
Capítulo 36
Nv. 99 Princesa da Chama Negra
Lobo Branco era uma celebridade, tanto por ser o sexto caçador de Rank S da Coreia quanto por ser filho do Lobo, mas ironicamente, Si-u não era uma celebridade. Embora fosse bem conhecido o fato de ele ser o único filho de Gwihun Shin, o mestre da Lobo, nem seu rosto nem qualquer informação pessoal sua estavam sob os holofotes. Então, apesar de Si-u ter reconhecido Minju, Minju não poderia identificar Si-u apenas pelo rosto.
— Vendo que conseguiu ver através dos meus truques, seu rank deve ser bem útil. Com quem você está afiliado?
Mas Minju parecia ter notado que Si-u era um despertado e um caçador.
Balança, balança…
A mesa tremeu levemente. A criança arrogante estava balançando as pernas. Si-u riu secamente da atitude dele, que havia mudado de forma rápida e completa desde que estava falando com Eunha. Não era exatamente surpreendente.
— É uma honra saber que pensa tão bem de mim por ter visto através de um truquezinho desses.
— Ah, pois é. Os caçadores de hoje em dia são bem malucos, sabe. Então isso já vale algum elogio.
Trapaceiro voltou a mexer os dedos que tinha parado e retomou a dobradura com o guardanapo. Suas mãos pequenas eram bem ágeis. Ele nem olhou na direção de Si-u enquanto movia os lábios cheios.
— Você perguntou se eu tinha algum assunto aqui, né? Na verdade, não. Só estou interessado em alguém que tem os mesmos interesses que eu. Isso não é normal?
— Os mesmos interesses?
Si-u franziu levemente a testa. Pelo que sabia, os hobbies de Eunha eram assistir especiais musicais dos anos 90 e filmes antigos.
“Essa criança se interessa por esse tipo de coisa?”
Ele não conseguia acreditar nem um pouco. Por isso decidiu que ele só podia estar mentindo.
— Deixe-me te dizer uma coisa com certeza.
Uma corrente estranha começou a fluir entre os dois a partir daquela voz monótona e serena.
— Aconselho que não se aproxime mais dela do que o necessário.
Psss…
Gelo apareceu no copo à frente deles. O ar esfriou, como se fosse inverno só para os dois.
— Isso é um aviso? Ou uma ameaça?
Trapaceiro sorriu e bateu no copo congelado como se tivesse achado graça. Não tinha perdido a calma nem um pouco.
— Você sabe quem eu sou.
— Sei. E daí?
— Você está confiante contra o Esquadrão. Irmão, você está com os Lobos?
— Bom. Preciso mesmo responder?
Quando Si-u rebateu, o sorriso no rosto de Trapaceiro sumiu como fumaça. O silêncio gélido voltou a se instalar entre eles.
Tap, tap.
Os sons das pequenas unhas batendo no copo gelado ecoaram.
— Ah, entendi.
Os olhos que varreram o ar pousaram no homem sentado à sua frente. Os olhos redondos de Trapaceiro se curvaram como uma lua crescente.
— Pelo jeito que fala, deve ter uma relação bem profunda com ela?
Uma relação profunda.
Podia dizer que era profunda? Honestamente, a resposta era direta. Os dois estavam ligados apenas por um contrato, nada mais e nada menos.
Mas, de algum modo, ele não queria dizer esse fato simples. Certamente não para a criança arrogante diante de seus olhos.
— E se eu tiver?
A boquinha adorável do garoto se curvou num sorriso, como se estivesse esperando exatamente por essa resposta.
— Aquela moça, ela roubou um portão que o meu Esquadrão tinha arrematado.
— …O quê?
O rosto inabalável de Si-u se rachou levemente. Ele tinha ouvido direito? Ela fez o quê… com um portão? Quando Trapaceiro percebeu sua reação, sorriu de forma travessa.
— Você disse que também é caçador. Então deve saber que, se alguém rouba um portão leiloado, a guilda tem o direito de restringi-lo e puni-lo. Nem a Associação pode interferir.
— Isso nem tem graça. — Si-u fechou levemente a boca antes de falar com confiança de novo. — Ela não é do tipo que roubaria.
Era isso. Ficou até surpreso por ter dito isso, mas era isso. Si-u não tinha fé nenhuma em Trapaceiro, que conhecera naquele mesmo dia. Confiar nela fazia muito mais sentido do que confiar naquele pirralho insolente.
— Pode conferir você mesmo. Minha essência de portão está no bolso frontal direito dela.
Mas Trapaceiro estava estranhamente confiante. A ponto de Si-u se perguntar se era verdade. Claro, se fosse verdade, seria bastante incômodo. Como o Trapaceiro dissera, roubar um portão leiloado era praticamente um crime grave na indústria dos caçadores. Mas, na época de Eunha, não existia um sistema de leilão de portões, então ela não teria como saber. Se algo assim realmente tivesse acontecido, a culpa teria sido dele, por não ter explicado.
No entanto…
— Não importa. — Si-u relaxou e levantou o queixo. — Posso simplesmente compensar a essência do portão.
Fosse o preço que fosse. Ele esperava poder pagar e que o garoto caísse fora.
— Não. — mas Trapaceiro exibiu um sorriso largo e cheio de significado. — Ela ousou roubar o portão do Esquadrão; não acha que isso é algo que dinheiro não paga?
— …Então diga logo o que quer.
— Só tem uma coisa que eu quero. — Trapaceiro continuou após dar de ombros. — Quero que cuide da sua vida.
— …O quê?
Os olhos de Si-u se aguçaram. Mas Trapaceiro falou com leveza, alheio a ele.
— Eu te disse. Só me interessei por alguém com os mesmos interesses que eu.
— …
— Como prova disso, não pedi que ela se responsabilizasse por roubar minha essência de portão. Você viu, né? Meus colegas atrás de mim. Nenhum encostou nela. Poderiam ter feito isso, mas vieram aqui comer sopa de carne. — Trapaceiro bateu na tigela vazia de sopa. Seus caninos pequenos ficaram à mostra quando sua boca se curvou. — Se não quiser que isso vire uma disputa entre guildas, eu recomendaria que fechasse os olhos.
Dito isso, Trapaceiro voltou a pegar a dobradura de guardanapo pela metade. O garoto parecia normal enquanto cantarolava e se concentrava em dobrar o papel, mas Si-u o observava com olhos penetrantes.
‘Faça vista grossa.’
Era um tipo de ameaça. Mas Si-u não ia ficar quieto depois de ser ameaçado por um garoto do ensino fundamental, mesmo que esse garoto fosse um caçador de Rank S. Ele não tinha a menor intenção de perder para uma criança que ainda cheirava a leite.
— Ei.
No momento em que Si-u abriu a boca…
— Vamos.
Eunha havia voltado e estava de pé ao lado da mesa. O copo de água congelado chamou sua atenção. Ele definitivamente estava morno quando ela saiu para o banheiro.
— …
Eunha o encarou por um tempo, depois voltou os olhos para os dois. Por fora, não muito parecia ter mudado.
— … Já voltou?
Si-u levantou a cabeça e olhou para Eunha. Soou como se ele desejasse que ela tivesse demorado mais.
— Eu paguei. Vamos embora.
Eunha se virou. Si-u e Minju também se levantaram, relutantes. Mas então…
— …
Os olhos de Si-u se fixaram no bolso estufado de Eunha.
— Yura, isso no seu bolso.
— Ah. Isso aqui?
Eunha remexeu no bolso como se não fosse nada. O que ela tirou com calma foi…
— Uma essência de portão.
— …!
Os olhos de Si-u se arregalaram ao ver a esfera púrpura.
Trapaceiro cruzou olhares com ele e mostrou a língua por trás das costas de Eunha.
— Me envolvi sem querer num Portão de Ruptura no caminho, e peguei isso depois de derrotar o monstro chefe.
— U-Um Portão de Ruptura… Quer dizer…?
Pensando bem, o terminal dele havia vibrado enquanto esperava por ela.
A fenda que surgiu no Hotel H, em Banha… Será que ela se envolveu lá? Como alguém pode se envolver num Portão de Ruptura por acidente? A não ser que os agentes da Associação, a polícia e os bombeiros estivessem lá de enfeite, isso simplesmente não podia acontecer.
— Sim. Um Portão de Ruptura.
Eunha assentiu levemente com a essência de portão nas mãos. A atitude indiferente dela, à qual ele achava que já estava acostumado, era ridícula dessa vez. Pensar que Trapaceiro estava dizendo a verdade.
Enquanto mergulhava nos próprios pensamentos, se perguntando como lidar com aquilo…
— O que fazemos com isso?
Eunha de repente empurrou a essência de portão diante dos olhos de Si-u. Em sua época, era preciso entregar qualquer essência de portão obtida aos superiores. E o superior atual de Eunha era a Lobo, ou seja, Si-u.
— Essa essência de portão é…
Justo quando Si-u abriu a boca apressado.
Buzz…
Um zumbido soou. Era o celular de Si-u.
— …Um momento.
Si-u olhou para o celular com o rosto ainda embaraçado.
<Jehwi Park> 010-XXXX-XXXX
Si-u franziu levemente a testa ao ver o nome na tela. O que poderia estar acontecendo numa hora importante dessas?
— Vou atender rapidinho e já volto.
Si-u foi o primeiro a sair do restaurante e atendeu a ligação num beco ao lado.
— Hm. O que foi?
— Senhor, onde está?
— Saí um pouco. Por quê?
— Uhm… O senhor tem uma visita.
— Uma visita? Pra mim?
Talvez para Gwihun Shin, o mestre da Lobo, mas uma visita para ele?
“É alguém da Associação?”
Era tudo em que conseguia pensar. Não lhe vinha ninguém mais à mente que o procuraria.
— Manda voltar.
— Perdão?
— Manda voltar. Fala o que tiver que falar.
Hmm…
Si-u continuou ao ouvir o resmungo do outro lado da linha. — Estou meio ocupado agora. Dá um jeito de enxotar e garantir que nunca mais voltem. Entendido?
— Sim, senhor.
— Certo. Estou indo.
O importante agora não era a visita desconhecida. Si-u enfiou o celular no bolso de trás e passou a mão na testa.
“Uma essência de portão.”
— Me envolvi num Portão de Ruptura por acidente no caminho, e peguei isso depois de derrotar o monstro chefe.
— Ugh.
Ele finalmente entendeu o que havia acontecido. Então ela havia roubado a essência de um portão que o Esquadrão arrematou, e os membros da guilda estavam perseguindo-a por isso. Mas havia uma coisa que ele não entendia.
“Por que o Trapaceiro está escondendo a identidade dele dela?”
Ele ainda desconfiava disso. Poderia ter recuperado a essência de portão a qualquer momento dentro do portão, ou mesmo a caminho do restaurante. Mas não fez isso.
— Só me interessei por alguém com os mesmos interesses que eu.
…Não, ele jamais acreditaria nisso. Ainda assim, por mais que pensasse, não conseguia encontrar uma resposta convincente.
“Vamos voltar primeiro.”
Ele não encontraria resposta nenhuma parado ali. Enquanto voltava em direção ao restaurante, sentiu outra vibração no bolso de trás.
<Jehwi Park> 010-XXXX-XXXX
Achava que tinha deixado tudo claro, mas aparentemente não. Si-u suspirou e atendeu de novo.
— O que foi agora?
— S-Senhor.
A voz do outro lado da linha estava muito mais aflita que antes.
— Quando eu disse que o diretor não estava, eles disseram que queriam ver o Mestre. O que eu faço?
“O quê?” Si-u lançou um olhar gélido. Aparecer sem aviso e pedir um encontro…
— Desde quando a sede da Guilda Lobo virou supermercado?
Todos sabiam qual era o status da Lobo na Coreia. Jehwi respondeu gaguejando.
— Eles disseram que querem conversar hoje sobre a Princesa da Chama Negra.
“Espera.”
A Princesa da Chama Negra. Essa expressão fez Si-u parar de andar. Um longo silêncio se seguiu. Logo, Si-u abriu a boca lentamente.
— Quem é o desgraçado?
Sua voz fria não fazia a menor questão de esconder a hostilidade e a desconfiança.
— Uhm… Eles disseram que são da Guilda Chaser.
— Chaser?
Ele achava que já tinha ouvido esse nome em algum lugar. Onde era mesmo? Como não estava muito claro na memória, provavelmente não era uma guilda famosa. Enquanto estava perdido nos próprios pensamentos, ouviu a voz de Jehwi novamente. Ele falou com cautela e em tom secreto, como se temesse que alguém pudesse ouvi-lo.
— É a guilda americana de caçadores, Chaser.