
Capítulo 755
Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro
O Banco Central de Alminus era o centro da riqueza mundial, e quando se consideravam todos os tesouros armazenados em sua coleção secreta de cofres privados, era um verdadeiro tesouro digno de um dragão. Com tanta riqueza reunida em um só lugar, a segurança era extremamente bem configurada. Era o local perfeito para isolar uma pessoa de interesse, muito melhor do que a Agência de Paz Pública ou a prisão sob a Guilda dos Aventureiros.
— Mas você não acha isso um pouco óbvio demais?
Assim, quando expliquei a situação para Raven, sua resposta foi exatamente o que eu esperava.
— Harin Savy? Para começar, não sei por que você tem um papel do amor com alguém como ela, mas essa mulher é a mão direita da Condessa Peprok. Sabe, aquela que está claramente na facção do marquês? Isso é uma armadilha, não importa como eu olhe. Não quero realmente dizer isso, mas… — Raven deixou a frase no ar, o silêncio pairando entre nós. — Por que você acha que eles capturaram a Srta. Ainar e não a mataram na hora?
Eu tinha que admitir que suas preocupações estavam alinhadas com as minhas. Raven não sabia que Harin Savy era, na verdade, Hyeonbyeol, nem conhecia o relacionamento que tínhamos, e ainda assim, eu não acreditava que Hyeonbyeol tivesse se aliado ao marquês e estivesse deliberadamente me enviando informações falsas.
“Ainda assim, uma armadilha continua sendo uma armadilha.”
O problema não era a informante chamada Hyeonbyeol, mas o fato de que as informações haviam chegado até mim. Se os Noarkianos realmente quisessem manter as informações sobre Ainar em absoluto segredo, elas não teriam chegado até mim.
“E considerando como o marquês opera…”
Não havia ‘chance’ de isso ser uma armadilha, era uma certeza. O fato de que Ainar havia sido capturada viva apenas confirmava isso, exatamente como Raven disse. Eu presumi que a usariam como moeda de troca para negociar comigo, mas uma execução? Era risivelmente transparente.
“E, no entanto, talvez seja isso.”
Talvez fosse minha chance. As informações chegaram a mim por meio de Hyeonbyeol, e o palácio ainda não tinha tomado conhecimento delas, pelo menos, não ainda. Isso significava que os Noarkianos provavelmente nem imaginavam que eu já tinha essa informação.
Não havia como evitar a armadilha, mas se eu estivesse certo e a armadilha ainda não tivesse sido totalmente preparada…
“Precisamos nos apressar.”
O tempo era essencial.
Do outro lado da rua do Banco Central de Alminus, erguia-se um prédio que antes fora a sede dos Negócios Alminus. Longe de ser o centro comercial que deveria ser, o local há muito havia sido saqueado e reduzido a ruínas.
Nesse vestígio de um comércio outrora próspero, uma mulher se escondia em silêncio.
— Srta. Emily…?
— Fique quieto. Estou pensando.
Amelia Rainwales observava pela janela. Embora não olhasse para ele, o homem ao seu lado parecia saber o que ela estava pensando apenas pela expressão em seu rosto.
— Nem mesmo você conseguiria, Srta. Emily… Não vou sugerir que devíamos ir para o Distrito Três ou para a capital imperial, onde seria mais seguro, mas, por favor, não poderia se esconder e descansar? Pelo menos até se recuperar dos ferimentos?
A voz de Auyen carregava preocupação e sinceridade. Não havia como prever como as pessoas reagiriam ao descobrir que ele fora um saqueador no passado. No entanto, ele considerava Amelia e Yandel seus benfeitores, aqueles que o resgataram daquela vida. Não podia simplesmente ficar parado e permitir que uma de suas salvadoras se colocasse em perigo ativamente.
— Além disso… — ele acrescentou, com o tom endurecendo para não permitir argumentação. — Você nem mesmo tem um braço agora.
Amelia havia sofrido um grave ferimento em seu braço direito durante a perseguição de Noark. Não que o braço tivesse sido completamente decepado, mas, de certa forma, isso talvez tivesse sido mais favorável. O braço estava dilacerado, dividido ao meio até os músculos e ossos, e devido a uma essência específica de Amelia, ela não podia usar poções para se curar.
— Acabamos de conseguir estancar o sangramento — insistiu Auyen, sua voz quase implorando. — O que você espera conseguir nessas condições?
Ele tentou de tudo, até se ajoelhar praticamente implorando para que ela parasse. Ainda assim, Amelia não piscou.
— Eu disse que estou pensando.
Sua calma inabalável apenas deixava Auyen ainda mais nervoso. Ele havia passado tempo suficiente ao lado dela para saber o que ‘pensando’ realmente significava para ela. Ela não estava deliberando se deveria agir, sua decisão já estava tomada. O único ponto a ser contemplado era como.
— Você acha que o Capitão Yandel aprovaria o que você está fazendo agora? — ele disparou, jogando sua última cartada, a mais forte de seu ‘baralho’.
Finalmente, isso chamou sua atenção.
O olhar de Amelia se desviou da janela para ele. Ela não disse nada, mas a intensidade silenciosa de seu olhar era avassaladora. Mesmo assim, apesar do tremor que percorria seu corpo, Auyen se recusou a desviar os olhos.
— Auyen Rockrobe — disse ela, rompendo o silêncio. — Você está cruzando a linha.
— Não tenho escolha. Se quero trazer alguém que cruzou a linha de volta, também preciso cruzá-la.
Sua determinação pairava no ar, indiferente à fúria fria que ameaçava apagá-la. Então, com um suspiro de resignação, Amelia cedeu.
— Mesmo eu sei que isso é perigoso, mas não há outra opção — ela disse suavemente, o tom inesperadamente gentil.
— Por que não há outra opção?
— Porque… Porque eu não quero que Ainar Fenelin morra.
Essa era, em muitos aspectos, a razão que os havia levado até ali.
Ainar havia sido capturada e, coincidentemente, transportada pela mesma rua onde os dois estavam escondidos. Depois de seguirem secretamente o comboio, observaram enquanto Ainar era levada para dentro do banco.
— Por que você acha que vão matá-la? Eles a capturaram como prisioneira, o que significa que não planejam matá-la tão cedo. Certo, eles devem estar tramando algo, como usá-la para negociar com o palácio ou com o capitão.
— Essa é uma possibilidade.
— Certo, então por enquanto…
— Mas e se não for isso? — ela o interrompeu antes que ele pudesse terminar a frase. — E se continuarmos esperando porque achamos que ainda há tempo, e então, por causa disso, ela morre?
Auyen hesitou, as palavras presas em sua garganta. — Mesmo se isso acontecer… Srta. Emily, com certeza sabe que nenhuma culpa cairia sobre você.
Não era um conforto vazio, ele realmente acreditava em cada palavra. Ainda assim, enquanto falava, seus olhos desviaram, incapazes de encontrar os dela por um motivo que ele não sabia explicar. Ela percebeu, claro que percebeu, e um leve sorriso curvou seus lábios.
— Não há necessidade disso — ela assegurou. — Você não está errado.
Ela já havia pensado da mesma forma, como tantas outras pessoas como eles. Ambos sabiam o que significava viver para sobreviver, a qualquer custo.
— Perdão? Oh! Então isso significa…!
— Já chega.
Amelia encerrou a conversa ali. Comunicar-se nunca foi algo fácil para ela, e ela duvidava que pudesse convencê-lo apenas com palavras, mesmo que tentasse. Na verdade, ela nem sabia por onde começar a explicar sua posição.
— Eu tomarei cuidado. Fique aqui e mantenha-se escondido.
Suas palavras de despedida não foram um pedido, mas uma ordem. Auyen não tentou mais se opor.
— Certo. Por favor, tome cuidado…
Amelia não respondeu. Num instante, ela estava ali, e no seguinte, havia desaparecido de sua vista.
Sozinho no escritório vazio do terceiro andar, Auyen espiou pela janela a entrada principal do banco, procurando qualquer sinal dela. No entanto, por mais que olhasse, Amelia não estava em lugar nenhum.
Era de se esperar, na verdade. Não havia como ela simplesmente passar pela porta da frente. E mesmo que tivesse feito isso, era tão furtiva que seus olhos nunca a teriam notado.
— Oro pela sua segurança…
Embora não fosse um homem religioso, Auyen fechou os olhos para orar. Quando tudo o que restava na sala era ele e sua prece, ele manteve sua vigília, observando o banco de longe, apenas no caso de algo acontecer.
O tempo passou lentamente até que, de repente, uma voz o assustou por trás.
— O que…? Tem alguém aqui mesmo.
— Eu disse, não disse? Detectei uma força vital.
Auyen se virou rapidamente, em pânico. Ele estava tão focado no que acontecia lá fora que não notou os intrusos que estavam dentro.
Smack!
Um instrumento contundente atingiu sua cabeça, e ele desabou no chão. Enquanto sua consciência começava a se esvair, ouviu os Noarkianos conversando.
— Então, quem é esse cara?
— Não é um dos aliados de Yandel que se separou?
— Eh, não parece. Se fosse, não seria derrubado com um único golpe.
— Bem, ou é um civil escondido no Distrito Quatro ou um dos aventureiros que foram derrotados mais cedo hoje. Pelo que ouvi, alguns clãs de médio porte estavam misturados com aquelas centenas de bárbaros.
— Hmm, então ele deve ser um deles.
Eles tentavam descobrir quem ele era. Felizmente, ou infelizmente, dependendo do ponto de vista, não perceberam que ele era um membro do Clã Anabada.
Agora, se isso ao menos lhe desse uma saída.
— Então, o que faremos?
— O que mais? Vamos levá-lo de volta para o quartel-general, como sempre. Eles já estão ficando desesperados, ouvi dizer que estão sem combustível para a arma mágica.
— Ugh, mas estamos tão longe do quartel-general…
— Eles ainda vão nos pagar por ele. E esse cara também parece ter consumido algumas essências. Vamos lá, será suficiente para um trocado.
— Certo, certo. Vamos fazer isso. Acho que também não vamos encontrar mais ninguém por aqui…
O homem então parou no meio da frase.
— Espere um segundo. Ele ainda está acordado.
Crack!
Essa foi a última coisa que Auyen se lembrou.
A ganância leva à ruína.
Auyen Rockrobe sempre concordara com esse ditado. Afinal, o único motivo pelo qual sobrevivera até então era porque nunca deixara a ganância enraizar-se em seu coração.
— Próximo.
Ele desistiu do sonho de se tornar um grande aventureiro. Em vez disso, aprendeu navegação.
— Próximo.
Embora tenha acabado em um clã cruel que o tratava como escravo, era grato por ter comida suficiente para comer e tempo para dormir. Nunca ousou desejar nada além disso.
— Próximo.
Foi o mesmo quando foi acolhido pelos bárbaros. Mesmo confinado no subsolo, privado da luz do sol, ele se contentava apenas em estar vivo e não sonhava em escapar.
— Próximo.
O resultado de sua temperança foi que, lentamente, começaram a aceitá-lo. E, ao fazê-lo, salvaram-no. Claro, ele foi humilhado, sendo chamado de ‘Rockrock’ ou ‘Nguyen’, por exemplo, mas isso era irrelevante. Sempre que comiam a comida que ele preparava ou o elogiavam por seu bom trabalho e dever cumprido, algo dentro dele começava a se preencher, um poço que ele achava que permaneceria para sempre seco.
Bem, ele se sentia mais como um empregado que fazia trabalhos esporádicos do que como um verdadeiro aliado de Yandel, mas ainda assim…
— Próximo.
E daí? Os heróis eram realmente tão perfeitos?
— Próximo.
Claro que não. Pessoas como ele também tinham seu lugar. Ele sabia que estava contribuindo para a jornada deles à sua maneira, e essa crença o motivava a trabalhar com mais afinco do que nunca. Estudava livros de receitas quando ia às compras, tornou-se habilidoso em lidar com cavalos e continuava seus estudos de navegação, caso o Clã Anabada algum dia precisasse operar no sexto andar ou navegar novamente.
Ele deve ter esquecido, ainda que apenas por um momento.
— Próximo.
A ganância leva à ruína. Uma cobra não pode se tornar um dragão apenas porque viajou ao lado de um.
“Isso também deve ser o destino…”
Auyen considerava sua situação atual natural. Como poderia não ser? Era, obviamente, apenas um fardo, um parasita que não sabia seu lugar e ainda assim os seguia. Era justo que as coisas terminassem assim.
— Você não me ouviu dizer ‘próximo’?
Um soldado de armadura o agarrou pelo colarinho e o empurrou em direção a uma enorme máquina. Era tão crua e simples em forma quanto em função: um pilar que se estendia para dentro de um tanque onde pessoas eram lançadas indiscriminadamente, uma após a outra, por razões que ele nem precisava conhecer.
“Então… é assim que eu morro.”
Para um homem que passou a vida suprimindo seus desejos, a resignação vinha tão naturalmente quanto respirar.
Ele nem considerou resistir, mesmo quando a mão em seu pescoço começou a sufocá-lo. Ele poderia levar uma ou duas pessoas com ele, claro, mas e depois? Seria torturado, interrogado e teria um fim ainda mais horrível.
Não, deixar que a máquina o levasse parecia um caminho muito mais limpo para ir.
— Espere, parem.
Quando sua cabeça estava prestes a ser empurrada sobre o abismo aparentemente sem fundo, alguém se aproximou e falou, concedendo um breve adiamento.
O responsável por interromper sua execução era um homem trajando um uniforme de cavaleiro. Ele avançou, segurou o queixo de Auyen mesmo com o pescoço dele ainda preso, e assentiu para si mesmo.
— Olhando novamente, tenho certeza. Auyen Rockrobe… Mesmo que não pareça, ele é membro do Clã Anabada.
— T-Tem certeza?
— Não sei onde o encontraram, mas vou levá-lo daqui. Sua senhoria decidirá o destino dele pessoalmente.
Com isso, ele foi entregue ao cavaleiro e arrastado para longe. Quando recuperou o controle de seus pensamentos, viu-se diante do olhar atento de um homem de meia-idade, exalando uma autoridade inquietante.
Auyen soube quem era no momento em que o viu.
— Eu o trouxe, como ordenado, Lorde Marquês.
— E ele está sem amarras porque…? — veio a resposta imediata do marquês.
Quase atropelando as palavras em sua defesa, o cavaleiro explicou:
— Embora seja um aliado de Yandel, é apenas o navegador do grupo. Sua habilidade de combate estimada está abaixo da de um orc, então não há com o que se preocupar, meu senhor.
— Entendido…
O marquês pareceu satisfeito com a explicação e não comentou mais.
Por um momento, a mente de Auyen ficou em branco. Então, a realização veio.
“Eles não sabem.”
Claro, pensou. Era natural. Embora o palácio soubesse que Yandel havia obtido aquela essência, não podiam imaginar que ele a teria dado para Auyen. E, como ele nunca tivera oportunidade de usá-la antes, não havia risco de a informação ter vazado.
Pode ser…?
— Eu, hã…
“Essa pode ser uma oportunidade…”
— Fale se quiser viver.
Não houve hesitação. Era uma experiência completamente nova para Auyen, que agonizava com as menores decisões, como quais ovos comprar no mercado. Mas dessa vez, ele nem precisou pensar.
— Quanto valor você acha que tem para Bjorn Yandel?
A pergunta mal saíra dos lábios do marquês quando Auyen ativou sua habilidade.
Uma ativação instantânea, impossível de desviar. Também impossível de bloquear, com uma capacidade destrutiva impressionante em seu núcleo. Baixo custo de poder de alma, curto tempo de recarga, e uma habilidade que Yandel uma vez elogiara.
Nada menos que a habilidade do monstro de terceiro nível, Bellarios.
【Auyen Rockrobe lançou Estilhaçar.】
O poder explodiu de sua mão em direção ao alvo e, então…
O mentor da guerra. O ex-primeiro-ministro de Rafdonia. Marquês Tercerion.
Ele era um homem com quem Auyen nunca sonhara cruzar caminhos em circunstâncias normais e, agora, também era um inimigo lendário, um traidor que todos na cidade queriam matar.
Esse homem outrora grandioso desabou, sangue escorrendo de seus lábios.