
Capítulo 13
Nv. 99 Princesa da Chama Negra
— O quê? A polícia?
— Sim. É uma jovem de vestido preto e sombrinha… parece ser sua convidada.
Si-u duvidou dos próprios ouvidos ao ouvir que Eunha havia sido detida e levada para a delegacia. Ele tinha mandado alguém segui-la em segredo, caso algo acontecesse, mas esse era o primeiro relatório que recebia? Por quê?
— Eu mesmo vou até lá.
Si-u largou o que estava fazendo e pisou fundo no acelerador em direção à delegacia mais próxima. Quando arrombou as portas de vidro e entrou, viu Eunha sentada diante de um policial.
— Ah, você é o responsável por ela?
— …Uhm. — Si-u ficou sem palavras por um momento, mas assentiu após hesitar. — Sim, eu sou o responsável.
— Aparentemente, ela evitou pagar a corrida…
— Eu paguei. — Eunha interrompeu o policial e ergueu a cabeça. “Dois mil won ainda por cima.”
— Você sabe em que época está vivendo? — o motorista gritou do outro lado da sala. — Como achou que poderia pegar um táxi com apenas dois mil won?! Moça, o mundo é uma brincadeira pra você?
【A criatura mítica Viajante Felina da Escuridão arrepia os pelos e diz que vai arrancar os poucos fios de cabelo restantes da cabeça dele. Ela tem certeza de que afiou as garras para esse dia.】
— Vamos lá, acalme-se. — Eunha olhou com desdém para a janela de mensagem amarela enquanto a polícia tentava conter o motorista. “Está me irritando. Você também deveria se acalmar”, era o que ela queria dizer.
— Eu achei estranho desde o momento em que ela acenou para o táxi daquele jeito! Bah, em dez anos como taxista, nunca vi uma cliente tão absurda! Nunca! — o motorista berrava de frustração, apesar da tentativa do policial de acalmá-lo.
【A criatura mítica Viajante Felina da Escuridão diz: — Esse fi…】
Foi então que Si-u percebeu o que estava acontecendo. Ele estudou Eunha com olhos penetrantes, e ela piscou de volta.
— O quê? — ela perguntou.
— …Nada. — Quem ele poderia culpar? Sabendo que ela vinha de trinta anos atrás, Si-u não podia repreendê-la. Tirou a carteira do bolso de trás e entregou dois papéis ao motorista. — Peço desculpas. Minha amiga está… doente. Espero que compreenda.
— Não, ainda assim. Nunca vi alguém com tão pouco bom senso… — Os olhos do motorista se arregalaram tanto que pareciam prestes a rasgar. Os dois papéis que Si-u entregou sem hesitação eram duas notas de 50 mil won cada. — Meu Deus… Tudo isso? — O motorista, que estava com o pescoço inchado de raiva, logo virou um cordeirinho. Pelo visto, o materialismo ainda permanecia forte após trinta anos.
Eunha observou Si-u em silêncio. Era lamentável ter sido rotulada de doente, mas no fim ele estava ali para limpar a bagunça por ela. Ninguém devia se intrometer.
— Deve ter sido inconveniente ter que vir até a delegacia. Por favor, aceite. Ela provavelmente não fez isso de propósito. Se houver alguma taxa extra a ser cobrada, entre em contato comigo aqui.
O motorista pegou os cheques e o cartão de visitas de Si-u, coçando a cabeça em embaraço.
— Bem, todo tipo de coisa acontece no mundo. Hahaha! — Ele riu alegremente e parou de pressionar Eunha. Assim, ela conseguiu sair da delegacia em segurança.
Si-u virou-se para ela e a guiou até o carro.
— Entendeu agora? Atualmente, a tarifa básica de táxi em Seul é de 8 mil won, ou 9 mil won com acréscimo noturno. Em outras palavras, você basicamente tentou assaltá-lo sem faca. — Assim como Eunha começava a compreender que trinta anos haviam se passado, Si-u também começava a perceber o peso dessa distância temporal.
Eunha continuava com a expressão vazia enquanto encarava a janela do lado do passageiro. Não demonstrava nenhum sinal de remorso.
— Eu disse que não sabia, mas ele me arrastou de repente para a delegacia.
— Então você deveria ter ligado… — Si-u interrompeu-se. Certo. Eunha não tinha celular. Isso significava que ela não podia pedir ajuda. Si-u virou o rosto, constrangido, e segurou firme o volante. — …Deixa pra lá. Então, para onde estava tentando ir?
— A um túmulo.
Si-u ficou sem palavras diante da resposta excessivamente simples, e observou-a discretamente pelo retrovisor.
Eunha acariciava o pulso esquerdo com uma expressão indiferente. — O da minha mãe. Ela morreu sob uma fenda no primeiro dia em que os portões se abriram. Se passaram trinta anos como você disse, isso significa que negligenciei o túmulo dela todo esse tempo.
Houve um breve momento de silêncio. Então o semáforo mudou. Com as mãos ainda no volante, Si-u não tirou o pé do freio. Um buzinaço soou atrás deles.
— …Onde fica? — Si-u pisou no acelerador. Sentiu o olhar de Eunha se voltar para ele. — Vai ser meio constrangedor se você for presa sozinha de novo, então deixe-me ir com você.
Havia um pequeno cemitério aos pés de uma colina baixa. Parecia fazer muito tempo desde a última visita de alguém, pois o mato tomava conta da estrada de terra. Toda a área ao redor da montanha havia sido um grande cemitério no passado. Eunha havia erguido a lápide da mãe num local isolado ao pé do monte, mas mais tarde a transferiu para um terreno espaçoso e com a melhor vista que conseguiu comprar com o dinheiro que ganhou caçando. Tudo isso graças à sua atuação intensa e promoção rápida.
Mas não adiantou.
Eunha estava agachada diante de uma lápide visivelmente envelhecida. Pensava que haviam se passado dois, talvez três anos no máximo, mas descobriu que havia deixado a sepultura da mãe esquecida por nada menos que trinta anos.
“Até este lugar mudou.”
Em suas memórias, o cemitério era mais limpo e bonito. Eunha fitava o túmulo com olhos vazios. Uma colônia de formigas desenhava pontos pretos sobre a pedra fria. Ela estendeu a mão lentamente e limpou a superfície. Cinzas acinzentadas, parecidas com poeira, sujaram seus dedos. Vestígios de incenso quase queimado apareceram diante de seus olhos. Alguém devia tê-lo acendido ali.
“Quem será?”
Eunha encarava as cinzas com curiosidade. Pelo que sabia, ninguém mais visitaria o túmulo de sua mãe.
Atrás dela, Si-u abriu as palmas das mãos silenciosamente. Flocos de neve pura começaram a florescer a partir delas.
— Não trouxe nada.
Ele se ajoelhou e colocou silenciosamente os flocos de neve diante do túmulo. As pétalas cintilantes refletiam o pôr do sol e brilhavam suavemente.
Eunha desviou o olhar das cinzas em sua mão para Si-u.
— …Obrigada.
— Não foi nada.
Eunha uniu as mãos e fechou os olhos. Repetiu as palavras que queria ter dito, mas que nunca pronunciara, trinta anos atrás. O vestido, inflado pelo vento, ondulava de maneira solitária. Seus longos cabelos negros roçavam as faces secas.
Eunha se levantou e se virou. Seus olhos repousaram sobre uma pequena área além do túmulo, sob a colina silenciosa. Foi por isso que Eunha havia colocado sua mãe naquele cemitério. Dali, podia ver de relance o bairro onde nasceu e cresceu: a estrada que percorria todos os dias para ir à escola, o parque próximo onde ia nos finais de semana, a vista que contemplava toda noite enquanto estendia roupas no varal. Observando tudo aquilo, Eunha pensou: “Quero voltar.”
Queria retornar a esse lugar que permanecia inalterado, diferente de todo o resto. Talvez tivesse deixado ali a vida de que sua mãe tanto falava. No Centro de Treinamento, ao menos, nunca tivera uma vida própria, nem dentro dos portões, nem em meio aos montes de carcaças de monstros. Por isso queria voltar. Mesmo que nada restasse, queria voltar e conferir com os próprios olhos.
A vila onde vivera com a mãe há muito havia desabado, e no lugar dela erguera-se um novo edifício residencial. Olhando para o prédio, Eunha murmurou: — Dali daria para ver a cidade inteira.
Si-u também virou a cabeça, seguindo o olhar de Eunha.
— Ah. Está falando daquele prédio? Ele foi construído recentemente, então deve ser bem caro.
Era uma construção alta, com mais de trinta andares à primeira vista. Considerando o exterior chamativo e o amplo rio que corria atrás do edifício, seria estranho se morar ali não fosse caro. Não havia como a falida Eunha comprar um apartamento daqueles.
Logo, seus lábios escarlates se moveram.
— Você disse que tinha uma sugestão para mim. — A mansão onde ele morava, a maneira como gastava grandes quantias de dinheiro com facilidade na delegacia, as pessoas na mansão chamando-o de ‘mestre’: tudo indicava que ele era rico. Nesse caso… — Quero ouvir.
Whoosh.
O vento soprou. Si-u encarou Eunha. O sol poente sobre a montanha alongava suas duas sombras. Seus rostos, meio escurecidos, tingiam-se de laranja.
— A sugestão era convidá-la para caçar na nossa guilda.
— Caçar?
— Por um ano. Estou pedindo para que trabalhe como mercenária apenas por um ano. Resumindo, para que cace sob contrato. Eu lhe darei 120% do lucro que obtiver nesse período. — Seus olhos se encontraram. Cento e vinte por cento? Si-u sorriu suavemente, como se tivesse lido o olhar curioso de Eunha. — Estou dizendo que vamos lhe entregar os 100% do lucro e ainda adicionar mais 20%.
【A criatura mítica Viajante Felina da Escuridão aconselha apressadamente que você só pode confiar nela e que não deve cair nas palavras doces dele.】
Eunha se esforçou para ignorar as janelas de mensagens que pipocavam furiosamente, e perguntou: — …E você ganha algo com isso?
— Claro que ganho. — Si-u respondeu sem hesitar. Seus olhos azuis, firmes, fixavam-se em Eunha. — Muito. — Era verdade. Si-u precisava desesperadamente de Eunha. Se fosse ela, uma caçadora da primeira geração, com habilidades que superavam as dele, ela com certeza…
【A criatura mítica Viajante Felina da Escuridão abre a boca como se gritasse: — É dinheiro? Você precisa de dinheiro?】
【Você foi patrocinada com 100.000 moedas. Colocar na bolsa? ► Sim / Não】
A janela amarela apareceu agressivamente, como se o gato temesse que Si-u fosse roubar sua amiga. Moedas. Vendo essa palavra, Eunha se lembrou de algo. O gato já havia lhe dado moedas antes também. Ela ainda não sabia como usá-las nem qual seu valor em comparação ao dinheiro real.
“Seria mentira dizer que não estou curiosa.”
Mas uma coisa ela sabia: a moeda de que precisava para recuperar suas memórias era o dinheiro de verdade.
— Se você cumprir o contrato por um ano, terá dinheiro suficiente para comprar tudo o que quiser.
— Você acha que sabe o que eu quero? — Eunha perguntou.
Si-u sorriu suavemente e apontou para baixo, para o sopé silencioso da colina.
— Não apenas um apartamento naquele prédio. Você poderá comprar o condomínio inteiro.
Os olhos de Eunha se arregalaram de surpresa. Houve um breve silêncio. Ela alternou o olhar entre Si-u e a paisagem antes de abrir a boca lentamente:
— Tem certeza?
Pensando bem, tudo o que Eunha sabia fazer era destruir monstros. Poderia voltar ali dentro de um ano. Se apenas isso estivesse garantido, ela poderia decepar algumas centenas de monstros e trazer suas cabeças para ele.
— Se não for suficiente, acrescentarei mais. — Si-u sorriu e lhe entregou um cartão de visitas que tirou do bolso.
<Lobo>
Si-u Shin, CEO da Administradora Lua Prateada
010-XXXX-XXXX
【A criatura mítica Viajante Felina da Escuridão grita: — Quanto você precisa? Quanto?!】
【Você foi patrocinada com 100.000 moedas. Colocar na bolsa? ► Sim / Não】
“Desculpe, mas moedas são diferentes de dinheiro real.”
…Mas dinheiro era dinheiro. Era melhor aceitá-las primeiro. Depois de pressionar o botão ‘Sim’, Eunha voltou a olhar para o cartão de visitas. ‘Lobo’ a palavra simples gravou-se nitidamente em sua mente. Sob o céu noturno escuro, seus olhos negros permaneceram fixos no cartão de Si-u por um bom tempo. Lentamente, ergueu a cabeça. Seus lábios se entreabriram levemente, com o sangue ressecado sobre eles.
— Certo.
Ela não tinha mais motivos para hesitar.