No Game No Life

Volume 2 - Capítulo 2

No Game No Life

O país de Immanity—o Reino de Elkia. A capital, Elkia: Bloco 6, Distrito Leste. No salão de recepção de uma mansão resplandecente, cinco pessoas estavam ao redor de uma mesa, enquanto vários espectadores observavam.

Uma dessas pessoas era um jovem com cabelos pretos desordenados e olheiras profundas, vestindo uma camiseta com a inscrição "I ♥ PPL", jeans e tênis. A segunda pessoa era uma garotinha sentada em seu colo, com longos cabelos brancos como a neve, íris vermelhas como rubis, olhos sem vida e semiabertos, e vestida com um uniforme de marinheiro preto. No braço do jovem estava enrolada a tiara da rainha, como uma braçadeira. Da mesma forma, a menina usava a coroa do rei para amarrar sua franja excessivamente longa. Esses irmãos eram, juntos, os monarcas de Elkia, a última nação de Immanity. O irmão: Sora. Dezoito anos, virgem, impopular, incompetente social, fracassado, viciado em jogos. A irmã: Shiro. Onze anos, sem amigos, incompetente social, reclusa, viciada em jogos.

...Adeus, humanidade.

FIM

...Bem, isso é o que qualquer um pensaria se ouvisse apenas isso. Mas esses dois—não eram deste mundo. No mundo de onde vieram, eles haviam estabelecido recordes inigualáveis em mais de 280 jogos. Gravando seu nome vazio no topo de todos os tipos de jogos sem uma única derrota. E assim, esses jogadores, com suas habilidades irreais e identidade misteriosa, chegaram a ser conhecidos como a lenda urbana chamada de “ ”—e agora estavam ali.

Neste mundo, Disboard... onde a guerra havia sido proibida pelos Dez Pactos desde tempos imemoriais. Onde tudo, até mesmo as fronteiras das nações, era decidido por jogos. Em um momento em que a Immanity estava encurralada por outras raças que trapaceavam usando magia, que os humanos não podiam usar nem detectar. Quando a última cidade de Immanity estava prestes a se tornar um estado fantoche por um espião Élfico. Para este mundo, eles vieram, sem magia, sem poderes. Com nada além da mera habilidade humana, eles conquistaram a coroa que os declarava os mais fortes de toda a humanidade, em nome e verdade, e subiram ao trono.

De fato, eram inegavelmente fracassados na vida. Também era verdade que eram claramente inadequados para a sociedade. Mas, neste único mundo—os irmãos poderiam muito bem ser os salvadores de Immanity. Com a esperança da humanidade descansando em suas mãos, o irmão, Sora, com cartas na mão, falou!!

— Ei, Steph. De onde vêm os bebês?

...Talvez devêssemos dizer adeus, afinal.

Uma certa figura observando da beira da mesa, ao lado de Sora e Shiro, respondeu com um olhar frio.

— ...Eu realmente não quero ter que explicar isso para alguém sobre cujos ombros repousa o destino da humanidade...

A garota estava no final da adolescência, com cabelos ruivos, olhos azuis e vestida com roupas frívolas típicas de um mundo de fantasia. Sua moda, aparência e modos sugeriam alta nobreza—Stephanie Dola, também conhecida como Steph. A jovem de uma família de linhagem nobre, outrora neta do rei de Elkia, respondeu:

— Majestade, você finalmente perdeu a cabeça? Não, essa não é a forma certa de dizer—ela se corrigiu. — Quando digo assim, parece que você tinha sanidade para começar.

— Ei, estou tão são quanto posso estar!

— Perguntar isso como se fosse uma pergunta perfeitamente racional é o que é irracional!

— Nossa, você simplesmente não entende nada! Olha, neste mundo, temos os Dez Pactos, certo?!

Os Dez Pactos. A lei absoluta deste mundo, estabelecida pelo deus Tet ao conquistar o trono do Único Deus Verdadeiro.

1. Neste mundo, toda lesão corporal, guerra e pilhagem são proibidas.

2. Todos os conflitos serão resolvidos pela vitória e derrota em jogos.

3. Os jogos devem ser disputados por apostas que ambos concordam ter valor igual.

4. Na medida em que não conflitar com o "3", qualquer jogo ou aposta é permitido.

5. A parte desafiada terá o direito de determinar o jogo.

6. As apostas juradas pelos Pactos são absolutamente vinculantes.

7. Para conflitos entre grupos, será estabelecido um agente plenipotenciário.

8. Se trapaça for descoberta em um jogo, será considerada derrota.

9. Os acima serão regras absolutas e imutáveis, em nome do Deus.

10. Vamos todos nos divertir juntos.

— ...Sim, e daí?

— Quero dizer, olha só. Lesão corporal é proibida. Então como se faz bebês?

......

— ...Posso perguntar por que você está perguntando isso agora?

— Eu estava entediado, e isso me ocorreu. Mas não é um tipo de problema sério?

Consciente dos olhares ao redor, Steph sussurrou no ouvido de Sora:

— No seu mundo, as pessoas nasciam de ovos?

Sim, era um segredo que Sora e Shiro eram de outro mundo... O ponto dela sendo: não fale sobre isso na frente de todas essas pessoas. Steph o repreendeu com seus olhos frios e incrédulos de costume.

— H-hey! Não me faça parecer um idiota por ser virgem! Não é como se eu não soubesse que o monstro no bolso do cara vai pra dentro e pra fora do jardim secreto da garota e então o mundo inteiro vira de ponta cabeça, certo?!

— ...Irmão, quando você diz, assim...parece ainda mais...virgem.

— Eu sou virgem! O que você quer que eu seja se não virginal?!

O nobre cavalheiro que nunca teve uma namorada na vida, infantilmente rebateu as observações de sua irmã de onze anos sentada em seu colo.

— D-de qualquer forma, quando você faz essas coisas, isso causa lesão, certo?! Pelo menos na primeira vez!! Então, com os Dez Pactos, como a Immanity se reproduz neste mundo? Isso que eu quero saber!

Steph percebeu que ele talvez estivesse realmente fazendo uma pergunta séria, afinal. Mas antes—

— ...Só me deixe verificar: isso não é algum tipo de plano fetichista para me humilhar publicamente, é?

— Uh, acho que é você que está sendo estranha por pensar nisso.

Ela poderia até imaginar um cenário de jogo pornô em um mundo sem jogos pornôs. Realmente, era preciso admirar esse tipo de imaginação.

— Esqueça. Vou perguntar a alguém que saiba explicar as coisas depois. Inútil.

— O quê—Está bem, está bem, eu explico pra você!

Steph limpou a garganta—a-ahem.

— Está claro o que constitui a base para constituir uma violação de direitos.

— Hmm. Especificamente?

— Em termos simples: ações que violam direitos com malícia—são anuladas.

...—O quê?

— U-uh... o que, você está dizendo que nossos cérebros estão sendo censurados em tempo real?

— Sim, é exatamente isso.

Ok, enquanto este pode ser um mundo de fantasia, você tem que admitir que isso é ridículo.

— Portanto, desde o estabelecimento dos Dez Pactos, a maioria das leis se tornou relíquias. Afinal, qualquer ação que seja executada com sucesso tem que estar de acordo com os Pactos, ou ser realizada por consentimento ou por erro—

— Hhh... O seu Deus aqui realmente pode fazer qualquer coisa.

— O Deus Único Verdadeiro obviamente pode fazer qualquer coisa, não pode?

— O direito de reconstruir as leis do mundo conforme sua vontade. E agora—isso seria decidido por um jogo neste mundo, parece.

— Hmm... Tudo bem, então. Deixe-me perguntar de novo, por que fazer bebês é permitido?

Quem respondeu não foi Steph, mas Shiro, que estava em seu colo embaralhando cartas.

— ...Consentimento... 'Transferência'... Em outras palavras...

— Ah, então se você der permissão um ao outro, não é uma violação de direitos.

Sora, lembrando de como foi chutado por Shiro antes, finalmente entendeu. Se fosse Shiro, era natural pensar que ele poderia ter concordado inconscientemente.

— Bem, isso faz sentido. Quero dizer, os médicos estariam de mãos atadas se não pudessem fazer nada que ferisse outra pessoa.

Enquanto Sora murmurava novamente que os Pactos eram bem pensados, Steph comentou: — Você pode ver que o mundo funciona, e as regras são rápidas.

— Isso não acontecia no nosso mundo...

Surpreendentemente, o mundo ainda funcionava mesmo sem regras, embora estivesse cheio de contradições e defeitos. Este mundo deve ter sido o mesmo antes dos Dez Pactos, de fato.

— ...Mas isso levanta outra questão.

— O que é?

— Por que eu pude apalpar seus sei—Ok, deixa pra lá.

Estamos em público! Se você continuar—o olhar penetrante de Steph era inconfundível, e Sora se calou.

— Enfim, foi uma discussão bem interessante. Ótima forma de passar o tempo.

— Você acabou de dizer explicitamente que foi só para passar o tempo, não foi?!

Enquanto Sora ergueu sua cabeça sonolenta, notou ao redor da mesa os três últimos homens. Nobres de cueca. Três caras de meia-idade com um pouco de gordura a mais. Vários espectadores observavam aqueles homens como se estivessem presenciando algo lamentável.

— Sora estava jogando meio inconscientemente e quase havia se esquecido. Mas os irmãos estavam no meio de um jogo com aqueles três nobres. Poker, apostando tudo o que tinham.

— Sério, quem quer ver um bando de velhos pelados...? Podemos encerrar por aqui? — Disse Sora.

De fato, eles tinham acabado de limpar todos os bens dos três nobres, agora ex-nobres. “Todos os bens” significava exatamente isso. Suas terras, fortunas, direitos, e até suas esposas, filhos, famílias. Tudo isso foi arrancado do trio em apenas duas horas, e tudo o que restava agora eram suas cuecas.

— C-como—? Se pararmos agora, não nos restará nada!

— V-você acha que pode fugir dessa?

— Se não recuperarmos nossas perdas, nem roupas teremos! Como ousa?!

Sora bocejou, escutando apenas pela metade.

— Vocês foram quem concordaram em jogar, e foram vocês que colocaram suas famílias e roupas na mesa, mesmo sem termos pedido, certo...?

— Além disso, se me permitem—

Enquanto o rei continuava a repreendê-los, os três nobres—ou melhor, ex-nobres—encolheram-se sob o olhar de Sora.

— Estamos ignorando o fato de que vocês três estavam trapaceando juntos. Deveriam ser gratos.

— ...Full house... Fim de jogo...

A mão que Shiro jogou com essas palavras significava que o último recurso dos nobres—suas cuecas—também havia sido perdido.

— E assim, os três líderes aristocratas do movimento contra a reforma agrícola foram deixados sem nenhuma roupa, e as manifestações que eles haviam instigado chegaram ao fim.

******

A capital, Elkia: Rua Principal. Era uma estrada arterial que conectava o norte, leste, sul, oeste da cidade ao castelo. Era a rua mais movimentada de Elkia, e era por ela que os nobres que perderam até suas cuecas, ao se oporem às reformas agrícolas de Sora, tinham que voltar para casa.

— I-isso é demais. É doentio... — murmurou Steph.

Enquanto caminhavam pela estrada movimentada, entre carruagens e multidões, Steph não conseguia conter seus pensamentos.

— Você realmente precisava levar as famílias deles?!

— O quê? Eles simplesmente apostaram nelas. Colocar suas esposas e filhos na mesa, eles é que são os doentes — respondeu Sora atrás dela, segurando firmemente a mão de Shiro. — Mas, esquece isso. Essa multidão... Sh-Shiro, o que quer que aconteça, não solte, tá?

— ...V-você também... Irmão...

Os dois falavam com a cabeça baixa, estremecendo sob os olhares ao redor. Para dois reclusos socialmente incompetentes, andar em uma grande rua ao meio-dia era nada menos que tortura.

— Não foi você que disse que queria ir andando para casa, Sora?

— E-eu tinha algo para fazer... m-mas isso é gente demais...

Quase sem sair do castelo nos meses desde que vieram para este mundo, os dois andavam de forma tensa, apertando as mãos um do outro com mais força, enquanto Steph suspirava.

— E sobre todas aquelas coisas?

— C-coisas? Que coisas?

— Todas as coisas que vocês tiraram daqueles três.

— Ah, bem, nada de mais.

Colocando uma cara corajosa, Sora respondeu:

— Se você está falando das famílias deles, elas podem fazer o que quiserem. Se conseguirem perdoar aqueles caras por terem apostado nelas, elas voltam. Quanto ao resto, bem, você e os ministros podem cuidar disso.

O propósito dessa visita foi eliminar os nobres que estavam no caminho das reformas agrícolas. Serem despidos foi simplesmente um meio de arrancar sua autoridade. Sora pensou que o estado poderia cuidar dos bens agora.

— Hum, Sora... A responsabilidade por não ter conseguido impedir o protesto é minha, e peço desculpas por ter causado problemas para vocês dois. Mas ainda assim, o jeito que você faz as coisas deixa um gosto amargo.

Sora e Shiro podem ter reconstruído o país com pilar após pilar de sabedoria de outro mundo. Mas, por estarem nesse mundo há apenas um mês, estavam suscetíveis a cometer grandes gafes em uma cultura desconhecida. Para evitar escorregões, limitaram-se a ditar a política enquanto os ministros cuidavam da execução. Como ponte, empregaram Steph, com sua educação rigorosa nas maneiras da realeza.

— Ou foi isso que disseram para fugir de todas as responsabilidades de governar um país que achavam entediante. De fato, eles haviam dito isso um mês antes:

— Vamos definir a política e a direção. Você e os ministros podem cuidar dos detalhes. Se houver algum idiota insatisfeito com isso, traga-o aqui. Eu tiro tudo o que ele tem e mando ele embora pelado—foi isso que eu disse, né?

— Isso que estou dizendo! Sua ideia desde o começo é uma barbaridade!

— Não se preocupe. Um reino de terror seria problemático mais tarde, mas uma ou duas coisas assim não são nada.

Na verdade, se ele continuasse assim, seria como um daqueles genocidas da história.

— Na verdade, é impressionante que isso tenha acontecido pela primeira vez em um mês desde que assumimos o trono.

Grandes reformas agrícolas e industriais sempre causam disputas de direitos. Nobres se revoltando, guildas conspirando. Eventos chatos como esses sempre surgem em jogos de simulação. Ele havia jogado todas essas bandeiras irritantes para Steph e os ministros resolverem. Mas não esperava que levasse um mês inteiro para começarem a aparecer—

— Bem, sim... Eu estava controlando isso.

— ...Controlando?

— Desde o início, a maioria dos nobres se opôs às reformas agrícolas que você propôs. Felizmente, a família Dola tem alguma influência com os Oluos e os Bilds, então conseguimos fazer com que ajudassem a preparar o terreno.

— ........Hã? Ah, tá.

— Usamos dados obtidos de um experimento em larga escala nas terras pertencentes à coroa e distribuímos os ganhos entre os principais nobres que estavam do nosso lado. Alguns pequenos senhores vieram buscar uma fatia do bolo, e isolamos lentamente os senhores que eles serviam... Havia algumas casas grandes que não tivemos escolha a não ser enfrentar. Os três de hoje estavam no topo dessas, então isso não deve acontecer de novo. Você deve evitar provocá-los desnecessariamente e seguir em frente—Espera, o quê?

Sora interrompeu o fluxo suave da narrativa de Steph colocando a mão na testa.

— E-eu não acho que estou com febre. Por que a Steph parece inteligente?! — disse Sora, claramente consternado. — Tem algo errado comigo?! D-desculpa te fazer andar com a gente por aí, mas acho que preciso ver um médico agora!

— …Com licença, mas isso não está indo longe demais? — Steph tremia de raiva, mas Sora apenas gritou:

— Mas, quero dizer... você é a Steph, certo?!

— Sim, eu sou a Steph! E daí?!

Sora fechou os olhos e balançou a cabeça.

— Ei, ei, espera, espera... para um pouco... será que...?

Como um físico que acabou de ver um fantasma de verdade, suas suposições foram destruídas. Isso não pode ser possível, pensou ele. Engolindo em seco, com uma expressão de agonia, ele verbalizou uma ideia que mal conseguia compreender.

— Eu não acho que isso é possível... mas, Steph, será que... você... não é uma idiota?! — Sora lamentou, quase incapaz de acreditar na própria ideia.

— E-eu... você sabia que eu me formei no topo da minha turma na melhor academia deste país? Sobre o que você está falando?!

— Mas, quero dizer—olhe pra você!

—Stephanie Dola. A jovem de boa família, outrora neta do rei de Elkia. Agora, com uma coleira, orelhas e cauda de cachorro, a guia presa em seu pescoço sendo segurada por Shiro enquanto caminhava pela rua principal.

— Que tipo de pessoa inteligente estaria nessa posição?!

— Não foi você quem me colocou nessa posição?!

Sim, naquela manhã, depois que Steph perdeu miseravelmente no blackjack contra Sora, ele aleatoriamente informou: "Ok, agora você vai ser um cachorro pelo resto do dia", e ela foi forçada a obedecer. Considerando que ela estava passeando pela Rua Principal de Elkia nessa condição, não era surpresa que todos olhassem como se estivessem vendo algo bizarro. Vale mencionar que, mesmo durante o confronto com os nobres, ela esteve assim o tempo todo.

— V-você não poderia ter pensado em algo melhor para me obrigar a fazer?!

Enquanto Steph gritava, sugerindo que sua raiva havia retornado tarde demais, Sora e Shiro pensaram:

— Parece que ela continua a mesma de sempre.

— ...Steph, dá a pata...

Ao comando de Shiro, com a mão estendida, Steph colocou sua pata—ou melhor, sua mão direita—sobre a de Shiro.

— Ng-ghh... Por que eu tenho que te obedecer?!

— Eu pensei que você já tinha explicado isso antes. Porque essas são as regras do mundo.

— O Sexto dos Dez Pactos: Apostas juradas pelos Pactos são absolutamente vinculantes.

— ...Steph, deita...

Achando-se no chão da rua, Steph lamentou.

— Ungghh! Eu quero saber por que eu nunca consigo ganhar de vocês?!

Diante dessa pergunta, Sora suspirou com alívio evidente.

— Ah, então você realmente não conseguiu entender... Estou feliz que você ainda seja a mesma Steph de sempre.

— Parece que você está usando "Steph" como um insulto... é só impressão minha?! Só impressão minha?!

Mas Sora ignorou os protestos de Steph e tirou o celular do bolso, completamente alheio ao quanto Steph estava se esforçando. Ele deu mais uma olhada nos dados nacionais que ele tinha organizado nos relatórios dos ministros através de um aplicativo. Parecia que a maioria das suas propostas de reforma estavam indo bem. Ele não estava totalmente satisfeito com a área destinada à pecuária, mas, se tudo corresse bem, seria suficiente para a tendência populacional. Enquanto isso, os problemas de emprego estavam melhorando, até certo ponto. Confirmando isso, ele começou a marcar suas tarefas. Ao passar por "Reformar agricultura", "Reformar indústria", "Reformar finanças", etc., ele marcou cada uma como concluída.

— ...Mas, ainda assim, é só um paliativo...

Não importa o quanto os irmãos usassem seu conhecimento de outro mundo, fundamentalmente não havia recursos e terras suficientes. Levaria pelo menos seis meses para que as reformas agrícolas começassem a dar frutos. Mesmo que quisessem acelerar o desenvolvimento tecnológico, simplesmente não havia materiais suficientes no país.

— Acho que é verdade... não temos outra escolha a não ser 'recuperar nosso território', certo?

Em outras palavras, estava finalmente na hora de avançar e recuperar as fronteiras. Mas... onde deveriam atacar...?

— ...

Shiro parecia entender os pensamentos de Sora enquanto ambos caíam em silêncio, pensando por um longo tempo. Steph, que caminhava à frente dos dois com uma coleira no pescoço, foi forçada ao silêncio também.

— Mas ela não conseguia suportar os olhares que a seguiam.

— S-Sora. E-eu não aguento esses olhares. Por favor, ao menos fale algo—

Diante da repreensão de Steph, Sora notou algo estranho.

— ...Hm? Não há algo estranho na maneira como as pessoas estão nos olhando?

— O que você esperava quando me vestiu assim?!

— Não, eu quero dizer... eles não estão olhando meio assustados?

Sora perguntou ao perceber algo sutil nos olhares direcionados a Steph. De fato, não eram olhares de ridículo como se estivessem vendo um bobo forçado a usar uma fantasia—pelo contrário, pareciam olhares de apreensão dirigidos a Sora e Shiro...

— O que você espera quando o monarca de Elkia está liderando alguém vestido como um *Werebeast*?

— ...Como é que é?

— Espera, o que você acabou de dizer?

— Quem acreditaria que o monarca de Elkia faria alguém...

— Não! Esse não é o meu ponto!

— Espera, você está dizendo que usar orelhas de cachorro e uma cauda faz você parecer... uma *Werebeast*?

Num instante, Sora processou todas as informações que havia reunido até então.

— Ixseed Classe Quatorze, *Werebeasts*. Uma raça cujo maior território era a União Oriental, a terceira maior nação do mundo. Poucas informações estavam disponíveis, mas sabia-se que eles tinham uma proeza física e sentidos extremamente aguçados. E também que possuíam algo chamado sexto sentido, supostamente capaz de ler mentes, e só isso.

— ...Steph, por favor, responda imediatamente.

— Hã? O-o que é?

— *Werebeasts*—eles incluem garotas com orelhas e caudas de animais como as que você está usando agora?

— ...O motivo pelo qual você limita sua pergunta a garotas está além da minha compreensão, mas—

Claro que sim, ela pensou. Steph respondeu impulsivamente:

— Praticamente todas as fêmeas *Werebeasts* têm essa aparência!

...

— ...Então o que você está dizendo é que a União Oriental—com um engolir seco, Sora perguntou, como se quisesse confirmar—é um país onde as fêmeas que se parecem quase exatamente como garotas humanas, exceto pelas orelhas e caudas de animais e talvez almofadas nas patas e bigodes e tal—super fofas—compõem metade da população de um verdadeiro Éden que realmente existe neste mundo... é isso que você está dizendo?

Ela estava dizendo que a União Oriental era esse tipo de paraíso?

— Caramba, esse paraíso é meu! Vamos conquistar as garotas animais! Agora! Imediatamente!

Sacando o celular como se fosse uma espada, ele abriu o aplicativo de tarefas e começou a digitar: Conquistar dinastia das garotas animais #yolo.

— Ei—o que você está dizendo?! As coisas nem estão estáveis aqui em casa ainda!

Steph gaguejou diante do “rei louco” que acabara de sugerir enfrentar a terceira maior nação do mundo, mas Sora não seria dissuadido.

— Ah, silêncio! Como ousa criticar esse plano perfeito no qual meus desejos pessoais e o interesse nacional estão perfeitamente alinhados! Como acha que pode impedir minha glória?!

Olhando ao redor, como se estivesse procurando algo, Sora continuou:

— Qual o caminho para a União Oriental?! Por ali?! Vamos em frente; chame uma carruagem!!

Enquanto Sora divagava, a irmã, cuja mão ele segurava, soltou uma única palavra suave...

— ...Informação...

— Ung—gh...

…e destruiu seu plano dito “perfeito” imediatamente.

— Sim. O que acabaram de considerar. E o motivo pelo qual, no mês desde que foram coroados e declararam guerra ao mundo todo, ainda não haviam partido para o ataque. Ao ouvir isso, o rei foi silenciado.

— Hrm, rmghgh… Será que não há como evitar resolver esse enigma primeiro…?

O silêncio desceu novamente enquanto Sora e Shiro se calavam. …—. Embora Steph não gostasse das explosões de Sora, o silêncio pesava sobre ela de uma maneira própria.

— Uh, uhh, Sora, me diga por que eu perdi no blackjack hoje de manhã—

Steph, incapaz de suportar o silêncio, tentou puxar conversa.

…Nenhuma resposta. Steph olhou para trás, mas…

— …………Hã?

A coleira, que Shiro segurava momentos antes, agora arrastava no chão, e os dois, que deveriam estar ali, haviam desaparecido.

— Hã? Espera, vocês… vão me deixar assim?

Em meio a um som suave de risadas, uma rajada de vento frio soprou.

************

— …De…licioso…

Uma biblioteca no outro lado de um beco labiríntico que se ramificava da Rua Principal. Na frente dela, havia um café onde Sora e Shiro se empanturravam de donuts e chá enquanto seguravam livros.

— Eles conseguem fazer isso mesmo sem ingredientes suficientes… mas parece que as reservas estão em má forma.

Os donuts que compraram em uma das barracas da praça na Rua Principal, e o chá preto do café. Mas as barracas pareciam ter perdido a vitalidade original. Era possível notar nos rostos dos vendedores que os tempos estavam difíceis. Isso refletia bem a situação de Elkia como um todo. Pelos padrões do mundo antigo de Sora e Shiro, já estaria na hora de ocorrerem revoltas e saques. Mas o que realmente parecia estranho—

— E aí, Shiro? Você encontrou algo?

— …Hm. Não… nada de sorte…

— Que surpresa. Mas o que há de errado com este país? Tem algo estranho aqui.

— …Tem algo… estranho…

— …na cabeça de vocês, seus idiotas!

Com esse grito, ofegante e tentando recuperar o fôlego, apareceu Steph (versão cachorrinho).

— Oh, Steph. Onde você estava? Procuramos por você.

— "Oh"? O que você quer dizer com "Oh"?! Vocês realmente se esqueceram de mim?! Será que o motivo de me vestir como um cachorro e me abandonar no meio da cidade não foi provocação ou assédio, mas porque vocês simplesmente esqueceram?!

Gritando, com lágrimas nos olhos, Steph se jogou aos pés de Sora.

— Por favor! Só por essa vez… me deixa te socar!! Pelo amor de Deus, eu imploro!!

— Uh, bem… Veja, a Shiro sentiu o cheiro de algo bom e começou a se afastar. Obviamente, não posso soltar a mão da Shiro, e eu totalmente pensei que ela ainda estava com sua coleira—e quando percebi, você já não estava mais lá…

— Steph, perdoe. E sente-se — Shiro ordenou, com a boca cheia de donut e o polegar levantado. Sora continuou.

— É, bem… Shiro não fez por mal, então perdoa ela.

— Você está me mandando sentar, me mandando te perdoar, e acha que isso é um pedido de desculpas? Isso é praticamente abuso, não é?!

Ainda na posição de "cachorrinho sentado", Steph apontou para Sora e gritou:

— Primeiro, me diga por que eu perdi!! Se você não explicar, não tem como eu aceitar isso!!

— Hm… Então você quer não que liberemos você, mas que expliquemos?

— …Hã?

— …Steph… você… na verdade gosta disso?

— D-de—de jeito nenhum! Como você ousa me zombar?!

Mas Sora e Shiro jamais perderiam o instante em que ela hesitou em negar.

— Caramba, eu pensei que esse tipo de coisa só existia em jogos eróticos…

O que podemos pensar da zombaria injustificável de quem a colocou nessa posição em primeiro lugar?

Nunca antes Steph havia amaldiçoado tão fortemente o Lorde Tet e sua proibição contra a violência. A pressão do olhar dela era tão intensa que Sora foi obrigado a dizer algo.

— T-tá bom, tá bom, eu vou te contar… Contagem de cartas.

— Contagem de... o quê?

— Contagem de cartas. Resumindo, você transforma as cartas em valores numéricos e as conta. Por exemplo, você pode atribuir o valor um para as cartas de 2 a 6, valor menos um para as cartas figuras, e zero para 7 a 9.

— ...? O que isso te diz?

Vendo que Steph ainda estava um pouco perdida, Sora foi direto ao ponto.

— Isso te diz qual será a próxima carta a sair.

— Como?!

Enquanto Steph se perguntava se isso era algum tipo de magia, Sora continuou casualmente.

— A partir das cartas que já foram jogadas, você pode prever as cartas que restam no baralho e, então, deduzir matematicamente as probabilidades de qual carta virá em seguida. Se você souber qual será a próxima carta, não vai perder, certo?

— Entendo…

Parecia que a ideia de usar matemática em um jogo era uma revelação para Steph. Ela até esqueceu que estava "sentada" ali como consequência de sua derrota para essa tática, apenas observando, impressionada. Ela tirou um bloco de anotações para tentar organizar o que tinha entendido até o momento. Mas, enquanto escrevia, ela de repente se deu conta.

— Ei—espera aí! Isso significa que você estava trapaceando?!

Diante dessa acusação, Sora prontamente rebateu, com uma expressão tranquila:

— Se jogar com sabedoria é trapacear, então isso faz de ler os movimentos do seu oponente no xadrez trapaça também, não é?

— M-mas…

— No mundo de Sora, contagem de cartas era, de fato, considerada trapaça. Mas ele preferiu não mencionar isso.

— Trapacear seria mais algo como o rastreamento deliberado do embaralhamento que você estava fazendo.

— O quê?!

— Você... você sabia?!

Sora deu uma risadinha e olhou para ela com um ar de "O que você acha que eu sou?"

— Já tentei isso com a Shiro muitas vezes, mas ela sempre me pega. E isso até facilitou a contagem das cartas.

Sora, que em seu coração queria perder, admitiu isso com um suspiro. Steph, naturalmente, passou da posição de "sentada" para "deitada", estendida no chão. Seu truque havia sido descoberto e, pior ainda, usado contra ela. O fato de que apenas apontar sua trapaça teria sido o suficiente para derrotá-la segundo os Dez Pactos, mas ainda assim ela foi vencida ao explorar sua própria falha, fez Steph chorar até o chão ficar encharcado com suas lágrimas.

Mas então, uma possibilidade brilhou em sua mente.

— Nesse caso, e se fosse um jogo de pura sorte? Não seria possível vencer assim?

— Heh-heh-heh… Sora! Eu te desafio mais uma vez!

Steph lançou o desafio de forma desafiadora, ainda na posição de "deitada", levantando apenas o rosto. Era, como dizer… estranhamente lamentável.

— Steph... depois desta manhã, você está falando sério? O que você vai apostar?

Era o suficiente para fazer Sora pensar reflexivamente: **Devo só desistir por você?** No entanto...

— A mesma coisa de hoje de manhã — que você consiga uma vida!

(Imediatamente.) — Feito.

A natureza da aposta evaporou qualquer gota de compaixão que ele pudesse ter.

— ...Irmão, o jogo…

— Shiro!! Você acha que há uma chance em um milhão de seu irmão perder para a Steph?! Hmmm?!

— ...Vou apostar na chance de um em um bilhão-trilhão.

Esse era o nível dos irmãos—não, qualquer um podia ver isso—mas eles podiam ver através de tudo.

— ...Eu também vou jogar… Como "Blank"... aceitamos.

Isso significava que Steph não estava apenas enfrentando um deles, mas a dupla conhecida como os melhores jogadores da Immanity. Mas, seja como for, Steph pensou: **Habilidade é irrelevante em um jogo de pura sorte. As chances sempre são cinquenta-cinquenta!**

— ...Steph, se você perder... você vai obedecer... a um comando meu.

Steph não deve ter percebido, mas dentro da expressão vazia de uma metade dos maiores gamers da Immanity, havia um fogo brilhante, queimando profundamente nos olhos dela.

— Heh-heh, tudo bem. Agora é hora: o jogo—!!

Steph apontou violentamente para a esquina da rua.

— Se a próxima pessoa a virar a esquina será homem ou mulher—vocês têm que adivinhar!

Após pensar um momento sobre o jogo, Shiro respondeu:

— ...Melhor de… dez. Aschente.

— Perfeito! Aschente!

Com a empolgação de Steph, Sora olhou para ela com um olhar vazio e soltou um grande suspiro.

— C-como—como isso pôde acontecer?!

O resultado… nove a um. Como quase nem precisa ser dito, Steph perdeu vergonhosamente.

— É—é impossível! O que você fez para acertar 90% em um jogo de sorte?!

Sora, que em seu coração tinha desejado perder, explicou de forma exausta, como se seu coração tivesse sido arrancado.

— ...Você acha que as pessoas viram essa esquina sem motivo?

— ...Hã?

— Enquanto tomava chá aqui, observei quem passava por essa estrada e com que frequência. Usando as tendências que observei, Shiro foi capaz de aplicar a proporção de gênero da população dessa área por horário, assim como as taxas de emprego, as demografias ocupacionais, etc., para deduzir a proporção de homens e mulheres de acordo com o motivo pelo qual eles passariam por aqui.

— ...V.

— Shiro, tendo realizado tudo isso apenas com dados memorizados e cálculos mentais, ergueu dois dedos em sinal de vitória. Diante desse sinal de vitória, Steph finalmente começou a sentir certa hostilidade… mas, antes de tudo—

— V-vocês não são como crianças?!

Exatamente até onde eles estavam dispostos a levar um jogo bobo de adivinhar o gênero da próxima pessoa a virar a esquina?!

— Mas, quando se tratava de Sora e Shiro, essa era uma pergunta tola. A resposta: até o fim, como sempre.

— E agora... — Shiro vitoriosa fez sua exigência, conforme a aposta.

— Todas as suas calcinhas... pertencem a nós...

— Hã?!

— O-o que foi isso?!

Mas a aposta pelos Pactos já havia sido pronunciada.

— Ergh! Espere — p-por favor, qualquer coisa menos isso!

O Sexto dos Dez Pactos: As apostas juradas pelos Pactos (Aschente) são absolutamente vinculativas. Os Pactos eram absolutos — ninguém podia desafiar seu poder. Embora Steph protestasse enquanto tirava a calcinha, Shiro não demonstrou qualquer interesse e a pegou sem cerimônia. Assim, a imagem de Steph, sentada de quatro, rosto completamente vermelho e sem calcinha, estava completa. Mas, então, quem mais entrou em pânico foi Sora.

— Ei — mi-minha irmã! Você não acha que isso é um pouco demais?!

“…Eu tenho…e-onze…apenas uma criança…então, eu não sei.”

Com essas palavras, Shiro colocou a calcinha de Steph sobre sua própria cabeça. Ainda

inexpressiva, ela colocou o dedo indicador na bochecha e inclinou a cabeça

com um baque.

“O quê—você vai descartar isso como uma brincadeira inocente de uma criança?!

Seu uso seletivo disso é muito gritante para se olhar!”

Agora era mais a jovem garota com calcinha na cabeça que atraía

a atenção dos transeuntes. O que significava, no final das contas, que a calcinha de Steph estava

exposta ao público... I-inacreditável. Ela era uma criança com quem você não queria

mexer—aquela Shiro! Sentindo-se desconfortável com a falta atípica

de misericórdia de sua irmã, Sora perguntou:

“E-ei, você está, tipo, se esforçando muito hoje, hein? Você está de mau humor por

algum motivo?”

“…Não...em particular?”

Mas o desafio de Steph a Sora em si estava na raiz de seu descontentamento.

Shiro deu sua resposta com os olhos semicerrados e uma aparente falta de interesse.

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A contra-ofensiva de Steph contra Sora, que a ordenara: "Apaixone-se por mim", não foi "Revoque a ordem", mas sim "Torne-se uma pessoa decente". Havia conclusões a serem tiradas disso. ... Você pensaria que alguém conseguiria entender com um pouco de reflexão.

— …Hff…

Parecia que a garota de onze anos que voltou de mau humor para seu livro era a única que percebeu.

Enquanto isso, Steph estava vestida de cachorro, com suas calcinhas saqueadas e expostas ao público.

— Heh, heh-heh… tanto faz… eu abandonei minha modéstia no dia em que perdi para Sora…

— Pai, Mãe, Avô… Sua Stephanie foi maculada. Heh-heh, huh-huh-huh-huh, Steph riu, e Sora fez uma careta.

— Uh, sabe, Shiro, eu realmente não me sinto bem com isso — quero dizer, olhar para ela me deixa deprimido.

— …Tudo bem…

Não estava claro o que estava bem, mas foi o que Shiro declarou, com as calcinhas ainda na cabeça.

De repente, porém, enquanto jazia no chão molhada pelas suas lágrimas, segurando a saia para baixo, outro pensamento ocorreu a Steph. Era estranho — tinha que haver algo como um jogo de pura sorte neste mundo. (Isso mesmo. Até agora… eles tinham falhado pelo menos uma vez!) Em outras palavras — palpites eram apenas palpites. Shiro havia especificado "Melhor de dez" porque eles poderiam perder. O que significava —!

— So-So-Sora! Eu-eu-eu tenho um novo jogo para você!!

Gaguejando, aparentemente relutante em levantar-se sem calcinhas, Steph soou desesperada.

— C-claro, mas… você está realmente bem?

Já desumanizada e privada de roupa íntima, se Steph tentasse dobrar a aposta agora, não seria totalmente R-18 —? Mas Steph pressionou seu ataque com força.

— Não importa!! Todos os contratempos temporários são insignificantes diante da causa de revelar sua mão!!—O que era? Em algum lugar, havia uma pista de por que Elkia havia sido reduzida a esse estado.

—I-I see. Então, as mesmas apostas. Qual é o jogo?

—Quantos segundos até aquele pássaro alçar voo. Quem chegar mais perto ganha — melhor de uma!!

Na direção que Steph indicou resolutamente com o dedo: — Cwoop-coo.

Um pombo branco irritante estava sentado no telhado. "Blank não pode perder", mas em uma única rodada de sorte — era só esperar! Muito provavelmente, eles recusariam a partida. Mas isso já seria o suficiente se ela encontrasse uma fraqueza para explorar—! Steph teve suas expectativas traídas pela aceitação casual de Sora.

— Beleza. Vou deixar você chutar primeiro. Aschente — então, quantos segundos?

— A-ah, sim, aschente... b-bem — trinta segundos, eu digo!

Embora momentaneamente atordoada por estar tão completamente fora de base, Steph se recuperou.

—Parecia muito improvável que o pombo ficasse ali por mais de um minuto. Isso significava que, cedo ou tarde, a aproximação mais fácil era o valor no meio. Pensando até queimar os neurônios, essa foi a conclusão a que Steph chegou. Mas, como se nem estivesse ouvindo, Sora brincava com uma pedra na mão e fez seu próprio palpite.

— Então, eu digo... três segundos.

Ele mal havia terminado de falar quando girou o braço sobre a cabeça e lançou.

— O quê?!

A pedra, arremessada com toda a força de Sora, passou zunindo bem ao lado do pombo. O pássaro, assustado, bateu as asas e voou.

— ... Pronto... O irmão venceu.

Shiro, ainda com a calcinha na cabeça, proclamou o vencedor sem levantar os olhos do livro, enquanto Steph elevava a voz em uma discussão furiosa.

— E-e-e-espere um minuto!! Como isso não é trapaça?!

Claro, Sora já estava bem preparado para a objeção dela.

— Quando foi que estabelecemos uma regra de que você não pode fazer o pombo voar de propósito?

— O-q-quê—

— É isso que acontece quando você não define cuidadosamente as regras do jogo.

T-tão infantil — até onde essas duas crianças conseguem ir?! Mas Sora, recostando-se novamente na cadeira e voltando ao seu livro, aconselhou seriamente:

— Não existe sorte neste mundo.

— ...Hã?

— Não existe? Steph franziu as sobrancelhas diante da dissonância cognitiva irreconciliável.

— Regras, premissas, apostas, psicologia, níveis de habilidade, tempo, condições... Todas essas "variáveis invisíveis" determinam o resultado do jogo antes mesmo dele começar. Não existe sorte.

— Sorte. Era apenas outro nome para um destino imprevisível, ditado por variáveis invisíveis.

— Por exemplo, vejamos... imagine uma carta virada para baixo.

Sem desviar os olhos do livro, Sora continuou sua aula habilidosamente.

— Qual a probabilidade de ser o ás de espadas?

— ...Ah, tem cinquenta e duas cartas em um baralho, então uma em cinquenta e duas, certo?

— Certo, essa é a maneira típica de olhar para isso. Mas e se a carta for a última de um baralho novo, recém-tirado da caixa?

— ...Hã?

— Baralhos novos geralmente estão sempre na mesma ordem. Então, se você tirar os curingas, depois tirar o baralho da caixa e colocar a última carta virada para baixo, ela sempre será o ás de espadas.

— A-a-mas...

Isso é — Steph tentou argumentar, mas Sora—

— Exatamente. Eu nunca disse que era um baralho novo saindo da caixa — ou seja, você não sabia!

— continuou a explicar que esse era precisamente o ponto.

— É isso aí. Se você souber, 1,92 por cento se torna 100 por cento. Então, aqueles que não sabem reclamam que deram azar, enquanto os que sabem estão fadados a agarrar a vitória.

Sora concluiu:

— Entendeu? Esse é o truque para vencer jogos. É o motivo de você ter perdido para mim no blackjack. E, aliás, também o motivo de a humanidade estar perdendo uma partida atrás da outra —

Então — com uma expressão amarga e um estalo de língua, Sora disse:

— E o motivo de estarmos presos.

...Hã? Presos?

— No último mês, nós vasculhamos todos os malditos livros deste país, e devo dizer, vocês não sabem absolutamente nada sobre as outras raças — ou países, se preferir. Não conseguimos encontrar uma brecha. Pelo amor de Deus, o que há de errado com este país?

— Uhm, se me permite... O que você quer dizer?

— O quê, você achou que ficamos o mês inteiro trancados no quarto só jogando?

— Sim, foi exatamente e precisamente o que eu pensei — respondeu Steph, alto e claro, sem um instante de hesitação.

— Ah, tanto faz — murmurou Sora antes de continuar:

— Digamos que a gente ataque o Reino Furry — quero dizer, a União Oriental.

Seu exemplo, claramente feito para mostrar que ele ainda não havia desistido da ideia, prosseguiu.

— Mas, praticamente, tudo que sabemos sobre os Werebeast é que o inimigo usa um sexto sentido.

— S-sim... dizem que eles conseguem ler mentes...

— Se eles podem ler mentes, blefes não vão funcionar, e não há como jogarmos um jogo psicológico.

Rank Dezesseis, Immanity, a raça mais fraca dos Ixseeds, não possuía habilidades especiais ou magia. Assim, se eles pretendiam vencer um jogo contra uma raça que usava "poderes sobrenaturais"—

— Não é nem um jogo se a gente não souber pelo menos alguma coisa sobre o inimigo.

E, ainda assim, a humanidade praticamente não tinha nenhuma informação sobre as outras raças. Claro, cada uma das raças devia estar escondendo esses dados; tê-los conhecidos as colocaria em desvantagem. Mas, mesmo assim, isso era demais. Era sobre isso que Sora vinha reclamando enquanto resmungava dos livros na biblioteca.

Eles não sabiam que tipo de jogos seus adversários jogavam, nem quais habilidades eles possuíam. Mas o outro lado sabia os "especificações" dos Immanity de trás para frente — o que significava "variáveis invisíveis" visíveis desde o início — e isso era uma história completamente diferente. Se os irmãos atacassem sem informações prévias, estavam fadados ao fracasso. Pelo mesmo motivo que Steph havia perdido para Sora — eles estariam destinados a perder.

— É por isso que dedicamos um mês inteiro e ainda não encontramos uma brecha.

— M-mas... — Steph gaguejou enquanto Sora fechava o livro com irritação.

Diante de uma aparente condenação à escolha de seu avô por atacar mesmo assim, Steph teve que se manifestar, argumentando fracamente:

— M-mesmo assim, nada vai acontecer se não fizermos alguma coisa!

— Olha... se a gente cometer um único erro, já era.

As palavras de Sora foram completamente impassíveis... e ecoaram com um peso que esmagou Steph contra o chão.

— Nossa situação agora é simplesmente péssima. Não se esqueça disso.

— Por um momento — embora apenas por um momento — o rosto de Sora exibiu uma fúria que fez Steph congelar.

Era fácil esquecer, já que eles quase nunca agiam como tal. Mas o destino de três milhões de vidas humanas repousava nos ombros desses dois. Sem dúvida, os maiores jogadores da humanidade, que haviam derrotado até mesmo os Elfos, embora indiretamente. Eles disseram que estavam presos. O significado, o peso disso, finalmente se tornou claro para Steph, e isso pesou sobre ela de uma forma que a impediu de ficar de pé.

— Se eles cometessem um único erro, milhões de vidas chegariam ao fim. Sob essa pressão — Steph refletiu, prendendo a respiração. Sora se espreguiçou languidamente, mexendo em seu organizador de tarefas.

— Só conhecemos uma saída, mas não temos a chave. Droga, o que fazer...

Ser capaz de manter tamanha compostura... Que tipo de constituição ele tinha? Steph sentiu um leve arrepio —

— ...E então.

Uma sombra repentina envolveu instantaneamente os arredores em escuridão.

— ...O quê? Por que ficou... de noite de repente—

Sora desviou o olhar — e seus olhos se arregalaram. Até o olhar normalmente semicerrado de Shiro se abriu, e ela deixou o donut cair da boca. O céu azul que pairava sobre eles um momento antes havia desaparecido de sua visão coletiva, agora direcionada aos céus. Como se um pedaço da crosta terrestre tivesse sido arrancado — uma enorme camada rochosa agora flutuava em seu lugar.

— Q-quê diabos é isso...?!

— Incrível! Laputa realmente existe! — A frase se repetiu involuntariamente na mente de Sora. Ela parecia mais longa horizontalmente do que no anime, mas, de qualquer maneira, era uma ilha enorme flutuando no céu.

— Pensando bem...

Ele se lembrou de ter visto uma ilha flutuando no céu quando chegou a este mundo pela primeira vez.

...Ah, então aparentemente isso era uma visão comum em Disboard. As únicas pessoas que estavam surpresas eram Sora e Shiro. As outras pessoas caminhando pela rua nem pareciam interessadas.

— ...Este mundo tem tanta coisa que chega a ser ridículo... Nesse ritmo, aquela coisa de "cedo demais" vai...

Enquanto Sora e Shiro olhavam para cima, maravilhados, Steph finalmente pareceu perceber.

— Ah, é a primeira vez que vocês estão vendo isso, Sora?

E ela seguiu os olhares deles.

— Aquilo é Avant Heim — um Phantasma.

Agora que ela mencionou — se você olhasse de perto — a ilha, que à primeira vista parecia apenas uma formação rochosa, na verdade tinha o que pareciam ser tristes desculpas para nadadeiras. Ela parecia... como uma baleia gigante — mais ou menos... talvez... se você olhasse de um certo ângulo. Uma pergunta escapou da boca de Sora.

— Vocês não têm direitos de luz ou direitos de espaço aéreo nesse mundo — espera, *"Phantasma"*?

— Sim. É uma única entidade da raça no Rank Dois dos Ixseed.

— Ixseed. As “dezesseis sementes” de vida inteligente às quais os Dez Pactos, definidos pelo Deus, se aplicavam. Ainda assim, apontando para os céus — não, para “Laputa” — Sora rugiu:

— Você tá dizendo que *aquilo* é um ser vivo inteligente?! Como a gente vai jogar — digo, será que dá pra sequer se comunicar com aquela coisa?! Se não fosse “Laputa existe”, mas “Laputa fala”, até o Pa*u só teria olhado pro velho com pena!!

— ...Eu não entendi muito essa última parte, mas, sim, é impossível.

Steph falou de forma decisiva.

— Mesmo os Flügel que vivem lá em cima estão muito além das capacidades de derrota da humanidade.

— Flügel — A-ahh, *“Avant Heim”*... Então era aquilo.

Observando Laputa Versão Dois — o Phantasma *“Avant Heim”* — passar, Sora se lembrou do que havia esquecido em meio ao choque: a descrição que ele tinha lido anteriormente em um livro.

— Ixseed Rank Seis: Flügel. A vanguarda alada criada pelos deuses para matar outros deuses, durante a antiga Grande Guerra. Uma raça guerreira. Com o estabelecimento dos Dez Pactos, suas habilidades de combate foram efetivamente seladas. Ainda assim, eles possuíam vidas praticamente eternas e uma aptidão mágica extremamente elevada, com uma cidade literal nos céus como único território. Assim, não participavam da *“luta pelo domínio”*, ou seja, das apostas por fronteiras. Contudo, como possuíam uma sede insaciável por conhecimento, muitos deles se envolviam em jogos para obter informações das outras raças do mundo. Isto é, para coletar livros. Para a humanidade, que tinha pouco a oferecer, os Flügel eram uma das poucas raças que os irmãos poderiam atrair, com seu conhecimento de outro mundo. Eles foram a primeira raça que chamou a atenção de Sora depois de chegar a este mundo.

— Mas, dito isso...

— Tenho certeza de que seria uma ótima ideia colocar os Flügel do nosso lado, mas não temos como contatá-los, temos?

Para entrar no império das orelhas de animal — cof, cof. Para obter as informações necessárias para competir com os outros países, ou seja — eles precisavam desesperadamente do conhecimento possuído pelos Flügel. Mas, neste mundo, a humanidade não tinha a tecnologia para voar. Não tinham meios de alcançar *Avant Heim*, nem qualquer método para contatá-los. Também não poderiam tornar público o conhecimento de outro mundo para conseguir chegar lá. Era cedo demais para revelar isso a Elkia. Era o único trunfo de Sora e Shiro. Enquanto Sora ruminava, murmurando, aparentemente travado, Steph ofereceu:

— Hã? Se vocês têm algum assunto com os Flügel, tem um aqui perto.

— ...O que você disse?

— Tem uma. Ela está, uh... meio que sentada...

Não, espera, espera — Sora interrompeu:

— Nós vasculhamos todas as bibliotecas do castelo e do país, e não lemos nada sobre isso!!

— Provavelmente não. Na verdade, é justamente ela quem arrancou todos os livros mais importantes de Elkia.

— Sora, acometido por uma leve tontura, mas sustentado por sua irmã (cujos olhos estavam semicerrados, provavelmente sentindo o mesmo), mal conseguiu se manter firme e pressionou Steph:

— D-detalhes, me dá os detalhes.

— Bem... Cinco anos atrás, uma Flügel apareceu na maior biblioteca do país, a Grande Biblioteca Nacional de Elkia, e levou toda a coleção... entende?

— Aaaah! Então é por issooo que Elkia não tem dados nenhum pra falar! ♥

— Vocês apostaram suas informações?! Vocês são loucos?! Isso é a única maldita arma que vocês têm, sabia?!

Sem informações — ou seja, inteligência — eles não poderiam competir com outros países. Apostar isso, em termos de combate, era como jogar fora tanto a espada quanto o escudo. Ou, para colocar em termos mais generosos, falhar miseravelmente.

Atacada pelas acusações de Sora, que deixaram até os transeuntes chocados, Steph gaguejou:

— M-m-mas foi meu avô quem apostou isso — e-e-ele devia ter alguma razão profu—

Ignorando-a completamente, Sora continuou pressionando:

— O que ele pediu em troca?!

— U-uhh, ah, e-eu ouvi dizer que, se ele ganhasse, a Flügel teria que s-se j-juntar a ele!

— Hmm, então ele estava tentando trazer alguém com um conhecimento muito além do da humanidade para o lado dele. Era, de fato, exatamente o que Sora estava tentando fazer. Não era uma condição ruim. De forma alguma. O que era ruim era—

— E aí ele perdeu e deixou que levassem todo o nosso conhecimento emboraaa?!

Arranhando o couro cabeludo e puxando os cabelos, Sora apontou para Steph e gritou:

— Como diabos vocês deixaram eles saírem com tudo?! Vocês não fizeram cópias?!

— B-bem, foi... um problema de orçamento...

— Orçamento?! O que orçamento tem a ver com isso—?!

Para o incompreensivo Sora, Shiro, com sua calcinha ainda na cabeça, murmurou:

— ...Irmão... Elkia... Livro, tecnologia... e a-na-lfa-betismo...

— ...Ah, entendi. C-certo.

Para alguém que havia vivido no Japão moderno, era difícil de acreditar. Mas dizia-se que o índice de alfabetização na Europa do século XV mal tocava os 10 por cento. Eles sabiam, pelos dados, que Elkia parecia estar em uma situação similar. Considerando que, sem tecnologia para a produção em massa de papel, fazer cópias realmente geraria um custo enorme—

— ...Steph, depois vou te passar um memorando traduzido para o idioma dos Immanity, então priorize isso como tarefa número um.

— Ah, sim, senhor... Que tipo de memorando?

— Desenhos para *“produção de papel”* e *“impressão com prensa tipográfica”*...

Mas isso foi criticado de forma emburrada por Shiro, com os olhos semicerrados e a calcinha ainda na cabeça.

— ...Irmão... trapaceando, de novo.

— Desculpa, Shiro, mas isso aqui é ridículo demais.

Enquanto Sora adicionava uma nova tarefa em seu celular, ele soltou um longo suspiro. Com tudo isso em mente, então, Steph, com sua biblioteca particular inteira, era na verdade bastante educada, afinal... mas. Neste mundo, onde jogos decidiam tudo—

— Se vocês nem conseguem ler e escrever, como pretendem jogar? Os humanos estão mesmo tentando?

— Vocês é que são estranhos, sabendo seis ou dezoito idiomas!

— Não brinca comigo! Se você vai jogar contra outros países, seis idiomas é o mínimo do mínimo!

— E aí ele perdeu e deixou que levassem todo o nosso conhecimento emboraaa?!

Arranhando o couro cabeludo e puxando os cabelos, Sora apontou para Steph e gritou:

— Como diabos vocês deixaram eles saírem com tudo?! Vocês não fizeram cópias?!

— B-bem, foi... um problema de orçamento...

— Orçamento?! O que orçamento tem a ver com isso—?!

Para o perplexo Sora, Shiro, ainda com a calcinha na cabeça, murmurou:

— ...Irmão... Elkia... Livro, tecnologia... e a-na-lfa-be-tismo...

— ...Ah, entendi. C-certo.

Para alguém que havia vivido no Japão moderno, era difícil de acreditar. Mas, segundo registros, o índice de alfabetização na Europa do século XV mal chegava a 10 por cento. E, pelos dados, Elkia parecia estar em uma situação semelhante. Considerando que, sem tecnologia para produzir papel em massa, fazer cópias teria, de fato, um custo enorme—

— ...Steph, mais tarde vou te entregar um memorando traduzido para o idioma dos Immanity. Coloque isso como prioridade máxima.

— A-ah, sim, senhor... Que tipo de memorando?

— Desenhos para *"produção de papel"* e *"impressão com prensa tipográfica"*...

Mas isso foi criticado de forma emburrada por Shiro, com os olhos semicerrados e a calcinha ainda na cabeça.

— ...Irmão... trapaceando, de novo.

— Desculpa, Shiro, mas isso aqui é ridículo demais.

Enquanto Sora adicionava uma nova tarefa no celular, soltou um longo suspiro. Com tudo isso em mente, Steph, com sua biblioteca pessoal inteira, era na verdade surpreendentemente bem-educada... mas. Neste mundo, onde jogos decidiam tudo—

— Se vocês nem conseguem ler e escrever, como pretendem jogar? Os humanos estão mesmo tentando?

— Vocês é que são estranhos, sabendo seis ou dezoito idiomas!

— Não brinca comigo! Se você vai jogar contra outros países, saber seis idiomas é o mínimo do mínimo!

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