Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

Capítulo 805

Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

Agente das Estrelas era a autoridade que Sven Parav obteve algum tempo atrás por meio de um evento do tipo despertar, quando arriscou a própria vida para ajudar pessoas a escaparem de um templo em chamas. Após algumas rodadas de testes, concluí que, depois de despertar, ele havia obtido o bônus de Perfeição, algo que apenas santos podiam receber.

Não que eu tenha descoberto exatamente que tipo de habilidade era o Agente das Estrelas.

Então, qual era a condição de ativação dela, alguém poderia perguntar?

Era uma habilidade que eu nunca tinha visto em todos os meus longos dias jogando esse jogo, uma autoridade que uma deusa havia concedido pessoalmente a ele. Já que essa habilidade, sem dúvidas, seria de grande ajuda no futuro, eu pretendia descobrir sua condição de ativação testando várias coisas na cidade, mas tudo o que tentei falhou. Cheguei até a me perguntar se só seria possível usá-la dentro do labirinto, então retomamos os testes assim que entramos, apenas para, mais uma vez, não obter resultado algum.

— Funcionou… do nada?

E ainda assim, o Agente das Estrelas havia sido ativado. Como prova disso, o corpo inteiro de Parav estava envolto por uma luz prateada suave.

— Oh ho ho. Faz tempo, Bjorn Yandel.

Além disso, embora a voz fosse a mesma, soava completamente diferente do Sven Parav de sempre.

— Jamais imaginei ver você desistir. De fato, foi algo surpreendente de se presenciar. Bem, todo herói tem um momento de fraqueza. Você sofreu bastante.

A maneira como ele cobria a boca com a mão, a expressão gentil no rosto, os movimentos e a postura do corpo, esses pequenos gestos me pareceram instintivamente muito femininos. E havia também o fato de Parav ser um paladino…

De repente, tudo se encaixou.

— Você é… Reatlas? — perguntei hesitante.

Ao invés de responder, Parav escondeu um sorriso com a mão. — Oh ho…

Aquela risada foi a resposta. Eu não sabia o que tinha acontecido, mas Reatlas havia entrado no corpo de Sven Parav.

“Seria uma habilidade do tipo encarnação…?”

Isso tornava tudo ainda mais estranho. Mesmo que você evoluísse seu personagem para santo no jogo e usasse Encarnação, só seria possível tomar emprestada a autoridade de seu deus e usá-la. Um deus descendo diretamente através do corpo de seu apóstolo era algo inédito.

“Ainda assim, acho que isso não importa agora.”

Apesar das inúmeras perguntas que tinha, decidi focar em uma acima de todas.

— Você pode nos tirar dessa situação?

Seria essa a nossa salvação?

Diante da pergunta, Parav… Não, Reatlas deu uma risadinha.

— Quem sabe?

O quê… Como é?

— Embora, suponho que eu não estaria aqui se não pudesse, certo?

Sério. Uma piada agora, justo agora?

— Não posso fazer muito por vocês, mas sua situação não é tão ruim assim — ela concluiu, e assim que disse isso, o selo de um minuto sobre Sniktura chegou ao fim, e a criatura soltou um rugido.

Reatlas ergueu a mão e soltou um simples:

— Hap! — E então, uma parede prateada translúcida surgiu entre nós e Sniktura.

Boom!

A serpente arremessou seu corpo contra a parede repetidamente, mas a barreira permaneceu firme. Tendo realizado o milagre de prender um monstro de primeiro nível como se não fosse nada, Reatlas, ainda como Sven Parav, apenas deu de ombros e se virou para nós com uma piscadela.

— Por quanto tempo consegue segurá-lo? — perguntei, impressionado.

— O suficiente para salvar suas vidas.

— Kyaaaaaaak!

Sniktura continuava rugindo furiosamente do outro lado da barreira, mas eu já não prestava atenção. De algum modo, algo ainda mais surpreendente que um monstro de primeiro nível havia surgido diante de nós, e os outros membros demonstraram rapidamente sua fé nesse milagre.

— V-Você é mesmo a Senhora Reatlas…? É m-mesmo?

— Oh ho…

— C-Céus… Que a bênção da estrela do crepúsculo esteja conosco…

Enquanto a maioria se prostrava, havia um que demonstrava abertamente hostilidade. Era ninguém menos que Beleg, que havia finalmente se levantado após ser curado.

— Você é… realmente Reatlas?

Mais uma vez, Reatlas também não respondeu a ele. Porém, parecia que tudo o que ela havia demonstrado até então já era resposta suficiente. Sem esperar por uma resposta, Beleg continuou fazendo perguntas.

— Por quê? Por que aquela criança precisava morrer? Foi esse o destino que você escolheu para ela?

Mais uma vez, Reatlas não respondeu, apenas olhou para ele com olhos cheios de compaixão. A simpatia em seu olhar só alimentou ainda mais a raiva de Beleg.

— Responda! — ele gritou. — Se é mesmo a deusa que preside o destino, então me responda agora…!

Bang!

Apesar da fúria em ebulição de Beleg, ele infelizmente foi interrompido. Teria sido aceitável se tivesse limitado sua raiva aos gritos, mas foi além, deu um passo à frente com provável intenção de avançar.

— Ugh!

Quem o deteve e o jogou no chão não fui eu, mas Kaislan.

— Não a desrespeite. É apenas pela vontade dela que ainda estamos vivos — ordenou Kaislan, com a respiração pesada. — Entendo que você deve ter muitas perguntas. Eu também perdi alguém precioso. Mas você sabe muito bem que ela não é quem você deve confrontar.

Beleg permaneceu em silêncio, em total contraste com seu acesso de raiva anterior.

— Vou considerar que entendeu minhas palavras e deixá-lo ir. Por favor, não cometa outro erro.

Kaislan então o soltou, mas Beleg não demonstrou intenção alguma de se levantar do chão. Apenas ficou ali, olhando para o vazio.

“Mesmo que ela tenha descido através de Parav, um poder daquele nível não pode ser mantido por muito tempo.”

Estaria mentindo se dissesse que não sentia nenhuma simpatia por Beleg. Eu mesmo tinha muitas perguntas que gostaria de fazer, mas havia algo mais urgente. Muito provavelmente, Reatlas deixaria o corpo de Parav assim que a situação fosse resolvida. Precisava confirmar uma coisa antes disso.

— Qual é a condição de ativação da autoridade? — perguntei.

— B-Bjorn! C-Como pode falar assim com a Senhorrra Reatlas?! — Missha repreendeu em tom escandalizado.

Do que ela estava falando? Ignorei.

— Não precisa se preocupar com ela, só me responda.

— Deseja mesmo saber? — Reatlas perguntou após um momento. — Talvez seja melhor não saber.

Se qualquer outra pessoa dissesse aquilo pra mim… Mas essa era uma deusa, a deusa do destino, nada menos. Até eu, de todas as pessoas, fui forçado a reconsiderar.

Mesmo assim, acabei decidindo:

— Ainda quero ouvir.

Se ignorância era uma bênção, essa bênção era passageira. Ela só me permitiria um breve momento de alívio antes que as ondas da dor inevitavelmente me atingissem.

— Se essa é a sua decisão. — Reatlas então revelou: — Só é possível que eu desça ao mundo por meio dessa autoridade quando o destino de Sven Parav, naquele momento, for a morte certa.

Eu nem consegui rir. Para essa ser a condição… Era por isso que nada funcionava, não importava o que tentássemos na cidade.

Ainda assim, havia uma coisa que eu não entendia.

— Por que seria melhor eu não saber disso?

— No momento em que Sven Parav descobrir a condição, se tornará dezenas de vezes mais difícil para ele usar essa autoridade.

— O quê? — recuei, surpreso.

— É difícil explicar em detalhes com tão pouco tempo disponível… Para simplificar, no momento em que ele souber a condição exata de ativação, vai passar a depender da autoridade. Quando isso acontecer, dois destinos diferentes existirão ao mesmo tempo, e eu não posso intervir em um destino incerto.

Mesmo com essa explicação, ainda não consegui entender.

Reatlas leu minha expressão, percebendo facilmente minha confusão.

— Oh ho, é por isso que disse que era difícil de explicar. Se tiver dificuldade para entender, apenas se lembre disso: como eu disse antes, no momento em que Sven Parav descobrir a condição de ativação, será dezenas de vezes mais difícil para ele usá-la. Entendido?

— Já memorizei.

— Ótimo, ótimo…

Reatlas então me lançou um sorriso consolador, como de mãe para filho. A intenção estava ali, embora um pouco ofuscada pelo fato de ela estar fazendo tudo isso usando o corpo de Sven Parav…

— Mais importante, há algo que devo lhe dizer.

Pisquei, surpreso por haver mais.

— O destino é chamado assim porque sempre chega da mesma forma — continuou a deusa.

— O que está tentando dizer?

— Neste momento, Sven Parav alterou seu destino, e com isso, os destinos de muitos outros que deveriam ter morrido aqui com ele.

Cerrei os dentes.

— E? Vá direto ao ponto.

— O destino que vocês evitaram hoje retornará sem falta.

— Então só sobrevivemos hoje, mas todos vamos morrer no fim?

— Bem, por que acha que todos vocês vão morrer? — Ela me encarou com o mesmo sorriso ao dizer: — Bjorn Yandel, mesmo sem minha intervenção, você não teria caído hoje. Mesmo que tenha hesitado por um momento, teria recuperado sua vontade e lutado até o final.

— Então… O que está tentando dizer?

Aquele sorriso nos lábios de Reatlas cedeu apenas um pouco, voltando a algo que eu não conseguia nomear, mas ela não disse mais nenhuma palavra em voz alta.

— ⟅Sete pessoas.⟆

Me encolhi ao ouvir sua voz ecoando na minha mente.

— ⟅Lembre-se disso, Bjorn Yandel. Neste lugar, sete pessoas evitaram a morte em seu tempo certo, e seja rapidamente ou lentamente, esse destino retornará a elas. Portanto, cuide dele o melhor que puder. De certo modo, entre toda a humanidade, ele é o mais parecido comigo. Quem sabe? Talvez, se ele crescer e crescer até alcançar uma classe própria… possa um dia ser capaz de mudar não apenas seu destino, mas o destino de outros também.⟆

Com isso, Reatlas voltou a falar em voz alta:

— Bem, então, este é o fim.

— O fim?

— Oh ho, nos vemos da próxima vez.

Com uma despedida repentina, o corpo de Parav desabou no chão.

“Mas ainda não haviam se passado nem três minutos. Restavam mais dois até Sniktura morrer.”

Diferente de antes, a barreira antes inquebrável começou a rachar conforme Sniktura arremessava o corpo contra ela.

Boom! Boom!

Pelo número de rachaduras, ela só resistiria a mais quatro ou cinco impactos antes de se estilhaçar completamente.

“E ela simplesmente vai embora?”

Reatlas com certeza disse que poderia conter o monstro tempo suficiente para todos nós sobrevivermos, então o que era aquilo? Ela havia mentido?

Crackle!

Justo quando meus pensamentos começaram a tomar um rumo sombrio, o alto-falante, que deveria estar quebrado, voltou à vida com um chiado, enquanto a porta que Arta havia fechado se abriu, transmitindo uma voz familiar com um leve efeito mecânico.

— Oh! Ei! — gritou a voz. — V-Vocês me ouvem?

— Auyen…?

— P-Por favor, saiam daí, rápido!

Tudo ficou claro naquele instante, e meu corpo relaxou com o alívio.

Certo. Então era isso que ela quis dizer que aconteceria.


Peguei o Parav desmaiado, e assim que todos saíram do local de testes, Sniktura finalmente atravessou a barreira e investiu contra nós. A porta se fechou atrás de nós por um triz, impedindo que ele nos alcançasse.

Boom, boom! Bang!

Embora Sniktura continuasse a arremessar a cabeça contra a porta, ela nem se mexia, o que significava que eu podia relaxar um pouco.

— Ufa! Ainda bem que não cheguei tarde demais!

Perguntei rapidamente para o alto:

— Auyen, o que aconteceu? — Como Auyen estava falando pelos alto-falantes se eu o impedi de entrar na sala do chefe conosco? — Você entrou na sala de controle?

— E-Eu não sei o que é uma sala de controle…

— Consegue ver o local de testes pelos dispositivos aí em cima?

— Sim! Consigo ver!

Então ele estava lá. A questão era: como?

A razão acabou sendo bem simples.

— Como você disse, eu estava esperando lá em cima vocês voltarem, mas as portas ao meu redor começaram a abrir e fechar rapidamente. Achei que algo tinha dado errado e entrei por uma das portas que abriu.

Aparentemente, algo havia dado errado com as máquinas lá em cima depois que destruímos tudo no local de testes também.

Bem, isso fazia sentido. A sala de comando ficava acessível depois de derrotar Arta, afinal.

— Mas quando entrei, consegui ver a situação da sala onde vocês estavam. Quando ouvi você gritar pra abrir a porta, testei todos os dispositivos e ela abriu, e também consegui falar com vocês!

Ou seja, foi uma cadeia de eventos totalmente imprevista. Embora, também não dava pra chamar de coincidência pura.

“Então isso sempre teria acontecido…”

Muito provavelmente, os eventos se desenrolariam mesmo sem o uso do Agente das Estrelas. Teríamos sido lançados em uma batalha feroz e, depois que as sete pessoas de quem Reatlas falou morressem, escaparíamos por um triz pela porta e sairíamos do local de testes.

Não consegui evitar de virar o rosto quando a parede tremeu com mais um estrondo. Isso também levou Auyen a falar novamente pelo alto-falante.

— Ele ainda está se debatendo na sala. Q-Que tal acordarmos todo mundo, só por precaução?

— Não, vai ficar tudo bem.

— Certo… Então, devo descer também?

— Não, fique aí e espere por nós.

— Entendido.

Boom! Bang! Boom!

A porta continuou a reverberar com os impactos do outro lado por um tempo, até que, finalmente, o intervalo entre os impactos ficou mais curto e distinto. Então, os impactos pararam de vez.

Será que finalmente morreu?

Nem precisei pensar muito. O impacto da experiência adquirida ao derrotar um monstro de primeiro nível era inconfundível.

【Você derrotou Sniktura. EXP +9】

Sniktura estava morto.

— E-Ele desabou, Capitão!

Como recebi a confirmação lá de cima, não precisava mais me preocupar. De alguma forma, depois de tudo aquilo, conseguimos derrotar um monstro de primeiro nível sem perder uma única pessoa.

“A essência.”

Quase perguntei se havia deixado uma essência, mas consegui me segurar.

— Auyen, abra a porta.

É. Certas coisas a gente precisa confirmar com os próprios olhos.