No Game No Life

Volume 2 - Capítulo 3

No Game No Life

Depois de cerca de uma hora balançando na carruagem, eles finalmente chegaram à Grande Biblioteca Nacional de Elkia. Ela ficava um pouco além do centro da cidade, nos subúrbios, depois de passarem pelo que parecia ser uma instituição de ensino com dormitório. Assim que Sora desceu da carruagem e olhou para cima, uma única palavra escapou de seus lábios:

— ...Enorme...

A primeira coisa que veio à mente foi a Biblioteca do Congresso, em Washington, DC. A maior biblioteca do antigo mundo de Sora e Shiro, com uma coleção de cem milhões de livros, mas o exterior dessa aqui não ficava muito atrás. Era graciosa e glamorosa o suficiente para rivalizar com o Castelo Real de Elkia. Era tão impressionante, de fato, que quase fazia alguém reconsiderar sua avaliação sobre os Immanity neste mundo. Uma biblioteca realmente magnífica — e, ainda assim...

— ...Vocês deixaram isso... ser levado embora...

— Nm-mghh...

Essa foi a observação de Shiro, ainda usando as calcinhas de Steph como um chapéu. O comentário fez Steph — ainda uma cadelinha sem sua roupa íntima — abaixar a cabeça em silêncio, envergonhada.

— D-de qualquer forma! Tenho uma pergunta! — disse Steph, com o tom um tanto desesperado. Ela parecia determinada a tentar se impor contra os irmãos, apesar de sua situação.

— Sim, senhorita Stephanie, o que é?

— Vocês não disseram que não deveríamos enfrentar uma raça da qual mal sabemos algo? É realmente uma boa ideia desafiar monstros de sexto rank como os Flügel sem um plano?!

...Ela achava que essa era uma pergunta razoável? Melhor esclarecer. Afinal, ela era apenas Steph.

— ...Tudo bem.

— Hã? P-por quê?

— Olha... Ganhar no *shiritori* não tem nada a ver com o quanto você sabe.

— Hã?

— Deixa pra lá. Vamos andando logo.

Ao abrir a enorme porta e entrar na biblioteca, eles foram recebidos por um espaço repleto de estantes, não apenas nas paredes, mas até mesmo no teto, desafiando a gravidade. As estantes se erguiam dezenas de metros em meio a incontáveis luzes suaves flutuando no ar. Era um espaço fantástico, construindo esses elementos em algo parecido com um labirinto.

— Uau... desculpa, mas tenho que me desculpar um pouco. Os humanos deste mundo têm talento.

— ...É...

Sora ficou tonto só de imaginar o número de livros armazenados ali. Até Shiro parecia impressionada. Não era pouca coisa reunir tantos livros assim. Mesmo no antigo mundo deles, dificilmente existiria uma biblioteca com uma coleção desse tamanho. Mas então Steph explicou, de forma meio constrangida:

— Uh... Sinto em dizer, mas esses livros não foram coletados por Elkia.

— ...Como é?

— Isso foi acumulado depois que ela tomou a biblioteca, eu acho. Digo... quando eu vim aqui como estudante, nem havia um centésimo dessas estantes.

— ...Que desperdício ter pensado melhor de vocês, mesmo que por um segundo.

— Mas, pensando bem, era óbvio. Não havia como os Immanity colocarem estantes que desafiavam a gravidade no teto.

— Phew... Então, onde está o nosso anjo abençoado?

Caminhando pela biblioteca com suas fileiras de livros perfeitamente alinhados, de repente, havia um feixe de luz. Todos os olhos seguiram o brilho até sua origem — e congelaram.

— Era um anjo. Uma garota com uma presença esmagadora, daquelas que fazia hesitar em olhar diretamente. Um halo com um padrão geométrico brilhava suavemente acima de sua cabeça, e asas levemente iluminadas, pequenas demais para sustentar alguém aerodinamicamente, surgiam de seus quadris. Seus longos cabelos esvoaçavam suavemente, mesmo sem vento dentro do ambiente, e a cada momento a luz se refletia em uma mecha ou outra, criando o efeito de um arco-íris. Quando seus olhos se abriram lentamente e fizeram contato com os dele, Sora sentiu, pela primeira vez desde que chegou a este mundo, o peso da morte. O olhar dela carregava uma intenção assassina tão palpável que parecia ter peso físico, convencendo-o de que aquela garota, aquela beleza divina, poderia acabar com sua vida com um simples toque. Dizia a ele que, mesmo se corresse ou implorasse por sua vida, nada disso teria sentido.

(Então isso é um Flügel? Isso é — o Rank Seis?)

Uma arma, criada pelos deuses para aniquilar outros deuses — para dizimar e destruir. Enquanto Sora refletia que aquilo devia ser como ter uma metralhadora apontada para si, até Shiro, normalmente desprovida de emoção, encolheu-se e agarrou o braço de Sora. Steph, por sua vez, estava sentada no chão, batendo os dentes e mal conseguindo segurar o choro.

A figura impressionante pousou sobre uma estante próxima, sem emitir som algum e sem sequer dar a impressão de ter peso.

— ......

Ignorando o silêncio deles, o anjo — a garota Flügel — abriu os olhos âmbar, languidamente, e falou:

— *Pardon?* O que traz vocês, personnes, à minha *bibliothèque*?

— ...Isso estragou tudo... — murmurou o exausto Sora, lançando um olhar para Steph, que já estava inconsciente ao lado deles.

— Hã, uh, por que não começamos com apresentações? Eu sou— — disse Sora, tentando se recompor e retomar o ritmo ao tomar a iniciativa.

— Mas.

— Vocês são os novos rei e rainha de Elkia, Sora-sama e Shiro-sama, *oui*?

A garota Flügel roubou sua chance de falar.

— ...Bem, isso economiza tempo.

— Eu gosto de ler os jornais dos Immanity. Parab... digo, *félicitations* pela coroação.

— ...Ela se corrigiu...

Enquanto Shiro fazia um comentário sarcástico (ainda usando a calcinha na cabeça), ela continuava agarrada ao braço de Sora.

Era bom lembrar que, neste mundo, a violência não tinha significado, mas, ainda assim... A psicologia era provavelmente parecida com aquela de não querer se aproximar de um tigre, mesmo que dissessem que ele havia sido sedado. Mas Sora parecia ser imune a esse fenômeno.

— Ei, na verdade, a gente conhece uma celebridade que fala exatamente assim, então, se essa não é sua maneira normal de falar, pode parar?

O comentário de Sora pareceu profundamente chocante para ela. *O quê?* — disseram os ombros da garota Flügel ao caírem, decepcionados.

— Era a minha linguagem pessoal estilosa e única; alguém já fez isso antes...

Mas logo sua expressão voltou ao normal.

— Sendo assim, queridos, o que os traz aqui hoje?

— ...Hã, isso era seu jeito normal de falar antes, certo? Por que agora você tá falando como se fosse de Kyoto?

— Nunca ouvi falar de Kyoto, mas *thess* é a língua antiga do antigo território de Immanity; não lhes agrada?

— Certo, a gente não vai chegar a lugar nenhum se tiver que ficar corrigindo você toda hora.

— Mngh, eu quase nunca recebo visitantes, e fiquei tão animada para mostrar meu conhecimento...

Já não restava vestígio algum da majestade que ela exibira um momento antes. A garota Flügel agora parecia desanimada, com os olhos brilhando com uma leve lágrima de frustração.

— Então, uh, de qualquer forma, fala normalmente. Ok?

— *g07 17, d00d.*

— Certo, estamos indo embora. — disse Sora, virando-se. Mas a garota Flügel agarrou sua calça e falou, quase chorando:

— Oh! Desculpe! Eu realmente peço desculpas! Quase nunca recebo visitas, por favor, não vão embora tão cedo! Vou preparar chá! Trarei docinhos!

A biblioteca parecia uma obra de arte tecida por luzes místicas e estantes de livros. Em um canto, ao redor de uma mesa sobre a qual chá e doces tinham sido devidamente servidos, Steph, que ainda não tinha voltado a si, fora rolada para o chão próximo. E agora, após um formal pigarrear: *ahem.*

— Então, governantes dos Immanity, por qual propósito me procuram, aquela que domina não apenas a língua dos Flügel, mas todas as línguas dos Ixseeds, além de mais de setecentas línguas, incluindo as de outros mundos e tempos antigos, sem falar das informações contextuais pertinentes?

— ...Ah, sim. Vamos ver.

Sora decidiu que o melhor era ir direto ao ponto e começou.

— Vou direto ao assunto. Nos dê essa biblioteca.

...

— Um momento de silêncio. Às palavras de Sora, a garota, erguendo sua xícara de chá:

— Quer dizer que estou sendo desafiada a um jogo por um mero humano?

— Sim, exatamente.

Os olhos dela eram cálidos, realmente faziam alguém pensar em uma deusa.

— É mesmo? Pois saibam que esta biblioteca está repleta de livros que eu coletei. Considerando que, para nós Flügel, que prezamos o conhecimento acima de tudo, esses livros, o repositório do meu saber, e, por extensão, essas prateleiras que os guardam, podem ser considerados equivalentes à minha própria vida—

— Aqueles olhos se estreitaram levemente.

— Vocês propõem que eu aposte a minha própria vida. O que vocês apostam em troca?

Com essas palavras, ela levou o chá à boca, observando Sora atentamente com um olhar que continha um breve lampejo de intenção assassina. O olhar arrancou um pequeno som de Steph, que até então parecia inconsciente: *Eep.*

— Mas, lembrando-se dos Dez Pactos, sem mencionar a conversa que acabaram de ter... Sora parecia totalmente despreocupado ao responder.

— Livros de outro mundo. Mais de quarenta mil volumes, no total.

— *Pfffffffffffffffffhhhhhhhhhhhhhhhhhhbt?!*

A garota borrifou chá por toda parte, destruindo novamente toda a gravidade que tinha se esforçado tanto para construir.

— D-d-desculpem... p-permitir que me vejam nesse estado tão indigno...

— ...Nojento...

Enquanto Shiro reclamava, coberta de chá, Sora apenas deu um joinha.

— Sem problemas. No nosso ramo de trabalho, isso é uma recompensa. — Ele respondeu com um sorriso largo.

— Q-q-quero dizer, q-quarenta mil... Vocês só podem estar brincando, o-o-onde poderiam guardar—

Enquanto a garota Flügel continuava agindo de forma suspeita e fora do personagem, Sora tirou seu tablet:

— Isso aqui contém dados eletrônicos — hm, você sabe o que é isso? Enfim, quarenta mil livros de outro mundo.

— ...O quê...?

Os olhos da garota se arregalaram como se quisessem queimar um buraco no tablet que Sora havia produzido.

— Eu tinha isso para estudar para jogos de quiz. Mas tem enciclopédias, medicina e filosofia, ciência e matemática — basicamente, tudo o que as pessoas sabiam no geral no nosso antigo mundo está aqui, em alta proporção.

À explicação de Sora, a garota lançou um olhar duvidoso:

— ...Senhor, você afirma ser de outro mundo?

— Sim.

— Certamente, senhor — você está mentindo.

— Uhh, o quê?

Por quê? Embora Steph tivesse acreditado neles logo de cara—

— É verdade que os Elfos são habilidosos em magia de invocação de criaturas de outros mundos. Eu mesma possuo alguns livros de outros mundos, embora poucos. No entanto, quando um ser vivo é invocado de outro mundo, é necessário um poder imenso para mantê-lo neste mundo. Mesmo com o poder de um *Old Deus*, trazer pessoas de outro mundo seria um desafio extremo.

— Tendo ouvido isso, Sora, semicerrando os olhos, chamou Steph, que estava esparramada no chão.

— ...Steph, pode parar com o teatrinho de desmaio. Tenho uma pergunta pra você.

— M-m-mghh... V-você sabia...?

— Isso não é o que você disse antes. Você falou que não era tão estranho haver pessoas de outro mundo.

— E-eu não sei muito sobre magia avançada... Então, normalmente não existem pessoas de outros mundos?

Sora decidiu que já era hora de parar de ouvir qualquer coisa que Steph dissesse. Ele começou a pensar em como poderia fazer a garota acreditar nele.

— Por outro lado, isso explicaria como os Immanity venceram o jogo contra os Elfos...

Antes que ele pudesse terminar, a garota lhe deu uma oportunidade de provar seu ponto.

— Vocês teriam algo que possam oferecer como prova?

— Prova... Bem, olha só isso aqui primeiro.

Ele manipulou o tablet diante dela e abriu o aplicativo de biblioteca, então exibiu um e-book.

— Entendo. Esta é uma linguagem que nunca vi... E não parece ser uma falsificação.

Era uma autoproclamada conhecedora de setecentas línguas. Aparentemente, ela conseguia reconhecer imediatamente que os caracteres obedeciam a regras claras.

— ...Eu vi algo parecido... Mas uma língua que não conheço, um mundo que não conheço... Suas enciclopédias... literatura acadêmica... todo esse conhecimento, t-tudo dentro dessa caixinha fina, q-q-quarenta mil... e-e-eheh, eheh-hehh!

— Ei! Você tá babando! Tá babando!

A garota encarava a tela com uma cachoeira de baba pendurada na boca. Com um suspiro, ela se recompôs, limpando a boca rapidamente.

— M-meus perdões. Que comportamento vergonhoso.

— Então, o que acha das condições da aposta?

A garota refletiu por um momento antes de responder.

— Bem, a questão é se o que vocês dizem é verdade.

— É, justo. Acho que isso não foi suficiente pra provar nada, né?

Ainda havia a possibilidade de que aquele livro específico fosse uma falsificação escrita em uma linguagem artificial. A única maneira de provar que todo o conhecimento naquele tablet era real—

— Vocês dois conseguem provar que são residentes de outro mundo?

Naturalmente, a conversa chegaria a isso. No entanto—

— Honestamente, eu não sei. Eu sou virgem! Minha irmã é uma criança, como você pode ver! Nós nem entendemos direito as diferenças individuais entre humanos no nosso mundo antigo, então como espera que saibamos as diferenças entre nós e os daqui?

De certa forma, isso até fez Sora parecer mais másculo, ao declarar tudo alto e claro.

— Acho que você é quem sabe mais sobre isso. Não consegue nos distinguir dos Immanity deste mundo?

Ao ouvir isso, ela observou Shiro e Sora com cuidado, comparando-os a Steph.

— Hmm... bem, Rei Sora, você tem uma coloração um tanto diferente da dos Immanity de Elkia. Por outro lado, a pele da Rainha Shiro parece até branca demais... Seria aceitável se eu tocasse seu corpo para verificar?

— Hmm... Depende de onde. — Sora respondeu com cautela.

— Sua área erógena.

— Por favor, vá em frente até se satisfazer e continue mesmo depois de satisfeita.

Apesar da resposta decidida e sem hesitação de Sora, Shiro o interrompeu bruscamente.

— Irmão, R-18...

— Ngh, ghgh... Você tem razão... E era uma proposta tão atraente...

No entanto, a Flügel, como se examinasse o corpo de um paciente, falou calmamente, sem qualquer intenção oculta.

— Todos os seres vivos deste mundo possuem uma pequena quantidade de espíritos em seus corpos. Bem, falando claramente, verificar as áreas com alta concentração de nervos me permitirá detectar se vocês os têm, então...?

... Olhar.

... Olhar...

Steph e Shiro encararam Sora com olhos frios e semicerrados.

— Hngg... Uhh—tá bom, mas minha cueca fica no lugar! E— — Sora apresentou suas condições de compromisso. — Se você vai me tocar, então eu também posso tocar sua área erógena!

— Ora, isso é perfeitamente aceitável.

— O quê, sério?!

—.....

— *Touchie touchie touchie...*

— Ei...

— Sim? A sensação deste toque não está do seu agrado?

— Ah, está sim. É bom, surpreendentemente bom.

De fato, ele estava comovido de uma maneira bem diferente de quando apalpava os seios de Steph. Tão comovido, na verdade, que queria que aquilo durasse para sempre. Dito isso...

— Mas, que é isso, essa sensação de traição... Não consigo entender...

disse Sora enquanto acariciava a asa da garota Flügel, enquanto a garota tocava o mamilo de Sora.

— Oh, céus, isso não era uma zona erógena para você?

— Vamos dizer que reconhecer isso como uma zona erógena ameaça o orgulho de um homem. Deixe-me também adicionar que eu estava, como posso colocar, sabe, esperando que você tocasse em outro lugar.

*Touchie touchie touchie...*

— Mm, por favor, não me toque tão precisamente. Eu vou começar a fazer sons estranhos.

— ......Hmm.

Sora, levando em consideração o estado dela, lançou um olhar para Shiro.

— Minha irmã, eu estou apenas tocando a asa dela. Isso não é verdade?

— ...Mm, totalmente inocente...

A harmonia entre os irmãos era o que se chamava de *“respiração do om”*. Antes que Sora precisasse dizer qualquer coisa, Shiro pegou o celular e mirou a câmera.

— Bem, acho que agora vou mostrar minhas habilidades de mestre em jogos *porn* baseados em toque.

Com essas palavras, Sora deslizou os dedos, *shk shk shk*, da base da asa. No meio desse trajeto, por um instante, a asa pulou levemente. Sora então focou nesse ponto específico, testando diferentes níveis de pressão, usando ambas as mãos, em vários pontos.

— Yagh! Ah — ngh... Eu p-peço desculpas, mas eu, uh, não consigo... me c-concentrar; por favor... augh... seja mais... g-gentil, se possível...

— Ah, sim... Hmm, acho que isso em si não é tão ruim.

— ...Irmão, ângulo... close-up... por favor.

— Entendido, Diretora. *Whoop.*

— Ungh—!

— O que esses irmãos estão fazendo com uma Flügel...?

A ideia de que os dois estavam assediando até mesmo uma arma capaz de matar deuses estava começando a se transformar em algo próximo ao respeito nos olhos de Steph, que murmurou, chocada. Assim, esse processo de confirmação continuou até que a garota Flügel desabasse no chão...

**********

— *Ahem*, agora, antes de tudo —

Ajeitando suas roupas ao se sentar novamente na cadeira, a garota recompôs o rosto avermelhado.

— Eu humildemente peço perdão por tê-los colocado no mesmo nível que os baixos Immanity, sem ao menos a cortesia de me apresentar. Meu nome é Jibril. É um prazer conhecê-los.

“Jibreel”, como a garota Flügel se chamou, abaixou a cabeça profundamente.

— ...Steph.

— Ah, sim. O que foi?

— ...Quão baixo é o status dos Immanity neste mundo?

— ...Sejamos generosos — fundo do poço, eu diria.

Nisso, com um sorriso perfeito, a garota Flügel — Jibril — acrescentou:

— Se me permitem. Eu os entendo melhor como “macacos arrumadinhos que sabem falar”!

Jibril falou com um sorriso impecável, desprovido de malícia.

— Ah, e, para deixar claro, não tenho interesse algum nos Immanity comuns. Já aprendi tudo sobre eles e li mais do que o suficiente de sua literatura. Ah... você... seu nome era Zepef, não?

— É Steph! Não, espere, é Stephanie Dola!

— Bem, tanto faz; vou apenas chamá-la de pequena Dora.

— O quê?!

— Dora, você não me interessa, então poderia, por gentileza, ir encontrar algo para se entreter?

Jibril disse isso também sem um pingo de malícia.

— ...Eu posso chorar agora, não posso?

Steph, ainda forçada a se vestir como uma cadela (sem calcinha), estava à beira de romper as comportas de suas lágrimas.

— ...Bem, olhando para o estado atual dos Immanity neste mundo, é difícil argumentar contra...

No entanto, a maneira como Jibril se desculpou fez Sora expressar dúvida.

— Mas você estava dizendo que nós não somos Immanity?

— Não, é que... Eu não consigo sentir nenhum espírito em seus corpos.

Ela acendeu uma pequena luz na ponta do dedo, mostrando o que parecia ser um “espírito” ou algo assim.

— Se vocês têm espíritos, eles devem ser indetectáveis por qualquer meio conhecido por mim... Em outras palavras, vocês dois nem mesmo se encaixam na definição de “seres vivos” neste mundo — mas, estruturalmente, claramente parecem ser Immanity.

Então... o quê?

— ...Então o que somos...?

Para o murmúrio de Shiro, Jibril abriu os olhos brilhantemente e gritou:

— Vocês são o desconhecido!!

— Oh, poderia haver algo mais sublime neste mundo do que o desconhecido?!

Suas mãos se juntaram enquanto ela olhava para o teto, como se estivesse rezando, e continuou, enlouquecida:

— O desconhecido — aquilo que ainda não é conhecido! Não constitui conhecimento existente, mas o minério bruto a partir do qual o conhecimento que ainda não existe neste mundo nasce! Eu peço profundas desculpas pela minha impropriedade em igualá-los a meros Immanity!

— Em teoria, Sora era humano, mas a situação era extremamente complicada.

— ...Certo, tanto faz, provamos pra você que somos de outro mundo, certo?

— Oh, sim. E com isso — vocês desejam um jogo, não?

— Sim.

— Claro, eu aceito. A aposta —

disse Jibril, mas, após um momento de pausa:

— ...Eh? Qual era mesmo?

— ......Você nem estava ouvindo?

— P-pardon me... Parece que a recompensa foi tão grandiosa que eu perdi a noção de tudo que veio antes...

Com o olhar silencioso e semicerrado de Sora, Jibril entrou em pânico.

— M-mil perdões! Para minha aposta — que tal “tudo o que eu possuo”?!

— O quê?!

O salto de apenas *“Nos dê a biblioteca”* fez Steph levantar a voz.

Até Sora não pôde deixar de pensar consigo mesmo, ...O quê, sério? Ele decidiu apenas observar, já que aparentemente havia a chance de ganhar ainda mais do que esperava.

— V-vocês talvez não adivinhem, mas eu sou, na verdade, uma das líderes de Avant Heim. Sou a agente plenipotenciária de várias dezenas de Flügel. É lamentável que não possa apostar todo o país, mas, bem, o que acham?

...Agora isso... era inesperado. Ele apenas tinha exigido que ela entregasse tudo na biblioteca. Ele também havia planejado conseguir a própria Jibril, mas—.

— N-não é o suficiente? Claro, claro que não é. Estamos falando de quarenta mil livros de outro mundo, afinal. Pode esperar um pouco? Vou tomar o controle do governo de Avant Heim e voltar com todos os Flügel sob meu comando! Enquanto isso, por favor, não dê—

— Uh, quanto tempo isso vai levar?

— B-bem perguntado... E-eu farei o meu melhor para terminar em cem anos!

— Nós vamos morrer de velhice!

— Oh... Quão efêmera é a vida dos Immanity...

Mas isso... era até mais do que ele esperava — um erro de cálculo muito bem-vindo.

*Preciso modificar meus planos...*

Sora murmurou para si mesmo, com aqueles olhos — os olhos que ele fazia quando estava elaborando algum cálculo diabólico.

— ...Não, não precisa fazer isso. Tudo o que estou pedindo são todos os seus direitos como indivíduo.

— O-o quê... V-você ficaria satisfeito com algo tão insignificante assim?!

Com os olhos brilhando como se fosse voar até ele, Jibril.

— Claro, aceito com prazer! Oh, e posso adicionar um pedido extra quando eu vencer?

— Sim?

— Poderiam vir tomar chá comigo de vez em quando? Eu adoraria saber mais sobre vocês dois. Sabe — até os mínimos detalhes... *Geh-heh, eh-heh-heh-heh...*

O rosto de Jibril, no início um sorriso fresco, gradualmente se transformou no de um velho tarado. Isso fez Sora pensar, honestamente, que deveria ter gravado aquilo no celular. Mas enfim.

— Você fala como se já tivesse vencido.

— Sim, peço desculpas, mas eu certamente vencerei.

Ah, então ela achava que podia apostar qualquer coisa porque tinha certeza absoluta da vitória. Sora respondeu com um sorriso.

— Hã. Então vamos adicionar um pedido quando nós ganharmos, certo?

— Certamente! Não é como se fossem ganhar, mas por favor, solicitem o que quiserem.

— Hmmm. Agora havia uma brecha maior do que qualquer um poderia imaginar. Sim, uma brecha bem grande... para a dominação mundial.

A única que notou o sorriso sutil de Sora foi Shiro.

**********

O grupo seguiu até o local do jogo: o centro da biblioteca, caminhando pelo labirinto fantástico de livros e prateleiras. No caminho, uma dúvida surgiu, e Sora a expressou em voz alta.

— Ei, por que você tomou essa biblioteca? É só conhecimento dos Immanity, não é?

— Ah, sim, bem, meu país natal, Avant Heim, fica nas costas de um Phantasma—

Sora lembrou-se de Lapu—não, a cidade dos céus que havia passado sobre sua cabeça.

— Nós não precisamos de comida e vivemos quase eternamente, então território não é exatamente uma preocupação. Mas, veja bem, estamos coletando conhecimento há milhares de anos, então começamos a ficar sem espaço para guardar livros.

— ...Aham.

— E assim surgiu um projeto de lei chamado *"Vamos Eliminar a Redundância de Livros"* no Conselho.

— Esse governo que Jibril mencionou era conhecido, se a memória não falhava, como o Conselho das Dezoito Asas: a autoridade central dos Flügel, composta por oito representantes e um agente plenipotenciário.

— A ideia era compartilhar o conhecimento — e isso até faz sentido. Mas, no final das contas, obrigava cada Flügel a emprestar livros uns aos outros. Loucura.

Jibril cerrou os punhos, ficando mais empolgada.

— Claro que me opus! Quatro legisladores, incluindo eu, se opuseram violentamente, mas o Conselho ficou empatado em quatro a quatro. Então, o Alipotente, que possui o direito de decisão final, permitiu que essa proposta abominável passasse.

Ela se abateu momentaneamente, mas logo continuou.

— Como eu jamais poderia aceitar tal coisa, saí voando para estabelecer minha própria biblioteca.

— ...E foi por isso que o pilar do conhecimento e sabedoria dos Immanity foi tomado...

Ao comentário suave de Sora, Jibril gritou ferozmente:

— Mas meus livros! É minha paixão mantê-los organizados e em condições impecáveis, controlando até mesmo a temperatura e umidade ao redor. E agora preciso permitir que sejam dobrados, amassados e manchados?! Impossível! Inaceitável!! Se não fosse por aquele pestinha do Tet e sua proibição do uso de força, as cabeças deles estariam voan—Ah, chegamos. É aqui!

— Ooh, essa garota é assustadora.

— Só para você saber, Sora... — disse Steph para Sora, que havia falado sem pensar.

— O modo de vida dos Flügel hoje se baseia em coletar conhecimento, mas antigamente—

Jibril a interrompeu e respondeu por si mesma.

— Sim, antes dos Dez Pactos, nós gostávamos de colecionar cabeças.

Com um sorriso inocente, como se recordasse velhas e boas memórias.

— Ah, como eu era jovem naquela época — partindo para decapitar Gigants e Dragonias e brigando sobre onde pendurar suas cabeças. Ah, não se preocupem; havia tantas cabeças de Immanity que elas tinham nível de raridade zero.

Sora, inconscientemente protegendo seu pescoço, murmurou:

— ...Flügel é um nome enganoso. Vocês deveriam mudar.

Isso fazia parecerem anjos. Aquilo era obra de demônios.

No centro da biblioteca, havia um amplo espaço circular cercado por estantes de livros. Sobre a mesa redonda no meio, estava inscrito um padrão geométrico complexo, com duas cadeiras em lados opostos.

— O jogo, como talvez saibam, é *shiritori*... Porém, usaremos isto.

Jibril estendeu suavemente a mão sobre a mesa redonda. O padrão geométrico brilhou, e, convergindo em direção ao centro, círculos mágicos surgiram e um cristal flutuou no ar em frente a cada uma das cadeiras.

— ...O que é isso?

— É o dispositivo para o *Shiritori de Materialização*.

Com um gesto indicando que se sentassem, Jibril tomou seu lugar. Sora sentou-se, com Shiro no colo.

— Flügel é uma raça de guerra — jogos comuns não são nossa especialidade, tampouco nos interessam.

— Apesar dos Dez Pactos?

— Sim, veja bem, ao jogarmos esses joguinhos insignificantes, não podemos evitar pensar: *"Ah, se eu pudesse resolver isso logo cortando a cabeça deste miserável..."* Essas regras incômodas são todas graças àquele moleque traiçoeiro. Algum dia, eu vou fu—Oh, céus, quase proferi uma palavra vulgar. Por favor, me perdoem!

— “““Ooh, essa raça é assustadora!”””

— *Tee-hee-hee*, — riu Jibril fofamente, enquanto os três ainda tremiam.

— Dito isso, às vezes temos desentendimentos entre os Flügel. Este é o jogo que usamos em tais situações. — Jibril tocou o cristal flutuante. — As regras são simples. Nós nos revezamos dizendo palavras que comecem com a última sílaba da palavra anterior.

Era realmente só *shiritori* — mas.

— Uma parte perde ao repetir uma palavra já usada, não responder em trinta segundos ou não conseguir continuar.

Jibril sorriu enquanto explicava mais:

— "Os mais conhecedores vencerão" — esta é a solução a que chegamos, nós, que vivemos para coletar conhecimento!

— Hmm, e as palavras podem ser em qualquer língua?

— Sim; contudo, coisas que não existem, que são inventadas ou sem imagem não serão aceitas. Ou seja, palavras sem sentido não serão reconhecidas.

Mas, ouvindo isso, algo perturbou Sora sobre as condições de derrota.

— ...O que você quer dizer com *"não conseguir continuar"*?

— Bem, este é o *Shiritori de Materialização* — — Jibril sorriu maliciosamente. — Se o que você disser existir, ele desaparecerá; se não existir, ele se materializará. Certamente você consegue imaginar... como um jogo assim poderia acabar?

Ah. Então, se alguém dissesse "gorila", um gorila apareceria. Exatamente como ele imaginava — e parecia um jogo muito divertido.

— Por exemplo, e se eu disser "mulher"?

Com uma expressão de *"boa pergunta"*, Jibril respondeu:

— Todas as mulheres não participantes — como sua irmã e a pequena Dora ali — desapareceriam.

— Você está dizendo que todas as mulheres do mundo desapareceriam?

— Não se preocupe. Este jogo não possui tamanho poder. — explicou Jibril com uma risada tímida. — Apenas nos transportamos temporariamente para um espaço virtual no qual palavras se materializam ou desmaterializam.

... *Apenas*? Isso soava como algo bem grandioso.

— Além disso, não é possível agir diretamente sobre o outro jogador para forçá-lo a perder.

— *Diretamente*, né?

— Isso mesmo.

— Certo, Shiro. Vem cá, vem cá.

*Tmp, tmp, pff*, Shiro se acomodou no colo de Sora.

— Vamos jogar juntos, como sempre. Nesse caso, dizer "mulher" vai só fazer a Steph desaparecer, certo?

— Ugh.

Steph fez uma expressão de choque suficiente para merecer um efeito sonoro.

— E, se "diretamente" não é permitido... e se eu disser *coração* ou *água*, que compõem a maior parte do nosso corpo?

Jibril sorriu levemente, impressionada com o cuidado de Sora em entender as nuances das regras.

— Isso se aplicaria apenas àquilo que não está presente no corpo do jogador. Portanto, no caso da água, toda água fora do corpo desapareceria.

Hmm... certo.

— Por favor, notem também que, quando o jogo terminar, tudo será restaurado ao estado original, então sintam-se à vontade para demonstrar todo o conhecimento de vocês.

— Brilhando como um anjo, Jibril sorriu.

— Claro, como seres impotentes, sugiro que se divirtam o máximo possível sem morrer.

— ...Hã?!

Steph gritou em consternação, aparentemente só agora entendendo.

— Q-quê? Podemos morrer?!

— Os eventos do jogo não se refletirão na realidade. Depois que o jogo terminar, tudo voltará ao normal!

— Não, espere, peraí! Quando você pensa bem, eu nem preciso estar aqui, não é?! Tudo o que eu vou fazer é ser exposta a—

No entanto, Jibril, ignorando Steph completamente, colocou a mão sobre o cristal flutuante.

— Vamos começar?

Imitando-a, Sora e Shiro colocaram suas mãos sobre o cristal e responderam:

— Sim — que o jogo comece.

— ...Pode vir...

— Vocês vão me ouvir ou nãooooooooooooooooo!

— ...Steph, senta...

Pela graça dos Pactos, Steph foi trazida rapidamente para sentar como uma cachorrinha obediente.

— Gaaaaaah! Agora eu não posso nem fugiiiiiiir! Eu odeio issoooo!

Os círculos mágicos se expandiram até envolver todo o espaço circular. No mesmo instante, eles foram transportados da realidade para um mundo completamente isolado. O jogo havia começado.

**********

— Agora, com isso, cedo a vocês a primeira jogada. Por favor, escolham a palavra de sua preferência!

— Hmm. Vamos ver... então...

Brincando com seu celular, Sora colocou a mão sobre o cristal e disse:

— Para começar... “Bomba H”.

— No momento em que ele falou, um bloco de ferro que realmente pesava vinte e sete toneladas materializou-se acima de suas cabeças. Jibril (e, claro, Steph) olharam para cima, incapazes de entender o que era aquilo. Mesmo que soubessem, dificilmente poderiam conceber o significado de nomeá-lo naquele momento. Afinal, tratava-se do que poderia ser considerado o maior e mais vil erro que os humanos do mundo de Sora e Shiro haviam produzido: uma arma de destruição em massa.

Enquanto Jibril olhava para cima, o fusível de alta tecnologia já havia ativado a ignição primária por fissão nuclear — até a detonação. O calor nuclear gerado fundiu o deutereto de lítio presente, liberando luz.

— Jibril não sabia o que era aquilo. No entanto, os instintos dos Flügel, criados pelos deuses para matar deuses, alertaram-na: *"Uma tempestade de luz está vindo para reduzir tudo a cinzas."*

—!

Houve menos de algumas centenas de milissegundos de conflito antes da explosão secundária. Jibril colocou a mão no cristal e formulou palavras como se estivesse gritando:

— “Bú Li Anses”!

O fim de seu grito e o processo final de fusão ocorreram quase simultaneamente.

A luz inchou com o calor. O “segundo sol” nascido naquela pequena sala da biblioteca volatilizou tudo em um instante com sua temperatura super-ultra-elevada. O calor que significava morte instantânea e a onda de choque subsequente fizeram o prédio “desmaterializar-se” literalmente — transformando tudo em um raio de um quilômetro em um campo de cinzas, em meio a um turbilhão de violência esmagadora.

... A biblioteca foi transformada em uma nuvem de cogumelo que atingia a estratosfera, e no centro de uma cratera, o legado do cataclismo—

— estava Jibril, sem um único arranhão.

— Estão satisfeitos? Não há como me matar.

Na frente dos olhos cansados de Jibril, estavam Sora com um sorriso no rosto, Shiro completamente indiferente e Steph boquiaberta e sem palavras. Eles também estavam ilesos.

— Então você explodiu na sua primeira jogada? Se não fosse pelo meu “bom ato”, o jogo teria acabado.

— De fato. A magia que Jibril havia conjurado não fora para protegê-la. *Bú Li Anses*, ou *“Quarta Guarda Eterna”* — o mais alto dos feitiços de selamento criados pelos Elfos. Ela o havia materializado e conjurado para protegê-los. Enquanto ela mesma... havia tomado a explosão diretamente sem um único arranhão.

— Bom ato? Ei, ei, fala sério — respondeu Sora, com um sorriso torto. — Você apenas percebeu que, mesmo que conseguisse nosso conhecimento, seria chato pra caramba se o jogo acabasse em uma jogada, e apostou no seu bom senso que dizia que não podia deixar isso acontecer, certo?

Em outras palavras — diante de algo desconhecido que poderia materializar algo surpreendente, ou encerrar o jogo ali ou protegê-los para continuar. Esse conflito que Jibril enfrentou no espaço de cem milissegundos havia sido percebido, e ela sorriu com humildade.

— Mas, é, eu imaginei isso, mas parece que não vamos conseguir vencer pela condição de “não conseguir continuar”.

Na paisagem reduzida a terra queimada, Sora suspirou enquanto olhava para Jibril, que havia suportado a mesma força.

— Estou feliz em ver que você entendeu.

— Então vamos atrás de uma das outras condições de vitória. Existem várias maneiras de vencer no *shiritori*.

— ...Heh-heh, que sujeito fascinante você é...

Como se estivesse prestes a iniciar a segunda etapa, Jibril falou:

— Bem, então — espero sinceramente que vocês continuem me entretendo!

— O subtexto de suas palavras era evidente até mesmo para Steph. Mesmo com aquele nível de força destrutiva, eles não haviam conseguido tornar Jibril incapaz de continuar. Por outro lado, Jibril poderia incapacitar Sora e Shiro a qualquer momento, facilmente. Como vidro.

Esse era o significado da diferença de rank. O vasto abismo entre as habilidades das raças: uma barreira mais alta que os céus. Relembrando este fato, Steph prendeu a respiração.

— Sora deve ter tentado resolver tudo com um único golpe. Usando seu conhecimento de outro mundo, provavelmente o ataque mais forte que ele podia imaginar. Preparado para morrer. Tentando finalizar. Mas, agora que não funcionou—

— Não se preocupem. Vou manter vocês entretidos — “Coluna de Espírito.”

Sora, sem se importar com as preocupações de Steph, colocou casualmente a mão sobre o cristal e falou. A fonte de poder de todas as raças que podiam usar magia, embora indetectável para humanos, desapareceu. Jibril ficou novamente surpresa com o movimento dele.

— Ora, ora — você foi direto ao ponto.

— Bem, acabei de aprender esse termo e, além disso, não tenho garantia de que os Flügel não possam ler mentes magicamente, tenho?

A expressão sorridente de Sora não mostrava o menor traço de medo. Era a calma de alguém que havia simplesmente testado uma tática sem a intenção real de que funcionasse e, ao falhar, seguiu em frente com o restante de seu plano mestre.

— Ou o quê, tem algum problema?

Enquanto Sora continuava a provocá-la, Jibril apenas deu de ombros.

— Não... Tudo o que isso significa é que não poderei mais reabastecer meus espíritos, o que limitará certas habilidades físicas e me impedirá de voar. Mas tais coisas são desnecessárias em um jogo de *shiritori*, então... não há problema, suponho.

Mas Jibril, com um leve desconforto, continuou:

— Se devo descrever... diria que é... um tanto desconcertante.

— Ah... Tipo quando você fica sem sinal no celular.

Como se as palavras de Sora acendessem uma lâmpada em sua mente, Jibril ergueu a cabeça.

— O que é um “celular”?! Tem a ver com aquela caixa fina que você estava segurando?! Que tipo de sinal?!

— Pergunta isso quando você ganhar — muito perto, muito perto, seu rosto está muito perto! Cuida dessa baba, moça!

— Hh! M-me desculpe... *geh-heh-heh*... quarenta mil livros de outro mundo... *eh-hehh*...

Jibril ficou ali, com a expressão de uma donzela imaginando um bolo delicioso.

— ...Irmão, essa garota.

— É, eu sei, ela deu tanta volta que ficou até legal de novo — Ei, Jibril. Vamos logo com isso.

— Hh! C-certo. Então, vou escolher algo seguro — “égua.”

No mesmo instante, um cavalo apareceu na sala.

— Eek?!

*Prrbbth...* Steph deu um salto para trás, surpresa com o som feito pelo animal. Mas, sem pausa, sem a menor hesitação...

...Sora respondeu:

— *Fwip,* “vulva”.

— ...?

Jibril e Steph pareciam um ponto de interrogação ambulante, sem entender o que a palavra significava. Mas, no momento seguinte, Steph, subitamente cobrindo suas roupas e com o rosto vermelho, gritou:

— Q-q-q-quê você está tentando fazer?!

Mas Sora sorriu.

— O quê? O ponto de *shiritori* é falar palavras sujas, não é? Relaxa.

— ...Hff.

Shiro não parecia nem um pouco preocupada.

— Gíria dos Immanity... Não, nem mesmo a Dora parece saber. Deve ser algum jargão secreto de outra língua, similar ao idioma dos Immanity, para se referir à vulva — Ah, sinto meu conhecimento crescendo...!

Jibril exclamou, por alguma razão, olhando para os céus com aparente êxtase.

— ...Bem, ela é estranha do jeitinho dela mesmo, né? — comentou Sora.

Ele colocou a mão suavemente no quadril de Shiro.

— Então? — foi o que quis dizer, e Shiro compreendeu com precisão. Ela assentiu uma vez — sim, tinha desaparecido.

— ...Isso... traz algumas possibilidades interessantes.

— Sora riu secretamente para si mesmo, o que apenas Steph viu...

**********

O jogo já estava rolando havia uns dez minutos. Jibril lançou a palavra mais recente do interminável duelo:

— Esse cenário está ficando tão monótono... Que tal nos divertirmos um pouco? “Praia.”

Instantaneamente, a paisagem mudou do deserto devastado pela destruição para algo parecido com uma praia paradisíaca, iluminada brilhantemente pelo sol. Areia branca reluzente e falésias complexas que colocariam qualquer destino turístico do mundo antigo de Sora e Shiro no chinelo. Uma costa cintilante, com um azul tão profundo que só poderia ser descrito como lápis-lazúli: esta devia ser a imagem que a palavra *praia* evocava na experiência de Jibril.

— Nnnngaah! É lindo, mas o sol é demais para um recluso aguentar! “Faróis.”

— Há sombra ali onde você pode se abrigar tranquilamente, mas aí está você de novo com suas gírias casuais... Não sei o que você está planejando, mas estou ansiosa para ver! “Biquínis de corda.”

Instantaneamente — sua palavra se materializou. Todas as garotas ficaram de biquíni—.

— Ou melhor... tecnicamente... Mas Sora rugiu:

— Jibril, você não entende nada! Se você vai colocar todas em biquínis, obviamente precisa desmaterializar as roupas primeiro! Não sabe o quão difícil é, neste ponto, pensar em uma palavra que tire todas as roupas delas, exceto os biquínis?!

Sim, de fato, todas estavam de biquíni.

— Por baixo das roupas, é claro.

— E-eu entendo... Sinto muito. Falhei em entender suas intenções!

— O-o quê? Seus idiotas! Vocês vão continuar com essa palhaçada ou vão jogar isso a sério?!

Enquanto Jibril pedia desculpas sinceras como se as palavras de Sora tivessem um peso profundo, Steph explodiu. Mas, como se nem a tivesse ouvido, Sora, com um estalo irritado da língua, continuou.

— Ah, dane-se... Nesse caso — “Alforjes.”

— Sora escolheu sua imagem mental cuidadosamente antes de falar, garantindo que não apagaria Steph acidentalmente. Ao seu lado, um pacote pesado pousou com um baque.

— Então... certo, que tal “Tempestade”?

— Isso, Jibril! É assim que se faz!

No momento em que Jibril disse a palavra—*Whoosh,* com a velocidade de um milagre, os irmãos sacaram seus celulares e se posicionaram.

A palavra materializou-se em um redemoinho — um vento ascendente e giratório.

... Que levantou a saia de Steph.

— Ei! O-o que é issooo?!

— Sora e Shiro começaram a fotografar Steph juntos, usando o modo de disparo contínuo em alta velocidade.

— Jibril, isso foi perfeito! Se não fossem os biquínis, teria sido R-18, já que a Steph está sem calcinha! Mas, mesmo com biquíni, quando você olha por baixo da saia, fica meio quente, de alguma forma!

— Sinto-me profundamente honrada.

Ignorando Jibril, que respondeu com um sorriso divertido, e Steph, que lutava desesperadamente para segurar sua saia, Sora falou.

— E agora—

Sora sorriu.

— Com isso, vai ficar perfeito — “Roupas femininas”!

Instantaneamente, sua palavra materializou-se — ou, mais precisamente, desmaterializou o que já estava presente. O resultado foi que todas as roupas das garotas, incluindo os biquínis, desapareceram—! Claro, isso significava as roupas de Steph, Jibril e até mesmo Shiro—. Após um atraso momentâneo, enquanto tentavam processar o que havia acontecido, um grito ecoou.

— Aaaaaaaah!

Steph, com o rosto em chamas, tentando desesperadamente cobrir o corpo com as mãos.

— Isso parece R-18 para vocês? Mas, na verdade, não há problema algum. O motivo é—!

— Haaa-ha-ha! O que acha, minha irmã? Estamos no mundo tridimensional, mas ainda assim não existem genitais! Além disso, os sapatos e as meias, que não são “roupas femininas,” continuam, deixando tudo ainda mais impressionante que nudez completa!

Assumindo sua pose diabólica, braços abertos em direção ao céu, Sora declarou audaciosamente:

— Não há dúvida de que isso é apropriado para todas as idades! Saudável e inocente! Erótico com classe! Mas não obsceno! Pois este é—o que eu chamarei, a partir de agora, de: o Grande Espaço da Pureza!

— ...Irmão, *omega, props.*

— Dando um joinha um para o outro, os irmãos continuaram a fotografar Steph, que fazia o maior escândalo.

— O-o que vocês estão tentando fazeroooor?!

— Eu disse que havia possibilidades interessantes, não disse? Não acha isso interessante?

— Isso não é o que eu chamaria de “interessante” nem de loooonge!

Steph gritou, como se fosse uma tola por pensar, por um momento sequer, que eles realmente planejavam derrotar Jibril. Essa era a resposta esperada dela, mas então Jibril—

— ...P-perdão.

— Hã?

— V-você está sugerindo — que no mundo de vocês há uma regra de que o corpo nu do sexo oposto é “não saudável”?

— Hm, sua dedução é impressionante.

— M-mas o método de propagação da espécie é o mesmo das raças deste mundo, correto?!

— ...Já que você não está especificando “Immanity,” podemos assumir que os Flügel são iguais?

Enquanto Sora casualmente respirava assédio sexual, Jibril espetacularmente ignorava, aumentando sua empolgação.

— M-mas isso — dizer que o desejo de propagar a espécie é “não saudável” não contradiz a própria premissa dos seres vivos, que é se reproduzir? Ah, e “Trevo.”

Jibril estava nua, ofegante e cheia de curiosidade, quase esquecendo da regra de trinta segundos antes de fazer sua jogada apressadamente.

Ao ouvir a afirmação de Jibril, Sora simplesmente aplaudiu.

— Excelente. Mas se você dissesse isso no nosso mundo antigo, só seria rotulada de pervertida.

— O instinto de preservar a espécie é “perversão”?!

Chocada como se tivesse sido atingida por um raio, Jibril então juntou as mãos com uma expressão de êxtase.

— Oh, que fascinante. Eu quero ver isso! Quero visitar esse mundo tão irracional!

— ...Hmm, não posso dizer que compartilho do seu entusiasmo.

Sora suspirou, desanimado com a resposta dela.

— Na verdade, sua reação é meio chata, pra falar a verdade...

Ele esperava torcer o rosto inteligente de Jibril com vergonha... Por assim dizer — a sensualidade sem vergonha mal era sensualidade. Além disso, com o corpo de Jibril, como uma obra de arte, era como se, sabe, você não conseguisse se excitar com desenhos *bons demais*—.

— Irmão, a Steph é mais... divertida...

— É, vou filmar. Você tira as fotos.

— ...*Roger*...

— Ei — o que vocês estão gravaaando?!

— Tá tudo bem. Lembre-se, não tem nada indecente, então não é constrangedor. Mas não se esqueça da vergonha!

— O que vocês estão falandoooo?!

**********

E assim, várias horas se passaram. Depois disso, o campo de jogo deles havia se transformado em um espaço para o qual não existiam palavras. Em uma floresta primeva, semelhante a uma selva, havia moais e uma pirâmide. No centro, Sora estava sentado, devorando curry, nu, mas usando um chapéu de cowboy. Em seu colo, Shiro enfiava lanches em formato de cogumelo na boca, também nua, exceto por orelhas de gato e um cachecol. E então havia Jibril, que continuava sendo despida de roupas sempre que colocava algo novo, ainda nua. Por fim, tinha Steph, que—

—Eegya#%$ ≠†∂@+§&~#↓Ψ∞Ŷ!

—Perseguida por um grupo de pseudo-Cthulhus bizarros, ela parecia estar à beira de perder completamente a sanidade. Enquanto enchia a boca com curry, Sora falou:

—Munch, munch… Ei, Jibril, você nunca sente fome? "Manto".

—Não se preocupe. Diferente dos impotentes Immanities, os Flügel não têm necessidade de comida. "Eco".

—Ah, entendi… Mas você não sente sono? O sol está prestes a nascer. Não quer desistir?

—Heh-heh… Flügel também não precisam descansar, então, por favor, não se preocupe—

—Ainda tenho um suprimento infinito de palavras. Como gostaria de extrair o máximo de conhecimento possível de vocês, ficarei feliz em continuar sua companhia por dias, meses, até mesmo anos!

—Jibril proferiu essas palavras inquietantes com doçura, mas deixando claro que tinha toda a intenção de cumprir sua promessa. Para Steph, elas não sugeriam nada além de desespero—mas, como sempre, Sora respondeu de forma brincalhona.

—Ahh, eu realmente gostaria de saudar a manhã no meu próprio quarto, então vou ter que recusar—"Núcleo externo".

—É mesmo? Se estiver cansado, não ficarei ofendida se perder de propósito. "Relógio ergonômico" — murmurou Jibril, antes de continuar: — Afinal, você já me proporcionou bastante diversão para um frágil Immanity.

—Apesar do sorriso de Jibril, Sora franziu o cenho.

—…Vocês ficam nos chamando de impotentes, frágeis… Isso está começando a me incomodar — "Entidades".

—Com essa palavra, o bando de criaturas bizarras que perseguia Steph desapareceu.

—Hff! Hff—hff—!!… O-obrigada, você me salvou…

—E-eles quase me mataram — ofegou Steph, desabando no chão.

Observando a cena pelo canto do olho, Sora disse:

—Bom, olhando de cima do Rank Seis, né? Nós, humanos, devemos parecer apenas formigas, hein? Mas tenho a impressão de que você pode estar subestimando as formigas só um pouquinho.

—Minhas desculpas se vocês se consideram… não fracos, ora essa… "Sandália".

—A reação de Jibril, como se estivesse genuinamente surpresa, provocou um sorriso de leve irritação em Sora.

—Se você acha que ser durão e ter vida longa é poder, você é quem é… estúpida.

—A palavra fez Jibril se enrijecer.

—Você acha que eu sou… inferior aos Immanities?

—O que Jibril sentia pelo grupo de Sora não era nada parecido com respeito. Era mais como o sentimento que se tem ao ler um livro interessante: ou seja, mera curiosidade. Ser considerada inferior a esse "livro" estava completamente fora do seu entendimento. Ainda assim, Sora, sorrindo com um toque de escárnio, continuou:

—"Fraqueza" não significa ter ou não ter poder. Significa não ser capaz de fazer nada — como, por exemplo, alguns brutamontes que eu conheço, que não conseguem fazer nada além de lutar quando a violência foi proibida, né?

—…Parece que você não tem noção da sua posição.

—Os olhos de Jibril, enquanto sussurrava, brilharam com o mesmo olhar assassino que havia saudado os humanos em seu primeiro encontro. Sim, Jibril poderia incapacitar Sora a qualquer momento que desejasse. O fato de que não o havia feito era pura brincadeira — nada mais do que um capricho tolo. "Não está esquecendo o seu lugar?", questionava o olhar dela. Ainda assim, Sora a encarou diretamente enquanto falava:

—Ok, acho que está na hora de te educar — sobre a sua fraqueza. Se prepare, sua vadia.

E, colocando a mão sobre o cristal, Sora—

—Shiro, pronta?

—…Mm…

Depois de se dirigir à Shiro, que assentiu, Sora falou com Steph.

—Stephy, já recuperou o fôlego?

—Hã? Ahh… S-sim, quase… o-obrigada…

—É, valeu por tudo o que você fez. Se não fosse por você, atraindo todos os mobs, a gente não teria conseguido ganhar.

—Jibril franziu as sobrancelhas diante da declaração casual de vitória de Sora. Enquanto Steph, atônita, olhava, Sora disse com um grande sorriso:

—Então, Steph!

—S-sim?

—Isso vai doer um pouco — então se prepara! Senta.

—O quê?

—Steph, jogada sem cerimônia ao chão, não tinha como entender o que ele queria dizer. Enquanto isso, Sora e Shiro deram um salto gigantesco e disseram: — "Litosfera".

—Instantaneamente, o chão desapareceu.

—Manto, núcleo externo.

—Esses eram termos que provavelmente Jibril não conhecia, mas que já haviam devastado o planeta. E então, a palavra que significava a camada superior inteira, *litosfera*, desmaterializou toda a superfície da Terra, deixando-os simultaneamente caindo em direção ao núcleo que restava. Ainda assim, Jibril lidou com isso com naturalidade.

—…Entendo. Então era por isso que mencionaram colunas espirituais, o equivalente aos corredores espirituais — para me privar das minhas asas.

—Apesar de não saber o significado das palavras, Jibril reconheceu o objetivo de Sora: lançá-los em direção ao núcleo do planeta. Ela nunca havia visto o núcleo propriamente dito, mas — deu uma rápida olhada.

…Temperatura central de seis mil graus… temperatura superficial de três mil graus… talvez. Se ela realmente chegasse lá, a pressão provavelmente a deixaria “incapacitada para continuar”, mas antes disso — Sora e sua irmã morreriam. Jibril riu para si mesma ao perceber o quão cheia de falhas era a estratégia deles. Sim — afinal, era exatamente isso que significava.

—…Vocês ainda estão tentando me matar?

—Sem esconder sua decepção, Jibril sorriu enquanto despencava. Era apenas uma questão de tempo até que as ondas de calor do núcleo planetário deixassem os dois “incapacitados para continuar”, mas — pensou consigo mesma que poderia ao menos permitir que o pouco tempo restante fosse divertido.

—Ainda não permitirei que a manhã chegue — "Véspera".

—Com esse sussurro de Jibril — o sol desapareceu. Mas — enquanto Sora e Shiro caíam, ambos respiraram fundo e colocaram a mão no cristal, dizendo com o mínimo de ar:

—…Oitavo elemento!

—Uma dor de cabeça feroz os atingiu a todos enquanto perdiam a capacidade de respirar. É claro, isso incluía Jibril… mas então—

—Me impedir de respirar… que coisa sem sentido.

—De fato, Jibril era uma Flügel. Sua casa era Avant Heim, a uma altitude de mais de vinte mil metros. Não era como se ela não precisasse respirar, mas, para Jibril, que era composta de espíritos, isso não era um problema particularmente urgente. Porém — para os humanos Sora e Shiro, isso era fatal. Eles asfixiariam e rapidamente ficariam “incapacitados para continuar”.

—…Certamente agora vocês entendem que é inútil. Apenas me entretenham um pouco mais — "Tetratonon".

Jibril, ao afirmar que era impossível matá-la por asfixia, pediu uma certa palavra, pensando no bem de ambos. Sora pareceu entender a intenção dela.

—…Droga… "Natura".

Sora, com sua jogada dando errado, respondeu ao pedido dela com relutância. *Ele é mais obediente do que eu esperava. Eu certamente gostaria de colocar o chão de volta sob nós para continuar o jogo, mas…* — Jibril sorriu, já decidida sobre seu próximo movimento.

—Então eu digo: "Aria".

Mas, ao ouvir essa palavra, Sora abandonou seu ato de relutância e torceu os lábios em um sorriso. Como ele esperava, Jibril era ignorante sobre os elementos que constituem o “aria” — ou ar.

—Instantaneamente, uma queda de pressão ameaçando roubar a consciência de todos os jogadores os atingiu. Jibril, achando que havia restaurado o ar, mas descobrindo que não conseguia respirar, soltou um grito involuntário:

—O-o quê—por quê—hng?!

—E então veio o arrependimento. Naquele momento, os instintos de Flügel de Jibril a alertaram de que havia acabado de inalar um veneno tóxico. O nome do veneno, de fato, era o oitavo elemento da tabela periódica: o oxigênio. Com a consciência nublada pela súbita perda de pressão, Sora riu. Afinal, Jibril não sabia — ela não conhecia a teoria atômica. Ela não sabia o que era o oxigênio… o que significava…

Se ela não conseguisse respirar, naturalmente assumiria que o "oitavo elemento" era apenas outro nome para o ar, certo? Mas o que o termo de Sora eliminara era apenas o oxigênio — não o ar.

—A regra: o que está presente desaparece, e o que está ausente aparece.

Então, em uma atmosfera da qual o oxigênio havia desaparecido, o que aconteceria ao dizer "ar"?

—A resposta estava diante deles. Um único elemento do ar, o oxigênio, permaneceu, enquanto todos os outros gases desapareceram. Isso trouxe duas consequências: uma queda de pressão feroz, de 80%, o suficiente para roubar a consciência de qualquer um — e um espaço cheio apenas de oxigênio, que, inalado sozinho, era um veneno mortal que mataria Sora e Shiro instantaneamente se respirassem. Mas então.

—Lentamente, Sora beijou Shiro.

—…Mm!

Respiração circular. Aproveitando a regra de que o jogo não podia invadir os corpos dos jogadores, os dois começaram a circular o ar restante nos pulmões entre eles. Mesmo que suas consciências estivessem turvas pela sensação de que seus corpos inteiros iam se romper devido à queda abrupta de pressão, ainda assim, eles podiam resistir — por pouco tempo, continuariam jogando *shiritori*.

Nem os eventos que se desenrolavam nem as ações de Sora faziam sentido para Jibril. Mas, mesmo assim, no fim das contas, tudo ainda era inútil.

—…Vocês acham que um “veneno” como esse… pode me parar?

—Jibril zombou de Sora e Shiro, ainda lutando inutilmente. Ela acreditava já ter demonstrado que respirar não era tão importante para uma Flügel. O que significava, então, que tudo o que precisava fazer era simplesmente não respirar.

—Era impossível para eles matarem uma Flügel desde o início. O jogo havia acabado. Em breve, as ondas de calor do núcleo planetário alcançariam Sora e sua irmã, apesar de todos os esforços desesperados. *Afinal, era isso que se podia esperar — no fim, eles não passam de Immanity…* — Jibril olhou para Sora com olhos de uma criança que havia se entediado com seu brinquedo. Mas então—no rosto de Sora, enquanto ele olhava de volta para Jibril…

—!

—…surgiu um sorriso irônico, como se ele estivesse olhando *de cima para baixo* para ela.

—Shiro, é agora!!

—…Mm!!

Dessa vez, eles usaram todas as forças — para expelir o ar restante dos pulmões.

—O próximo movimento deles. Após verificarem que o ar, exceto o oxigênio consumido, havia sido eliminado dos corpos até restar apenas um pouco do vapor que haviam “criado”, para espremer o último resquício de vapor de seus corpos, os dois gritaram:

— —Atmosfera!

—Com essa palavra, finalmente, todos os gases desapareceram—.

—?!

Algo estalou dentro de Jibril. Os gases armazenados em seu corpo — o ambiente de pressão zero criado pela perda da atmosfera provocou um caos interno, como se tentasse rasgar seus pulmões por dentro. Sora e Shiro haviam expirado para evitar isso… Mas, ainda assim, Jibril não poderia ser morta. Mais dessa tolice… Asfixia? Envenenamento? Ruptura interna devido a uma mudança súbita de pressão? E daí? Se eles achavam que a raça guerreira criada pelos deuses para matar deuses — os Flügel — eram suscetíveis a esse tipo de absurdo, sua tolice não poderia ser mais exagerada. Um vácuo perfeito — em um ambiente assim, os dois Immanities morreriam primeiro. Pensando que estava em uma posição tão superior que poderia até fazer uma piada, Jibril abriu a boca — e congelou ao perceber:

—O som não podia ser transmitido.

O som é composto por ondas de vibração transmitidas através da matéria. Agora eles estavam em um vácuo — essencialmente, no espaço. Sem o meio do ar, suas palavras não poderiam alcançar seus oponentes. Uma das condições de derrota cruzou a mente de Jibril:

—Você perde se falhar em responder em trinta segundos.

E… o tempo que uma pessoa poderia sobreviver em um vácuo era — cerca de trinta segundos. Eles haviam preparado isso para ela?! Jibril não conseguiu conter os arrepios. De fato — se não fosse possível forçá-la a ficar “incapacitada para continuar,” eles poderiam apostar no tempo de sobrevivência de trinta segundos e derrotá-la com a regra dos trinta segundos —. No mesmo instante em que Jibril chegou a essa conclusão, o rosto de Sora surgiu diante dela. Agarrando-se a uma consciência que ameaçava desaparecer a qualquer momento devido à falta de pressão, abraçando Shiro com toda a força, como se tentasse pressurizá-la, Sora esboçou um sorriso cansado. Seu rosto parecia dizer: *“Sentiu isso?”*

—Agora entendo: verdadeiramente, este é um espécime extraordinário…

Depois de tudo o que acontecera, finalmente Jibril reavaliou Sora e Shiro. De fato, era um erro descartar aqueles dois como meros Immanities — porém.

—Jibril não podia usar magia. Isso porque ela era um Flügel, seu corpo era composto de espíritos mágicos em sua essência. Além disso, na situação atual, seus corredores espirituais haviam sido eliminados pela invocação do termo “coluna espiritual,” mas—. Por isso mesmo — era hora de responder com apreciação e respeito plenos.

Fragmentando seus espíritos — ela foi capaz de escrever uma única palavra no espaço com luz:

—"Errático".

*Vejam como as coisas realmente são?* — Jibril desafiou, com a palavra que escrevera no espaço, na linguagem dos Immanities. Eles haviam estendido suas vontades, chamado sua sabedoria, afiado suas estratégias, arriscado suas vidas mortais — e mesmo assim não era o suficiente. Immanity nunca poderia vencer contra os Flügel. Não havia maneira de humanos alcançarem os céus — era uma regra eterna e inviolável.

…Diante dessa resposta, a força foi esvaindo dos braços de Sora, como neve derretendo enquanto ele segurava Shiro, e sua consciência começava a se apagar. Mas ainda assim — apesar das circunstâncias desesperadoras, por algum motivo, os dois sorriram de forma astuta, colocaram a mão no cristal e retiraram a anotação que haviam preparado com antecedência.

—Uma anotação que dizia: *“Força de Coulomb.”*

Foi — um intervalo tão curto que mal poderia ser chamado de instante. Enquanto caíam pelo espaço, com o ar, a crosta e o núcleo externo removidos, o espaço agora desprovido de um único átomo, tudo o que restava abaixo de seus olhos era o núcleo de ferro do planeta. A esfera de metal líquido de alta pressão e alta temperatura, brilhando em branco, queimava as retinas de Jibril.

—O núcleo do planeta… seu núcleo de átomos de ferro. Quando a força de Coulomb excedia a força nuclear que a combatia, responsável por manter os átomos unidos, o fenômeno astronômico resultante só ocorria normalmente no momento da morte de um objeto celestial supermassivo, através do colapso gravitacional. Mas agora, com a perda da força de Coulomb, um pequeno núcleo planetário iniciou a fusão instantaneamente. O resultado final havia sido chamado, no mundo de Sora e Shiro, de *explosão de raios gama por fotodesintegração de ferro* — ou.

********

Uma hipernova capaz de vaporizar sistemas estelares inteiros ao longo de múltiplos anos-luz.

A raça guerreira criada pelos deuses para matar outros deuses foi capaz de suportar um impacto direto de uma bomba de hidrogênio — ou seja, calor superior ao da coroa solar, pressão totalizando cinquenta megatons, perda de oxigênio e redução drástica da pressão devido à vaporização do ar, além da toxicidade residual — Rank Seis: Flügel. A diferença desesperadora de habilidades, uma parede que se erguia infinitamente acima de Immanity. Mas uma parede que era finita—

—e que os fracos humanos estavam prestes a escalar.

No espaço sem ar e sem som, ainda assim, de forma inconfundível, quando Sora ergueu o dedo indicador fracamente, Jibril sentiu como se ouvisse suas palavras.

—Você acha que pode aguentar uma força comparável ao início do universo a 50 bilhões de graus Celsius? Vamos ver, Flügel.

—Jibril não sabia o que estava acontecendo ou o que era a força de Coulomb. Mas seus instintos de Flügel gritavam que algo incomparável à explosão que ela havia suportado no início do duelo estava prestes a acontecer. Algo que nenhum conceito em seus vastos depósitos de conhecimento era capaz de conter. Uma luz que retornaria o céu e a terra ao nada a atingiria em menos de um décimo de segundo.

—Isso… não pode ser… como posso…?

Mas agora, finalmente, Jibril entendeu a estratégia por trás das ações de Sora e Shiro. Antes de eliminarem a superfície da Terra, eles haviam dado um leve salto… o que significava que Jibril estava ligeiramente abaixo deles. Não importava o calor que viesse. Seja um trilionésimo, um quadrilionésimo, um quintilionésimo de segundo. Quem morresse primeiro perderia — e então ela percebeu: *Então esse… era o verdadeiro objetivo dele… ao tirar minhas asas.*

A primeira explosão — tinha sido um teste para verificar se ele poderia materializar conceitos que não eram conhecidos por ambos. Após aquele único movimento, esse homem já havia deduzido todas as informações de que precisava. Foi inútil tentar matá-la com calor, ou com pressão, ou com veneno, mas ele sabia disso desde o começo. Essa sequência de trocas foi apenas uma distração. Tudo, absolutamente tudo, era uma armadilha. O ato de parecer que estava apostando tudo nos trinta segundos — era uma farsa. Como o dedo indicador de Sora apontava — o jogo já havia terminado com o primeiro movimento.

Desviando o olhar do núcleo do planeta, que emitia um brilho várias vezes superior ao de uma estrela e já era impossível de olhar diretamente, um único pensamento atravessou o coração de Jibril.

—Outremundos… não, Immanity — é verdadeiramente uma raça assustadora.

Neste mundo onde a hierarquia era absoluta — neste mundo onde o combate era proibido e tudo era decidido por jogos — pensar que a Immanity, dez rankings abaixo dela, poderia realmente… matá-la. A risada que subiu no fundo da mente de Jibril cruzou-se com as palavras do Rei Sora, que ainda ecoavam dentro dela.

—…Nascidos sem nada, e por isso podem se tornar qualquer coisa, e portanto a raça mais forte — é isso?

Seria possível que suas mãos pudessem até mesmo alcançar o Deus…?

Na periferia de sua visão, tendo suportado toda a série de derrotas por não ser uma jogadora, caindo sem consciência, Steph chamou sua atenção.

—…Verdadeiramente, uma raça assustadora em muitos sentidos.

Enquanto desejava, em seu coração, que pudesse observá-los até o fim, a chama dos últimos momentos do planeta rugiu através do espaço, trazendo a morte, e tudo se tornou branco para todos eles.

>

—…Vocês me mataram.

—Ei. Bem-vinda de volta.

—Você entendeu?! Vou dizer mais uma vez! Vocês me mataram!! Eu não disse “vocês quase me mataram”. Eu disse “vocês me mataram”!! Eu repeti isso três vezes porque é muito importante, entendeu?!

—Mas você está viva. Sabe o que dizem sobre jogos de luta, né? Se você sobreviveu, quem liga para onde está a sua barra de vida?

—Eu não sobrevivi! Vocês me mataram!!

—Avançando em direção a Sora como se fosse agarrá-lo pelo colarinho, Steph gritou.

—V-v-v-vocês… Além de me usarem como isca, vocês me deixaram morrer e nem se importaram!!

—Não é como se você tivesse morrido de verdade. Quem liga.

—Ah—ah—

—Aquilo foi o limite. Finalmente era hora de descarregar todo o estoque de raiva que ela tinha acumulado contra aquele homem. E ela abriu a boca — justo quando Sora falou.

—Mas a gente teria perdido se não fosse por você.

—Uh…

—Se ela não tivesse agido como isca para as unidades inimigas que um certo alguém havia criado, então, assim como Jibril disse, Sora e Shiro teriam sido facilmente deixados “incapacitados para continuar”.

*******

—E, graças a você, conseguimos a Jibril. Você nos ajudou a salvar Elkia.

—Uh… um…

—Valeu, Steph. Desculpa por sempre fazer você passar pelos momentos difíceis.

—Enquanto Sora dava tapinhas firmes em sua cabeça, a raiva que, até um momento atrás, parecia um vulcão prestes a entrar em erupção simplesmente se dissipou.

—Uh… um, é, ahh, uhh… S-sim… de fato.

—Steph, com o rosto corando por um motivo que não era raiva, olhou para baixo, entrelaçando os dedos.

—Sim… de fato. Se for para salvar Elkia, para mim passar por um pouco de sofrimento… E, de qualquer forma, vocês dois… também tiveram dificuldades, com toda aquela guerra psicológica e… tudo. É…

—Enquanto Steph murmurava, preenchendo o silêncio e relaxando sua expressão, Shiro perguntou:

—…Irmão… você vai mudar de trabalho… de Rei… para Playboy?

—Não diga isso. Nem todo mundo é tão fácil de manipular quanto a Steph.

—Eu tô ouvindooooooo!!! Aaaaaaaah, eu odeio isso! Eu odeio, odeio, odeio, odeio vocês!!

—Steph amaldiçoou o Deus. *Ó Verdadeiro Deus Único, por que você proibiu a violência? Diante de mim está um homem pelo qual eu daria minha vida para socar.*

—…Vocês me derrotaram por completo.

—Curvando-se com um leve salto, como se o terror que acabara de presenciar nunca tivesse acontecido, Jibril estava sentada no centro da biblioteca, assim como antes do jogo, tomando chá como se estivesse descansando.

—…Posso fazer uma pergunta?

—Manda.

—Eu entendo que vocês me conduziram a responder com o morfema *“errático”…* mas.

—A demonstração de raiva de Sora tinha sido outra encenação, para fazê-la pensar em uma palavra associada à incompetência. Mas, ainda assim—

—Havia possibilidades infinitas… O que vocês planejavam fazer se eu escolhesse outra?

—Nós nos preparamos para umas vinte. Mas, é, se você tivesse escolhido algo fora disso, a gente estaria bem ferrado.

—Apesar de Sora dizer isso com uma alegria despreocupada, Jibril sabia. Esse homem — naquele curto intervalo de tempo, havia lido sua personalidade e reduzido as opções a vinte. Mas, mesmo assim, era um risco grande demais. Para um jogo no qual ele só tinha a palavra dela de que tudo voltaria ao normal quando terminasse. Esse homem havia até usado o limite de tempo de sua sobrevivência como um blefe, e diante disso, ela só pôde dizer com o mais profundo respeito:

—Você é completamente louco, não é?

—Sora respondeu com uma risada. E suas palavras — aquelas que Jibril aguardava há mais de seis mil anos desde o início de sua vida — a deixaram de olhos arregalados, prendendo a respiração.

—Estamos desafiando *Deus* — temos que ter habilidades insanas, né?

—Essas palavras ressoaram nos ouvidos de Jibril como um evangelho e fizeram seu coração estremecer.

*Desafiando Deus.* Apontando suas flechas — para Tet. Jibril, desesperadamente esperando pelo melhor, mas ainda assim se preparando para uma negação, teve que perguntar:

—Vocês… estão falando sério?

—Tendo percebido a verdade, Sora respondeu:

—Claro que estamos. Quer dizer, você nunca se perguntou como viemos parar neste mundo?

—Ele continuou, como se estivesse revelando um spoiler.

—Vou te dar a resposta logo. Quem nos invocou para este mundo — foi o Tet.

—Essas palavras tiraram a capacidade de Jibril de falar.

—Nós o vencemos em um jogo, então ele ficou de birra e nos trouxe para este mundo, dizendo para tentarmos vencê-lo pelas regras daqui. Ele é quem configurou este jogo. Não temos escolha além de derrubá-lo, né?

—E era só isso. Usurpar o Verdadeiro Deus era tão simples e óbvio quanto isso.

—Então, Jibril, a partir de hoje, pela graça dos Pactos, tudo o que você tem é meu.

—Enquanto Sora falava, Jibril só pôde fitá-lo como se ele a deslumbrasse.

—Há muitas coisas que precisam ser feitas para derrubar o Deus, mas há poucas que podem ser feitas com a posição atual da Immanity. Precisamos fazer qualquer coisa que nos dê poder, conhecimento e fichas para apostar. Seu conhecimento e presença serão úteis.

—Ela parecia Maria recebendo a Palavra de Deus.

—Ah, e aqueles livros no meu tablet? Eram só isca. Pode olhar o quanto quiser. Como pessoas de outro mundo, o que mais precisamos para dominar o mundo é de alguém com conhecimento. Se isso vai te ajudar a se tornar ainda mais sábia, queremos que você leia à vontade e faça bom uso deles.

—Os olhos de Jibril estavam úmidos, como se estivesse embriagada, mas Sora continuou.

—Além disso, você pode continuar usando esta biblioteca para armazenar seus livros, como já fazia. No entanto, a Immanity também precisa dela, então você tem que deixá-la disponível para a academia novamente. Você será responsável pelos livros. O que acha?

—Diante dessas palavras, Jibril, finalmente, ajoelhou-se perante Sora. Deixando cair uma única lágrima, ela uniu as mãos como em oração. Não, ela realmente estava em oração, com a cabeça inclinada.

—Ó meu Senhor falecido. Artosh, tu que nos concedeste a vida, mas que agora já não tens… Finalmente, eu — nós — realizamos o desejo ardente de encontrar um novo mestre digno de nosso serviço, de nossa submissão…

—Uhh, é assim que você reage…? — Steph, insatisfeita com o rumo dos acontecimentos, deixou os ombros caírem e murmurou. — S-só pra você saber, esses irmãos são pervertidos, tá?! Eles me fazem usar roupas indecentes, me fazem agir como um cachorro, são grosseiros, bestiais, retorcidos, lixo humano, entendeu?!”

—…Steph… implore…

—V-v-viiiu! Eles até fazem coisas assim!!

—Mas Jibril, já distante, respondeu distraidamente:

—…Você quer dizer que isso representa algum problema?

—Hã…?

>

—Eles derrotarão Tet, que assumiu o trono do Deus Único sem lutar. Eles trouxeram riquezas imensas de outro mundo. Eles, como meros Immanities, derrotaram um Elfo e até mesmo a mim. São aqueles que revolucionam toda a sabedoria convencional.

—Jibril dobrou suas asas, moveu sua auréola para trás e inclinou a cabeça. Esse era o gesto de lealdade absoluta de um Flügel, reservado apenas ao seu mestre.

—Majestade, meu mestre, meu senhor.

—Tá, tá.

—Eu sou Jibril, um par do Conselho das Dezoito Asas, do Ixseed Rank Seis, Flügel.

—Ela o atendeu solenemente, como se estivesse fazendo um juramento diante de um deus.

—Tudo o que é meu pertence a você, meu senhor. Agora que meus pensamentos, meus direitos e meu corpo pertencem totalmente a você, seria a minha maior alegria se pudesse usá-los ao máximo, como a base para construir seu grande plano.

—Claro, deixa com a gente. Né, Shiro?

—…Mm, entendi…

—Isso é um absurdo! E, aliás, por quanto tempo vocês pretendem me manter agindo como um cachorro?!

Ainda na posição do último comando — *implore* — o grito de Steph ecoou e ressoou pela biblioteca…

********

*Kappoon…*

—O efeito sonoro de mangá para cenas de banho — é, tá bom. De qualquer forma, era hora do banho. Para hoje — na verdade, apenas pela segunda vez desde que Shiro chegou a este mundo.

—…Então, de novo, eu tenho que lavar ela enquanto você fica aí completamente vestido?

—Não se preocupa. Não tem câmeras dessa vez. De qualquer forma, Shiro, acostume-se logo a tomar banho.

—Fica… com meu cabelo todo áspero… Não gosto… — reclamou Shiro novamente, emburrada, com um biquinho.

—Vamos lá, Shiro. Hoje a gente se mexeu tanto, você precisa tomar banho.

Shiro nunca — na verdade, nenhum humano jamais — havia passado por um dia tão cheio de eventos como aquele.

Nesse caso — Jibril apareceu do nada e se dirigiu a Sora.

—Whoa! Jibril, de onde você veio?!

—Eu venho de qualquer lugar para estar ao seu lado, Mestre. Mais importante: Se você tem preocupações com o cabelo, por que não experimentar este xampu?

—Ela puxou um frasco.

—Trazido até você pelos Flügel, um xampu especialmente formulado com água espiritual. Seu cabelo vai brilhar, e você terá um visual totalmente novo, macio e sedoso, sem causar nenhum dano. Qualidade em que você pode confiar.

Sora interrompeu a Flügel, que recitava linhas dignas de um comercial.

—Espera, antes de mais nada, deixa eu apontar um problema aqui — por que você está nua?!

—…Mm.

Shiro começou a virar a cabeça com essas palavras.

—Steph, não deixe a Shiro olhar para cá! Isso não é apropriado para menores!

—Está tudo bem. Eu julguei haver vapor suficiente para evitar infringir esses “códigos morais” que você mencionou, Mestre.

—…Hm… A Jibril manda bem…

—Com o murmúrio de Shiro, Sora, por dentro, simpatizou. Mas.

—Não, sério, em primeiro lugar, por que você precisa estar nua só para trazer xampu?!

—Diante dessa pergunta, Jibril se ajoelhou e inclinou a cabeça.

—Pois eu, Jibril, sou sua humilde escrava, Mestre. É o dever natural de uma escrava lavar as costas de seu mestre e eh-heh… eh-heh! Eh-heh-hehh…

—Você se chama de escrava enquanto faz essa cara?! Sua deviante textual!

Podia-se presumir que a intenção dela era verificar todos os detalhes que não tivera a chance de confirmar antes do jogo de *shiritori*. Mas—.

—…Jibril… *“Fica”*…

>

*********

—Eh—?!

Jibril foi forçada a sentar no chão com o comando de Shiro.

—O-o quê? O que… isso significa?

Embora tivesse se tornado propriedade de Sora e jurado lealdade a ele e a Shiro, Jibril não era vinculada apenas a Sora pelos Pactos? Mas então—

—…Ah, entendi. Porque eu e a Shiro compartilhamos todas as nossas coisas…

Se Jibril pertencia a Sora, isso significava que ela automaticamente pertencia a Shiro também. Sora chegou a essa conclusão depois de Shiro.

—…Eu vou usar… seu xampu… mas desenvolvimentos R-18… estão proibidos.

—E-essa é minha Shiro—seu irmão admira essa sua frieza. Tô arrepiado, cara…

Enquanto Sora engolia seco, Shiro permanecia fria e controlada.

—…Jibril… você pode assistir… mas *fica*.

—Whuhhhhh, aaaaaah! Com todo esse vapor, vocês me torturam assimmm!

Sora, sem conseguir ver Shiro tendo a cabeça lavada por Steph e aparentemente tendo aprendido como lidar com Jibril a partir dela, expressou seu respeito sem reservas.

—Ah, Shiro, isso é incrível. Sua forma de lidar com a Jibril é realmente, tipo, *uau*… Você é meu ídolo.

E assim—

—…Eu não acredito que estou começando a me acostumar a tomar banho assim. Eu me odeio…

—Steph sentia sua humanidade se degradando pouco a pouco enquanto falava. Com um sorriso, deixou cair uma única lágrima solitária…

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