
Capítulo 609
O Retorno do Professor das Runas
O poder que fluía pelo corpo de Garina através de suas runas falhou. Ela era experiente demais para ser pega totalmente de surpresa, mas por um breve instante, nem mesmo ela conseguiu evitar que o choque a atingisse como um soco no estômago.
Isso não podia estar certo. Seus sentidos nunca a enganavam. Ela viera atrás de um Rank 7 fugitivo — não daquela garotinha demônio atrevida que realmente conseguira vencer uma discussão contra ela.
Minha presa estava aqui. Não há dúvida disso. Sinto a perturbação.
Uma armadilha, então? Alguém tentando explorar uma fraqueza para me pegar desprevenida? Não sei nem como descobririam isso, mas quem pensa que algo assim vai me derrubar está muito enganado.
Seus sentidos explodiram em todas as direções. Garina poderia estar em qualquer lugar dentro de todo o reinozinho ao seu redor se quisesse. Sua mente podia se estender de uma ponta à outra, então vasculhar uma floresta queimada não era nada para ela.
Ninguém neste canto esquecido do mundo podia se igualar a Garina. Qualquer Rank 7 que ousasse se esconder para uma emboscada, não importando quanta informação tivesse conseguido sobre ela, seria encontrado e sumariamente tratado.
Apareça, filhote.
O canto do lábio de Garina se elevou em antecipação à vitória garantida.
Então voltou a ficar reto.
Ela não encontrou nada.
Havia rastros de um Rank 7 — uma perturbação centrada diretamente sobre a Demônio Peixe e o grupo ao redor dela —, mas não havia uma única runa de Rank 7 nesta floresta além da de Garina.
Seus olhos se contraíram de raiva. Isso era impossível. Ela se recusava a aceitar. Deixar um Rank 7 escapar de suas garras já era ruim o suficiente. Mas agora, depois de se preparar por tanto tempo, acontecer de novo era como se alguém estivesse cuspindo direto em sua boca aberta.
“Onde eles estão?”, Garina perguntou, sua voz tão afiada e fria quanto gelo negro.
“Quem?”, a Garota Peixe perguntou, olhando em volta.
“Não brinque comigo”, Garina retrucou.
Ela se arrependeu instantaneamente. Gritar com uma criatura fraca era inferior a ela, e isso só aumentou ainda mais seu aborrecimento. Essa era a segunda vez que ela era derrotada em palavras por uma criança quase goblin, e na segunda vez, bastou uma única palavra para quebrá-la.
“Você sabe quem”, Garina rosnou. “Fui chamada aqui. Isso não foi um engano. Não sou tola, garota. Não importa o que eles tenham te pago — não importa o que você pense que vai conseguir com isso —, você não vai. Desobedeça-me e morra.”
“Acho que você deve estar com fome.”
Eu estou com fome. Eu nem quero estar aqui. Eu deveria estar comendo um sanduíche com Fredrick agora, não caçando algum Rank 7 idiota que acha que seria uma boa ideia puxar minha corrente. Que se fodam as regras. Vou rasgar esse idiota ao meio quando o encontrar.
“As únicas pessoas aqui somos nós”, disse o homem de aparência desleixada ao lado da Garota Peixe. Suas feições eram estreitas em suspeita. Ele colocou a mão no livro enorme em suas costas como se estivesse planejando tentar acertá-la com ele. “Como você chegou aqui e o que você quer?”
Isso é estranho.
Não havia medo nos olhos do homem. Não estava presente em sua postura também. Uma pequena carranca se formou nos lábios de Garina. Quanto mais ela olhava para ele, mais torto algo parecia. Seus sentidos foram refinados ao longo de anos de vida, e havia algo errado com o mortal diante dela.
Levou quase um segundo para ela perceber o que era.
Ele não parecia um mortal.
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Um Rank 7 se escondendo?
Seu domínio roçou o dele.
A carranca de Garina se aprofundou. Ele estava longe de ser um Rank 7. Não era este que ela estava procurando. Ela escaneou a Garota Peixe com resultados semelhantes. Isso deixou apenas o demônio sem braços deitado na terra aos seus pés. Ela era um Rank 6.
Não é nenhum deles. Eu seria capaz de sentir uma runa de Rank 7 não importa quem estivesse escondendo se estivesse bem ao meu lado.
Onde esse filho da puta está? Não dou a mínima para o que está acontecendo. Eu só quero terminar com isso e voltar. Cada segundo que eu perco aqui é um que eu não vou recuperar.
“Eu não vou avisar duas vezes”, Garina disse, seus lábios se afinando. “Me diga onde está o Rank 7. Não pense que você pode bancar o esperto comigo porque tivemos uma interação amigável. Esta é sua única e exclusiva oportunidade de me dizer o que está acontecendo. Deixe passar e eu vou enforcar você com o idiota tentando passar a perna em um Apóstolo.”
“Rank 7?” o homem desleixado inclinou a cabeça para o lado. O canto de seu lábio se contraiu. “Por que você está procurando um Rank 7? Não há Rank 7s no reino. Isso é conhecimento comum.”
Havia algo presunçoso em sua voz que irritava Garina até o fim. Ela era a presunçosa. As pessoas não respondiam a ela. Elas rastejavam a seus pés. Não teria sido nada mais do que um mero pensamento dela para moer cada um dos mortais diante dela em uma pasta com sua Força Rúnica — e só por essa razão, ela não podia usá-la.
O dia em que eu for forçada a liberar minha Força Rúnica contra um Rank 6 e alguns ranks inferiores medíocres é o dia em que eu entrego a eles a coleira e morro de vergonha.
“Você parece não entender a situação”, Garina disse, seus lábios se retraindo para mostrar seus dentes. “Eu não me oponho a arrancar sua cabeça limpa de seus ombros e enfiá-la tão fundo em sua bunda que ela saia pelo seu pescoço, garoto. Última chance. Rank 7. Onde eles estão?”
Algo no olhar do homem mudou novamente.
O corpo de Garina enrijeceu. Arrepios picaram a nuca dela.
O que é isso?
Ele parece… familiar.
“Meu nome é Vermil”, o homem disse. “Você deveria saber disso. Nós jantamos juntos, Garina. E se eu estiver sendo honesto, eu preferi o cara careca a você. Quanto ao seu Rank 7 — estou tendo a sensação de que a única maneira de você encontrar um desses aqui é se olhar em um lago calmo.”
“Você está mentindo”, Garina disse secamente. “E você não vai gostar do que acontece a seguir.”
“Por que eu mentiria?” Vermil inclinou a cabeça para o lado. “Eu nunca colocaria meus aliados em risco sem motivo. Não há Rank 7 aqui. Eu faria um Juramento Rúnico, mas acho que todos com meio cérebro sabem o quão inúteis eles são. Você não negou que era um Rank 7 — então você deveria ser capaz de sentir outro, certo?”
Ele não está errado sobre isso… ou sobre os Juramentos Rúnicos. Estou sendo muito desajeitada. Revelar-me a um bando de magelings fracos como este já é ruim o suficiente. Ver a Garota Peixe me deixou muito mal. Droga.
“Eu não acredito em você. Havia um Rank 7 aqui. Nem tente me dizer que não havia”, Garina disse, caminhando até Vermil para que ficassem nariz a nariz. Ela não tinha certeza por que o havia escolhido em vez do Rank 6 ainda mudo, mas havia algo sobre ele que puxava a parte de trás de sua mente incessantemente. “Onde. Eles. Foram?”
Vermil ergueu os olhos para encontrar o olhar dela sem sequer piscar.
Os arrepios na nuca de Garina se intensificaram. Uma mão fria roçou suas costas enquanto seus sentidos mudavam em desconforto.
Seus olhos estavam errados.
Era tão sutil que ela nunca teria notado se não estivessem tão perto. A diferença nem era algo que um mortal pudesse detectar através de nada além de puro instinto, mas alcançar o Rank 7 liberou uma camada inteiramente nova para o mundo que ninguém mais fraco poderia jamais esperar testemunhar. Revelou verdades que permeavam o universo e deixavam a alma de alguém nua para liberar seu poder — e, por sua vez, concedeu visão para as almas dos outros.
E a alma deste mortal não pertencia ao seu corpo.
Não pertencia de forma alguma.
No fundo de seus olhos espreitava algo familiar. Uma aura pesada e opressiva de uma imensa Runa Divina, um poder que ela só testemunhara em raras ocasiões. A descrença surgiu dentro dela, mas foi contida pelo desconforto ainda crescente.
Havia algo mais no olhar do homem.
Algo antigo — e algo profundamente errado.
“Esse poder… Eu conheço você.”
As veias de Vermil ficaram pretas como azeviche em um instante. Ele empurrou a mão para frente, cravando-a direto no estômago de Garina. O golpe nem se registrou. Seu corpo estava tão reforçado com energia mágica que ela poderia ter sido atingida por uma mosca.
Mas a magia dentro do golpe era outra questão. Garina sentiu, por um instante, aquela sensação familiar nos olhos de Vermil se intensificar cem vezes.
Seu olhar se ergueu.
Uma lança negra despencou em direção a ela como uma estrela cadente.
Garina ergueu a mão. A lança parou abruptamente a uma polegada de seu nariz. Lentamente, ela se virou para olhar para o homem. Ela havia desativado seu domínio para garantir que não esmagaria ninguém por acidente, mas apenas seu corpo já deveria ter sido suficiente para impedir qualquer ataque neste reino fraco e isolado.
E, no entanto, Garina sabia, sem sombra de dúvida, que se a lança a tivesse atingido, teria deixado o menor dos cortes em sua pele.
Seu olhar baixou de volta para o homem. Seu punho se apertou. A lança se estilhaçou.
“Você estava bem debaixo do meu nariz o tempo todo. Não posso acreditar. Você é aquele que ele está procurando.”