Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Capítulo 38

Nv. 99 Princesa da Chama Negra

— Hmm…

Tick, tock.

O som dos ponteiros do relógio parecia mais alto que o normal no silêncio. Jehwi gemeu um pouco e abriu a boca com dificuldade.

— Senhor, ela é dos Estados Unidos e se chama Cather…

Si-u passou por Jehwi friamente e se virou para Catherine.

— Que assunto você tem aqui, vindo dos Estados Unidos?

Não foi Catherine quem se atrapalhou com a pergunta direta, mas sim Jehwi. Ele suspirou brevemente e lançou um olhar a Catherine.

— Porque deixei assuntos importantes para vir até aqui. Espero que entenda. — Si-u sentou-se no sofá e ajeitou os cabelos bagunçados.

Catherine sorriu como se estivesse tudo bem e abaixou a xícara.

— Me desculpe pela visita repentina, caçador Si-u Shin. Sou Catherine Hudson, da Clamp Management, uma subsidiária da Chaser.

Catherine estendeu seu cartão de visitas para Si-u, como havia feito com Jehwi. Si-u o encarou com os olhos semicerrados. Chaser. Era mesmo a Chaser.

O que uma guilda americana de caçadores tinha a ver com a Lobo e com a Princesa da Chama Negra? Ele precisava manter a vigilância e a desconfiança. Isso fazia parte da antiga política da Lobo, talvez fosse um instinto canino. Si-u ergueu os olhos do cartão e a examinou lentamente.

Os olhos verde-esmeralda por trás dos óculos transparentes se curvavam como uma lua crescente. O adjetivo ‘habilidosa’ se encaixava melhor naquele sorriso do que ‘bonita’. Em outras palavras, era o tipo de pessoa de que Si-u não gostava.

— Vim procurá-lo hoje com uma proposta para a Princesa da Chama Negra, que firmou contrato com a Lobo.

— …Mas por que veio atrás de mim?

Catherine sorriu para a falsa inocência de Si-u.

— Porque, caçador Si-u Shin, ela não firmou contrato com a Lobo. Ela firmou com você.

— …

— Não é verdade?

Si-u se absteve de responder e a examinou de perto. Catherine Hudson… Não, como a Chaser sabia daquilo? E desde quando sabiam? Si-u lançou um olhar ao redor e cravou os olhos em Jehwi como punhais. Jehwi saltou como um pombo e balançou a cabeça violentamente. ‘Não fui eu!’, parecia dizer com toda a força.

— Isto aqui.

Catherine pegou a maleta ao lado e a colocou sobre a mesa. Então, abriu com as mãos delicadas.

— …!

Os olhos de Jehwi se arregalaram ao ver o conteúdo. Estava abarrotada de notas de dólar, como se tivessem tido o cuidado de não deixar um único espaço vazio.

“Quanto isso vale, afinal?”

Gulp.

O pomo-de-adão se moveu, sem elegância.

Mas Si-u cruzava os braços com indiferença, os olhos fixos em Catherine, e não no dinheiro. Aquilo era o tal ‘negócio’? Nem teria vindo, se fosse só isso.

Catherine manteve o sorriso mesmo diante de Si-u, que começava a congelar lentamente. Parecia imune a esse tipo de coisa.

— Meu superior está interessado na Princesa da Chama Negra. Embora precisem encerrar o contrato, se aceitarem nossa proposta, nós, é claro, pagaremos toda a compensação…

— Recuso.

Si-u se levantou como se não houvesse mais nada a ouvir.

— Não é dinheiro o que eu preciso. Volte e diga ao seu chefe… — Seus olhos azuis afundaram de repente. — …para nos deixar em paz.

Catherine devia esperar por isso até certo ponto, pois respondeu com um tom calmo.

— Perdão. Parece que me esqueci de mencionar algo. Meu superior disse que não só pagará a compensação, como também enviará caçadores de Rank A treinados pela Chaser durante cinco anos para trabalhar com vocês por três anos. De graça, é claro.

— Minha resposta não mudaria nem que fossem caçadores de Rank S.

O ar ao redor congelou. Embora fosse uma sala sem janelas, parecia que o vento soprava ali dentro.

— Entendo.

Catherine tocou nos óculos e fechou a maleta de novo. Talvez também esperasse por isso? Não parecia nem um pouco arrependida.

Jehwi olhava nervosamente entre Catherine e Si-u.

“Mas por que o diretor ficou tão irritado? Será que feriram o orgulho dele, oferecendo uma quantia tão pequena à Lobo?” Era uma quantia tão absurda que quase fez seus olhos virarem, mas talvez não fosse nada para Si-u, o jovem mestre da Lobo. “Mas precisava ficar tão bravo assim?” Ele nunca conseguia entendê-lo.

— Entendido. Voltarei e passarei a mensagem.

— Espere.

Si-u interrompeu Catherine bem antes de ela sair da sala.

— Esse seu chefe. Você devia me dizer quem é.

O que uma guilda americana, que não era nem da Associação de Caçadores nem uma mega guilda, queria com a Princesa da Chama Negra? A ponto de cavar fundo e oferecer tanto dinheiro sem pestanejar.

Qualquer que fosse o motivo, Si-u não tinha intenção de romper o contrato com Eunha, então queria saber quem exatamente a desejava.

Catherine encontrou os olhos azuis de Si-u e o encarou. Eram tão frios que, se ela não fosse imune a esse tipo de olhar, teria perdido as forças nas pernas. Mas já tinha passado por dezenas de situações semelhantes, não havia motivo para perder a compostura.

— Ele vai se apresentar pessoalmente.

Click.

Ela falou em voz baixa enquanto girava a maçaneta.

— Até a próxima, caçador Si-u Shin.


Na manhã seguinte, Eunha abriu os olhos no sofá, tendo cedido o quarto para Minju. Ela se levantou devagar e abriu as cortinas. Sua casa era voltada para o sul, e a luz do sol brilhava sobre o chão de mármore como ondas.

Eunha bocejou levemente, calçou os chinelos e seguiu em direção ao quarto onde o garoto estava. Sabia que deveria tomar café da manhã e então seguir para a delegacia. Pelo silêncio, parecia que o garoto ainda dormia profundamente.

— …

Não.

Eunha parou no meio do caminho e escutou. Estava silencioso. Tão silencioso que parecia estranho.

Toc, toc.

Ela bateu na porta do quarto. Nenhuma resposta. Depois de bater mais algumas vezes, Eunha empurrou a porta lentamente. E, como esperado, o quarto estava vazio.

— …Onde ele foi? — murmurou em voz baixa.

Os lençóis estavam intactos. As janelas, bem fechadas. Os chinelos, alinhados com perfeição. Era como se deixar o garoto dormir ali na noite anterior tivesse sido um sonho. De tão limpo e organizado que o quarto estava.

Um post-it sobre a cama chamou sua atenção. Eunha se aproximou para ver.

Obrigado, moça da Chama Negra!!!

A caligrafia era redonda. Parecia mesmo ter sido o garoto quem escreveu. Abaixo, havia mais uma frase:

Obs. Acho que seremos bons amigos hehe até a próxima. ( ^◡ ^)

Eunha desviou o olhar do post-it. Seus olhos negros varreram novamente o quarto vazio. Estava tão limpo que parecia que ninguém havia passado a noite ali. No entanto, havia algo ainda mais estranho.

“…Quando foi que ele fez isso?”

Seus olhos que examinavam o cômodo se moveram em linha reta até a porta de entrada. Ela já era sensível ao dormir. Ainda mais depois do contrato com o gato. Dormira ainda mais leve naquela noite, já que, se o grupo dos mantos verdes aparecesse, talvez precisasse protegê-lo e fugir de casa.

“No entanto…”

Ela não percebeu nada, nem quando o garoto arrumou o quarto, nem quando fechou a porta atrás de si. Isso significava que Eunha tinha dormido profundamente, sem notar. Era completamente inadmissível.

— …

Eunha ainda fitava a porta de entrada quando voltou a olhar o post-it. Seus olhos se estreitaram ao encarar a caligrafia fofa e redonda. Logo, seu murmúrio suave se espalhou pelo cômodo silencioso.

— Não precisava ter trazido ele pra casa.


Seul, Coreia. 9:36h

Uma grande porta localizada no canto do último andar da Associação de Jurisdição dos Caçadores. Era uma área geralmente frequentada apenas por seu presidente, Daeyun Go, e seus convidados.

— Isso é verdade?

Daeyun perguntou novamente com uma expressão estranhamente rígida no rosto. O homem de meia-idade usando um chapéu cinza-escuro assentiu.

— Sim. Eu perguntei aos instrutores do Centro de Treinamento daquela época depois que recebi a mensagem da Associação… — O homem hesitou, então falou com cautela: — Nenhum deles se lembrava de uma recruta chamada Yura Lee.

Daeyun acariciou o queixo em silêncio. Já esperava algo assim, mas ainda assim.

O Centro de Treinamento de Pocheon havia sido fechado por conta de um Portão Desconhecido em outubro de 2029, e o homem sentado diante dele era o general responsável pelo acampamento naquela época.

— Claro, havia um bom número de recrutas em cada turma, e é difícil lembrar todos os nomes e rostos.

— É verdade, com certeza.

Daeyun assentiu levemente e observou os documentos sobre a mesa. Eram as informações pessoais de Yura Lee que haviam conseguido até agora. Claro, mesmo sendo ‘informações pessoais’, não havia quase nada. Como Gwanghyeon, o braço direito de Daeyun, dissera, ela era envolta em mistério.

“Não é como se tivesse surgido do nada.”

Daeyun conteve um suspiro e ergueu a cabeça.

— Certo, por ora é só. Mas antes, hoje…

Então, a porta da área comum se escancarou sem sequer uma batida.

— S-Senhor!

— Ei! Poxa… — Daeyun se sobressaltou no meio da conversa com o general do acampamento e lançou um olhar cortante. — Quão urgente é isso pra arrombar a porta sem nem bater?

— M-Me desculpe. — Fora de seu habitual, Gwanghyeon estava desarrumado, com o peito arfando.

— Sua gravata tá toda torta. Elevadores existem por um motivo, sabia?

Gwanghyeon rapidamente ajeitou a gravata com o puxão crítico de Daeyun. Este estalou a língua com desgosto e falou em tom de repreensão:

— Qual é o assunto pra fazer esse estardalhaço todo? Apareceu um Portão de Ruptura?

— N-Não.

— Então descobriu alguma coisa sobre a caçadora Yura Lee? Isso eu até entenderia.

— Também não é isso.

Gwanghyeon coçou o queixo, desconfortável.

— Yura Lee… Ainda estamos investigando a Princesa da Chama Negra.

De fato, parecia que eles também não haviam conseguido novas informações. Estava levando mais tempo do que ele imaginava.

— Entendo.

Daeyun desviou o olhar de Gwanghyeon e voltou-se para o general com quem conversava antes.

— Me desculpe. Ele normalmente é muito competente.

— Não se preocupe, senhor.

— Eu… senhor.

Gwanghyeon enfiou a cabeça novamente na conversa.

— Isso não é sobre Yura Lee, mas é tão importante… quero dizer, mais importante do que isso.

— O que foi? — Daeyun perguntou com indiferença, folheando os dados sobre a mesa.

— Disseram que o Maestro vai visitar a Coreia em breve.

Pausa.

A mão que virava os papéis parou no ar. As pupilas sob os cílios acinzentados começaram a tremer. O mesmo aconteceu com o general, que permanecia calado ao lado.

— O que você disse…?

Ele ouviu errado? Sim, devia ter ouvido. Claro que não. E não era qualquer um, afinal. Mas a calma fingida de nada adiantava.

Gwanghyeon apoiou as duas mãos na mesa de Daeyun, como para garantir que era real, e declarou:

— O Maestro. Maestro. O coreano, digo, o primeiro Rank S da Coreia. — Sua voz exasperada tremia levemente. — Quero dizer, o caçador Ijun Baek.