

“Ei, ei, espere um segundo, ele ficava no centro da nação?”

Sora disse, apontando para o “Empire State Building.”

“Então, o que você está dizendo? Que apostamos metade do nosso território ao desafiar um oponente contra o qual até Elven Gard perdeu após desafiá-los quatro vezes, e nós os desafiamos oito vezes? Imanity? Ei, ei, vamos lá. Isso é piada—”

Mas, ao ver Shiro respondendo com um suspiro, Sora ainda balançava a cabeça.

“E-espera, então o que você está dizendo? Que Elkia, antes disso… tinha o dobro do tamanho que tem agora?”

Com Shiro assentindo decisivamente e Jibril confirmando, Sora levou os dedos à sobrancelha. Steph não tinha mais palavras.

“… Jibril, eu quero voltar para a biblioteca.”

“Oh, querido, tem medo de altura?”

“Não, eu só não consigo segurar minha cabeça aqui em cima, então quero um chão.”

******

“... Tão grande.”

Até os olhos de Shiro se arregalaram. A noção de perspectiva deles quase se perdeu, exceto pelo contraste com os prédios alinhados abaixo, que pareciam um bairro de Imanity.

“Pequena Dora, poderia, por favor, explicar?”

Desmoronando — *Eu sabia que isso aconteceria* — Steph falou.

“… É a embaixada da União Oriental em Elkia.”

“…… Hmmm, embaixada?”

Virando o rosto para longe do olhar semicerrado de Sora, Steph continuou. “A-a verdade é… é onde ficava o palácio real do nosso país.”

“………… Ei.”

Com Sora apertando ainda mais os olhos para o rosto de Steph, ela virou o pescoço mais para trás, numa tentativa de escapar do olhar dele.

“M-meu avô p-perdeu e perdeu e, uh, f-finalmente apostou o palácio.”

“… E perdeu…” disse a irmã suavemente, sem um pingo de piedade.

“……”

Sora e Shiro não tinham mais palavras, enquanto Jibril sorria como se estivesse assistindo a um filhote brincando.

“O-o que vocês estão me olhando assim?!”

“Se sua capital tem uma embaixada maior que o Castelo Real, isso é realmente patético…”

“Unghh…”

Hmm… Sora começou a pensar.

“Então como esse Castelo Real foi tomado pela União Oriental?”

“Mais importante ainda — tudo daquele lado foi tomado pela União Oriental.”

“— Hã?”

Jibril falou alegremente, enquanto Sora arregalava os olhos, incrédulo. Sua irmã explicou com informações que havia memorizado.

“… Nos últimos dez anos… o antigo rei… perdeu para a União Oriental… oito vezes.”

“Oito… Uh, bem, consigo ver a motivação da União Oriental. Um país marítimo com esse tipo de tecnologia—”

A dificuldade para uma nação marítima era a falta de ferro e pedra, ou seja, recursos além dos marítimos. Julgando pelo estilo daquele edifício, parecia que tinham uma civilização bastante avançada. Havia muitos recursos de que precisariam, como metais raros, que não poderiam ser obtidos em um arquipélago. Então, era natural que tentassem obtê-los no continente — mas.

“Mas foi a União Oriental que quis o confronto, certo? Por que ele aceitou?”

Porém, Shiro balançou a cabeça. E então Jibril respondeu.

“Mestre, esqueceu-se? A única nação que desafiou a União Oriental nesses últimos dez anos…”

“… O iniciador foi… Elkia…”

… O quê…?

“Primeiro aquela montanha. Depois aquela planície, e então… no fim, ele apostou o Castelo Real que ficava no centro da nação — e é onde estamos agora.”

Jibril explicou que havia levado todos até ali para mostrar isso.

“Ei, ei, espere um segundo, ele ficava no centro da nação?”

Sora disse, apontando para o “Empire State Building.”

“Então, o que você está dizendo? Que apostamos metade do nosso território ao desafiar um oponente contra o qual até Elven Gard perdeu após desafiá-los quatro vezes, e nós os desafiamos oito vezes? Imanity? Ei, ei, vamos lá. Isso é piada—”

Mas, ao ver Shiro respondendo com um suspiro, Sora ainda balançava a cabeça.

“E-espera, então o que você está dizendo? Que Elkia, antes disso… tinha o dobro do tamanho que tem agora?”

Com Shiro assentindo decisivamente e Jibril confirmando, Sora levou os dedos à sobrancelha. Steph não tinha mais palavras.

“… Jibril, eu quero voltar para a biblioteca.”

“Oh, querido, tem medo de altura?”

“Não, eu só não consigo segurar minha cabeça aqui em cima, então quero um chão.”

De volta à biblioteca, Sora estava sentado de pernas cruzadas sobre uma mesa, segurando a cabeça. Tudo o que saía de sua boca, já fazia algum tempo, eram suspiros, um após o outro. Em seu lugar habitual, no colo dele, Shiro o observava com preocupação.

“…Irmão…você está b-bem…?”

“…Sim, desculpa, Shiro, eu só estou meio que em desespero.”

Doía fazê-la se preocupar, mas, ainda assim, precisava ser dito.

“Eu achava que o velho rei era um idiota, mas, meu Deus, ele devia ser alcoólatra ou algo assim…”

Suspiro……

Steph, que estava ouvindo, ouviu aquele longo suspiro e não aguentou mais.

“V-você está sendo muito rude, sabia?!” Ela bateu na mesa em que Sora estava sentado com um estrondo. “Achei que você havia dito antes que meu avô estava certo!!”

Mas Sora, soltando outro grande suspiro, respondeu.

“—Como você defende alguém que jogou fora metade do território nacional por alguma aposta maluca?” ele disse, previsivelmente apontando na direção da terra perdida que eles tinham visto recentemente.

“Você tem ideia de quanta pecuária e indústria caberia naquela área? Se o seu avô não tivesse apostado até ficar só de cuecas, como aqueles nobres idiotas, nós teríamos o dobro do território que temos hoje, sabia?!”

“B-bem, isso é—!”

Como se não pudesse mais segurar sua língua depois de começar, Sora resmungou:

“É, ele com certeza era seu avô… Talvez ele acreditasse naquela bobagem de ‘sorte,’ que, se continuasse jogando, eventualmente venceria… Estamos falando de uma disputa entre nações… Ele não entendia o que isso significava?”

— Sim, um jogo pessoal e uma batalha entre nações eram histórias completamente diferentes. Um jogo no qual o agente plenipotenciário, a pessoa responsável pelas vidas de milhões, apostava essas mesmas vidas. Aquilo era uma batalha entre nações — uma disputa pelo domínio. Era um jogo em que cada raça, cada país, mobilizava todo o conhecimento e estratégia à sua disposição. Desafiar uma nação preparada para isso não menos que oito vezes—

“Quero dizer, existe alguma interpretação mais positiva do que ‘Ele estava bêbado’…?”

Mas, tremendo os ombros, olhando para baixo e com as palavras saindo quase forçadas, Steph falou.

“Meu avô — é verdade… não era muito bom com jogos…”

Mas — ela ergueu a cabeça e gritou:

“Ele não era o tipo de louco que assumiria o peso das vidas de milhões de Imanities sem se importar! Ao contrário de vocês dois, ele era um exemplo de decência comum!”

Mas, dado o resultado real desse “exemplo”…

“Se jogar fora metade do território é ‘um exemplo de decência comum,’ fico feliz em ser um desvio incomum.”

“~~! Eu já tive o suficiente disso!!”

Tremendo os ombros, mas incapaz de contra-argumentar, Steph saiu correndo com lágrimas nos olhos. Observando-a se afastar, Shiro murmurou:

“…Irmão…isso foi cruel…”

“…O que você quer que eu diga depois de ver aquilo…?”

Sora falou como alguém que tinha muito em que pensar, com o interruptor da melancolia ligado no máximo e a empolgação de momentos atrás completamente perdida.

— Então, ele notou o chá e os bolinhos que Steph havia trazido e deixado na mesa. Mais rápido que Sora, Shiro pegou alguns e os enfiou na boca.

“…Mm, gostoso…!”

Ouvindo a voz normalmente monótona de Shiro dar um salto, Sora pegou um pedaço com relutância.

“……Droga, realmente está bom…”

Doces, mas não enjoativos, e tão fofinhos. Embora tivessem comido os deliciosos doces caseiros de Steph no outro dia, aqueles nem se comparavam a estes. Provavelmente, ela havia lido a receita e colocado seu próprio toque nela, lutando na cozinha. Shiro imaginou isso enquanto encarava Sora. Jibril apenas fechou os olhos, aguardando ordens. Puxando os cabelos, Sora falou:

“……Ahhh—tudo bem, eu vou tentar!”

******

Castelo Real de Elkia: o antigo quarto real. Como Sora havia tomado para si a estrutura de um andar construída no pátio, agora aquele era o quarto de Steph. Enterrada no gigantesco, literalmente “tamanho real” colchão, fungando e resmungando, Steph falou.

“Mentiroso… Não foi você quem disse que iria provar que o Vovô estava certo…?”

De bruços, Steph encharcava o travesseiro que segurava com suas lágrimas.

“Vovô… não era um tolo!”

Segurando a chave que carregava consigo a todo momento, ela visualizou o rosto do avô.

……

— Vovô, para que serve essa chave?

— Ora, ora, Stephanie, você não deve tocar nisso.

— Por quê? Para que ela serve?

— Esta é a chave de um lugar com algo muito importante para o seu avô.

— Importante? Ah, eu lembro do que o papai disse.

“O Vovô coleciona ‘livros que ele não pode mostrar para as pessoas.’”

— N-não, não, Stephanie! Isso é outra história!

— I-isso é… a chave da esperança.

— Esperança…? O que isso quer dizer?

— Ho-ho… Um dia, ela será sua, Stephanie.

— Sério?!

— Sim… Mas, Stephanie, ouça bem minhas palavras.

Quando um dia você acreditar, com todo o seu coração, que encontrou uma pessoa a quem pode confiar Elkia, entregue isso a ela.

……

Por algum motivo, ela se lembrava daquele momento de mais de dez anos atrás. Faziam dois anos desde que havia recebido a chave de seu avô, quando ele havia previsto sua partida. A fechadura ainda era um mistério para ela, mas Steph nunca se separava da chave por um minuto sequer. Por que pensava nisso agora?

— Sora. O homem que havia insultado seu avô. Como ela poderia algum dia entregá-la a ele?

“Dora, você tem um momento?”

“Eeyaaaaaaugh!”

Vipp— Jibril surgiu do nada ao lado da cama, espiando Steph, fazendo-a pular e gritar de tanto susto.

“O-o-o-q-q-q-o que foi?! V-você está invadindo minha privacidade!!”

“Tenho apenas um simples assunto para lhe transmitir, então, por favor, não se preocupe com isso.”

Hmm, isso não era exatamente o ponto.

“Minha recomendação é que você retorne à biblioteca neste momento.”

“—O quê? A essa hora? Você sabe que horas são—”

Mas, aparentemente indiferente à opinião de Steph, Jibril simplesmente fez uma reverência e continuou, imperturbável.

“Vim por conta do meu próprio julgamento de que seria melhor para meu mestre. A decisão é sua.”

Com esse anúncio indesejado, ela mais uma vez se dissolveu no espaço e desapareceu.

… Essa era Jibril, afinal: a maneira de pensar dos Flügel devia ser totalmente diferente da dos Imanity. Steph ficou desconcertada com a desconexão, mas refletiu sobre as palavras de Jibril.

— Então ela estava tentando dizer que deveria voltar até Sora agora?

“… Só pode estar brincando; como espera que eu vá logo depois daquilo?!”

Steph puxou o cobertor para cima, mas o som do tique-taque do relógio no quarto manteve seus olhos inchados e vermelhos abertos. Ela pensou nas palavras de seu avô que havia acabado de lembrar e no homem que tinha insultado a memória dele. Será que era apenas porque Jibril veio falar com ela, ou havia algum significado em se lembrar disso agora?

“… Ohh, tá bom, então!”

Empurrando o cobertor de lado, Steph se levantou da cama.

******

Grande Biblioteca Nacional de Elkia. Embora Steph já tivesse ido até lá muitas vezes, por algum motivo, ela ainda entrava com passos silenciosos. Em todo caso, Sora e os outros provavelmente estariam na sala ao fundo, como sempre. Com essa suposição, ela se esgueirou até a porta e a encontrou ligeiramente aberta. Espiando para dentro, ela viu Sora, Shiro e Jibril.

“Mestre, não acha que já é hora de se recolher?”

“Hmm… só mais um pouco…”

Mas, virando a página do livro e olhando incessantemente para o mapa, Sora respondeu distraído. Em seu colo, Shiro respirava suavemente, adormecida, enterrada entre as páginas, enquanto Jibril puxava um cobertor sobre ela e falava.

“Suspeito que, por mais que procure, não será possível defender as tolices do rei anterior.”

Ao lançar um olhar como se estivesse ciente da presença de Steph, ela se escondeu com um suspiro ofegante.

… Não era como se pudesse escapar do olhar de uma Flügel apenas agindo sorrateiramente. Mas, pelo menos, parecia ser possível escapar da atenção de Sora. Ele respondeu sem mostrar sinal de tê-la notado e, com pouca animação, falou:

“—Não é isso que estou tentando fazer. Eu só percebi algo estranho.”

“Não seria o caso de que você… ‘encontrou alguma coisa’, por causa da Dora?”

“Eu estava apenas vasculhando os registros para descobrir como *não* conquistar um reino de garotas com orelhas de animais!”

Sora retrucou indignado à sorrateira Jibril.

“Bem, o que você quer dizer com ‘estranho’?”

Enquanto Jibril continuava a sorrir, divertida, Sora respondeu sério:

“Como eu estava dizendo de manhã — por que a União Oriental apaga as memórias dos jogadores?”

Aquilo deveria dissuadir qualquer um de desafiá-los. Era difícil entender o motivo. À pergunta de Sora, Jibril levou a mão ao queixo e pensou cuidadosamente.

“Talvez pretendam expandir gradualmente seu domínio até o limite e, depois, se fechar.”

“Sim, essa é a resposta mais óbvia. E é verdade que, nos últimos dez anos, apenas Elkia os desafiou.”

Se aquele fosse o plano deles, você poderia dizer que havia funcionado. Mas, então, por que o antigo rei os havia desafiado? Oito vezes?

“Bom, sabe como é, com o cérebro dos Imanity, qualquer coisa é possível!”

“Era isso que eu estava pensando enquanto segurava a cabeça. Mas é estranho.”

Sora respondeu à provocação de Jibril sem mudar sua expressão.

“Oito vezes — esse não é um número que uma pessoa decente, carregando o peso das vidas de milhões, tentaria apenas por frustração.”

“—…!”

Do outro lado da porta, Steph arfou silenciosamente ao perceber que Sora estava, de fato, ouvindo a opinião dela.

“Então, pesquisei o domínio continental da União Oriental.”

Sora, apontando para o mapa.

“Primeiro, esta aqui é uma mina de um metal chamado *armatite*, certo…? Este foi o primeiro lugar que o antigo rei apostou.”

De acordo com os livros de Jibril, o ponto de fusão da *armatite* era de três mil graus. Um metal assim estava além das capacidades atuais dos Imanity de processar — ou seja, aquela montanha não tinha valor para eles.

“Depois, esta grande planície. A União Oriental tem agricultura em larga escala aqui; é uma fonte de alimento fundamental para eles… Este foi o segundo lugar que o antigo rei apostou.”

Nessa época, a União Oriental havia desenvolvido a terra e transformado-a em uma planície, mas, no momento do jogo, era apenas um pântano — ou seja, mais uma vez, sem valor algum.

“Esta mina de carvão foi a terceira aposta. De novo, é um recurso que os Imanity ainda não podem usar. E então, na quarta vez, na quinta, na sexta… até ele apostar o castelo na oitava vez, o antigo rei — nunca apostou nada que tivesse valor.”

Mas, mais importante. Sora bateu no mapa com força:

“Todo o domínio continental da União Oriental… não era originalmente território de Elkia?”

— De fato, todo o território que a União Oriental possuía no continente era aquele que haviam coletado do antigo rei.

“Então o rei anterior entregou para a União Oriental todos os recursos continentais de que eles precisavam?”

“No final, sim. Mas o ponto é: até então, a União Oriental não tinha território no continente, certo?”

O que significava—

“Quem estava encurralado — era a União Oriental.”

Uma nação altamente tecnológica com aquele tipo de construção, uma civilização avançada capaz de usar recursos com um ponto de fusão de três mil graus — uma civilização tão avançada precisaria de recursos continentais. Neste mundo onde tudo era decidido por jogos, se até o comércio fosse determinado por jogos, a União Oriental, com sua postura defensiva, estaria em apuros.

“Mas o que o antigo rei continuava pedindo era ‘uma cidade costeira da União Oriental.’”

Fazia sentido: isso aumentaria os recursos marítimos deles e lhes daria acesso à tecnologia. Era uma condição razoável. Mas, se a União Oriental era a parte encurralada, eles poderiam ter forçado um acordo melhor. Por que o antigo rei fez isso oito vezes? Apostando terras sem valor para os Imanity, pouco a pouco.

“Ele deve ter tido algum motivo…”

Por que — a União Oriental apagava memórias quando isso lhes custava algo? Por que — Elven Gard os desafiou quatro vezes? Por que — …não, espera. Isso não era a questão.

“Por que… o antigo rei parou depois de oito vezes?”

Olhe pelo outro lado. Não era por que ele os desafiava, mas por que ele parou de desafiá-los depois de tantas vezes? Até a oitava vez, quando apostou o Castelo Real, ele só havia apostado coisas sem valor. Ele poderia ter parado após sete vezes ou seguido para nove. Por que oito vezes —? Então, tendo pensado até ali, Sora chegou a uma hipótese.

“E se o antigo rei — não tivesse perdido suas memórias?”

Pegando o mapa, ele o comparou com os dados que havia coletado. Olhando fixamente para as fronteiras ao longo dos anos, seus pensamentos giraram em velocidade vertiginosa para confirmar o lampejo de insight. A hipótese ainda estava cheia de lacunas, mas valia a pena investigar. As maiores falhas eram duas. Como ele teria evitado ter suas memórias apagadas? E —

Enquanto isso, observando Sora pensar furiosamente, Jibril sussurrou hesitante:

“Mestre. Você é, em teoria, um Imanity.”

“—Hmm, hã? De onde veio isso agora?”

Sora, surpreso, parou o fluxo de seus pensamentos e olhou para Jibril.

“No entanto, não é verdade que todos os Imanity pensam tão profundamente antes de agir como você, Mestre.”

Aquilo era uma maneira indireta de Jibril tentar conter Sora enquanto ele tentava justificar as ações do antigo rei. Aquilo era o máximo que ela poderia dizer, como serva, para mantê-lo no caminho certo — uma advertência sutil de Jibril, que jamais poderia duvidar de seu senhor. Mas Sora afastou isso com um gesto.

“Mas alguns são diferentes. E, geralmente, ninguém os compreende.”

Com os olhos fixos nos dados que ele havia organizado no tablet, Sora continuou.

“Mas tentar compreendê-los é meu dever.”

Então ele prosseguiu, como se estivesse lendo a mente de Jibril, que havia caído em silêncio.

“Jibril, tudo bem se você simplesmente disser.

‘Como esperar que essa criatura patética, impotente e desprezível — esse animal inferior chamado Immanity — realize algo? Fisicamente e mentalmente, como podemos acreditar nesses seres inferiores?’ É isso que você quer dizer, certo?”

“—Não, eu certamente não…”

… Mas ela certamente pensava assim. Afinal, não importava o tipo de tolice que o antigo rei tivesse cometido; o que se poderia esperar dos Imanity? Jibril havia decidido seguir não a forma de vida inferior conhecida como Imanity, mas os dois seres desconhecidos chamados Sora e Shiro, que quebravam toda a sabedoria convencional. Mas, então, com as palavras seguintes de Sora—

“A resposta é simples — eu não acredito nos humanos.”

“O quê?”

Nem Jibril nem Steph, do lado de fora da sala, podiam acreditar no que ouviram.

“Provavelmente você pensa que, porque Shiro e eu viemos de outro mundo, somos diferentes dos Imanity deste mundo, mas é exatamente a mesma coisa lá. Todos, em qualquer lugar, são apenas animais estúpidos, incrivelmente grosseiros — incluindo eu.”

No rosto de Shiro, enquanto Sora se depreciava, não havia nada além de um profundo e espesso desespero.

— O mundo de onde eles vieram, coberto de fibras ópticas, era um mundo que havia encolhido ao máximo, uma civilização criada por um nível inacreditável de engenhosidade e sabedoria. E, no entanto, o enorme fluxo de informação que aquela tecnologia possibilitava parecia apenas ensinar, cada vez mais, quão tolas as pessoas podiam ser.

“… Os humanos são um lixo. É a mesma coisa em qualquer mundo que você vá.”

Enquanto Sora cuspia aquelas palavras, Steph apertava a chave em sua mão.

— Ela não poderia confiar a chave de seu avô a Sora, afinal. Este homem…

Não poderia ser digno de confiança. Enquanto esses pensamentos a levavam a se afastar da porta…

“Mas eu acredito no potencial deles.”

… Ainda assim, as palavras de Sora a fizeram parar. Jibril ajoelhou-se ao lado de Sora, que traçava distraidamente o chão.

“A prova — está aqui.”

Sora acariciava a cabeça de Shiro, que dormia em seu colo, respirando suavemente. Sua irmã estava exausta depois de encher sua pequena cabeça com uma massa imensa de informação.

“Se todos os humanos fossem tão inúteis quanto eu, eu já teria desistido e me enforcado há muito tempo.”

A expressão do irmão, enquanto acariciava a irmã, não era a do homem mergulhado nas profundezas do desespero e da desilusão de momentos atrás — mas de alguém completamente diferente.

“No mundo, existem alguns…”

Eram os olhos de um irmão gentil, semicerrados como se estivessem olhando para a luz. Eles viam esperança e sonhos… em uma irmã pálida, cujo peito subia e descia suavemente.

“Alguns que — por causa dessa pequenez, dessa tolice que você vê, acabam incorporando o aprendizado, aquela espécie especial de potencial divino, de esperança, de fantasia, em um corpo tão pequeno… o verdadeiro significado disso.”

“……”

“Veja, eu sou um idiota, tá bom.” Ele riu amargamente. “Mas eu sou ótimo em identificá-los. O mundo realmente está cheio de idiotas — irritantemente cheio,” disse Sora.

Mas então.

“E ainda assim… essa garota era diferente.”

Passando gentilmente a mão sobre a cabeça em seu colo, ele continuou.

“O dia em que conheci Shiro — isso foi há oito anos.”

O rosto de Sora suavizou, como se estivesse pensando em algo que havia acontecido ontem.

“Essa garotinha, que na época tinha apenas três anos… Sabe o que foi a primeira coisa que ela disse quando ouviu meu nome?”

… *Você realmente é… “vazio”…*

“—…!”

Franzindo a testa em confusão, Jibril o observou. Rindo, Sora explicou:

“Essa garota, já uma poliglota aos três anos, viu o trocadilho entre meu nome, *Sora* — ‘vazio’ — e o fato de que eu, claramente, só sorria porque todo mundo estava sorrindo. Ela me insultou usando esse duplo sentido. Não é engraçado?”

Com essas palavras, sem qualquer vergonha ou raiva, mas como se estivesse delirante, Sora sorriu audaciosamente e continuou.

“Meu coração pulou uma batida. Fiquei tão empolgado — *a coisa real* realmente existia.”

Alguém que voava além de suas pequenas ilusões sem nem sequer notá-las. Alguém que, quando perguntado ‘Como você consegue fazer isso?’, respondia de volta, com uma expressão séria, ‘Como você não consegue?’. Alguém avassalador, impossível de alcançar, que enxergava um mundo diferente.

“— Ser o novo ‘irmão mais velho’ da coisa real…”

Com um sorriso tenso, mas também com firmeza.

“Eu sabia que não era digno, mas queria ser. Decidi acreditar. Pensei que, não importava o quão inútil eu fosse, se tentasse com todas as forças entender, talvez pudesse ser — não como minha irmã, mas quase.”

“Então, eu não acredito nos humanos.”

— Assim como ele não acreditava em si mesmo.

“Mas eu acredito em seu potencial.”

— Assim como ele podia acreditar em sua irmã.

“O potencial dos humanos é infinito. É apenas que ele é infinito tanto em direções positivas quanto negativas.”

Assim, as pessoas podiam ser infinitamente sábias ou infinitamente tolas — e por isso…

“Então é como se, talvez, se eu for o mais tolo possível, consiga alcançar minha irmã, que é o mais sábia possível?”

— Sim, como se estivesse dando uma volta completa em um círculo. Sora falou com embaraço, acariciando sua irmãzinha, enquanto Jibril, ajoelhada ao lado dele, o observava com profundo interesse.

— Provavelmente ele nem percebia que estava ignorando o fato de que, naquela época, ele próprio tinha apenas dez anos. Aos dez anos, desvendar o significado por trás das palavras de uma criança de três anos e aceitá-lo. E, além disso, respeitá-lo, começando a pensar em como se tornar como ela. Ver que não poderia vencer pelos mesmos métodos e imediatamente procurar seu próprio caminho. Alguém assim… quem poderia fazer algo assim… como você o chamaria? Este homem, que se chamava de idiota, provavelmente nem percebia.

“—Entendo, então tolice e genialidade são como dois lados da mesma moeda — são palavras profundas.”

Vendo Sora olhar para cima, em direção ao teto, Jibril acabou olhando também. Sora, com os olhos semicerrados, encarava as estrelas no céu noturno, visíveis através do clarão da claraboia da biblioteca. Então, ele contou a história.

“No nosso antigo mundo — os humanos voam pelo céu e até para corpos celestes.”

“—Para falar a verdade… não consigo acreditar nisso.”

“Sim, ninguém acreditaria. Nem mesmo os próprios humanos.”

Mas havia aqueles que acreditaram. Havia aqueles que acreditaram no sonho. Olhando para o céu distante, desejando-o ainda mais porque não nasceram com asas. No fim, as pessoas, com suas próprias mãos, construíram asas de aço e voaram pelo céu acima. E então, desejando ir mais alto, mais rápido, deixaram a própria face do planeta. Porque nasceram sem nada, se encheram de ambição — e seguiram até o outro lado.

— Se você não tem, pode procurar.

— Se procurar e não encontrar, pode fazer você mesmo.

— Se tentar e ainda assim não conseguir, você busca até os confins do mundo.

Nascer sem nada. Esse simples fato era, por si só, a prova do potencial dos orgulhosos e fracos humanos.

“Existem pessoas que encontraram isso. Não como gente como eu, que só quer parecer, mas a coisa real, incomparável.”

Não tentar compreendê-los era um crime. Porque suas palavras — eram tão óbvias para eles que não conseguiam explicar.

“Então é nosso dever, como pessoas comuns, tentar alcançá-los.”

Nesse caso—

“Temos que acreditar antes de fazermos qualquer coisa. O antigo rei também acreditava.”

Com um sorriso, Sora voltou o olhar para o mapa diante dele. Jibril apenas fechou os olhos, criando uma luz fantástica em suas mãos para iluminar o trabalho de Sora.

“O que eu acredito é o que vocês acreditam, meus mestres. Se vocês acreditam nos Imanity, eu simplesmente os seguirei, para onde quer que vão. Não há mais nada.”

No fundo da mente de Steph, que ouvia a conversa enquanto se escondia fora da porta, uma imagem brilhou. A imagem das costas de seu avô, escarnecido como tolo, mas caloroso e imenso. As costas do homem gentil e acolhedor que sempre acreditava nas pessoas.

—… *uma pessoa a quem você acredita, com todo o seu coração, que pode confiar os Imanity…*

>

O homem frio e calculista, que sempre duvidava das pessoas, tão distante de seu avô, mas, por essa mesma razão. Sora, que acreditava no potencial das pessoas mais do que qualquer outro. Será que seria certo entregá-la a ele — a chave deixada por seu avô? Steph ainda não sabia o que aquela chave significava — mas. Será que ele… será que Sora mereceria a aprovação de seu avô? Será que seu avô diria… *“Você escolheu o homem certo”*?

“… Sora.”

Kreeek… A porta se abriu sob a mão de Steph, enquanto Jibril sorria sutilmente e Sora parecia surpreso. Steph simplesmente — tomou sua decisão e falou.

“Eu tenho algo para você.”

******

No dia seguinte… no quarto real que agora havia se tornado o quarto de Steph.

Steph, Sora, Shiro e Jibril estavam todos presentes.

“—Então, essa é a história.”

A primeira coisa que foi dita em resposta a Steph, que acabara de contar tudo o que se lembrava, explicando a história da chave, foi:

“Não tem dúvida, é pornografia.”

Steph imediatamente se arrependeu profundamente de sua escolha de equipe.

“V-você está louco?! Como você tira essa conclusão dessa história?!”

“Porque pareceu que ele ficou nervoso quando você mencionou o que seu pai disse.”

“E-ele disse que era uma coisa diferente!”

“De acordo com as estatísticas no mundo de onde Shiro e eu viemos, 90% dos homens têm um esconderijo.”

“… De c-coisas para maiores de 18… produtos adultos…”

“Viu? É isso aí, Steph, isso vai ser realmente útil. Eu estava lamentando a falta de pornografia neste mundo.”

Steph, sem ter mais nada para dizer, decidiu se jogar na cama em silêncio.

“Mas, Mestre, se você não sabe onde a chave se encaixa…”

“Há 100% de chance do esconderijo para pornografia ser o próprio quarto do dono, ou seja, aqui. Então, sem problema: na verdade—

“Já encontramos uma sala secreta. Deve ser para isso que serve a chave, certo?”

“… Com licença—?”

Ao ouvir essas palavras, Steph levantou a cabeça da cama e viu Sora e companhia em um canto do quarto, onde já investigavam algo. Ela correu para fechar a distância.

“Primeiro de tudo — eu disse que a cama estava inclinada, certo? Quando a Shiro caiu.”

Steph se lembrou daquele momento de alguns dias atrás, quando Sora estava tremendo.

“Então voltamos e olhamos com cuidado, e estava levemente inclinada. Esse ornamento esculpido no pé da cama é uma balança. Uma balança inclinada para a esquerda significa que o lado esquerdo está mais pesado, ou seja, há um dispositivo no lado esquerdo.”

Com calma e sem qualquer sinal de alívio ou empolgação, Sora continuou desvendando o quebra-cabeça com uma frieza impressionante.

“Depois tem essa estante do lado esquerdo. Os espaços entre as prateleiras estão levemente irregulares. Mesmo que as prateleiras do lado direito do quarto estejam uniformes.”

“S-sim… a-agora que você mencionou isso…”

“Mas, tendo dito que estão irregulares, há um padrão de apenas duas distâncias: grande e pequena.”

Apontando para as prateleiras, uma a uma, Sora explicou:

“Se convertêssemos isso em uns e zeros, teríamos 01, 00, 11, 10. Se olharmos isso em binário, é 1, 0, 3, 2. Então, se procurarmos livros neste quarto com mais de mil páginas, sobrariam praticamente apenas as enciclopédias, certo?”

Puxando uma enciclopédia da estante e abrindo-a, Sora prosseguiu.

“Então, a primeira palavra na página 1.032 da enciclopédia é ‘farol,’ em Immanity. Bem, se vamos interpretar algo aqui como um ‘farol,’ tem que ser algum tipo de luminária, como um castiçal ou um lustre, ou algo assim.”

Caminhando até um castiçal ao lado da parede do quarto, Sora continuou:

“Além disso, a palavra tinha, no centro, uma linha funda, como se fosse feita com uma caneta sem tinta.”

Steph e Jibril olharam.

— De fato, havia uma leve depressão.

“O que significa que é o castiçal no centro do lado esquerdo do quarto. Além disso, há três setas à esquerda da palavra indicando uma expressão idiomática, então—”

Ele inclinou o castiçal para a esquerda, três vezes.

“Por fim, à direita, tem uma seta fazendo referência à entrada relacionada *porto* na página 605. O que significa—”

Ele inclinou o castiçal para a direita, uma vez. Então o castiçal se soltou…

— Revelando quatro mostradores dentro.

“A partir daqui foi o que a Shiro resolveu, então vou deixar com ela.”

Batendo as mãos juntos, Sora entregou a tarefa para Shiro, que girou os mostradores.

“Fatorar… o número de vezes… que as linhas se cruzam… em *farol* e *porto*… no sistema de escrita dos Imanity.”

Houve um clique.

“…Exa-ta-men-te… quatro dígitos… resultado: 2642…”

Sora falou com Steph e Jibril, que assistiam a tudo em estado de choque. Como se estivesse mostrando um truque de mágica, ele bateu palmas para trazê-las de volta à realidade.

“Muito bem, muito bem — e o que temos aqui? Olha, atrás da cortina, um bloco na parede está estranhamente saliente!… Ah, isso é meio complicado; da última vez, a Shiro e eu mal conseguimos empurrar isso para abrir. Provavelmente não foi mantido. Jibril, dá uma ajudinha.”

“Oh, sim — como desejar.”

Com um leve empurrão de Jibril—

“E então, o momento que todos estavam esperando—”

Grmmmmm.

“A estante se move…”

E, quando terminou de se mover, além dela—

“Aqui está a nossa porta trancada. Deve ser para isso que a sua chave serve, certo?”

Sora girava despreocupadamente a chave que tinha recebido de Steph, como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo.

“—…”

Sim, *despreocupado demais*. Tranquilo demais. O quebra-cabeça que o antigo rei provavelmente havia elaborado com tanto esforço havia sido resolvido tão casualmente que até Jibril ficou sem palavras, enquanto Steph gritou:

“Q-q-q-quando você descobriu isso?!”

“Eu já não disse? No dia em que Shiro caiu da cama.”

Shiro assentiu.

— “Espere, espere. Um momento,” disse Steph. “…Você está se referindo ao dia em que fui transformada em cachorro e vocês jogaram contra Jibril?”

“Sim, boa memória.”

“Eu não poderia esquecer aquele trauma nem se quisesse! Mas enfim—!”

— Naquele dia, logo pela manhã, Steph havia encontrado Sora tremendo. Eles tinham jogado blackjack, Steph havia perdido. Depois, foram se encontrar com os nobres e, em seguida, para a biblioteca.

“Quando você teve tempo para descobrir isso—?!”

“Quando você foi chamada para lidar com os nobres, teve cerca de uma hora antes de voltar, certo?”

Ele dizia casualmente que havia resolvido aquele mecanismo em uma hora, simplesmente para passar o tempo — um quebra-cabeça no qual Steph havia quebrado a cabeça por anos. Embora ela estivesse boquiaberta, Sora continuou, ainda sem perceber o feito absurdo dele e de sua irmã.

“Mas, sim, da última vez, ficamos presos porque não conseguimos encontrar a chave.”

“M-mas, Mestre, uma porta dessas—”

“Sim, poderíamos até ter arrombado a fechadura, mas qual é a graça de um jogo de quebra-cabeça se você trapaceia?”

Sora sorriu, e Shiro assentiu. Sim, para eles, aquilo era apenas um jogo…

Então, suavizando a expressão e rindo baixinho.

“Então, vamos finalmente ver esses tesouros que ele se deu tanto trabalho para esconder — ah, vou cobrir os olhos da Shiro.”

“…Mmg… isso não é justo…”

“O tempo é injusto de maneira justa. Espere só mais sete anos.”

“Já falei que não é pornografia!”

Sora colocou a chave que recebera de Steph na fechadura e a girou. A porta se abriu com o ranger de ferragens de alta qualidade.

…… Embora Sora tivesse avançado com a suposição de que seria pornografia — assim como todo mundo ali, de alguma forma — todos ficaram mudos.

Do outro lado havia uma biblioteca sem janelas. Um estudo coberto de poeira, com estantes de madeira repletas de livros, ornamentos com um ar sofisticado, uma mesa e uma cadeira. Mas, contrastando com sua tranquilidade, todos sentiram um arrepio. Era como se o lugar os alertasse de que não deviam entrar ali levianamente, prendendo os pés de cada um.

Engolindo em seco, Sora entrou lentamente no estudo. Seu olhar se fixou no livro aberto sobre a mesa no centro da sala. Passando a mão uma vez sobre a superfície de uma página coberta de poeira, ele revelou a escrita que estava ali, marcada com firmeza, dizendo apenas uma coisa.

Ao monarca não dos últimos dias da Immanity, mas de sua ressurgência, deixamos isso.

Sora virou a página com cuidado, e continuou.

Como rei, não somos os Sábios.

Ao contrário, provavelmente seremos conhecidos como um raro tolo. Ainda assim, pegamos nossa caneta em prol do monarca da ressurgência, não por nós. Com a fé de que nossas lutas rasas e desesperadas possam servir ao monarca que está por vir.

“……”

Observando Sora, que estava sem palavras, Shiro e Jibril entenderam e também se sentiram perdidos.

— O que estava ali era tudo. Ao longo de incontáveis partidas com outras nações na vida do chamado rei tolo. Incluindo todas as oito partidas contra a União Oriental. A substância deste homem que se lançou de cabeça, perdeu sem cerimônias, e se dedicou a expor a mão deles— tudo isso.

— Sabendo que, pelo ritmo das coisas, a raça humana se extinguiria em breve, e que suas ações só apressariam isso. Mas ele havia tomado a ofensiva mesmo assim, sob a suposição da derrota. Esse era o papel que ele desempenhava, o tolo, dedicado a expor as cartas da União Oriental e de todos os seus inimigos, enquanto era escarnecido como o mais raro dos reis tolos. Todas as memórias que ele conseguiu agarrar como um simples humano—.

— Devia ter sido.

“O velho rei… não perdeu suas memórias.”

“Mas—como!”

Jibril, se perguntando como ele poderia ter escapado da anulação de memória da União Oriental, da qual ela própria não conseguiu escapar. Mas Sora tinha uma ideia. Apenas um palpite—mas perto de uma convicção.

“Jibril. Um tolo com dinheiro entra em um cassino. O que você faz para esvaziá-lo?”

“—Fazê-lo acreditar que há um jogo que ele pode ganhar, e fazer com que ele ataque… muitas… vezes…”

Jibril abriu os olhos como se tivesse entendido.

“O velho rei estava sondando-os. Oito vezes. Intencionalmente dando-lhes terras inúteis—e então, para tomá-las de volta.”

Mas mesmo que não apagassem sua memória, não havia como a União Oriental permitir que ele falasse. Portanto, provavelmente—.

“Talvez ele tenha dito que não contaria a ninguém sua vida inteira…”

Mas isso—não cobria depois da morte… Isso era tudo. Para os humanos, incapazes de usar magia como os Elfos, entender e lembrar da natureza do jogo de apagamento de memória era a única chance que eles tinham.

— “Deixe o próximo rei ser o maior jogador entre os humanos”… eh.

“……Sim.”

Sora sussurrou a vontade do falecido rei com sentimento, e Shiro entendeu o significado e também respirou fundo. Ele—devia ter sabido. Ciente da falha no torneio para decidir o monarca, que outros países poderiam interferir, ele ainda assim ordenou. O que ele procurava—eram jogadores que pudessem ultrapassar isso, ainda sendo apenas humanos, para tomar a coroa. Pois somente alguém que pudesse quebrar a interferência estrangeira de frente seria capaz de usar esses registros. Pois esses eram registros que deixavam muito claro, por extenso, sua conclusão de que eles jamais venceriam lutando de maneira justa.

“…Steph.”

“O que foi?”

Para Steph, que talvez não compreendesse a situação, olhando para o rosto sério de Sora.

“…Seu avô… não, o rei anterior… ele era realmente seu avô.”

Lembrando de Steph, que até apostou suas calcinhas para revelar suas cartas.

Ele foi desprezado como um tolo, por seu povo, pelo mundo. E ele continuou se fazendo de tolo, dedicando-se a revelar a mão de seus inimigos. Que tipo de coração teve tal determinação? Continuar acreditando no “monarca da ressurgência”—tanta fé na Immanity. Ele apostou na chance de que, entre os humanos no fundo da classificação, alguém surgiria capaz de derrotar as outras raças. Nessa chance infinitamente pequena, mas não nula, ele apostou sua fé e apostou sua honra, seu nome, seu orgulho… sua própria vida.

Uma vida de vergonha e falhas empilhadas para preparar o palco para um único golpe invencível. O “monarca da ressurgência” de duas em uma com quem esse golpe foi confiado só podia ficar parado e olhar. Sora olhou para sua camisa que dizia “I ♥ PPL” e simplesmente disse:

“Viu, Jibril, existem alguns assim—o que você acha: bem insano, né?”

“…Você… pode estar certo.”

Com a sensação de que ela tinha vislumbrado aquilo em que seu mestre acreditava, Jibril, com a intenção de revisar seu entendimento, fechou os olhos e assentiu. Sora, pegando seu celular, começou a programar sua agenda.

O que ele deslizou com o dedo para inserir foi, sem hesitação, esta única frase.

— Objetivo: Engolir a União Oriental.

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