Volume 12 - Capítulo 1687
O Mago Supremo
“Infiltrar a Prefeitura não é tão difícil.” Manohar deu de ombros. “Basta entrar durante o dia, quando os sistemas de segurança estiverem desligados, travar a fechadura para que eles não sejam acionados e se esconder em uma sala vazia. Aí você espera todo mundo ir embora, faz o que tem que fazer e sai de manhã.”
“E os guardas? Você não pode simplesmente entrar na Prefeitura sem ser notado.” Orion apontou.
“Pode sim, se tiver a aparência certa. Já fiz – quer dizer, é uma das razões pelas quais entendi que estava lidando com um metamorfo.” Manohar se salvou no último minuto.
“Deixa eu te perguntar uma coisa.” Orion disse. “Você não parece o tipo de cara que pede ajuda, nem queria a Jirni aqui. Então como eu consegui esse trabalho?”
“Você está certo. Eu não preciso de ajuda e nunca falho.” Manohar disse, estufando o peito com orgulho.
“Isso não é o que…”
“Eu tinha o plano perfeito para encontrar nosso culpado antes da sua chegada e até mesmo obtive permissão real para experimentar com eles e seus cúmplices o quanto eu quiser depois de fazê-los falar.” Manohar o interrompeu.
“Eu não sou ótimo interrogando pessoas, mas geralmente é o suficiente começar com meus experimentos e a conversa vem naturalmente.”
“Então por que eu estou aqui?” Orion perguntou.
“Bem, digamos que geralmente muitos dos meus sujeitos de teste – digo, prisioneiros – morrem de complicações inesperadas. A Coroa queria garantir que desta vez eu seguiria suas preciosas ordens, então eles chamaram sua filha.”
“Phloria? Por que não a Jirni? Ela é quem eles mandam para te controlar.”
“Porque eles queriam que a ‘Pau de Vassoura’ [1] fizesse algo útil pela primeira vez e te tirasse da sua bad. Eles sabiam que se chamassem a Jirni você não viria. Eles estão com medo de você estar se afogando.”
“Então eu sou sua babá e ela é a minha?” Orion ficou perplexo.
“Sim, pai.” Phloria assentiu. “A realeza queria me em uma missão e achei que essa era a ocasião perfeita para te fazer conhecer a mamãe e talvez resolver as coisas entre vocês dois.”
“Eu não estou pedindo que você a perdoe, apenas que deixe essa história para trás antes que ela te devore vivo. Lucky me contou sobre seu problema com bebida e como isso está afetando sua carreira.”
“Maldita bola de pelos.” Orion estava furioso com a Ry e comovido com a preocupação que suas filhas demonstravam. “Eu prometo que vou conversar com a mãe de vocês, ok?”
“Isso é injusto, cara!” Manohar disse indignado. “Talvez eu não devesse ter dopado suas bebidas, mas compensei sendo honesto com você. Não há razão para chamar minha mãe.”
“Ele quis dizer a minha.” Phloria disse, fazendo o deus da cura suspirar de alívio.
“Espera, o que você quer dizer com bebidas? Como em mais de uma?” Orion havia se perguntado por que naquela manhã ele não se sentia descansado e sua boca tinha gosto de lixo.
Então ele se lembrou do gosto estranho de seu chá da noite e de que a equipe de seu hotel havia reclamado de um animal selvagem fazendo uma bagunça na lixeira da cozinha.
“Primeiro, vamos todos manter a calma, apreciar o fato de que nada de ruim aconteceu e lembrar que sou certificado como louco.” Manohar disse como se isso explicasse tudo.
“Seu filho da…” Orion tentou agredi-lo, mas uma poderosa construção de luz dura e Phloria o impediram.
Enquanto isso, estava quase na hora do encontro de Jirni com o Lorde da Cidade.
Ele morava na região nobre da cidade e sua casa era tão grande que ocupava um quarteirão inteiro. A mansão era cercada por um parque maravilhoso repleto de árvores altas que davam as boas-vindas aos convidados do Marquês.
Animais em topiária e canteiros de flores altas formavam muros verdes ao redor da mansão, dando-lhe cor e escondendo tudo o que acontecia dentro do escritório do Lorde da Cidade no térreo dos olhares indiscretos.
Havia apenas um lugar alto e próximo o suficiente para Friya e Quylla fazerem seu trabalho: o campanário da Biblioteca Real próxima. O problema era que, para ter acesso, era necessário mostrar um documento de identidade.
As meninas não podiam usar os seus próprios sem deixar rastros que alertariam imediatamente o Marquês Beilin, e nenhum documento falso que Friya tinha de seus dias como mercenária passaria em uma inspeção rigorosa.
Para piorar as coisas, ao contrário de Friya, a presença de Quylla em Ruham era conhecida desde que ela acompanhou Jirni, e no momento em que mostrasse seu rosto, as pessoas a reconheceriam.
Ela vestia roupas simples e cobria a cabeça com um capuz que seria obrigada a remover quando os guardas verificassem seus documentos, expondo sua verdadeira identidade.
Foi a razão pela qual Friya usava uma camisa em vez de sua blusa folgada de sempre.
“Está tudo bem, oficiais?” Ela perguntou depois que os dois homens na entrada ignoraram os papéis em sua mão por alguns segundos, focando em seu busto avantajado.
Os três primeiros botões estavam desabotoados, mostrando um grande decote que atraía seus olhos, por mais que tentassem se concentrar. Friya teve o cuidado de respirar fundo, fazendo seu peito pressionar contra o tecido fino da camisa e dando a ilusão de que o resto dos botões saltaria a qualquer segundo.
“Sim. Seus seios estão em ordem.” Disse o guarda à esquerda, um homem de meia-idade com cabelos, olhos e bigode castanhos.
“Peço perdão?” Friya estava esperando o momento de usar a carta da indignação justa e aquela gafe se qualificou.
“Meu colega quis dizer que seus papéis estão perfeitos.” Seu colega, um homem na casa dos trinta anos com cabelos escuros e rosto perfeitamente barbeado, tentou salvar a situação, na verdade piorando-a.
“Exijo falar com seu superior! Não é assim que se trata uma dama.” Ela escondeu o decote com a mão, fazendo seus cérebros voltarem a funcionar.
“Não há necessidade de ir tão longe! Por favor, aceitem nossas mais humildes desculpas e aproveitem sua estadia na Biblioteca Real.” Eles fizeram uma reverência tão profunda que as plumas de seus capacetes tocaram o chão.
Friya marchou para dentro, fazendo Quylla entrar sorrateiramente também.
“Deuses bons, como isso é possível?” Ela perguntou assim que chegaram ao seu destino.
“Não é tão difícil.” Friya deu de ombros. “Um botão é o suficiente para distrair adolescentes, dois para rapazes, três quando quero garantir.”
“Não, eu quis dizer como é possível que você não tenha problema em fazer coisas assim. Eu teria morrido de vergonha no seu lugar.” Quylla disse.
“Você está brincando? Eu te vi nos bailes. Você teve sua cota de homens olhando para seu decote a noite toda. Você deveria estar acostumada a isso nesse ponto.”
“É por isso que não saio com nenhum deles! Eles são uns tarados.”
“Concordo. É a mesma razão pela qual geralmente me visto como um monge, mas às vezes os tarados têm sua utilidade. Agora cale a boca, a mãe chegou.” Friya usou um binóculo para olhar para dentro do escritório do Lorde da Cidade e encontrar as coordenadas dimensionais de um ponto que permitiria que elas ouvissem a conversa com magia espiritual.
O Marquês Hassar Beilin era um homem na casa dos cinquenta anos, com cerca de 1,63 metros de altura, cabelos pretos grossos com mechas grisalhas e uma barba curta bem cuidada. Isso escondia suas linhas de idade, exceto as ao redor dos olhos, dando-lhe também uma aparência sábia.
[1] - Expressão informal brasileira para uma pessoa alta e magra.