Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

Capítulo 836

Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

Fuuuuuu…!

Aventureiros jorravam para fora do portal ondulante.

— Ui…! Essa doeu…

Quatro ocupantes em modo tanque bárbaro que encontrei pouco depois de me perder.

— Oooh! Como o senhor disse, o Poder da Alma aumentou…!

Seis sobreviventes que foram puxados pelo Corpo de Terra.

— …Senhor Visconde? Quem são aqueles…!

E mais oito do Grupo de Aventureiros Armin.

— Pelos símbolos, parecem ser do Clã Sawtooth.

— Eles estão apontando espadas pra gente.

— …São inimigos?

Os olhares do Clã Sawtooth, que até então se exibiam ao ver exploradores surgirem pelo portal e se alinharem em formação, encheram-se de confusão e medo. Era uma reação natural.

Como esses aqui apareceram nesse lugar.

Tirando essa pergunta, a situação atual era cristalina para eles.

— Merda, a gente tá fodido…

No instante em que a murmurada de um membro de nenhum nome ecoou nos ouvidos de todos.

— …C-Chefe?

O vice-capitão chamou o líder como se buscasse resposta. Aos meus olhos, era inútil. Eu, e dezoito aventureiros de elite que haviam atravessado o portal e, embora ferida, Ainar, totalizando vinte. O único ponto forte deles, a superioridade numérica, havia se invertido; o destino estava selado…

— Acalmem-se!

…hein?

— Que visão lamentável é essa!

Surpreendentemente, em vez de sucumbir ao pânico e fugir, o sujeito berrou com os membros do clã. E…

Trep, trep.

Deixando os membros em silêncio, ele caminhou em minha direção. Mesmo vendo com meus próprios olhos, foi uma cena difícil de acreditar.

“O que é isso?”

Novo método suicida? Ou será que esse cara é realmente forte pra caramba? Se não fosse algo assim, a situação não fazia sentido algum…

Trep.

Ele parou a certa distância de nós e me encarou calmamente. A situação era indubitavelmente favorável a nós. Eu podia acionar Gigantificação e alcançá-lo com um golpe do meu martelo. Mesmo assim, ele parecia dizer com sua postura tranquila que tudo isso era mera ilusão.

— …

— …

No silêncio que até transmitia uma estranha pressão, finalmente ele abriu a boca, com uma voz rouca que parecia arranhar metal.

— Visconde Yandel, sabe onde está neste momento?

— Ah, eu sei.

A resposta saiu com tanto sangue-frio que meu discurso vacilou.

— Ah, então podemos ser concisos. Deposite sua arma.

Será que havia alguma peça oculta no Labirinto de Larcaz que eu desconhecia? Ele agia com tanta confiança como se soubesse disso…

— Não pretendo aceitar que seja um mal-entendido. Só digo que seria melhor interromper isto agora, não acha? Ainda não houve derramamento de sangue.

— …O quê?

Meu hemisfério esquerdo e direito demoraram um pouco para processar a situação. Talvez por isso ele tenha se empolgado e continuado discursando sem fadiga.

— No instante em que nossos equipamentos se enfrentarem, esse será o momento real de derramamento de sangue! Visconde, é isso que deseja?!

— …

— Estamos passando por um colapso dimensional, um desastre desconhecido! Se lutarmos entre nós, apenas levaremos ambas as partes à aniquilação!

— Ha, porra…

Não acredito que ele ia usar esse repertório. Ele falou com tanta pompa que eu pensei que havia algo por trás.

— Portanto, deixemos as pequenas inimizades de lado por enquanto…

Craaaack!

No momento em que acionei Gigantificação e balancei o martelo com força, a têmpora do sujeito foi esmagada como argila. E então…

Ploc!

Desviei o olhar do corpo caído e olhei para o vice-capitão. Em guerra, quando um superior é incapacitado, o posto imediatamente abaixo assume o comando; bastava persuadir esse cara…

“Ah, dá preguiça de explicar…”

Resumi tudo num só movimento.

— Se quiserem brigar, venham; se quiserem conversar, larguem as armas e se ajoelhem.

Era simples demais, não? Quem não consegue fazer isso não merece viver.


O vice-capitão parecia ter pensamentos demais e não respondia facilmente. Eu ainda tinha sido gentil a ponto de lhe dar opções.

“Com um traste desses como vice-capitão, é claro que iam fracassar.”

Se escolhesse lutar? Ao ouvir minha proposta, deveria ter dado um grito e acalmado os membros imediatamente.

Se escolhesse se render? Bastava cortar laços com o chefe e protestar inocência, largando a arma no mesmo instante. Mas…

— …

A escolha do vice-capitão foi ‘não fazer nada’. Ele ficou apenas em silêncio, revirando os olhos, e no fim, os membros sem liderança perderam a coesão e começaram a agir por conta própria.

— E-Eu sempre fui contra isso desde o início!

— E-Eu também!

Quando um largou a arma e se ajoelhou, os outros rapidamente o seguiram. Será que achavam que era questão de ordem de chegada? Ah, claro, alguns tentaram fugir sem olhar para trás, correndo pelo labirinto. Mas…

— Aaargh!!

— Huhu, eu já sabia que uns covardes iam tentar isso!

Como até isso foi bloqueado de antemão, não restava nada a ver. O Clã Sawtooth desmoronou como dominó em questão de instantes. E então…

— Estávamos errados, poupe-nos…!

— Pedimos clemência…!

Por fim, o vice-capitão, sozinho, desmoronou e se ajoelhou com a expressão de quem teve a mente despedaçada, e a situação se encerrou. Diferente do esperado, não houve banho de sangue, o que foi satisfatório. Mas como dizer isso…

“…Acabou de forma meio anti-climática.”

Sinceramente, era até estranho que James Carla tivesse sido vice-capitão aqui. Ah, talvez por estar cercado só de imbecis ele tenha recebido tanta vigilância? É, pode ser. Idiotas são bons nesse tipo de coisa. Nunca reclamam abertamente, mas vivem tramando pelas costas…

— …Eles não têm culpa.

Enquanto meus companheiros (temporários) prendiam os ajoelhados, o vice-capitão finalmente quebrou o silêncio.

— O capitão e eu merecemos tanta punição quanto quiser, mas por favor, acalme sua ira com isso. É o meu pedido.

Hmm, isso até merecia um crédito. Digamos uns cinco pontos positivos. Mas como as ações anteriores valiam uns menos cem, ele continuava no nível de imbecil.

— Por favor…

Ao ver que ele até curvou a cabeça, parecia que sua intenção de proteger o clã era sincera, mas essa decisão não cabia a mim sozinho. Eu ainda não tinha ouvido o depoimento da maior vítima.

— Ainar, você está bem?

— A-Ah…! Eu-eu! Estou bem…!!

Mesmo depois de tanto tempo, Ainar parecia ainda perdida, como se fosse um sonho. Fazia tempo que não a via assim.

— Se acalme, não precisa ter pressa.

Mandei que a deixassem receber tratamento da sacerdote enquanto esperava que recobrasse a clareza.

— Bjorn? O que diabos aconteceu?! Como você surgiu do nada, abrindo um portal?!

Ok, pelo que perguntou, parece que já se recompôs.

— Ah, acabou acontecendo.

Em vez de explicar sobre o nono andar, a Porta dos Espíritos e tudo mais, resumi numa frase. Afinal, era a Ainar.

— Ah, acabou acontecendo! Entendi perfeitamente!!

— Oh! É mesmo?

— Claro! Foi por causa do colapso dimensional, certo?!

— Isso mesmo!

Bem, não estava errado. Como Ainar parecia satisfeita, agora era minha vez de perguntar.

— E você, o que aconteceu?

— Ah! Isso! Na verdade, também acabou acontecendo…

— Um pouco mais de detalhe, por favor.

— Hmm… Certo! Bjorn, já que é um pedido seu!

Assim começou o relato detalhado da Ainar, e eu consegui entender, mesmo que de forma geral, o que tinha acontecido. Quando Amélia levou Kaislan para a retaguarda, o dragão vermelho me agarrou e me levou para fora. Ainar, ao ver isso, avançou para me resgatar e…

— Quando recobrei os sentidos, estava em outro lugar! Tentei voltar, mas só saíam lugares estranhos! Dessa vez achei mesmo que estava acabada!!

Depois disso, foi parecido comigo. Ela virou uma andarilha dimensional, correndo sem rumo, até se juntar a um grupo de sobreviventes. Bem… sendo a Ainar, era mais um reforço de elite do que uma intrusa. De qualquer forma.

— E foi justamente aquele pessoal…!!

Foi sorte ter encontrado outro grupo rapidamente, mas no resto, a sorte não acompanhou. Quando a longa onda terminou e veio a calmaria, o Clã Sawtooth começou a mostrar as presas escondidas.

— Ah! O de cabelo cinza! Aquele guerreiro de cabelo cinza me ajudou na hora!

O que salvou Ainar naquela hora foi ‘o cabelo cinza’. Segundo ela, não era do Clã Sawtooth, mas, como ela, um sobrevivente que se juntou por acaso durante o colapso…

— Ah, ele disse que conhecia você, Bjorn! Que já tinha recebido sua ajuda antes…!

— Minha ajuda? Qual era o nome dele?

— E-Eu… não sei!

Um guerreiro de cabelo cinza… Não me vinha ninguém à mente. Talvez algum dos guerreiros que encontrei na Batalha de Berzak? Não, nesse caso, Ainar ao menos lembraria do rosto…

— …Enfim, e depois?

— Graças ao cabelo cinza conseguimos escapar do ataque surpresa! Mas… no processo, ele acabou morrendo… Ah! Não podemos ficar aqui! Precisamos ao menos recuperar o corpo dele!! Deve estar em algum lugar do labirinto…!

— Não se preocupe. Acho que sei onde está.

— Oh… sério mesmo?!

Sim, antes de atravessar a Porta dos Espíritos, eu tinha visto um corpo. Achei que fosse só mais um dos Sawtooth que Ainar tinha abatido na fuga, mas agora que sei que era um benfeitor, tenho de encontrá-lo e cumprir o mínimo de respeito.

— De resto, nada demais! Fomos pegos de novo pelos desgraçados, e desde então fiquei cercada, apanhando sem parar! Eu juro, dessa vez cheguei a ver a cara dos ancestrais diante de mim…!

— Entendi.

— E é tudo culpa desse maldito labirinto! Se não fosse a força drenada, não teria caído tão fácil!!

Assim terminou o depoimento da Ainar. Com prova e testemunho tão claros, o julgamento estava praticamente decidido, mas…

— Alguém cure esse bastardo.

Primeiro acordei o chefe que estava desmaiado. Afinal, eu sou um Bárbaro Coreano, que reúne o coração de guerreiro e a mente de homem moderno.

— Ugh… mi-minha cabeça…

Antes de dar o veredito, eu devia ao menos ouvir a última defesa.


— O-o “Herói da Cidade” é esse que ataca covardemente no meio de uma conversa…!

Pof!

— E-Eu, eu me sacrifiquei para julgar racionalmente e evitar ao máximo o derramamento de sangue!

Pof—!

— E pensar que num desastre desses haveria alguém tão tolo a ponto de não conseguir tomar nem essa decisão racional…!

Crrrack!

Ah, será que bati forte demais dessa vez? Pelo menos agora entendi que tipo de mentalidade levou esse desgraçado a rastejar até mim naquele teatrinho. Mas ainda restava a dúvida mais importante.

— Sacerdote, pode orar mais uma vez por esse sujeito?

— Sim…

Assim que o poder sagrado foi infundido, o sujeito de crânio amassado despertou de novo, como um zumbi.

— U-ugh…

Perguntei em tom baixo, quase como um murmúrio.

— Por quê?

Normalmente eu não fazia esse tipo de pergunta. Não havia sentido. Saber o motivo não mudava nada. Mas…

— Por que tentou matar a Ainar?

Dessa vez, eu queria a resposta. Claro, havia hipóteses plausíveis, mas mesmo assim… num desastre como esse colapso dimensional, seria mesmo necessário insistir numa vingança pessoal? Para mim parecia um ato irracional demais. Talvez houvesse algum motivo oculto que eu desconhecia. Mas então, isso…

— …Fufufufu.

Após um longo silêncio, como se saboreasse minha pergunta, o sujeito começou a rir. E então…

— Quer saber por que tentei matá-la? Você ainda precisa perguntar isso?

Lançou-me um olhar cheio de ódio. Melhor do que implorar por vida, mas ainda assim nada agradável.

— Vocês atrapalharam a caça que planejamos por tanto tempo contra Riakis! Sabe o quanto de prejuízo isso nos causou?!

Então foram eles mesmos que o invocaram. Na época negaram até o fim… não que importe agora.

Fufufu… Sim, isso não tem importância! Mas depois! Depois você ainda nos tirou o patrocínio do Conde Alminus!

— Hã?

Tirar patrocínio? Eu nunca tive esse tipo de apoio. Com o conde foi sempre uma relação de negócios.

— O ataque preparado por anos falhou, perdemos o patrocínio do Conde Alminus! Sabe o quanto despencamos depois disso?!

Pelo jeito, após aquele incidente, eles perderam também os fundos.

— Pelo seu rosto, não sabia? Nem deve ter se importado! Só pensava em pisotear os outros para subir!

— Tá, e daí? Além disso, o que mais?

— …Até roubou o nosso vice-capitão depois, enfiando-o no seu clã sem cerimônia!

Olha só, sendo que ele mesmo tinha descartado o cara, e fui eu que acolhi.

— Então? Isso é tudo?

— Isso não basta?!

Ele me devolveu a pergunta, e eu continuei indiferente. Parece que não havia mesmo nenhuma história oculta.

— Sério, é só isso?

— …Está zombando de mim?!

…Bom, até entendo. Criaturas que só sabem viver culpando os outros também existem no mundo civilizado da Coreia. Principalmente no cenário dos jogos.

— Mas por que a Ainar? Quem você odiava era eu.

Antes de encerrar a defesa final, fiz questão de perguntar isso. E de novo, ele respondeu com outra pergunta.

— Não se faça de santo. Você… você acha mesmo que seria diferente?

Não era um simples grito de raiva, mas uma observação que atingia em cheio. Ao pensar, senti a boca travar.

— De fato…

No fim, eu não era tão diferente dele. Meu alvo de ódio era Baekho Lee, mas se um dos companheiros dele aparecesse diante de mim, eu esmagaria a cabeça sem hesitar.

— Realmente… você tem razão.

Reconheço o que deve ser reconhecido. Mas ainda assim, isso não muda a sensação de mesquinhez. Afinal, se ele foi capaz de propor paz no momento em que a situação virou contra ele…

“É um rancor tão raso assim…”

Na verdade, mais do que rancor, seria mais adequado chamar de inveja, ou ciúme.

— O que pretende fazer?

A sacerdotisa que observava a cena me perguntou, e após pensar um pouco, tomei minha decisão.

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