Circle of Inevitability

Capítulo 1117

Circle of Inevitability

Lugano ficou na beira da névoa branco-acinzentada, sem ousar dar um único passo a mais em direção à Trier sem vida, aquele mundo em ruínas. Ele sempre seguiu rigorosamente as instruções de Sua Santidade, o Papa. Essa também foi uma escolha sincera dele.

Como de costume, ele permaneceu escondido dentro da névoa branco-acinzentada, observando as mudanças no pesadelo com uma mistura de medo e curiosidade. Ele não sabia quanto tempo havia passado antes que uma figura emergisse de trás de um prédio desabado.

Era um veado, caminhando levemente sobre seus cascos, mordiscando alegremente as frutas frescas produzidas pelas plantas verdes. Isso parecia bastante normal, assim como a natureza rapidamente recuperou cidades abandonadas pelos humanos. No entanto, Lugano viu que, enquanto o veado comia, pedaços de carne ensanguentada — não carne, mas filhotes crus e cobertos de sangue — caíam de seu abdômen, recém-nascidos.

Os filhotes rapidamente se levantaram, agruparam-se ao redor da mãe e sugaram seu leite. Em apenas um ou dois minutos, uma manada considerável de veados nasceu. Eles se moveram para trás de alguns prédios desabados e desapareceram da vista de Lugano.

Lugano não era estranho a tais cenas. Ao longo do último ano, ele havia testemunhado muitos atos semelhantes de nascimento e nova vida em seus pesadelos, evoluindo do choque, perplexidade, medo e repulsa ao completo entorpecimento. Mesmo com tantos exemplos frequentes de reprodução e nascimento, Trier, no pesadelo, permaneceu em silêncio mortal, com apenas sons fracos e ocasionais quebrando o silêncio.

Aqueles animais recém-nascidos pareciam desaparecer quase tão rápido quanto apareceram.

Lugano tentou se forçar a desviar o olhar, a recuar ainda mais para dentro da névoa densa, para não testemunhar cenas ainda mais aterrorizantes.

Esta era sua sabedoria adquirida: cada pesadelo continha algo novo e horripilante, amplificando gradualmente seu mal-estar interior. Sem esses horrores crescentes, a mera Trier silenciosa e vermelha e os animais selvagens dando à luz repetidamente de maneiras grotescas não teriam sido suficientes para quebrá-lo, para sustentar seu medo diário — afinal, se a mesma cena ou evento se repetisse dia após dia sem causar dano direto ao observador, provavelmente resultaria em dessensibilização, em vez de mal-estar contínuo.

Mas Lugano não conseguia se forçar a sair da borda da névoa cinzenta. No fundo, ansiava por ficar e continuar observando Trier em seu pesadelo, na esperança de encontrar a causa raiz de seus sonhos recorrentes. Às vezes, ele até sentia que assistir a tais cenas era a única vez em que se sentia verdadeiramente vivo.

Enquanto observava, o olhar de Lugano congelou de repente. No final da rua desabada, cinco figuras apareceram.

Figuras humanas!

As cinco pessoas pareciam parcialmente fundidas com a escuridão, intocadas pelo luar carmesim, tornando-as sombrias e indistintas. Liderando-os, estava um homem com um sobretudo marrom leve, preso com um broche dourado. Ele tinha cabelos, sobrancelhas e barba dourados, e segurava uma espada que parecia condensada pela pura luz do sol.

Atrás dele, dois homens em vestes brancas bordadas com fios de ouro carregavam um cadáver humano. As outras duas figuras os flanqueavam à esquerda e à direita, caminhando um pouco à frente e atrás, permanecendo em alerta.

Lugano arregalou os olhos, esforçando-se para distinguir as feições dessas figuras e, mais importante, a aparência do cadáver que elas carregavam. Por algum motivo, sua atenção foi atraída para o rosto do cadáver. À medida que as cinco figuras se aproximavam da névoa cinzenta, o rosto do cadáver tornou-se claro aos olhos de Lugano.

O cadáver tinha feições regulares, sobrancelhas grossas e olhos penetrantes — era inconfundivelmente o próprio Lugano! 

As pupilas de Lugano dilataram-se instantaneamente. Instintivamente, ele cambaleou para trás, caindo no chão com um baque estrondoso.

“Como isso é possível? Como pode ser meu cadáver? Estou perfeitamente vivo!”

Apoiando as mãos nas lajes de pedra manchadas de água, Lugano se levantou rapidamente. Ele correu de volta para a borda da névoa cinzenta, determinado a confirmar se o cadáver realmente se parecia com ele. Infelizmente, as cinco figuras já haviam mudado de direção, indo em direção ao outro extremo da névoa cinzenta, deixando apenas silhuetas sombrias que pareciam se misturar à escuridão.

Um dos clérigos da Igreja do Eterno Sol Ardente, carregando o “cadáver”, dirigiu-se a Angoulême de François, que caminhava à frente: — Diácono, o corpo desse sujeito já saiu inconscientemente da zona protegida mais de cem vezes. Em todas as vezes, tivemos que recuperá-lo para evitar que entrasse em contato com anomalias. Por que não simplesmente purificá-lo? Ele é um Sequência 5: Druida do Caminho do Plantador!

— Exatamente, ele é um Beyonder de alto risco, — ecoou o outro membro do clero carregando o “cadáver”.

Angoulême olhou para seus subordinados. — Ele é o arcebispo da Igreja da Doença.

— E daí? A Igreja da Doença não pode ter um novo arcebispo? Beyonders de alto risco como ele ficariam melhor se fossem reduzidos a características de Beyonder e selados, — resmungou Orulan, o primeiro a falar. Ele estava claramente insatisfeito com a perigosa tarefa de se aventurar nas ruínas para recuperar corpos de sonâmbulos.

Era muito perigoso.

— Por que a vida desses Beyonders de alto risco é considerada preciosa, e a nossa não?

Angoulême explicou calmamente: — Os superiores disseram que ele ainda é útil.

Com isso, Orulan parou de discutir. Ele não conseguiu evitar levantar o olhar para o céu. O luar carmesim era assustador e brilhante, ofuscando as estrelas, embora a própria lua carmesim não estivesse em lugar nenhum.

— Por que de repente ficou assim… — Orulan murmurou em confusão e dor.

Essa pergunta era feita diariamente por aqueles que precisavam entrar nas ruínas e descobrir a verdade sobre a zona protegida. Era a pergunta mais comum nos lábios dos Beyonders. Angoulême também olhou para o céu. A cena daquele tempo passou vividamente em sua mente: a lua cheia escarlate descia cada vez mais baixo, de forma impossível, até finalmente pousar na Terra.

Como resultado, toda a Trier da Quarta Época entrou em colapso.

As chamas sem forma e sem cor no céu e a névoa branca que permeava a cidade antiga se desintegraram instantaneamente. Com a ajuda dos dois Artefatos Selados de Grau 0 — O Quarto Sol e O Reino Divino Sem Pessoas — e o fato de que eles não estavam entre os alvos principais, Angoulême, Jack Walton e alguns outros sobreviveram por pouco ao impacto inicial.

Mesmo assim, cada um deles perdeu um colega, observando-os impotentes se transformarem em monstruosidades grotescas, como se tivessem ganhado uma nova vida malévola. Mais tarde, graças às propriedades únicas do Quarto Sol, eles tiveram a sorte de serem puxados para a zona protegida antes que a segunda onda de destruição os atingisse.

“Por que de repente aconteceu assim?” Angoulême queria fazer a mesma pergunta.

Na época, as coisas pareciam estar caminhando na direção certa — os fantasmas de Montsouris haviam sido quase completamente dissolvidos pelo Quarto Sol, e Louis Gustav havia sido purificado. Apenas o paradeiro de Madame Pualis permanecia desconhecido.

Então, do nada, a lua carmesim desceu, e o mundo desabou. Orulan e os outros ficaram desanimados, com o humor pesado, até que a luz do sol iluminou a escuridão, dissipando seu medo e confusão internos. Entretanto, a luz do sol não penetrou na escuridão criada pelos Artefatos Selados.

Esse controle foi intencional; caso contrário, representaria um risco significativo. Enquanto Orulan e os outros se acalmavam, uma explosão estrondosa ecoou ao longe, sacudindo o chão violentamente, como se ele fosse desabar completamente.

Orulan instintivamente se virou em direção ao som. Uma espessa névoa branca se espalhava à distância, e dentro dela rondava um monstro gigantesco com três cabeças. Chamas violetas se acenderam na névoa, e relâmpagos branco-prateados iluminaram o interior. Rachaduras no chão se estendiam até o grupo de Angoulême, onde magma carmesim fluía lentamente.

Mesmo de uma grande distância, Orulan e os outros podiam sentir a aura de destruição.

Isso era diferente da gestação silenciosa de vida e morte nas ruínas de Trier — era uma destruição descarada, ostentosa e gratuita. O medo tomou conta de Orulan enquanto ele se preparava para desviar o olhar, mas com o canto do olho, ele avistou uma figura feminina sentada calmamente no topo da torre destruída de um relógio, com os pés balançando.

Atrás dela, o monstro de três cabeças rondava, trazendo erupções vulcânicas, tempestades, nevascas, terremotos e chamas violetas, mas nada disso a tocou.

“O que…” Orulan de repente se lembrou de histórias aterrorizantes que ouviu quando criança.

Uma bruxa e o monstro que ela comandava.

— Diácono, devemos intervir e limpar isso? Estou preocupado que, se isso continuar, todas as ruínas de Trier desabem, — perguntou Orulan a Angoulême.

Angoulême desviou o olhar da distância e olhou para Orulan e os outros.

— Não há necessidade. Lembre-se, nas ruínas, nunca faça nada além da sua tarefa designada. Não é apenas perigoso para nós, mas também pode ameaçar a manutenção da zona protegida. Às vezes, o que você acha que é uma boa ação pode piorar a situação.

— Sim, Diácono. — Em meio ao barulho estrondoso, as expressões de Orulan e dos outros tornaram-se solenes.

Todos ouviram histórias de colegas desaparecendo misteriosamente ou se transformando em monstros dentro das ruínas. Alguns até testemunharam isso em primeira mão. Inúmeras equipes de trabalho desapareceram para sempre nas ruínas.

— Tudo bem, chegamos à passagem segura.

Angoulême disse, apontando para um ponto específico na borda da névoa cinza. De lá, eles retornariam para a zona protegida. Instintivamente, Orulan e os outros lançaram um último olhar em direção à densa neblina distante.

A mulher sentada silenciosamente no topo da torre destruída exalava um charme único.

Franca sentou-se no topo da torre do relógio destruída, deixando seus pensamentos vagarem e se dispersarem.

O tempo passou rápido, minuto a minuto, até que as explosões, os trovões e os ventos uivantes atrás dela diminuíram. Só então ela voltou a se concentrar em seu corpo.

— Tudo pronto? — ela perguntou enquanto se virava para Lumian, que estava por perto, agora restaurado ao tamanho humano. Ainda exibindo três cabeças, Lumian assentiu.

— Chegou a hora de novo, quando ocasionalmente recupero a clareza, embora dessa vez ela possa durar mais. E finalmente compreendi os poderes do Conquistador e da Demônia do Apocalipse.

— Você já não assimilou essas duas características de Beyonder através do avatar de Cheek e da integração de Alista Tudor? — perguntou Franca, confusa.

— Digerir as características e realmente assumir o poder são duas coisas diferentes, — respondeu Lumian calmamente, com um sorriso fraco. — Afinal, eu não digeri a poção.

Franca olhou para ele, depois para os rostos de Aurore e Jenna, de olhos fechados, manchados de sangue, apoiados em seu ombro direito. Ela perguntou, hesitante: — Você está bem?

Lumian respondeu com um sorriso: — Para fazer o que vem a seguir, eu tenho que estar. E além disso, aconteça o que acontecer, é hora de as coisas chegarem a um fim. Isso é melhor do que um tormento sem fim.

Enquanto ele falava, seu tom tornou-se sombrio.

— Dessa vez, não serei um peão, farei o que quero fazer.