Capítulo 850

Tetrasea, Lorde das Lágrimas. O Lorde do Andar do Grande Mar do Sexto Andar, oficialmente reconhecido como o início dos andares intermediários. Obviamente, não é um inimigo qualquer. Agora que decidi enfrentá-lo de frente, mil pensamentos me invadiram. Meu coração acelerou, sem que eu percebesse.

Ba-dum!

Riakis, Lorde do Caos. Dreadfear, Lorde do Medo.

Ba-dum!

Depois deles, esta seria a terceira raid de um Lorde do Andar. Nunca imaginei que o próximo seria justamente este.

Ba-dum…!

Mas, curiosamente, não é uma tensão ruim. Há sim uma ponta de incerteza, um medo de que talvez as coisas não corram bem…

Ba-dum…!

Mas talvez isso seja uma característica própria dos bárbaros. Diante de uma grande batalha, o corpo começa a liberar dopamina em excesso, excitado pela expectativa.

Uma vaga esperança de que, de algum modo, tudo vai dar certo. A visão otimista de sair vitorioso e recolher os despojos começa a rondar minha cabeça. Mas quanto mais isso acontece…

Clap.

Trago a razão de volta, afogada na excitação. Ainda acho que esse estado é mil vezes melhor do que encolher-se de medo, mas mesmo assim…

Eu sei.

A razão do homem moderno. O instinto do bárbaro.

Só quando esses dois se equilibram em perfeita harmonia é que nasce um verdadeiro poder.

— Armin, escute bem o que vou dizer agora. A partir deste momento, o comando da retaguarda será todo seu.

Chamei Armin à parte e compartilhei com ele toda a estratégia que havia traçado. Se algo inesperado acontecesse no meio do combate ou algum momento-chave chegasse, eu mesmo gritarei as ordens, mas ele precisava compreender a estrutura básica.

— É isso. Entendeu?

— Sim, entendi.

Armin não fez nenhuma pergunta. E, de certo modo, isso me deixou ainda mais confiante. Com o que ele já demonstrou até agora, teimoso, mas eficiente, se disse que entendeu, então entendeu mesmo.

— Huu…

Então, todas as preparações que podíamos fazer… estão completas.

Seguindo as ordens de Armin, observei a formação principal recuar por completo, enquanto eu tomava minha posição.

O único caminho que levava à clareira onde estávamos.

Ficando bem ali, bloqueando a entrada sozinho, eu parecia o próprio Zhang Fei defendendo a Ponte Changban contra o exército de Cao Cao. Ah, claro, há uma grande diferença entre nós. No caso dele, o exército inimigo recuou apavorado após seus berros, mas o desgraçado que está prestes a aparecer… jamais faria algo assim…

— …Heh. Já estava demorando.

Ao longe, uma silhueta familiar surgiu diante dos meus olhos. Hans P., que me seguiu até aqui sem nem dar sinal de cansaço. Olhei para trás, parecia que mais da metade de seus homens havia sido engolida pela névoa.

— O que está olhando?

— …Por que parou?

Dei de ombros, sem responder. Ele olhou em volta, examinando o terreno, até que uma expressão de incredulidade tomou seu rosto.

— Não me diga que… pretende lutar aqui?

— E se eu disser? Vai lutar ao meu lado?

Respondi com desdém. Hans P. recuou ligeiramente, franzindo o cenho, como se tentasse organizar seus pensamentos… mas, condizente com a urgência da situação, sua decisão veio rápida.

— Sigam-me! Vamos descer mais!

Heh, já esperava por isso. Soltei uma risada curta. Mesmo que ele tivesse aceitado lutar, eu teria mandado ele sumir de qualquer jeito. Porque, convenhamos, lutar ao lado desse desgraçado… não me surpreenderia se, do nada, o Lorde do Andar do Quinto Andar aparecesse invocado só por causa dele. Hans é praticamente o Senhor do Azar encarnado.

“Menos mal que resolveu cair fora por conta própria.”

Enquanto via o grupo de Hans correr desabalado ladeira abaixo, deixei escapar outra risada seca. A decisão dele não parecia nem um pouco sensata. Metade do pessoal já estava morto. Mesmo que conseguissem atravessar este intervalo de calma, a próxima onda começaria logo, e aí a situação ficaria infernalmente pior…

“Mas não é hora de me preocupar com os outros…”

Apaguei de vez qualquer pensamento sobre Hans P. O verdadeiro convidado estava finalmente chegando.

Ssshhhhh…

Uma névoa acinzentada avançava, cobrindo tudo, como se fosse engolir o mundo inteiro. Dentro dela, dois olhos brilhavam intensamente. E, mesmo agora, ecoava aquela melodia lúgubre, reverberando por entre as brumas.

——— ———, ——— —— ——— …!

Logo, uma enorme gota translúcida emergiu da névoa, flutuando como uma bolha de sabão, mas com um tamanho várias vezes maior que o do meu corpo ampliado pela habilidade Gigantificação. Uma das habilidades do inimigo.

Mesmo vendo a gota se aproximar lentamente, não fiz nenhum movimento. Afinal, era um projétil teleguiado. Não adiantava tentar fugir, quanto mais se corre, mais rápido ele fica.

Poom…!

Assim que me atingiu, estourou como um balão, espalhando um líquido estranho por todo o meu corpo.

Tchiiiiiii…!

Ah, merda…

“Arde pra caralho.”

É nessas horas que se sente o verdadeiro sofrimento de ser um tanque. Mesmo com uma chuva de feitiços de cura restaurando minha pele quase que instantaneamente, a lembrança da dor não some junto.

…Foque no lado positivo.

“Pelo menos o meu cabelo não derreteu.”

A primeira ordem que deixei para Armin também foi executada.

Swooooshhhhhhh…!

Uma rajada poderosa soprou pelas minhas costas, empurrando toda a névoa para longe.

Tec…

A bruma se dissipou, e enfim a criatura revelou sua forma diante de todos.

Tec…

Por ser a quarta fase, seu tamanho era menor do que antes. Ainda assim, era várias vezes maior do que eu. Mas não chegava nem perto da monstruosidade colossal que havia sido no sexto andar, quando seu corpo era do tamanho de uma ilha.

Tec…

Fora isso, suas proporções continuavam as mesmas: cabeça enorme, corpo arredondado e membros curtos, quase o corpo de um bebê. Só que, de adorável, não tinha absolutamente nada.

Tec…

Seu rosto parecia o de um demônio torturado por anos num laboratório de um cientista insano, distorcido em ângulos impossíveis.

Tec…

Sua pele… ou melhor, sua casca, pois chamá-la de pele seria um erro, era grossa e cheia de irregularidades, como se tivesse sido moldada em pedra. E não era só isso. Da cabeça aos ombros, dos pés aos joelhos, por todo o corpo, pequenos buracos brotavam como crateras de vulcão, tão densos que causavam tripofobia só de olhar.

E, por fim…

Tec…

Aqueles olhos, brilhando com luz azulada. Nem mesmo o formato ou a posição deles lembravam algo humano. Mas isso… eu deixaria pra comentar depois.

“Será que esse desgraçado está me olhando de cima… ou de baixo?”

Era impossível não se fazer essa pergunta ao encará-lo. Afinal, os olhos dele estavam literalmente invertidos.

Tec…

Enfim, talvez por isso ficasse um pouco mais suportável quando cobertos por uma venda. Se algum dia ele quiser arrumar uma namorada, recomendo que nunca saia sem uma.

Tsssshhh…

A criatura já havia se aproximado o bastante para me alcançar com um único golpe das patas dianteiras, e assim concluí minha breve análise estética sobre ela.

Tec…

Não faço ideia do que o faz chorar tanto desde há pouco, derramando lágrimas em prantos quase comoventes…

“Ts, que coisa ridícula, um homem desse tamanho chorando.”

Perder para um chorão desses seria uma vergonha diante dos ancestrais bárbaros. Em outras palavras…

— Behel–LAAAH!!!

Eu vou vencer.

Seguiu-se um breve, sufocante impasse.

— …