Capítulo 53

Ela sentiu seu corpo flutuar.

Ela havia pulado da sacada, mas aquilo não parecia ser o canteiro de flores do primeiro andar nem a calçada de pedestres. A única coisa visível em meio à escuridão absoluta era uma aurora lavanda pálida. A aurora translúcida parecia cortinas finas esvoaçando ao vento.

Era como se estivesse nadando no meio da galáxia, livre da gravidade, ou sendo levada por ondas suaves. Eunha não desgostou da sensação curiosa e misteriosa, e fechou os olhos, entregando-se à sensação de flutuar.

O sorriso de sua mãe surgiu por trás das pálpebras fechadas.

— Sempre foi meu desejo ver minha filha entrando na faculdade. Claro que ficaria feliz.

Ela nem pensou que fosse sua mãe de verdade. Mas achou um alívio poder encontrá-la, ouvi-la assim. E foi um alívio que sua última lembrança da mãe não fosse a imagem dela esmagada pelos escombros. Eunha fixou o sorriso da mãe em suas pálpebras para nunca esquecê-lo.

Quanto tempo havia se passado?

Tap…

Naquele momento, as duas pernas que nadavam pelo ar tocaram o chão.

Uma janela de sistema azul apareceu diante de seus olhos. E então…

Mensagens de erro inundaram o sistema junto a vibrações incomuns. Eunha já havia passado por algo semelhante.

“Portão Desconhecido.”

Ela se lembrava claramente das memórias de quando ficou presa em um. Não conseguiria esquecer nem que tentasse, já que quase morrera ali várias vezes. Mas a atmosfera aqui era completamente diferente do Portão Desconhecido que lembrava. Parecia uma caverna, mas aqui…

“Era como uma paisagem submarina.”

Parecia uma caverna oculta nas profundezas do mar. Felizmente, ela conseguia respirar.

Slosh…

Ao dar um passo, ouviu o som da água. Havia cerca de dois centímetros de água sobre a superfície do chão. E não era só isso. Havia itens marinhos como algas, estrelas-do-mar e conchas. E o que mais chamou sua atenção…

— …

…foi o coral rosa que preenchia toda a caverna. Ele reluzia como uma joia e se espalhava pelo chão e paredes, parecendo uma imagem saída de um conto de fadas.

Mas, por mais deslumbrante que fosse, aquilo ainda era um portão. E um Portão Desconhecido, ainda por cima. Em outras palavras, não deveria tratá-lo como os muitos portões que limpava com facilidade.

Tap, tap.

Eunha caminhou pelas paredes internas da caverna e avançou. A paisagem não mudou por um longo tempo. Ela não conseguia encontrar Jehwi, por mais que andasse.

Eunha se aproximou da parede para marcar os rastros de seu caminho. Enquanto desenhava um X na parede com a ponta afiada da sombrinha…

— …Isso.

Eunha parou ao encontrar algo no coral próximo.

— Uma mão?

Conseguia ver uma mão masculina sob o coral rosa. Havia alguém sob o coral? Ela examinou melhor, mas não parecia ser isso. Então o que era aquela mão? No momento em que Eunha inclinou a cabeça…

“Não pode ser.”

Ela sentiu um pressentimento ruim. Eunha já tinha passado por algo assim antes. Houve um chefe que transformava os caçadores em slime. Se o chefe aqui fosse do mesmo tipo, esse coral…

【…♫♪】

Ela ouviu um canto. Sem letra, apenas a melodia. Era a voz de uma mulher.

Ding.

Uma janela amarela apareceu. Com o aviso do gato, Eunha enfim teve certeza de que o canto era uma pista sobre este Portão Desconhecido.

【…♫♪】

O canto parecia vir da frente… ou de trás. Eunha virou rapidamente.

Nordeste. O som vinha de lá. Eunha decidiu instintivamente que precisava seguir o canto. Não havia tempo a perder tentando encontrar o caminho. Eunha esticou a mão direita num lampejo em direção à parede interna.

Foi então que o coral rosa apareceu em seu campo de visão.

Eunha congelou naquele estado e encarou o coral em silêncio por um tempo. Depois, começou a retirá-los cuidadosamente, um por um, colocando-os no chão.

Seria impossível para quem havia se transformado voltar a ser humano. Se tivesse sido mais rápida… Não, mesmo assim, Eunha não tinha as habilidades ou itens necessários para cancelar aquelas anomalias. Logo, ela retirou o último coral da parede, colocou-o no chão e abriu lentamente as palmas diante da parede do portão. Ainda podia ouvir o canto fraco vindo do nordeste. Coisas terríveis podiam estar acontecendo em algum lugar do portão, então ela não tinha tempo para explorar livremente a caverna até alcançar aquela direção.

Nesse caso…

Boooom…!

Tudo que precisava era abrir caminho até lá.

Boooom…!

— …!

Dentro do Portão Desconhecido, os membros da Guilda Imortal que haviam sido enviados como equipe de busca pararam diante do som estrondoso repentino.

— É-É uma onda de monstros?

O terceiro no comando da Imortal, Seong-yun, assumiu posição de combate mais rápido que os outros. Mas, por mais que o tempo passasse, nenhum monstro apareceu.

“O que diabos foi isso?”

Seong-yun não abaixou a corda do arco apontado para o ar, enquanto suava frio. Aquele era um Portão Desconhecido. Não seria estranho qualquer coisa acontecer ali. Na verdade, mais da metade já havia morrido ali ou estava gravemente ferida, e…

— S-Senhor. O Jaejin está…

Enfeitiçado.

Quando Seong-yun se virou, viu um jovem caçador desabando no chão.

— Ugh… É meu… Meu… Eu disse que é meu…!

O modo como dizia coisas sem sentido, ou como os corais rosa-pálido cresciam em suas costas. E…

【…♫♪】

A voz vinda de longe. Era a mesma de antes.

— Todos, tapem os ouvidos! — ordenou Seong-yun aos homens restantes, mas dois já haviam sido engolidos pelas alucinações.

— Droga.

Seong-yun praguejou em voz baixa e olhou ao redor. Restavam apenas quatro, agora três, combatentes. Vasculhou o bolso e sacou seu terminal.