
Capítulo 1116
Circle of Inevitability
O que foi, será novamente; o que foi feito, será feito novamente.
Trier, Le Marché du Quartier du Gentleman.
Leon — de aparência erudita — estava na frente da sala de estar. Sua expressão era solene enquanto pregava para os membros da congregação.
Ele havia se mudado do Auberge du Coq Doré porque a congregação havia crescido significativamente.
Embora as autoridades locais em Le Marché du Quartier du Gentleman parecessem indiferentes à disseminação clandestina de uma fé pouco ortodoxa, Leon acreditava que a cautela era primordial — era melhor evitar qualquer atenção indevida.
Se fiéis devotos e fanáticos do Eterno Sol Ardente ou do Deus do Vapor e da Maquinaria dentro do bairro descobrissem seus ensinamentos heréticos, denunciariam e protestariam implacavelmente na catedral. Mesmo que as duas principais Igrejas inicialmente relutassem em agir, acabariam sendo forçadas a intervir! Além disso, com um número crescente de seguidores, Leon realmente precisava de um local temporário para servir como uma capela subterrânea.
Após terminar seu sermão, Leon levantou as mãos, com as palmas para fora, e sua voz de repente se tornou fervorosa: — Louvado sejas, Devotado ao Rei do Amarelo e do Preto, Sacerdote do Apocalipse e da Guerra, o Conquistador Multifacetado de Tudo, o verdadeiro Deus da Peste!
— Louvado sejas tu, a Anciã que transcende o tempo, Aquela que permanece eternamente jovem, Enviada da Doença e da Peste, Senhora que espalha dor e desespero, Protetora do espírito aventureiro da humanidade, companheira do grande Deus da Peste!’
Os fiéis reunidos na sala de estar imitaram seus gestos e completaram o ritual com um hino final de louvor.
Enquanto Leon ouvia as vozes ecoantes da congregação, ele sentiu um momento de atordoamento.
Ele não entendia bem por que os títulos dessas duas divindades mudavam constantemente, especialmente o do grande Deus da Peste, cujo nome honroso havia sido revisado diversas vezes, deixando pouca semelhança com as descrições originais. Além disso, o título Deus da Peste havia sido restabelecido, enquanto a Deusa da Doença agora era considerado Sua companheira e rainha.
Leon certa vez perguntou sobre esse assunto a Sua Santidade, o Papa. A resposta foi: — Isso reflete a ascensão na posição e na autoridade do Deus da Peste.
Após o louvor, Leon fez um gesto para que os padres assistentes distribuíssem a sagrada comunhão. A comunhão consistia em uma bebida e uma escolha de comida: podia-se escolher entre absinto, vinho tinto ou água fervida fria, acompanhada de purê de batatas ou hambúrgueres de carne.
Ao ver seus seguidores saborearem a comunhão com genuína satisfação, Leon sentiu que seus esforços de um ano haviam valido a pena. Uma profunda sensação de realização o invadiu. À tarde, ele deixou sua residência e foi para a Igreja do Santo Robert, na Avenue du Marché.
Isso não se devia ao fato de ele manter secretamente sua fé no Eterno Sol Ardente, mas sim à crença de que o rápido crescimento da Igreja da Doença exigia maior organização. Ele e os outros bispos precisavam se preparar para as eventualidades, aconselhando Sua Santidade sobre o aperfeiçoamento de aspectos do culto diário, das missas em grande escala e das escrituras da Igreja.
Em tais assuntos, as Igrejas ortodoxas dos verdadeiros deuses serviram como excelentes referências.
A Avenue du Marché estava tão animada como sempre. Ondas de recém-chegados chegavam da estação de trem a vapor próxima, fluindo como rios para o mar que era Trier. Alguns optaram por carruagens, outros carregaram malas e caminharam, enquanto os menos cautelosos tiveram suas carteiras roubadas, deixando-os gritando e correndo em desespero. A polícia de patrulha ofereceu ajuda com pouco entusiasmo.
Leon entrou na Igreja do Santo Robert e notou um bispo relativamente desconhecido parado diante do altar.
Aproximando-se, ele perguntou curiosamente: — O Bispo Christopher não está aqui hoje?
O jovem bispo desconhecido deu um sorriso complexo e respondeu: — O Bispo Christopher foi transferido. Eu assumirei suas funções. Pode me chamar de Yveline.1
“Outro novo bispo…” Leon não conseguiu evitar franzir a testa levemente.
Em sua cidade natal, além de padres e bispos que foram rapidamente promovidos, a maioria permanecia no mesmo lugar por anos — alguns até décadas — supervisionando uma única catedral. No entanto, a Igreja do Santo Robert havia recebido cinco bispos apenas no ano anterior.
Agora, esse foi o sexto!
“Não foi assim no ano passado… Quando cheguei a Trier, o bispo da época ficou lá por mais de meio ano…”
Os pensamentos de Leon mudaram para as inúmeras mudanças ocorridas na Igreja do Eterno Sol Ardente no ano passado.
O Eterno Sol Ardente, cujos títulos nunca haviam mudado antes, começou a emitir revelações, alterando drasticamente seus títulos — semelhantes aos do Deus da Peste. Até mesmo o status do Emblema Sagrado do Sol havia mudado, deixando de ser colocado no topo de altares, rebaixado a apenas um entre muitos símbolos sagrados!
Leon olhou para o altar e viu uma cruz enorme ali.
Depois de trocar algumas gentilezas com o Bispo Yveline, ele sentou-se na primeira fila, fingindo rezar. Em pouco tempo, sua elevada sensibilidade espiritual como Feiticeiro despertou dentro dele. De repente, abrindo os olhos, ele se virou para o lado.
Ele viu Lugano, seu superior direto, mais uma vez. Este arcebispo da Igreja da Doença em Trier — um Sequência 5: Druida — apareceu inesperadamente na Igreja do Santo Robert, na Igreja do Eterno Sol Ardente!
Com suas sobrancelhas grossas e olhar penetrante, Lugano não demonstrou medo ou surpresa ao notar Leon. Tirando seu chapéu de seda meio alto, sentou-se ao lado de seu subordinado, contemplando a enorme cruz no altar. Em voz baixa, perguntou: — O que você está fazendo na Igreja do Eterno Sol Ardente?
— Vossa Graça, eu queria aprender a fazer sermões melhores, — explicou Leon humildemente.
Ele se absteve de perguntar por que Lugano estava na Igreja do Santo Robert.
Lugano sorriu e respondeu: — Eu também.
Então, com um suspiro, ele acrescentou: — E sentir a luz do sol.
— Sentir a luz do sol? — perguntou Leon, confuso.
Lugano olhou para a enorme cruz no altar e disse: — Sempre sinto que a luz do sol lá fora não é brilhante o suficiente, não é quente o suficiente. Ela não consegue dissipar o frio e o medo dentro de mim. Só a luz do sol aqui alcança minha alma e me faz esquecer minha inquietação.
— Inquietação? — Leon também sentiu uma sensação de inquietação.
O que mais o perturbou foi que as palavras do arcebispo beiravam a blasfêmia — elas não tinham piedade.
“Que frio e medo o grande Deus da Peste e a grande Rainha Deusa da Doença não conseguiram resolver ou erradicar? Por que não rezar para eles ou buscar a orientação de Sua Santidade em vez de vir à Igreja do Eterno Sol Ardente para sentir a luz do sol?”
“Serei silenciado por ouvir tais palavras blasfemas?” À medida que a ansiedade de Leon aumentava, Lugano desviou o olhar do altar para observar o Bispo Yveline, que se dirigira a uma longa mesa ao lado da igreja. Falando em tom contido, ele disse: — Tenho tido pesadelos há muito tempo. E você, não?
— Não, — respondeu Leon firmemente.
— Você se sente frequentemente inquieto? — insistiu Lugano.
Leon balançou a cabeça a princípio, mas depois acrescentou, hesitante: — Como Feiticeiro, minha espiritualidade é forte. Só sinto desconforto como premonição de problemas, o que geralmente me ajuda a evitá-los ou resolvê-los. Qualquer desconforto desaparece depois.
Lugano suspirou novamente e disse: — Tenho pesadelos há tanto tempo, todas as noites, acordando aterrorizado.
— Você perguntou a Sua Santidade sobre a raiz do problema? — Leon sondou cautelosamente.
Lugano deu um leve sorriso e disse: — Sim. Também rezei ao grande Deus da Peste e à grande Rainha Deusa da Doença. A resposta que recebi foi: ‘Não ligue para isso, mas não chegue muito perto.’
— Não se preocupe, eu entendo. Mas o que significa “não chegue muito perto”? Mergulhar no pesadelo leva à autodestruição, a ser arrastado para o abismo? — Leon analisou instintivamente o significado dessas palavras.
De repente, ele se lembrou de outro assunto: um grupo místico do qual ele havia se juntado recentemente encontrou problemas, aparentemente causados por um Beyonder do caminho do Plantador. Em outro grupo místico relacionado, o anfitrião e muitos membros alertaram a todos para tomarem cuidado com os Beyonders dos caminhos do Plantador e do Boticário.
“Sua Graça é um Sequência 5: Druida do caminho do Plantador… Será que seus pesadelos recorrentes poderiam estar relacionados a anormalidades nesses dois caminhos?” Leon não ousou expressar seus pensamentos.
Lugano continuou: — Sua Santidade também me disse que, no meu pior momento, eu poderia sentar em uma catedral do Eterno Sol Ardente.
— Entendo… — Leon expressou sua compreensão.
No fundo, porém, ele decidiu relatar o assunto a Sua Santidade através do espelho. Não podia simplesmente aceitar as palavras do Arcebispo como verdade absoluta. Lugano permaneceu na Igreja do Santo Robert até a noite antes de partir para cuidar de vários assuntos da Igreja da Doença em Trier.
Tarde da noite, ele finalmente retornou ao seu apartamento alugado. Depois de beber um copo de leite, alongar o corpo e completar suas orações noturnas, Lugano se preparou para dormir. Depois de se lavar, ele deitou na cama e desligou o abajur a gás. Ele olhou fixamente para o teto, imerso na escuridão, e para o luar carmesim que penetrava pelas cortinas. Observou os padrões distorcidos formados pela interação de luz e sombra, sem querer fechar os olhos por muito tempo.
Ele tinha medo de dormir, medo de sonhar. Certa vez, ele tentou alterar sua rotina — trabalhando à noite e descansando durante o dia —, mas o pesadelo ainda o perseguia.
Ele não sabia quanto tempo passou até que finalmente adormecesse. Atordoado, Lugano acordou de repente, como se estivesse ficando lúcido. Ele viu a familiar névoa branco-acinzentada e a laje de pedra manchada de água.
“Está aqui de novo…” Lugano não ficou surpreso.
O pesadelo aconteceu como esperado. Ele cambaleou até a beira da névoa branco-acinzentada, mas não ousou ir além dela. Permaneceu ali, fitando as profundezas do sonho. Ao longe, ele viu vagamente uma rua familiar. Era onde ele morava atualmente.
Mas no sonho, a rua e todos os prédios haviam desabado completamente — ninguém foi poupado. A mesma destruição se estendia ao longe, sem fim à vista. Sob o luar carmesim, as ruínas pareciam caóticas, desoladas, frias e mortalmente silenciosas. No entanto, exalavam uma beleza peculiar e sinistra — abandonadas por eras, mas imbuídas de uma essência espiritual única.
Plantas verdes haviam tomado conta dos prédios destruídos. Algumas cresciam tão densamente que pareciam envolver as estruturas mortas em panos funerários. Outras produziam frutos abundantes e frescos. Observando aquela cena, Lugano foi tomado por um medo visceral, com o corpo todo gelado. Era como se tivesse vislumbrado o futuro de Trier, o destino que o aguardava e o dos outros.
Esse era o pesadelo que ele vivenciava todas as noites: Uma Trier sem vida onde toda a humanidade havia sido enterrada e todos os edifícios haviam desmoronado. Uma Trier banhada perpetuamente pelo luar carmesim.
Nota:
[1] nao da pra saber se é homem ou mulher, entao vou traduzir como homem por enquanto.