Capítulo 54

Assim que a poeira que encobria sua visão após a explosão se dissipou, Seong-yun viu uma sombra negra parada diante dele.

— Q-quem…

Ao abrir e fechar a boca, a dona da sombra escura, Eunha, virou a cabeça. Os olhos dourados, visíveis mesmo no vento empoeirado, lentamente se apagaram.

— Consegue lutar? — perguntou ela, e seus olhos voltaram a ser negros como se nada tivesse acontecido. Parecia ter concluído que o homem armado era um caçador.

— Você… não é da Imortal — murmurou Seong-yun, em vez de responder. Seus colegas restantes deveriam estar do lado de fora do portão fazendo guarda. Como ela entrou no Portão Desconhecido? Seria possível?

— Você é o reforço?

Seong-yun levantou a cabeça e encarou Eunha. Quando sua boca começou a se mover…

Tic tic tic tic tic…

A boneca moveu a mandíbula com rapidez. Os dentes negros batiam uns contra os outros, emitindo um som arrepiante.

— Fique bem longe. Preciso destruí-la de uma vez só — disse Eunha, fechando a sombrinha com um estalo limpo.

“Hã…?” Os três membros da Guilda Imortal, incluindo Seong-yun, a encararam atônitos. Aquela mulher realmente pretendia enfrentar um monstro de nível 80 sozinha? Era inacreditável. E havia algo ainda mais inacreditável.

Whooosh!

Eunha não desviou do monstro que avançava a toda velocidade. Não, em vez disso…

Zoom!

Ela impulsionou-se no chão e saltou em direção à boneca.

Ou seja, era uma luta de um único golpe. Uma luta em que quem arrancasse o pescoço do outro primeiro, vencia; uma luta que Eunha já tinha enfrentado inúmeras vezes no último Portão Desconhecido.

“Não é difícil.”

Ela traçou uma parábola suave no ar e mudou a pegada na sombrinha. Parecia empunhar uma espada, diferente da forma como normalmente a segurava como um guarda-chuva. Apontou a ponta afiada da sombrinha para a boneca e desceu sobre ela.

Stab…!

A boneca parou de se mover ao ser perfurada pela sombrinha bem no meio da testa.

Creak, creak…

Faltou força? A boneca, com a testa atravessada pela sombrinha, lentamente virou a cabeça. No momento em que a mão rechonchuda começou a se mover…

— É perigoso! — gritou Seong-yun, desesperado. Mas…

Ssshhh!

Aconteceu num instante. Com a sombrinha cravada como um pavio, uma chama negra se acendeu na testa da boneca.

Kyaaaaargh!

Um grito ensurdecedor ecoou. Eunha ergueu a sombrinha com a boneca empalada bem alto, e então a esmagou contra o chão.

Smash!!!

— Não pode ser…!

Os olhos de Seong-yun se arregalaram tanto que parecia que sua pele iria rasgar.

Smash!!!

Ela definitivamente a arremessou no chão uma vez, mas o som de destruição veio duas vezes. A boneca foi destroçada como peças de um quebra-cabeça. Seong-yun ficou boquiaberto diante dos pedaços irreparáveis da boneca. Se seus olhos não o traíam, aquela mulher acabava de…

A mão de Seong-yun, que segurava o arco, caiu no chão com um baque. Ela realmente… derrotou um monstro de nível 80 sozinha? Isso era possível? Como?

Enquanto olhares desconfiados se voltavam para ela, Eunha encarava a janela do sistema com olhos calmos.

“O último nomeado…”

Parecia que aqueles caçadores já haviam derrotado os outros monstros nomeados, o que significava que o monstro-chefe logo apareceria.

Tap, tap.

Eunha se aproximou do monstro imóvel e puxou a sombrinha de uma vez. Três pares de olhos a observavam em silêncio enquanto ela limpava o sangue da superfície com as próprias mãos.

— Vocês viram um homem de terno, por acaso?

Depois de se recompor, Eunha se virou para eles. Seong-yun piscou diante de sua forma impecável, sem conseguir acreditar no que via.

— N-não… Não vimos ninguém.

— Entendo — respondeu Eunha de forma breve, desviando o olhar. Então partiu, sem olhar para trás.

— …Como assim?

Não houve tempo de perguntar seu nome ou agradecê-la. Só puderam observar, incrédulos, suas costas se afastando. Jamais teriam imaginado, naquele momento, que a mulher que acabara de derrotar um monstro de nível 80 era a caçadora Rank F, a Princesa da Chama Negra.

Ding.

Enquanto acelerava os passos seguindo o canto ocasional, o gato lhe fez uma pergunta. Eunha não parou ao mover os lábios.

— Só porque sim.

Para Eunha, era óbvio. Se havia alguém que precisava de ajuda, e ela tinha a capacidade de ajudar, então ela simplesmente ajudava. Um motivo especial não era necessário. Mas aquilo parecia incompreensível para o gato.

— São — Eunha assentiu brevemente e continuou. — Mas os que bateram de frente comigo estavam do lado de fora, não eles.

Se o gato entendeu ou não, ela não ouviu mais nada dele.

Slosh…

Sons nítidos de água ecoavam pelo portão a cada passo. A água que antes mal cobria os pés agora chegava até os tornozelos. De qualquer forma…

“Onde o Jehwi está?”

Parecia que já havia se passado bastante tempo desde que despertou da alucinação e começou a vagar pelo portão, mas Jehwi Park e sua irmã continuavam desaparecidos.

— Seria bom se eu tivesse um rastreador — murmurou ela em voz baixa, e naquele instante…