Volume 1 - Capítulo 4
No Game No Life
Chlammy gritou: “Idiota, eu te odeio, nunca vou ceder, vou mostrar a todos quem você realmente é!”—e continuou até o final, antes de sair praticamente correndo.
"Que droga... De que adianta se até os próprios humanos começam a subestimar a humanidade...?" As palavras de frustração de Sora foram seguidas por uma nova onda de aclamação que envolveu o castelo.
— Uma vitória tão completa que não deixava dúvidas. Uma vitória que mostrava a todos, de forma inquestionável, a promessa do novo monarca dos humanos. Os aplausos ressoaram por todo o Grande Salão, acompanhando os passos do idoso oficial que se aproximava com a coroa em mãos.
"Muito bem — seu nome é Sora, certo?"
"Sim."
"Você aceita a coroa do Reino de Elkia?"
Mas Sora respondeu com firmeza.
"Não."
E, trazendo sua irmã para perto, ele disse com um sorriso:
"Juntos, nós somos Blank — nós dois somos o monarca."
Isso já havia sido mencionado durante a partida de xadrez. A multidão elevou ainda mais suas vozes — celebrando o nascimento de um novo rei e de uma pequena rainha.
— Mas.
"— Infelizmente, isso não é possível."
"— Hã?"
Os aplausos cessaram com as palavras do oficial.
"O quê? Ah, por quê não?"
"As Dez Promessas estipulam que deve haver 'um agente plenipotenciário'. Não pode haver dois."
O salão começou a murmurar, enquanto os irmãos se entreolhavam. Sora ponderou, coçou a cabeça, franziu as sobrancelhas... e falou.
"...Entendi. Hm, então, vamos dividir os papéis, e eu assumo essa responsabilidade, pode ser?"
"...Ng."
Colocando sua irmã no chão, que soltou um pequeno gemido, Sora se virou novamente para o oficial.
"Então, vamos continuar — ahem. Eu coroarei Sora como o 205º monarca do Reino de Elkia — se alguém tiver alguma objeção, fale agora! Se não, seu silêncio será—"
— Mas alguém que não conseguiu se conter interrompeu, levantando a mão.
"...Mm."
Longos cabelos brancos. Uma garota cujos olhos rubi espreitavam por entre as franjas — mas falando sério.
"Uh, Shiro?"
"...Eu tenho uma objeção."
"Hum, perdoe-me, minha irmã? Do que você está falando?"
"...Se você se tornar rei... pode construir um harém."
"O quê?"
Embora Sora tenha respondido como se não acreditasse no que estava ouvindo, Shiro franziu o rosto como se estivesse prestes a chorar e continuou.
"...E então você não... vai mais... precisar de mim."
Ignorando o público perplexo, Sora, totalmente atônito, falou.
"Ei! Ei, ei, espera, isso é ridículo! Nós dois somos uma equipe, certo! É só uma formalidade; eu serei tecnicamente o rei, mas isso não significa—"
"...Mas você vai ser — o rei... Eu vou estar só... ali. Só pode haver um... então—"
Após enxugar suas lágrimas com o braço, não restaram mais lágrimas.
"...Vai ser — eu."
Nos olhos sem emoção da irmã, habitava uma clara vontade de lutar. Enquanto eles perfuravam seu irmão com uma declaração de guerra—
"Hã?"
Sora, do outro lado daquele olhar, mudou sua expressão.
"Ei, agora... Minha querida e preciosa irmã. É raro ouvir você contar piadas; como está o clima no inferno?"
Ele sorriu com sua habitual atitude frívola. Mas com uma hostilidade clara no tom de voz.
"Veja o que acontece se uma beleza a nível de mil navios como você se tornar rainha. Você é muito inocente. Pode ser enganada por algum vagabundo de conversa doce — seu irmão não pode deixar você ser rainha."
Embora Sora enfrentasse Shiro com as falas típicas de um irmão superprotetor. Contrário às suas palavras, que sugeriam um amor quase sufocante, não havia nenhum traço de sorriso em seus olhos.
"...Não, Irmão, você não pode ser rei — e ponto final."
"—Então venha. Porque seu irmão não vai deixar você ser rainha. E isso é ponto final."
Dois olhares, um contra o outro, se chocando. Os olhares dos dois que superaram até a trapaça dos elfos para conquistar o título mais poderoso da raça humana. Não eram os olhares dos irmãos íntimos, nem os dos dois em um só jogador "Blank". Eram os olhares de rivais de longa data, com vontades firmes o suficiente para soltar faíscas...
"Bem, nesse caso, devo entender que vocês desejam resolver isso com uma última partida?"
Deve ter sido necessário muita coragem para se intrometer entre eles. O oficial, verificando com eles, de forma apologética.
"Claro, estou pronto."
"...Tudo bem."
Sem hesitação. E sem desviar o olhar, eles aceitaram o desafio.
"Não vou pegar leve com você, minha irmã. Hoje é o dia em que você vai cair."
"...Preocupe-se com você mesmo... Irmão... Hoje, eu estou falando sério."
......
— E assim. Três dias se passaram.
No centro do salão, entre os restos espalhados de incontáveis jogos jogados um após o outro, sem dormir ou descansar. Os irmãos estavam espalhados no chão.
"...Ei... por que você não... desiste já?"
"...Por que você não... desiste você."
Os incontáveis jogos que começaram sob a condição de duas vitórias consecutivas para se obter a vitória totalizaram — quinhentas partidas: 158 vitórias, 158 derrotas e 184 empates.
— A tragédia era que, nem mesmo aqui, e muito menos no mundo deles. Embora "Blank" tivesse se tornado uma lenda urbana, ninguém sabia dos registros de partidas entre os dois. Além do nome coletivo de "Blank". Os dois irmãos amantes de jogos, como algo mais que natural, jogavam um contra o outro. E seus registros eram—
— 3.526.744 partidas, 1.170.080 vitórias, 1.170.080 derrotas, 1.186.584 empates… Até hoje, nenhum deles jamais havia se distanciado ou ficado para trás. As pessoas no castelo não tinham como saber desse trágico fato enquanto aguardavam a coroação. Mas, a essa altura, eles já tinham ido para casa há muito tempo.
— Voltaram, e depois foram embora de novo. À medida que tentavam prever quando seria um bom momento, gradualmente, cada vez menos pessoas vinham. A equipe do castelo estava espalhada pelo Grande Salão — até mesmo o oficial responsável, com a coroa na mão, e Steph, que mal conseguiam se manter conscientes, já estavam profundamente imersos em alucinações. De vez em quando, o velho oficial sorria de forma estranha e depois voltava à expressão normal. Enquanto isso, Steph estendia a mão para o ar com um sorriso vazio, dizendo: “Oh, uma borboleta.”
— Então, qual deveria ser o próximo jogo... Enquanto Sora pensava sobre isso em sua mente turva, uma pergunta surgiu e deteve sua mão.
"Ei... Por que o monarca tem que ser uma única pessoa?"
"...O quê?"
A essas palavras, o oficial e Steph reagiram, voltando do mundo da lua. Para esclarecer sua preocupação, Sora pegou seu celular. E leu novamente suas anotações sobre as Dez Promessas.
“A Sétima das Dez Promessas: ‘Para conflitos entre grupos, um agente plenipotenciário deverá ser estabelecido’...”
Essa era uma regra que direcionava grupos — ou seja, países e raças — a designar um representante para os conflitos entre eles.
— Mas. Sora, tendo pronunciado isso com cuidado e de forma meditativa, certificou-se de que não havia contradição entre as palavras que ele havia lido e a conclusão a que chegou. “— Em algum lugar está dizendo que tem que ser um indivíduo?” ele murmurou.
“““ ”””
— E assim, a lendária disputa, da qual os bardos mais tarde cantariam como os “Três Dias de Pesadelo”, chegou ao fim. Mas, sendo uma história extremamente longa, vamos passar por ela rapidamente...
……
"...Ei, isso realmente está certo?"
"Claro que está. Desde tempos remotos, monarcas que se vestem com trajes ostentosos geralmente fazem isso para esconder sua baixeza interior, para inflar sua imagem pública e se engrandecerem. Um monarca deve ser um modelo para o povo, um ideal a ser seguido — a reverência deve ser conquistada por atos."
"...Que papo furado..."
"É, ok, para ser honesto, eu só me sinto mais confortável assim."
"Hh... Tudo bem, como quiser. Mas pelo menos faça algo com o seu cabelo."
A cidade capital, Elkia — a grande praça em frente ao castelo. Ao sair para a varanda do castelo, a praça ampla lembrava a Piazza San Marco, em Veneza. Agora, a praça estava cheia de uma multidão incontável. Quantos milhares — quantas dezenas de milhares de pessoas havia ali? Ansiosos para ouvir as palavras de seu novo rei, a multidão transbordava da praça para as ruas que dela se estendiam. Era uma expressão de sua perda de esperança no rei anterior, desprezado como um tolo. Uma expressão de sua necessidade de um fio de esperança para a humanidade, deixada em um abismo de desespero. Uma expressão que buscavam nos irmãos, que derrubaram um espião elfo — derrubaram a magia — de frente. Na varanda do castelo, onde se reuniam os olhares, carregados de expectativa, de toda a raça humana — duas figuras surgiram. Um jovem e uma garota. Um jovem com olheiras, vestindo jeans e uma camiseta que dizia "I ♥ PPL". Uma garota com cabelos longos e brancos o suficiente para fazer alguém pensar em neve, pele branca para combinar, e olhos vermelhos como joias, vestindo um uniforme de marinheiro. Suas coroas indicavam que eram o rei e a rainha.
— Mas. O jovem havia entortado a tiara da rainha e a pendurado em seu braço como uma braçadeira. Enquanto isso, a garota havia prendido o cabelo com a coroa do rei, levantando sua franja—. Ao vê-los, era fácil imaginar por que Steph havia gritado durante a troca de roupas deles.
Nesse visual desleixado, diante de seu povo atônito, o jovem — Sora — começou a falar.
"Uhh... mm, mmng. Humm, bom dia."
"...Irmão, você está nervoso. Incomum."
"—Cala a boca. Você sabe que nós dois temos medo de multidões. Normalmente eu só reprimo isso."
Shiro gentilmente segurou a mão do irmão, tomando cuidado para que a multidão não visse.
"......"
Silenciosamente. Como se dissesse, Então reprima de novo agora. Como se dissesse, Assim como você sempre fez — e sempre fará.
“—Meu estimado povo — não, camaradas da humanidade!”
Como se tivesse compreendido a intenção de sua irmã, o irmão ergueu a voz com um rosto do qual a tensão havia se dissipado. Um megafone estava preso ao corrimão da varanda, mas ele gritou com uma força feroz que sugeria que não precisava dele.
“Nós, humanos… sob as Dez Promessas, neste mundo sem guerra, perdemos continuamente até sermos reduzidos ao nosso último país, nossa última cidade — por quê?”
A multidão ficou perplexa com a pergunta repentina jogada a eles.—Por causa dos erros do antigo rei.—Porque não podemos usar magia. Sora esperou que cada um chegasse a uma resposta e então continuou.
“Porque o antigo rei falhou? Porque somos a raça de menor ranking? Porque não podemos usar magia? Porque nossa raça está destinada a morrer indefesa?!—Não!”
A forte negação fez o ar e as massas tremerem igualmente. Com um punho cerrado e sem esforço para esconder suas emoções, Sora continuou a gritar.
“No passado, na Grande Guerra dos antigos deuses, os deuses, os demônios — os Elfos, os Werebeasts, tantas raças lutaram entre si, e nós lutamos, e sobrevivemos! No passado, a totalidade deste continente era o domínio dos países humanos — então, por quê isso?!”
Com base na história que ele havia lido nos últimos dias na biblioteca de Steph, Sora perguntou a eles.
“É porque somos uma raça especializada em violência? É porque somos uma raça especializada em combate?!”
Todos na plateia se entreolharam.
“Não temos a magia diversificada dos Elfos, nem a força física dos Werebeasts, nem a longevidade dos Flügels — sendo assim, nosso antigo domínio sobre este continente resultou da especialização em combate? — De forma alguma!!”
Sim, isso era um fato claro que qualquer um podia ver. Mas então surgiu uma pergunta. — Então por quê?
“Nós sobrevivemos através do combate porque éramos fracos!
“Em todas as eras, em todos os mundos, os fortes afiavam suas presas enquanto os fracos afiavam sua sabedoria! Por que fomos encurralados — é apenas porque as Dez Promessas arrancaram as presas dos fortes e os forçaram a afiar sua sabedoria!
“O que acreditávamos ser nosso bem exclusivo como fracos — a engenhosidade, a estratégia, as táticas, o poder de sobreviver! — foi obtido também pelos fortes! Nossa sabedoria foi tomada pelos fortes, e enfrentamos os fortes com as mesmas armas — isso é o que nos trouxe a essas profundezas!”
Com a situação desesperadora exposta, a praça ficou em silêncio. A audiência reunida foi envolvida por emoções como abatimento, desespero e desconforto. Sora olhou em volta para eles com um suspiro e continuou.
“Todos vocês aqui, respondam-me, por que estão abaixando suas cabeças?”
Sora, antes furioso e agitando o punho, agora falava suavemente.
“Vou repetir: nós somos os fracos. De fato, ainda somos — assim como sempre fomos —”
Alguém respirou fundo de repente, percebendo algo. Depois de esperar que essa percepção se espalhasse, Sora gritou mais uma vez.
“— De fato… a situação não é exatamente a mesma?
“Os fortes podem imitar a sabedoria dos fracos, mas nunca alcançarão o verdadeiro domínio! Pois a verdade subjacente à nossa arma — é o medo nascido de uma fraqueza abjeta!”
A dúvida da multidão foi respondida de forma preventiva.
“Quem, através do medo, afiou seus olhos e ouvidos, sua sagacidade, para aprender a sobreviver? Somos nós, humanos!”
Eles foram mostrados esperança em meio ao desespero.
“Não podemos usar magia. Não podemos nem mesmo percebê-la — no entanto, o medo nos deu a sagacidade para escapar da magia, a sabedoria para vê-la! Não temos sentidos sobrenaturais. Porém, o medo nos deu, através do aprendizado e da experiência, uma sabedoria que se aproxima da precognição!”
…Aquele que fala apenas de esperança é um otimista.
…E aquele que fala apenas de desespero é um pessimista.
“Pela terceira vez! Nós somos os fracos que, ao longo das eras, arrancaram as gargantas dos fortes complacentes — nós somos os fracos orgulhosos!”
…Quanto mais profundo o desespero e a escuridão, mais isso era verdade.
“Anuncio que minha irmã e eu fomos coroados aqui como seu rei e rainha, como o 205º monarca de Elkia.”
…Somente aquele que acende a chama da esperança pode atrair as massas.
“Anuncio que nós dois viveremos como os fracos, lutaremos como os fracos, e massacraremos os fortes como os fracos fazem! Assim como sempre fizemos — e assim como sempre faremos!”
…Assim, as pessoas olham para seus passos como um guia.
“Aceitem! Nós somos a raça mais fraca!
“Somos aqueles que, em ciclos intermináveis da história — devoram os fortes que se acomodaram!”
…Assim.
“Orgulhem-se! Pois somos os mais fracos — somos os mais desamparados! Nascemos sem nada — e, portanto, podemos nos tornar qualquer coisa — e, por isso, somos a raça mais forte!”
…Um monarca nasce.
Aplausos — não, rugidos seguiram. Eles estremeceram a praça, o céu. Os gritos que poderiam soar como uivos de raiva, ou gritos de vitória. Saídos da expectativa pelos dois na plataforma? Ou — das almas dos encurralados, mostrando suas presas?
Diante dessa cena, Sora e sua irmã se entreolharam.
……A irmã assentiu. Levemente, com um sorriso agradável. Com essa confirmação, Sora iniciou seu discurso final. Abrindo os braços, inocente como uma criança alegre. E ainda assim, como um estrategista que já viu de tudo, ousado como um guerreiro. Espalhando em seu rosto um sorriso ingênuo, mas descarado, Sora — o novo rei da raça humana — falou.
“—Venham, que os jogos comecem!
“Certamente vocês já se fartaram de sofrimento. Certamente vocês já foram humilhados demais. Certamente vocês já provaram da amargura da vida até o ponto da náusea… Certamente já é o suficiente! Aqui estou, meus colegas humanos.”
Sua mão subiu ao horizonte, como se pudesse até mesmo agarrar os céus. E então — fechou.
“A partir deste momento! Nós, Elkia — declaramos guerra a todos os outros países do mundo!"
"Acendam o sinal para o contra-ataque! Vamos recuperar nossas fronteiras!"
Em meio a aplausos tão intensos que pareciam dividir a terra, os dois deixaram o palco, apenas para serem atacados por Steph.
"H-H—ei, vocês! O-O que vocês estão falando?!"
"Aaagh... Por que você está surtando, Steph? Isso está me assustando."
"...Steph, tão assustadora..."
Com Steph bufando e gritando em completo desespero, os irmãos a provocaram sem motivo aparente. Mas Steph tinha preocupações maiores em mente.
"Vocês acham que está tudo bem agora?! Vocês acabaram de ser coroados e nem cuidaram dos assuntos internos ainda, e acham que Elkia está pronta para enfrentar outros países? Vocês estão tentando destruir a nação?!"
Steph segurou a cabeça, amaldiçoando a si mesma por ter acreditado nesses irmãos trapaceiros, embora talvez ela estivesse começando a se acostumar com isso. Com um gesto que sugeria que ele já estava em seu elemento, Sora falou com um suspiro.
"Hhh... Olha — eu não disse para você aprender a duvidar das pessoas?"
"—Hã?"
Steph parou no meio do caminho e fixou o olhar em Sora.
"Depois dos Elfos — Elven Gard, certo? — irem ao ponto de fazer Chlammy trabalhar para eles para tentar tomar este país, você acha que eles realmente acreditam que foram derrotados de frente por meros humanos que não podem usar magia?"
"—O-O que você quer dizer?"
"Você esqueceu? Eles pensam que somos pessoas com o apoio de outro país. Pelo menos, quem quer que estivesse apoiando Chlammy deve estar relatando dessa forma, e provavelmente é o que os outros países pensam também."
A irmã continuou as palavras do irmão, como se estivesse complementando.
"...O mundo pensa... que um espião de algum outro país tomou o controle de Elkia."
Seu irmão assentiu e continuou.
"Mas eles não sabem de qual país. Eles não sabem de quem é o espião, de quem é o fantoche que está governando o país, e então, de repente, declaramos guerra ao mundo inteiro, e é isso que eles pensam — 'Algum país instalou um governo fantoche em Elkia e está pronto para atacar' — certo?"
"Oh—"
Nos confrontos deste mundo, o desafiado tinha o direito de determinar o jogo. Então, apesar de ser extremamente desvantajoso tomar a ofensiva, eles haviam declarado guerra ao mundo inteiro. E, considerando também que derrotaram o espião de Elven Gard—
"Eles vão ficar preocupados que agora existe algum país, alguma raça, que tem uma carta na manga capaz de derrotar até mesmo os Elfos, certo?"
"...Então."
"Para lançar todo o mundo na paranoia..."
"...Estamos declarando guerra a eles..."
"...E depois não fazendo nada. Entendeu?"
As palavras sorridentes dos irmãos deixaram Steph sem palavras.
"A Quinta das Dez Promessas: 'A parte desafiada terá o direito de determinar o jogo.' Quando todos esses países contra os quais declaramos guerra ficarem preocupados, provavelmente vão... tentar descobrir qual país está nos apoiando, mesmo que não haja nenhum. Enquanto o mundo inteiro se estica para tentar nos investigar, vamos sondar suas armaduras, encontrar seus pontos fracos e solidificar nossa base."
Para o irmão que sorriu, falou e deu as costas, Steph perguntou:
"E-então... quando você disse que ia recuperar nossas terras... você estava... mentindo?"
Steph surpreendeu-se com o sentimento de arrependimento significativo que sentiu. Talvez fosse devido a uma agressividade momentânea despertada pelo discurso de Sora. Ou talvez—
"—Ei, Steph. Eu conversei com minha irmã — sobre se queremos voltar ao nosso antigo mundo."
"Hã?"
"Não havia nada para conversar. Nossa resposta é Não — não haveria sentido algum em abandonar um mundo tão divertido quanto este para voltar àquele."
"...Especialmente... para nós."
"Então, é isso. Agora."
Batendo palmas, Sora.
"Somos humanos. O último país da humanidade é este, Elkia. Para evitar que desapareça, estabelecemos nosso objetivo como tomar o trono por enquanto — mas?"
A irmã e o irmão. Trocando olhares, rindo felizes.
"Ok, minha irmã?"
"...Mm."
"O inimigo pode usar magia. Eles podem usar superpoderes. Nós não podemos. Estamos em uma desvantagem esmagadora, jogando contra uma desvantagem esmagadora; temos apenas uma cidade restante em nosso território; a situação é desesperadora. No entanto, para proteger o nome de Blank, não podemos ter uma única derrota — o que você acha?"
No rosto da irmã, tipicamente sem expressão, um sorriso infantil surgiu, e ela respondeu com uma única palavra.
"...Doce."
"Eu sei, né?"
Steph, observando essa troca com olhos como se estivesse assistindo algo desconhecido — algo literalmente de outro mundo. Depois de listar cada uma das condições de uma situação desesperadora, a primeira palavra que surgiu foi "doce" —? Para Steph, que não tinha ideia do que isso supostamente significava, Sora se virou.
"Então, voltando à sua pergunta, Steph."
"—Hã, sim?"
Ao ser chamada enquanto estava fora do ar, sua voz escapou num falsete.
"Sobre recuperar as fronteiras. Para ser honesto, isso era uma mentira."
"Hã?"
Sora, pegando seu celular enquanto falava. Abrindo seu agendador e marcando "ser coroado rei". Ele adicionou uma nova tarefa. A saber—
"Objetivo Final — Conquistar o mundo, por enquanto!"
"—O quê?!"
Que as palavras de Sora haviam passado de recuperar as fronteiras — de recuperar o continente — para conquistar o mundo. E com quantas vezes ela podia se surpreender em um dia, Steph fez um som com duplo sentido. Sora girou e saiu caminhando com Shiro seguindo-o. Steph, percebendo que estava sendo deixada sozinha, entrou em pânico e correu atrás deles, desnorteada.
"Hã, hum, humm, v-vocês estão falando sério?!"
"Blank não pode estar em outro lugar senão em primeiro lugar. Seja uma jogada pelo domínio ou qualquer outra coisa, se vamos jogar um jogo, nosso objetivo é ser os únicos no topo — essa é nossa regra."
Shiro assentiu decisivamente.
— Agora que as coisas haviam chegado a esse ponto, ainda mais. Stephanie Dola teve que perceber que ainda subestimava esses irmãos. Será possível? Que contra todas as probabilidades isso realmente fosse verdade? Esses dois—
— poderiam ser os salvadores da raça humana?
Ela observou as costas de Sora enquanto ele se afastava, e seu coração acelerou com um baque. Seu peito apertou — mas não havia mais ódio ali. Ele havia restaurado a honra de seu avô. Salvado seu amado país — salvado Elkia. Declarado que ele até mesmo recuperaria seu território. Voltou-se para ir embora como se realmente pudesse e fosse fazer isso. Sua forma, vista de trás — Stephanie Dola não conseguia mais encontrar uma razão para odiá-lo.
— No Reino de Elkia, a capital, Elkia: Bloco 1, Distrito Central... significando o Castelo Real de Elkia: a câmara real. O rei de Elkia, espalhado em uma cama tão grande que não se podia deixar de se perguntar quantas pessoas deveriam dormir ali. Um homem que, dias atrás, era apenas um viciado em videogames desempregado — Sora (dezoito anos, virgem).
"—De um quartinho de jogos apertado para um quarto de estalagem caindo aos pedaços até a mansão de Steph e, finalmente, a câmara real — huh."
Rindo de uma ascensão que deixaria até um astronauta enjoado, Sora segurava um livro. O título do livro, iluminado na escuridão pela lua e pela luz tênue: O Ecossistema Ixseed. Sora pausou seus olhos na primeira página e se perdeu em pensamentos.
"—Flügel... hein. Esses parecem caras que eu poderia convencer a se juntarem a mim..."
No livro estava explicado: Flügel. Uma raça de guerra criada como a vanguarda celestial dos deuses na antiga Grande Guerra. Desde as Dez Promessas, suas habilidades de combate foram efetivamente seladas. Ainda assim, eles possuem enormes expectativas de vida e alta aptidão mágica, que utilizaram para construir uma verdadeira cidade nos céus nas costas de Avant Heim (ä'-vänt hām'), um colossal Phantasma que flutua pelo céu — que eles preservam como seu único território sem participar da luta pelo domínio. No entanto, talvez por causa de suas longas expectativas de vida, eles têm uma sede poderosa por conhecimento, e participam de jogos exclusivamente para obter conhecimento das outras raças do mundo — ou seja, para coletar livros.
"Parecem que sabem muito sobre magia, e eu poderia atraí-los com meu conhecimento de outro mundo."
Se ele pudesse apenas entrar em contato com essa raça de alguma forma, parecia que isso ajudaria a descobrir como lutar contra a magia—
— Knock, knock.
Enquanto pensava nessas coisas, ouviu-se uma batida
reservada. Sentindo uma sensação de déjà-vu, como se algo assim tivesse acontecido alguns dias atrás, ele respondeu.
"Hum, quem é?"
"É — é Stephanie Dola, Vossa Majestade... Posso — posso entrar, Senhor?"
"—Hã? Claro."
Para Steph, que abriu a pesada porta da câmara real com um comportamento deferente, Sora falou.
"Ei, por que você está falando e agindo assim? Apenas entre como sempre."
"Bem... você sabe, quando eu pensei sobre isso com calma — Senhor — é verdade que você é o rei de Elkia, e por isso—"
"Aaaah! Isso é tão constrangedor!"
Sora interrompeu Steph com um grito.
"Isso me deixa todo arrepiado e leva muito tempo! Você pode apenas falar como sempre; então, o que foi?"
A eletricidade não havia sido descoberta em Elkia. A câmara real estava iluminada apenas pela luz fraca do lustre de velas e da lua. Nessa luz tênue, Steph ficou com sua expressão ilegível no centro do quarto, imóvel.
"Então — Sora..."
"Certo."
"Você me ordenou, 'Apaixone-se por mim,' para que eu ficasse aos seus pés, certo?"
"Uh — sim..."
"Agora que você se tornou o rei de Elkia — eu — agora eu estou..."
Por um momento, através de uma abertura nas nuvens, a luz da lua se fortaleceu, e a expressão de Steph ficou clara.
— Era de ansiedade.
"Uh... então, você está dizendo, já que eu não preciso mais de você de qualquer maneira, você quer que eu a liberte do seu pacto?"
"N-não! Não é isso que eu quero dizer!"
— Lá estava ele: por toda sua genialidade nos jogos, um virgem de dezoito anos. Aflita, Steph corrigiu rapidamente a interpretação totalmente errada de Sora e então perguntou:
"Eu-eu — quero... saber. Po-por que você me pediu, bem, não para — ser sua posse, como sua irmã sugeriu, mas para... se apaixonar por você."
"...Humm..."
Foi por motivos secundários. Ou seja, devido aos desejos básicos de Sora, ou seja, um erro. Enquanto Sora contemplava se deveria admitir isso, uma outra pergunta inesperada surgiu primeiro.
"Então — você me fez apaixonar por você... porque, bem, você tinha esse tipo de sentimento por mim?"
……Hã?
"Se — se for esse o caso... Eu, ah — tudo que me resta..."
Com isso, ela se aproximou da cama e, com um rosto desconfortável e ruborizado. Ela — levantou sua saia e disse em um tom suplicante:
"...para te dar agora é... isso, você sabe..."
— Espere.
Espere, Sora, virgem, dezoito anos. Você acabou de ser atingido por uma questão que não pode ignorar. Eu entendo... olhando para Steph objetivamente... ela é bem atraente. É natural que um jovem saudável queira ser gostado por uma qt3.14 como ela. Mas — o que ele queria fazer depois de fazê-la se apaixonar por ele?
— Amor à primeira vista? Eh, eu não sei sobre isso. Ele examinou seu coração, perguntando se realmente tinha sentimentos românticos—
Espere — para começar. (Hã—? Sentimentos românticos — como eles deveriam se sentir, afinal?)
— Sora se deparou com as limitações inerentes de um perdedor sem encontros.
"...Bem... isso é, uh..."
Snap. Um flash e um clique. Do outro lado da cama surgiu — Shiro, com o celular na mão.
"Ee—eeyaaaah!"
Vendo Shiro no mesmo quarto, Steph abaixou rapidamente a saia e recuou.
— Mas ela deveria ter percebido que era uma questão de curso. Pensando no incidente na estalagem — não havia como Sora estar sozinho.
"Em nome do... Irmão... angustiado pelos limites... da virgindade—Shiro vai explicar."
"Shiro... Se me permite dizer, seu irmão acha um pouco traumatizante ouvir isso da própria irmã de onze anos."
No entanto, ignorando o protesto do irmão, Shiro mostrou a foto que acabara de tirar. Era uma imagem de Steph com a saia levantada, exibindo completamente suas calcinhas.
"...Isso."
"Hã?"
"...é por isso que o Irmão te pediu... para se apaixonar por ele."
Tanto Steph quanto Sora ficaram completamente confusos. Shiro então explicou de forma direta, para que ambos entendessem.
"...Há uma coisa... que o Irmão sente falta... do nosso antigo mundo."
Que era—
"...Este mundo... não tem... pornografia."
"“O quê?”"
Ambos questionaram em voz alta, mas com significados diferentes. Sora protestava pela explicação excessivamente direta, enquanto Steph—
"'Pornografia'...? O que você quer dizer?"
Era uma pergunta inocente. Enquanto mexia no telefone, Shiro respondeu:
"Materiais... para 'fapping'... Fotografias, vídeos... etc... Fantasias... para ajudar na 'fap'. Coletivamente, são chamados de—pornografia..."
"Fap-ping?"
Para Steph, que aparentemente ainda não entendia, Shiro, sem expressão, fechou uma das mãos levemente e a moveu para cima e para baixo.
"O q-quê?!"
Enquanto o rosto de Steph ficava vermelho a ponto de parecer que iria explodir, Shiro foi além e começou a reproduzir um vídeo em seu telefone, mostrando para Steph.
—Um vídeo de Steph lavando o cabelo de Shiro: a cena do banho.
"...Steph... esse é... o significado da sua existência."
O rosto avermelhado de Steph ficou pálido, depois ela abaixou a cabeça e começou a tremer.
— Então, qualquer uma serviria. Tudo o que ele queria era um escape para seus impulsos sexuais. E, além disso, ele estava fazendo isso enquanto olhava para a própria irmã nua?!
"V-você é um canalha!"
Steph gritou e fugiu do quarto enquanto Sora a observava, atordoado. Então, para Shiro, que havia voltado a ler seu livro na beira da cama sem aparente preocupação, ele comentou:
"—Ei, meus pensamentos não são tão sujos assim, sabia."
"...Eu resumi..."
"Eu acho que você quis dizer 'summarizei'... E sobre aquele vídeo do banho? Achei que você disse que não era certo e nunca me deixou ver... Será que você está tentando fazer a Steph me odiar de propósito?"
"...Eu só tenho onze anos... Não entendo essas coisas confusas."
"Você sabe muito bem como agir como uma criança quando é conveniente para você..."
"...Você não quer a foto de agora?"
"Oh, desculpe-me, Diretora. Estou muito agradecido."
— No entanto, no fim das contas, qual era a diferença entre sentimentos românticos e desejo sexual? Enquanto Sora ponderava essas questões filosóficas de grande peso para um virgem de dezoito anos, em uma voz baixa demais para ser ouvida, Shiro — sua irmã que não era de sangue — murmurou:
"...Só... mais sete anos..."
— Dizem que as garotas amadurecem emocionalmente mais rápido que os garotos. De fato... nesse caso, pelo menos, isso era um fato incontestável.
………
"Ohhh, Deus, ohhhhh, Deeeus!"
Enquanto isso, Steph caminhava pelos corredores do castelo com os ombros tensos. Furiosa por ter sido chamada de mera ferramenta de masturbação—não. Por estar magoada com isso—ela gritava indiscriminadamente.
"Ohhh, Deus, eu sabia, esse sentimento é uma ilusão provocada pelo pacto—é uma espécie de maldição!"
Mas Steph não percebeu...
"Aquele monstro! Aquele pedófilo! Não há como eu amá-lo. Deve ser o pacto."
…Que Sora havia sugerido libertá-la do pacto. Ou seja, a solução de jogar outro jogo e dizer: "Não me ame." E ela ignorou isso completamente, e até mesmo esqueceu.
E o que isso significava—