Capítulo 806
Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro
Se você comparasse a diferença entre um monstro de oitavo nível e um de nono nível, digamos, um goblin e um demônio da morte, eles eram mundos à parte. No entanto, a diferença relativa entre os dois não era tão grande assim, pelo menos se comparada ao abismo que existia entre um monstro de segundo nível e um de primeiro nível.
Normalmente, cinco aventureiros de nono nível podiam derrotar facilmente um monstro de oitavo nível. O mesmo valia para cinco aventureiros de oitavo nível contra um monstro de sétimo nível. Essa fórmula se mantinha verdadeira por um bom tempo.
“Até mais ou menos o terceiro nível.”
Para um monstro de terceiro nível, eram necessários pelo menos doze aventureiros de quarto nível para uma raid, e uma força expedicionária inteira de trinta aventureiros de terceiro nível para enfrentar um monstro de segundo nível.
Então, o que dizer de um monstro de primeiro nível?
Na verdade, cada monstro de primeiro nível era único à sua maneira, então era difícil generalizar. Porém, considerando quantos aventureiros de elite perdemos durante a investida contra o Lobo da Profecia, Kashan, na Ilha da Biblioteca, mesmo com centenas de pessoas presentes…
“Não pode ser padronizado.”
Eu pelo menos tinha certeza disso.
Um monstro de primeiro nível estava em um nível completamente diferente de um monstro de segundo nível. Era justamente por esse motivo que possuir uma essência de primeiro nível fazia de um aventureiro o assunto da cidade.
“O Olho Demoníaco era um exemplo perfeito disso.”
De qualquer forma, isso não era o mais importante agora.
Talvez por causa dos inúmeros amassados que Sniktura havia deixado, a porta não abriu suavemente como antes, mas sim com um rangido choroso.
Enquanto observava a fresta se alargando, meu coração disparava.
Ba-dump!
Será que havia dropado ou não?
Creeeak!
Talvez fosse toda a dopamina inundando meu cérebro, mas parecia que a porta se abria em câmera lenta.
Boom!
Quando a porta finalmente parou, obtive minha resposta através da realização gaguejante da Raven.
— I-Isso é… É uma essência… C-Certo?
Esfreguei um pouco os olhos antes de responder:
— Behelaaah…
Sniktura havia derrubado sua essência.
A influência de uma essência de primeiro nível era imensa.
— Uau…
— Então é assim uma essência de primeiro nível…
— Adnus, espero que não esteja pensando em fazer nenhuma besteira.
— Ahem, só estou expressando minha admiração.
— Mas, sinceramente, só a aura que emana dela já é de outro nível…
Todos ficaram boquiabertos diante da majestade misteriosa da essência. Eu não os culpava. Mesmo alguém que tivesse trabalhado como aventureiro a vida inteira raramente teria a oportunidade de testemunhar uma essência de primeiro nível pessoalmente.
Além disso, como alguém havia comentado, a cor dela também era diferente de uma essência comum.
— São duas cores…?
Flutuando no ar com uma luz cintilante, a essência de Sniktura era composta por duas cores diferentes. Elas não estavam misturadas, mas separadas em um padrão de yin-yang.
— Ah, já ouvi falar disso antes — comentou Raven. — Dizem que algumas essências de primeiro nível são assim.
— Já que são duas cores, será que também concedem duas habilidades?
— Sim, pelo que ouvi dizer.
— Então essa essência…
— Quem sabe? Nem eu sei muito. Informações sobre essências de primeiro nível são extremamente raras… Para ser sincero, são tratadas mais como lendas.
— Ainda assim, não surgem algumas pessoas a cada geração que possuem uma?
— É verdade. Mas aí entra a questão de se essas pessoas colaboram em pesquisas, e algumas coisas nunca mudam, não importa a era — disse Raven, lançando-me um olhar acusatório de lado, como se soubesse que eu tinha informações sobre a essência.
Bem, o palpite dela não estava errado.
— Raven — chamei — pegue o tubo de ensaio primeiro.
De qualquer forma, trabalho era trabalho. Ainda tínhamos bastante tempo sobrando, mas não havia razão para desperdiçá-lo. Além disso, era puro instinto de jogador agarrar qualquer item raro que surgisse, mesmo quando não era necessário.
— Mas… Ah, essa não era a cor que você queria? — perguntou Raven enquanto tirava o tubo de ensaio.
Ah, isso? O motivo de eu querer colocá-la no tubo de ensaio não tinha nada a ver com a cor. Era algo um pouco mais constrangedor.
— Essa essência é para a Emily — expliquei.
— Aha? Então você vai priorizar uma mulher que nem está aqui com a gente?
Hã…? Era assim que funciona?
“Suponho que, já que os membros do clã presentes arriscaram a vida na luta, isso possa parecer meio sacana.”
Raven observou minha expressão.
— Eu estava brincando. Por que está levando tão a sério?
— Uh… Não é isso…
— Hah, não sei como alguém como você criou uma regra interna dessas. O capitão tem o mesmo número de votos que todos os membros juntos, não tem?
Percebendo que continuar falando só me prejudicaria, preferi ficar em silêncio. Raven parou de me provocar e passou a se concentrar mais do que o normal enquanto armazenava a essência no tubo de ensaio.
— Pronto.
Eventualmente, Raven me entregou o frasco contendo a essência de Sniktura, e nosso trabalho ali estava concluído.
— U-Uwaaagh! Hap!
Nesse momento, Parav despertou de seu estado de inconsciência. Ele saltou e assumiu uma postura de combate, pronto para enfrentar qualquer ameaça ao redor, como se tivesse acabado de sair de um pesadelo.
Era uma reação compreensível. A última coisa de que ele se lembraria seria a luta contra Sniktura. Eu também sabia que a linha de frente sofria lapsos momentâneos de consciência com frequência, então cenas assim não eram incomuns.
No entanto, depois de dar uma olhada rápida ao redor, Parav pareceu se acalmar, voltando à sua postura normal, ainda que um pouco atordoado.
— I-Isso é…? N-Nós vencemos?!
— É, vencemos — respondi, dando de ombros. — Então acalme-se.
— N-Ninguém morreu?
— Como pode ver.
Parav soltou um suspiro de alívio.
“Era assim que eu pareço para os outros…?”
Não dava para saber, mas também não me importava. Desmaiar sabendo que os aliados estavam seguros só tornava a pessoa mais admirável e confiável.
— Mas o que aconteceu? — perguntou Parav.
— Quanto você se lembra?
— Bem… Você mandou todo mundo dizer suas últimas palavras, já que todos íamos morrer… Ah! Eu realmente perdi toda a esperança e achei que dessa vez eu morreria de verdade… — Ele foi se calando, até que de repente pareceu se lembrar de algo. Empolgado, gritou: — Ah! Aquela autoridade! Usei a nova autoridade que ganhei, já que não tinha mais nada que eu pudesse tentar! Mas… funcionou?
Fiquei em silêncio.
— Hã? Por que não está dizendo nada? Funcionou? Não, funcionou, né? Deve ter sido assim que todo mundo sobreviveu.
A empolgação dele mexeu comigo, me empurrando a querer confirmar seu palpite. Só fez meu coração pesar ainda mais.
— Então, o que era? Qual era o efeito da autoridade? Era algo defensivo? Ou de ataque? Espera, será que eu matei a Sniktura com um golpe só…? Hã? Por que você ainda não respondeu?
Parav franziu o cenho, confuso com meu silêncio, e olhou para os outros membros. Mas assim que seus olhos encontravam os deles, todos desviavam o olhar rapidamente. Ou melhor, olhavam diretamente para mim.
— H-Hey? Vocês não estão me ouvindo…? Kaislan? Srta. Marrone? Srta. Karlstein?
Puxei o ar entre os dentes. No fim, precisava assumir o controle. Me sentia um pouco mal por ele, parecia que estávamos isolando e intimidando-o, mas não havia o que fazer. A própria deusa havia descido para nos alertar:
Sven Parav jamais poderia saber sobre sua autoridade.
— Autoridade? Do que você está falando?
Ele piscou. — Hã?
— Não aconteceu nada.
Mesmo sentindo remorso, essa era a escolha certa.
Deixamos o campo de testes, subimos pela escada e voltamos para a área do bunker onde estávamos inicialmente, onde fomos recebidos por Auyen correndo ao nosso encontro.
— Capitão! Que bom que está seguro!
— Obrigado. Você realmente nos ajudou desta vez.
— De jeito nenhum! Eu só estava no lugar certo na hora certa. Não fiz muita coisa!
— Não diga isso — retruquei. Fazendo questão de transmitir minha gratidão genuína, disse: — Todos sobreviveram graças a você.
Meu elogio fez Parav perguntar:
— Hã? Sobrevivemos graças ao Rockrobe? Como assim? Nós não trabalhamos juntos para matar a Sniktura…? Espera, por que todo mundo ficou em silêncio de novo?
Parav parecia confuso mais uma vez enquanto o ambiente mergulhava num silêncio constrangedor.
Sinceramente, ele deveria saber qual pergunta fazer em qual momento.
Felizmente, não precisei contornar a situação dessa vez, pois alguém nos chamou na hora perfeita.
— ⟅Eu estava observando tudo. Vocês cumpriram a tarefa que lhes foi dada, guerreiros do império!⟆
A voz de Arta, o mestre da base secreta, ecoou pelos alto-falantes. Não pude deixar de ficar perplexo. Ele falava num tom de congratulações, mas eu ainda me lembrava muito bem de suas críticas sobre o quanto éramos egoístas como imperiais. E ele disse algo que não pude ignorar.
— ⟅Fiquei me perguntando o que aconteceria quando começaram a destruir o campo de testes, mas no fim, tomei a decisão certa.⟆
— ⟅Decisão certa?⟆ — perguntei de volta na língua antiga.
— ⟅Veja, o que teria acontecido se eu tivesse aberto a porta? Este mundo jamais teria recebido sua salvação.⟆
Droga, ele realmente acabou de dizer isso?
Eu tinha muita coisa que queria falar, mas, de algum modo, discutir com uma I.A. parecia improdutivo, então apenas engoli as palavras. De qualquer forma, meu plano era conseguir apenas o que precisava dele e ir embora.
— ⟅Graças a vocês, demos mais um passo rumo à salvação. Se me ajudarem só mais um pouco, podemos impedir o fim do mundo. Claro, o campo de testes destruído precisará ser restaurado antes disso.⟆
“Restaurar o campo de testes? Isso nem existia no jogo… Embora, pensando bem, nós o destruímos antes da hora mesmo.”
— ⟅E então?⟆ — incentivei.
— ⟅Guerreiros do império destruído, desejo lhes pedir apenas mais uma coisa.⟆
— ⟅Diga.⟆
Para ser honesto, eu nem precisava escutar o que ele ia falar. Embora o ponto de partida e o andamento da história tivessem mudado um pouco, o núcleo era o mesmo. Resumindo: Arta nos ajudaria, mas nós precisaríamos ir até a ilha que era a origem do Fim, derrotar o chefe de lá e trazer o item que ele deixasse cair.
Quando a explicação terminou, eu disse:
— ⟅Certo, faremos isso.⟆
— ⟅Eu sabia que essa seria sua resposta. A esperança da humanidade.⟆
Em algum momento, passamos de guerreiros do império para esperança da humanidade, mas não me importava muito. Afinal, Arta disse algo que capturou muito mais minha atenção:
— ⟅Ah, e recentemente observei na origem do Fim um humano que carregava um brasão parecido com o de vocês.⟆
— ⟅Este aqui?⟆ — perguntei, mostrando o brasão do Clã Anabada.
Arta confirmou:
— ⟅Isso mesmo. É esse símbolo.⟆
— ⟅Era uma mulher? De cabelo vermelho?⟆
— ⟅Sim, exatamente. Ela é sua aliada?⟆
— ⟅Sim, é.⟆
No entanto, a resposta de Arta não era o que eu esperava.
— ⟅Hmm, então precisam se apressar. Aquela mulher… vai morrer em breve.⟆
Recebi uma missão repentina.