O Retorno do Professor das Runas

Capítulo 31

O Retorno do Professor das Runas

Capítulo 31: Envenenado

— Como você pode ter uma reação tão apática ao saber que acabou de agredir alguém da família Linwick? Você não é imune às regras deles só porque faz parte dela! Se alguma coisa, eles vão aplicá-las de forma mais rigorosa, não vão?

— Tecnicamente, eu não fazia ideia de quem era quem eu estava socando. — Noah levantou um dedo. — E ele literalmente me pediu para ensiná-lo. Ele foi ensinado. Não vejo o que fiz de errado.

Isabel lançou-lhe um olhar inexpressivo. — Você percebe que não há a menor chance de alguém acreditar nisso, certo?

— Eu vou dar um jeito. — Noah encolheu os ombros. — O que você queria que eu fizesse? Ficar sentado assistindo ele te agredir? É literalmente a descrição do meu trabalho proteger você de monstros.

Na verdade, não tenho ideia de qual é a descrição do meu trabalho, mas essa parece uma conclusão razoável o suficiente. Não dá para treinar pessoas para lutar contra monstros se você simplesmente as joga lá fora e espera o melhor.

— Você vai argumentar que Edward era um monstro? Isso pode cavar o buraco ainda mais fundo.

— Eu vou ficar bem. Estou honestamente mais chateado por ter perdido aquele livro. Por acaso você viu se havia um segundo?

— Por que alguém faria duas cópias de uma linhagem? Não é como se fosse uma fortaleza Linwick. — Isabel balançou a cabeça e olhou por cima do ombro como se esperasse encontrar um exército de homens Linwick atrás dela com tochas e forcados. — Ainda é propriedade de Arbitrage, no entanto. Linwick ou não, ele vai precisar devolvê-lo eventualmente.

Noah franziu os lábios. — Ah. Nesse caso, você se importa de me dizer por que estava tentando pesquisar minha família?

Isabel desviou o olhar. — Por causa do exame. Um monte de casas nobres vieram assistir seus alunos fazerem o exame. Ouvi dizer que os Linwicks eram um deles, então fui à biblioteca para descobrir quem eles eram.

— Espera, você está me dizendo que acabou de descobrir que Edward era um Linwick alguns minutos antes de mim? Você pareceu tão ofendida quando eu o esmurrei, como se ele fosse uma celebridade menor ou algo assim.

— O quê? Eu não tenho ideia de quem ele é. Eu só vi o nome e a foto dele no livro de linhagem. Achei que você o conhecesse porque ele era da sua família.

— Você conhece todo mundo da sua família?

— Sim.

— Oh. Bem, eu não.

— Evidentemente — Isabel resmungou. — Você não deveria ter se arriscado por mim assim. Não havia razão para isso.

Noah cruzou os braços e lançou um olhar penetrante para Isabel. — Vamos ficar presos em um loop aqui? Eu já te disse, é meu trabalho.

Isabel levantou as mãos em sinal de rendição, virando o rosto para esconder o sorriso que cintilou em seus lábios. — Ok, ok. Obrigada.

— Isso aí. De nada. Agora, acho que seria uma boa ideia sair daqui antes que alguém apareça nos procurando. Só porque eu não acho que fiz nada de errado não significa que os outros concordariam, e eu preferiria lidar com eles nos meus termos do que nos deles.

Noah e Isabel fizeram uma retirada apressada da biblioteca. Estava tão deserta do lado de fora quanto antes, e não havia sinal de Edward quando eles emergiram para a luz do dia mais uma vez.

— Onde diabos está todo mundo, afinal? — Noah perguntou.

— Eles estão todos puxando o saco das casas nobres, tentando entrar — Isabel respondeu, com uma nota amarga na voz.

— Ah. Isso explicaria muita coisa, na verdade. Por que você não está?

— Minha família está na lista negra. — Os olhos de Isabel estavam frios, como se desafiassem Noah a insistir na pergunta. Ele entendeu a dica e deixou o assunto cair.

— Você tem algum lugar seguro para ir?

— Sim. Eu não sou quem eles vão ficar bravos — disse Isabel. Ela fez uma pausa por um momento. — Espero. Você ainda deveria estar mais preocupado consigo mesmo.

— Eu sou um garotão. Eu vou ficar bem. — Noah acenou para ela de forma desdenhosa. — Xô. Eu não deveria estar dando aula hoje, lembra? Espero te ver amanhã no nosso horário normal na sala de aula. Não se atrase.

— Você é quem sempre se atrasa!

Noah se afastou, levantando a mão em despedida. Assim que Isabel estava fora de vista, ele pegou sua espada voadora e pulou nela, rasgando as ruas em direção ao seu quarto. Apesar de suas palavras, ele não tinha absolutamente nenhuma ideia de quão seriamente os Linwicks levariam a afronta, especialmente porque ele não tinha mais uma boa maneira de aprender sobre eles.

Isso deixou apenas uma opção. Esperançosamente, ela ainda estava em casa.


— Sério? — Moxie exigiu, cruzando os braços e olhando furiosamente para Noah. — Vou reclamar de assédio a essa altura. O que você quer de mim?

— Nunca fiquei tão feliz em te ver em casa — disse Noah. Ele olhou por cima do ombro, então acenou com os dedos para ela. — Me deixe entrar.

— Não.

— Por favor?

— Por que eu te deixaria entrar? Como é que você conseguiu chegar à conclusão de que eu gosto de você o suficiente para querer falar com você, muito menos te deixar entrar no meu quarto?

— Talvez eu tenha sido encantado por sua atitude carinhosa e afetuosa.

Eles se encararam por um momento. Noah suspirou.

— Certo, isso foi um pouco exagerado. Não acho que ninguém jamais seria atraído por nada sobre sua atitude. Eu realmente quebrei o nariz de um pirralho Linwick e estou tentando descobrir o quão grande é esse deslize.

Moxie inclinou a cabeça para o lado e apertou os lábios. — Sua primeira mentira era pelo menos um pouco acreditável. Tente de novo?

— Não, essa era realmente a verdade.

Moxie se inclinou ligeiramente para frente. Seu olho se contraiu. — Você está brincando.

— Não. Foi ótimo, para ser honesto. O garoto era um idiota enorme. Ele mereceu.

— Quem era?

— Acho que o nome dele era Edward.

Moxie deu um passo para trás. Noah tomou isso como um convite e entrou no quarto dela, fechando a porta atrás de si. Moxie tinha feito muito mais para decorar seus aposentos do que ele.

Seus lençóis eram verde musgo, entrelaçados com um padrão de folhas. Uma longa tapeçaria pendurada acima de sua mesa, retratando um sol azul brilhando sobre um belo riacho na floresta. A porta do armário dela estava torta, e uma pequena pilha de suas roupas tinha sido empurrada para o canto sob os uniformes nos cabides.

Moxie passou por Noah e bateu a porta do armário.

— Já olhou o suficiente?

— Não — respondeu Noah. — Acho que suas decorações estão faltando uma grande pilha de papéis no chão para proteger contra qualquer possível Andarilho da Pele.

O canto dos lábios de Moxie se curvou para cima por um instante. Ela se repreendeu e olhou feio para Noah.

— Cale a boca. Nós concordamos em não mencionar isso.

— Não vejo mais ninguém aqui. — Noah puxou a cadeira dela. — Se importa se eu sentar?

Moxie suspirou. — Vá em frente.

Ele a girou e se abaixou nela. Tinha uma almofada que era realmente surpreendentemente confortável.

— Então, sobre meu pequeno incidente de ensino — disse Noah, limpando a garganta. — Em minha defesa, ele começou.

Moxie caminhou até sua cama e se encostou nela, erguendo uma sobrancelha para ele. — É melhor você me contar a história. Metade da razão pela qual eu te deixei entrar é porque mal posso esperar para me deleitar em quão ferrado você está.

— Ele estava abordando uma das minhas alunas. Eu disse para ele parar, e ele me disse para fazê-lo. Eu o fiz. Bem simples, na verdade.

Moxie esperou um momento para Noah adicionar algo, mas ele não o fez. Seu sorriso desapareceu lentamente.

— Você não pode me dizer que é só isso. Nada mais?

— Não. Ele foi chutar uma das minhas alunas. Eu interferi. Ele me desafiou e me disse que eu não poderia machucá-lo quando ele estivesse com seu Escudo levantado.

— Você é um Rank 1. Logicamente, você não pode. Edward faz parte do ramo principal dos Linwick, e ele é considerado um tanto competente. Ele tem um Escudo de Rank 2. Você deveria saber disso, considerando que ele é seu primo. Mas como você conseguiu machucar Edward se ele tinha seu escudo?

— É essa incômoda perda de memória — disse Noah, batendo na cabeça. — Ups. E eu o soco.

— Você o quê?

— Você sabe. Soco. — Noah imitou socar o ar na frente dele. — Tipo isso.

— Eu sei o que é um soco, idiota — Moxie rebateu. — Mas como você o socou?

Noah olhou para Moxie. — Você quer uma demonstração ou algo assim?

Moxie esfregou a ponte do nariz. — Sabe de uma coisa? Vá em frente. Tente me socar. Eu não vou revidar.

Noah se levantou e contornou a cadeira. Moxie o observou, sua expressão ilegível, mas seu corpo imóvel. Não era preciso ser um gênio para perceber que ela estava tentando provar um ponto, mas Noah a atendeu.

Ele cutucou o rosto de Moxie. Uma videira saiu de um de seus bolsos, batendo em seu pulso para o lado com força suficiente para doer. Noah sacudiu a mão.

— Ai. Pensei que você tinha dito que não ia revidar?

— Eu não estava. Isso nem é intencional — disse Moxie. — Meu Escudo protege contra ataques mundanos também. Todos eles protegem, em graus variados. Edward tem um Escudo de Rank 2, então o dele deveria ter bloqueado um mero soco sem nenhum problema. É preciso um pouco de atenção para ativar as funções defensivas, mas a menos que você o tenha socado de surpresa, não há como você ter acertado o golpe.

Noah esfregou o queixo. — Bem, eu disse a ele que estava vindo. Posso demonstrar exatamente o que fiz, se você acha que isso ajudaria.

— Vá em frente. — Moxie ergueu uma sobrancelha.

Noah invocou sua magia do Vento, formando uma lâmina giratória acima de sua palma. Ele se inclinou para trás e lançou sua mão para frente, liberando a magia um instante antes de enfiar a mão para dentro e fazer a transição de seu movimento para seu outro punho.

Os olhos de Moxie se arregalaram em choque. Sua videira se moveu um instante tarde demais para bloquear o golpe e ela se inclinou para trás, evitando por pouco o ataque. Ela se endireitou, olhando para Noah em descrença. — O que você acabou de fazer?

— É uma finta. Não é realmente tão inovador. Por que você parece tão impressionada?

Moxie balançou a cabeça. — Não. Isso não é apenas uma finta. Não consigo descrever, mas... gah, não consigo descrever. Era como se cada parte de você estivesse focada naquele feitiço, e eu também estava. Seu punho simplesmente veio do nada. Você não mudou sua postura nem um pouco.

— Quer dizer que eu teria te acertado se você não estivesse pronta para isso?

Moxie rangeu os dentes e inclinou a cabeça ligeiramente. Ela se afastou da cama e entrou em seu banheiro, voltando com um jarro de cerâmica branca de água e um copo combinando. Ela se serviu uma bebida e a esvaziou de uma só vez.

— Sim, você teria. O que está acontecendo com você, Vermil? Eu sei o que você pode fazer. Eu lutei com você depois... — O rosto de Moxie se enrugou em desgosto. — Você sabe. Eu te esmaguei, e você não mostrou um único sinal de nenhuma habilidade. Agora você está entrando em brigas por causa de seus alunos.

— Um golpe na cabeça pode fazer maravilhas a uma pessoa. Você deveria tentar isso alguma hora.

— Você só veio aqui para fazer comentários espirituosos ou queria minha ajuda?

— Desculpe — disse Noah. — Juro que normalmente não é tão ruim. Algo em você me dá vontade de ser um espertinho. E eu estou mais esperando que você possa me dizer se eu preciso começar a me preparar para um bando de idiotas raivosos me atacarem por disciplinar o filho deles.

Moxie soltou uma risada. — Você não vai ser assassinado por sua própria família. Você não os traiu. Eles definitivamente vão tentar fazer você pagar, no entanto. Se eu fosse professora de Edward, eu te desafiaria para alguma coisa e tentaria te humilhar. Ninguém viu Edward ser espancado além do seu aluno, então provavelmente não será tão ruim.

Ah. Ainda bem que eu não os traí. Heh. É melhor garantir que eles nunca descubram sobre eu compartilhar aquelas Runas. Idiotas gananciosos. [1]

[1] - Runas: Símbolos arcanos com propriedades mágicas, nesse contexto, compartilhados ilegalmente.

— Ah, que bom ouvir isso — disse Noah, soltando um suspiro de alívio. — Eu posso lidar com isso. Você fez parecer que a situação era muito pior do que era.

— Eu estava esperando poder participar. Teria sido o destaque da minha semana.

— O que está te impedindo?

As feições de Moxie se endureceram. — Você estava ajudando seu aluno. Como um professor de verdade, não o verme patético que eu pensava conhecer. Eu não posso ficar contra você nesta situação, não importa o quanto eu adoraria.

Noah piscou. Moxie estava olhando para ele com algo próximo ao respeito. Não estava bem lá, mas era a expressão menos irritada que ele já tinha visto ela direcionar a ele.

— Obrigado, eu acho. Isso significa que somos amigos agora?

— Talvez aquele golpe na cabeça realmente tenha te feito um favor — disse Moxie. — Mas não tenha ideias. Não somos amigos, Vermil. Eu não gosto de você, mesmo que você tenha tomado uma decisão ligeiramente respeitável entre mil decisões repugnantes.

— Justo o suficiente. — Noah encolheu os ombros. Sua mão roçou a cabaça ao seu lado e ele parou por um momento. Ela ergueu uma sobrancelha.

— O que foi?

— Eu estava apenas tentando me lembrar de algo. — Noah deu um tapinha na cabaça. — Você... por acaso não me deu isso, deu? Eu tenho carregado isso como meu amuleto da sorte, mas não consigo me lembrar de onde tirei isso.

— Se você pensa por um instante que eu te daria algum tipo de presente, especialmente uma poção de cura, você está redondamente enganado. Confie em mim, se eu fosse te dar uma poção, ela estaria envenenada.

Noah olhou para Moxie por um instante, então riu. Ela apenas balançou a cabeça.

— Agora saia do meu quarto. Eu te disse o que você queria ouvir, e eu posso realmente morrer de vergonha se alguém descobrir que estou falando com você sem colocar sua cabeça através de uma parede primeiro.

— Obrigado pela ajuda, então. Até mais.

Isso quase confirma. Eu não acho que Moxie foi quem tentou me envenenar. Então... quem foi?