
Capítulo 754
Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro
— Com licença, Ancião. Posso importuná-lo com uma pergunta?
Um homem de cabelos brancos tomou um gole de chá calmamente antes de responder — Não é problema algum. Pergunte.
— Por que tentou detê-lo? Meus pensamentos insignificantes não me permitem compreender.
— Qual parte você não entende?
Diante da pergunta do velho, o homem com uma máscara de lobo respondeu — Em troca de alcançar a terra sagrada, um aventureiro de sétimo nível chamado Brown Rotmiller morreu, e Sven Parav se tornou um santo. Ah, embora ainda não completamente, é claro.
— Hmm?
— Como resultado, ele perdeu um batedor inútil, mas ganhou um aliado que será um grande trunfo no futuro. E mesmo assim, o senhor tentou impedi-lo de chegar à terra sagrada. Fiquei curioso para saber o motivo.
— Ah, então era isso…
O velho esboçou um sorriso aparentemente benevolente. No entanto, ao olhar mais de perto, podia-se perceber um brilho diabólico brincando em seus olhos.
— Não tem graça se eu simplesmente lhe contar — ele concluiu.
— Como disse?
— Pense por conta própria. Por que acha que fiz isso?
Diante de outra pergunta, o homem mascarado pensou por um momento antes de responder cuidadosamente.
— Estou debatendo entre três ideias.
— Continue.
— A primeira é que o senhor já previa como ele agiria, Ancião.
— Eu sabia que ele faria o oposto do que eu dissesse, então o instruí a não ir à terra sagrada… está errado. Se fosse esse o caso, por que teria enviado você para dar um conselho inútil? Ele teria seguido aquele caminho por conta própria, mesmo que eu não fizesse nada.
— Isso é verdade… Também me questionei sobre isso.
— E qual é a segunda ideia?
— Segundo… Não importava para onde ele fosse, Brown Rotmiller teria morrido de qualquer forma.
— Oh?
— Claro, isso não explica por que o senhor tentou enviá-lo para o Distrito Sete… Mas imagino que talvez não quisesse que Sven Parav se tornasse um santo.
— É uma ideia interessante — permitiu o velho, intrigado. — Continue.
— Bem… O senhor disse no passado que Sven Parav é uma alma nascida com uma presença divina. Uma que permite até mesmo a um deus maligno, com quem ele nunca fez um contrato, conversar com ele.
— Eu disse.
— Então, talvez o senhor não quisesse ver Sven Parav unir-se ao deus maligno. De certa forma, um sacerdote de Karui é mais forte do que um santo. Embora, no final, ele ainda teria sido útil para aquele homem.
O velho sorriu com orgulho. — Fiz bem em pedir seus pensamentos. Essa foi uma linha de raciocínio bastante perspicaz.
— Está dizendo que isso também está errado?
— Está errado. Se ele tivesse ido para o Distrito Sete, Sven Parav teria morrido.
— Entendo… — O homem mascarado lamentou como se tivesse errado uma questão de prova, mas continuou a falar: — Minha terceira ideia é que Brown Rotmiller tem mais valor do que um santo Sven Parav…
Ele não acreditava nisso nem enquanto dizia. Afinal, como um batedor de sétimo nível já aposentado poderia ser mais valioso do que um paladino prestes a se tornar um santo?
— Correto.
— Como?
— Sua terceira ideia corresponde à minha conclusão. Brown Rotmiller teria se mostrado muito mais útil em sua jornada.
O homem mascarado não conseguia entender. Contudo, tendo observado os destinos de inúmeras pessoas desde que começou a seguir o ancião, ofereceu outra teoria para reforçar a ideia.
— Então Sven Parav se tornará uma influência negativa em sua jornada.
Ele falou com convicção. Não havia outra explicação. A bênção seria, na verdade, uma maldição. Houve muitos casos assim, afinal, o destino era uma criatura misteriosa e caprichosa.
— Errado novamente.
O homem mascarado quase engasgou com uma resposta involuntária, e o ancião voltou o olhar para a janela.
— Sven Parav realizará grandes feitos ao longo de sua jornada, como esperado.
— Mesmo assim… o senhor escolheu Brown Rotmiller em vez dele.
— É tolice julgar o futuro de alguém apenas pelo presente. As pessoas se tornam grandes não por sua origem, mas por seus esforços. Este é um mundo onde até mesmo um mendigo pode se tornar rei um dia.
— Então Rotmiller talvez tivesse o potencial de alcançar tamanha grandeza?
O velho sorriu diante da visão binária, balançando a cabeça. — Ele não tinha tal talento. No entanto, o valor de alguém é determinado por como sua história é registrada. — Com um tom de arrependimento, revelou: — Se Brown Rotmiller tivesse sobrevivido, teria deixado uma marca ainda maior neste mundo.
Claro, neste mundo, esse futuro já não existia.
Do meu ponto de vista, eu apenas tinha fechado e aberto os olhos.
Nada parecia real, não algo que eu tivesse experimentado pessoalmente, mas sim informações de segunda mão enviadas até mim depois que tudo já havia acontecido.
Eu não conseguia me livrar da esperança de que, talvez, só talvez, tivessem entendido alguns detalhes errado.
Por favor, seja gentil com a Srta. Shavin. Ela é uma boa mulher.
Mas tudo era real.
Ainar Fenelin havia sido capturada pelo inimigo, e Brown Rotmiller, meu primeiro batedor, estava morto.
Essas eram as verdades imutáveis.
Meus punhos se cerraram enquanto meus pensamentos corriam.
O que exatamente deu errado?
Antes de ir para a terra sagrada, Lobo me disse que, se eu fosse para o Distrito Sete, X morreria, e se eu fosse para a terra sagrada, Y morreria. Por isso, assumi que X era Rotmiller.
No final, segui para a terra sagrada como havia planejado inicialmente, e consegui salvar X, Rotmiller, do perigo.
“Mas Rotmiller era Y o tempo todo…?”
Porque fui para a terra sagrada, Rotmiller morreu.
Não fazia sentido alimentar pensamentos inúteis, como se eu praticamente o tivesse matado ao fazer essa escolha. Havia coisas que eu podia fazer e coisas que eu não podia. Eu sabia distinguir bem entre as duas, e não era do tipo que caía em depressão por causa de um fracasso.
Sim, eu não era.
Então, por que eu me sentia tão mal?
A violência gravada profundamente no meu corpo bárbaro começou a ferver.
Eu queria lutar para não ter que pensar. Queria esmagar e destruir tudo o que via.
Ainda assim, me contive. O corpo bárbaro em que eu estava era diferente de Hansu Lee. Um ataque de raiva não terminaria apenas com um mouse e teclado quebrados.
Um guerreiro sábio precisava saber quando lutar e o momento certo de liberar essa emoção.
Nesse instante, alguém afastou a cortina na entrada do alojamento e entrou. Era um rosto conhecido: Arua Raven.
Mas o que era isso?
No momento em que nossos olhos se encontraram, a boca de Raven se fechou. Seu rosto perdeu toda a cor, e seu corpo pequeno e pálido começou a tremer como um salgueiro ao vento.
O que era aquilo? Algo ruim havia acontecido com ela?
Os pensamentos e desejos que eu havia acabado de suprimir começaram a borbulhar novamente.
— D-Desculpe.
Então, observei enquanto Raven evitava o contato visual e percebi o que havia acontecido.
— E-Eu vou esperar lá fora… até você se acalmar…
Raven estava com medo de mim.
Soltei um longo suspiro, como se estivesse expulsando todo o veneno acumulado no meu corpo, e a impedi enquanto ela tentava sair do alojamento apressada.
— Não vá. Já me acalmei.
Raven virou-se cuidadosamente e soltou um suspiro próprio, de alívio. Após uma longa pausa hesitante, ela reuniu coragem para dizer algumas palavras de conforto.
— Eu soube do que aconteceu…
Não respondi. Se falasse, as coisas que eu havia acabado de reprimir voltariam à tona. No entanto, eu precisava perguntar uma coisa.
— Você sabe o que aconteceu com o corpo de Rotmiller?
— Hm… Acho que seria melhor se você não soubesse…
— Não se preocupe com isso e apenas me diga. Já me acalmei.
— Hã… A-Ainda acho que você não deveria…
— Eu disse que estou bem.
Raven apenas me encarou silenciosamente, sem nenhum traço de crença em seus olhos. Apenas quando a cortina do alojamento foi aberta novamente, revelando Astarota, eu obtive minha resposta.
— Os soldados de Noark cortaram sua cabeça e a levaram. Se confirmarem que ele era seu aliado, isso será reconhecido como uma conquista.
Ba-dum!
— Parece que você estava pensando em usar a Pedra da Ressurreição, mas, infelizmente, ela não funcionará.
Meu coração batia tão rápido que me perguntei se ainda estava dentro dos limites saudáveis.
Cerrei os dentes com tanta força que achei que talvez começassem a rachar.
— Mas que tal fazer algo com essa intenção assassina? Eu estou bem… — Astarota hesitou. — Mas esta aqui pode desmaiar.
Olhei para Raven. Ela estava rígida como uma tábua, então controlei minha raiva com um suspiro e puxei um novo assunto para me distrair.
— O que aconteceu com vocês dois? E onde está Vivian?
— Depois que você desapareceu com o Coletor de Cadáveres, o capitão da Orcules apareceu. Houve uma batalha… Enfim, resumindo, fugimos primeiro.
— O quê?
— Deixe-me corrigir. Não fugimos, apenas recuamos no momento apropriado. — Ele afirmou que foi para proteger Raven e que, se fosse uma luta justa, ele definitivamente poderia tê-lo derrotado, mas, no final, apenas Astarota sabia a verdade.
De qualquer forma, o que aconteceu depois foi algo assim:
O capitão entrou na batalha para me atacar, mas mudou seu alvo para Astarota ao perceber que ele era o Cavaleiro do Rei. Enquanto o capitão perseguia Astarota, eu escapei do Submundo por pouco. Após despistá-lo, Astarota entrou na capital imperial e se recuperou dos ferimentos.
Ah, e Vivian veio com ele, mas foi jogada na prisão.
— Aquela mulher não tem mais utilidade. Pensei em executá-la, mas a mantive viva por precaução.
Depois de se reagrupar, ele pensou em me procurar para nos reunirmos novamente, mas perdeu minha localização devido à magia antiga. Algum tempo depois, soube que eu havia entrado na capital imperial inconsciente e veio rapidamente para me verificar.
— Agora que isso está resolvido, quero perguntar algo. Para onde você vai agora?
Diante da pergunta de Astarota, fechei os olhos por um momento. O que eu precisava fazer agora?
Não demorou muito para eu tomar uma decisão.
— Precisamos salvar Ainar primeiro…
— Entendido. — Astarota assentiu e perguntou: — Mas como?
Não respondi.
— Já lhe disse isso antes, mas só ouvi notícias de que ela foi capturada como prisioneira. Não temos informações sobre onde ela está sendo mantida ou se está viva ou não.
Certo. Então eu precisava reunir informações primeiro.
— Astarota, tenho um pedido.
— Diga.
— Poderia reunir meus aliados espalhados? Mesmo apenas aqueles nos distritos sob o alcance do palácio já ajudariam.
— Você nem precisava pedir. Isso já está sendo feito.
— Certo, entendi…
Embora ele sempre parecesse inflexível, era esperto no modo como lidava com o trabalho.
— Se precisar de algo ou tiver um plano de ação, chame por mim.
Astarota então deixou o alojamento, e eu me sentei silenciosamente à beira da cama, revisando todas as informações que tinha para ver se havia perdido algo. A cada poucos minutos, chamava Astarota para saber se havia novidades.
Onde Ainar estava.
Se mais aliados meus tinham sido jogados em território inimigo.
Se a localização do marquês havia sido determinada.
Dado que estávamos em tempos de guerra, eu só podia contar com a rede de informações militares, e meu coração continuava a apertar enquanto nenhuma notícia útil chegava.
“Não, espere…”
Mas as informações que eu tanto procurava vieram de uma fonte completamente inesperada.
Ao pensar no marquês, lembrei-me de Ragna, e ao pensar em Ragna, lembrei-me de sua mão direita, Hyeonbyeol. Pensar em Hyeonbyeol, por sua vez, me lembrou daquele chamado ‘papel do amor’ que recebi dela.
“Não pode ser…”
Apressei-me em pegar o ‘papel do amor’ apenas para descobrir que, na verdade, havia uma mensagem escrita nele.
O conteúdo podia ser resumido em duas informações: a suposta localização atual de Ainar e…
Ainar Fenelin, cofre subterrâneo do Banco Central de Alminus. Planejada para execução.
…o destino atual de Ainar.