
Capítulo 1124
Circle of Inevitability
— Este maldito livro finalmente tem alguma utilidade, — disse Lumian, mostrando o conteúdo da Escritura Pós-Apocalíptica para Franca e Anthony.
Franca ponderou por um momento antes de dizer: — Dada a natureza da Escritura Pós-Apocalíptica, mesmo que essa profecia seja falsa, contanto que acreditemos nela e nos preparemos adequadamente, ela eventualmente se tornará realidade.
— A questão é: se for uma profecia falsa, ela pode afetar um deus verdadeiro como a Demônia Primordial?
— Não sei, — respondeu Lumian, balançando a cabeça central dos três. — De qualquer forma, não estamos confiando apenas nisso para fazer previsões.
— Então deveríamos contatar a Sra. Eremita agora? — sugeriu Franca.
Nesse caso, separar-se não era uma opção. O meio crucial para profecia ou adivinhação era o rosto de Cheek de Lumian — o Beyonder de Sequência 1, a característica da Demônia do Apocalipse, já integrada ao seu corpo.
Lumian assentiu a princípio, depois deu um sorriso autodepreciativo. — Ainda não. O estado ‘ocasional’ está prestes a acabar.
Franca franziu os lábios, levantou-se e disse: — Então vamos sair da zona protegida. Anthony, você cuida dos assuntos da Igreja da Doença por enquanto. Você ainda tem os Amuletos de Gelo, certo?
— Sim, — respondeu Anthony firmemente.
Depois que Lumian e Franca deixaram a vila, Anthony recuperou o espelho representando o papa da Igreja da Doença de sua Bolsa do Viajante. Ele revisou as mensagens acumuladas e respondeu a cada uma delas usando o Amuleto de Gelo.
Enquanto isso, Ludwig estava sentado no sofá, comendo batata-doce assada enquanto observava Anthony trabalhar casualmente. Depois de um tempo, quando Anthony estava prestes a guardar o espelho, Ludwig perguntou de repente: — A vida humana é sempre cheia de sofrimento?
Anthony levantou a cabeça, olhou nos olhos castanhos de Ludwig e assentiu. — Sim.
Ludwig continuou: — Se você tivesse a chance de recomeçar, você ainda escolheria ser humano?
— Provavelmente, — disse Anthony com um pequeno sorriso. — Afinal, não tenho experiência em ser de outra espécie.
— Mas se a vida humana é tão cheia de sofrimento, por que alguém iria querer ser humano? — perguntou Ludwig, confuso.
Anthony pensou por um momento antes de responder.
— A maior parte do sofrimento da humanidade advém da brevidade da vida e da fragilidade da nossa existência… de pensar constantemente nessas coisas. Mas se parássemos de pensar, nossa existência perderia todo o sentido. Talvez seja justamente porque a vida é curta e frágil que sempre queremos fazer algo, criar algo. Não temos escolha a não ser confiar nos outros e ajudá-los. Nos reunimos em busca de calor, sonhamos juntos e criamos fragmentos de beleza. E por isso sofremos.
— Um poeta disse uma vez… não sei quem, mas não foi o Imperador Roselle. Concordo plenamente com o que ele disse: ‘Se nunca senti dor na vida, significa que nunca amei verdadeiramente a minha vida’.
O rosto de Ludwig estava cheio de confusão.
Anthony acrescentou calmamente: — A dor vem do amor e do desejo. Palavras como beleza, esperança e anseio são como chamas: elas fazem os humanos sentirem dor, mas também nos fazem parecer mariposas atraídas pela chama, queimando intensamente por um momento antes de se transformarem em cinzas.
— Franca me disse uma vez que o tom fundamental do universo é a escuridão. Nós, humanos de vida curta, existimos para criar momento após momento de luz, geração após geração.
Ludwig, mastigando uma batata-doce assada, resumiu seriamente: — Ainda não entendo o porquê.
Anthony riu.
— Honestamente, eu também não. Se alguém afirma realmente entender a humanidade e a vida, isso significa que não entende nada disso. Talvez seja justamente porque não entendemos que a vida é tão inebriante.
Com isso, ele se levantou e caminhou em direção à extremidade da sala de estar.
Ludwig não perguntou para onde Anthony estava indo. Permaneceu no sofá, repetindo baixinho duas palavras para si mesmo: — Beleza… dor…
O jovem parecia estar refletindo sobre alguma questão filosófica, murmurando para si mesmo: — Essas coisas não são exclusivas dos humanos…
Depois de terminar sua batata-doce assada, Ludwig balançou a cabeça e pegou um livro de educação geral da Intis na mesa de centro.
Folheando-o, ele murmurou: — Método ineficiente de transmissão de conhecimento…
Do lado de fora da vila, Anthony caminhava sem rumo pelas ruas sombreadas, aproveitando a luz brilhante do sol. Por enquanto, ele não tinha nenhuma tarefa principal.
Ele era responsável por duas coisas:
Primeiro, administrar os assuntos da Igreja da Doença enquanto Franca estava ocupada. Ele era efetivamente o papa, embora percebesse que Franca ainda não havia se conformado com a morte de Jenna. Ela ainda tinha esperança de que Jenna pudesse um dia retornar, o que a deixava relutante em transmitir oficialmente o título de papa.
Segundo, auxiliar os Beyonders oficiais na identificação de humanos corrompidos ou anomalias latentes por meio do monitoramento do mar do subconsciente coletivo. Os símbolos e poderes da Grande Mãe haviam rompido a barreira. Embora Ela não estivesse focada nas zonas protegidas, sua influência naturalmente causava mutações esporádicas, especialmente entre os Beyonders dos caminhos do Plantador e do Boticário.
Enquanto caminhava, Anthony notou um músico de rua se apresentando em uma pequena praça. Muitos cidadãos de Trier se reuniram para ouvir, alguns até dançando alegremente. Anthony olhou para a cena, sua expressão ficando perdida.
Ele decidiu se tratar melhor. O tempo para aproveitar a vida antes do apocalipse estava ficando mais curto.
Sentou-se a uma mesa ao ar livre de uma cafeteria, pediu uma xícara de café Intis e uma linguiça de porco e deixou seus pensamentos vagarem enquanto apreciava a música na praça. De vez em quando, cortava um pedaço de linguiça para comer ou tomava um gole de café.
A luz brilhante do sol carregava o calor do verão. Quando Anthony estava prestes a sair, um homem idoso, vestindo uma jaqueta militar azul surrada e calças brancas, se aproximou.
O velho olhou ao redor e viu que a mesa de Anthony era a única com um lugar vazio.
Sem hesitar, o homem sentou-se e pediu um copo de licor Nepos com suco de tomate — uma bebida comumente chamada de “Prostituta” nos bares e casas de dança de Trier.
O homem de cabelos brancos olhou para uma barricada no canto da praça e disse a Anthony, como se fossem velhos conhecidos: — Você não acha que Trier mudou? Não é tão animada quanto costumava ser.
— O que faz você dizer isso? — Anthony, embora já entendesse o que ele queria dizer, entrou na brincadeira.
O velho bateu a bengala no chão e disse: — Na velha Trier, não havia um ano sem que algum sujeito ambicioso planejasse uma revolta, nenhum ano sem perseguições por barricadas, tiroteios e projéteis lançados. E agora? Os jovens de hoje não têm vitalidade. Só ousam andar escondidos e roubar.
“Isso tem a ver com a natureza única das zonas protegidas. A explosão de um indivíduo pode implicar milhares, então cada indivíduo nas zonas protegidas tem seu subconsciente sutilmente influenciado, fornecendo-lhe diretrizes sobre o que fazer e o que não fazer… Mas isso só pode diminuir a influência da Grande Mãe e a frequência das mutações, mas não pode eliminá-las completamente…” Anthony respondeu interiormente.
— Você participou daqueles tumultos de rua? — perguntou Anthony.
O velho bufou: — Quando eu estava no exército, eu era responsável por reprimir aqueles tumultos e manifestações. Da noite para o dia, eles construíam barricadas e resistiam com tudo o que tinham… coquetéis molotov, armas improvisadas.
— Mais tarde, deixei o exército, sofri injustiças em Trier e me tornei um manifestante…
O homem relembrou seu passado, falando longamente. Anthony não demonstrou a menor impaciência, tratando aquilo como se estivesse lendo uma biografia.
Depois que o homem terminou e começou a beber seu licor Nepos misturado com suco de tomate, Anthony perguntou: — Por que você se juntou ao exército em primeiro lugar?
O velho riu.
— Por riqueza, mulheres e se tornar um oficial, é claro! Eu vim de uma família pobre. Seja como lavrador, pastor, operário de fábrica ou operário, eu não conseguia me sustentar, muito menos enriquecer. Entrar para o exército pelo menos me deu uma chance… fosse conquistando méritos ou saqueando cadáveres. Na pior das hipóteses, eu morreria cedo.
O homem olhou para Anthony: — Você também foi soldado, não foi? Você tem ares de soldado.
— Sim — admitiu Anthony.
O velho sorriu. — E por que você se juntou a nós? Certamente não era por riqueza e mulheres?
Anthony balançou a cabeça e desviou o olhar para os músicos e espectadores. Ele não respondeu. Terminando o café antes que o homem pudesse perguntar mais.
Anthony se levantou.
De repente, uma carruagem de quatro rodas parou perto da cafeteria. A porta da carruagem se abriu, e um homem idoso, de terno preto, gravata escura e cartola de seda de meia altura, saiu.
Suas costeletas brancas bem aparadas emolduravam um rosto com feições marcantes e olhos azuis-gelos. Anthony imediatamente reconheceu que aquele homem idoso tinha vindo buscá-lo.
— Com licença, o senhor é o Monsieur Anthony? — perguntou o homem educadamente.
Seus olhos azuis gelados estavam cercados por vasos sanguíneos tênues, mas visíveis.
Anthony respondeu cuidadosamente: — Sou eu. Quem é você e o que tem a ver comigo?
O idoso sorriu e disse: — Pode me chamar de Naboredisley.
“Naboredisley? A suposta encarnação de um dos deuses antigos, o Rei dos Diabos?” Anthony ficou surpreso.
Ele se lembrou de Lumian mencionando que o verdadeiro corpo de Naboredisley residia na Ilha Hanth, protegido pela Mãe Terra para impedir a corrupção total da Árvore-Mãe do Desejo. No entanto, com a Mãe Terra agora adormecida, era improvável que Ela pudesse fornecer qualquer assistência adicional ao avatar do Rei dos Diabos.
Lumian especulou que Naboredisley poderia ter sido arrastado para o Abismo e destruído.
Mas lá estava ele, vivo e aparentemente bem, na zona protegida!
O velho de olhos azuis-gelo que se autoproclamou Naboredisley sorriu e explicou seu propósito: — Desejo encontrar o Sr. Lumian Lee.