A Empregada Secreta do Conde

Capítulo 44

A Empregada Secreta do Conde

“Há uma fonte à frente. Podemos sentar ali?”

“Claro.”

Sem muitas opções, Paula guiou Vincent até a beira da fonte. Eles se acomodaram lado a lado, com o suave som da água sempre presente ao fundo.

Estava bem frio. Curvada, ela olhou para ele. Ambos estavam vestidos com roupas de dormir, o que não os protegia muito do frio da noite. Paula se perguntou se deveria envolver o xale que estava usando ao redor dele. Depois de hesitar, ela o ofereceu. Ele balançou a cabeça em recusa.

“Estou bem.”

“Você está vestido de forma leve. Está frio, então, por favor, coloque-o.”

“Não precisa, você usa.”

“… você também não está bem.”

Ao dizer isso, a expressão dele de repente ficou sombria. Ele empurrou o xale para longe, quase jogando-o em seu colo. Vendo o temperamento dele, parecia que ele tinha se acalmado um pouco.

“Está melhor agora?”

“Sim.”

“Que tipo de pesadelo te incomodou essa noite?”

“Sonhei com o dia em que perdi a visão.”

Que pesadelo vívido…

Incapaz de perguntar mais, Paula permaneceu em silêncio. Com a conversa interrompida, apenas o som da água da fonte preenchia a escuridão. Ela balançava as pernas sem rumo, enquanto ele encarava o vazio.

“Não consegui dormir porque as memórias da festa ficavam voltando à minha mente.”

“Por quê?”

“Foi simplesmente muito divertido. A empolgação ainda está comigo.”

Mesmo agora, quando fechava os olhos, o salão se desenrolava diante dela, e a música clássica ecoava. Não era apenas uma lembrança; ela quase podia sentir a energia do ambiente, mesmo com os olhos abertos. Um sorriso suave apareceu em seus lábios.

“Foi a primeira vez que usei um vestido assim. Não, foi a primeira vez que vi um vestido desse estilo. Na verdade, foi a primeira vez que vi um vestido tão bonito. A senhorita Violet me ofereceu como presente, mas eu recusei. Não parecia certo para mim, e estava muito caro para eu aceitar.”

“A Violet tem tantos vestidos que é impossível contar. Ninguém diria nada se você aceitasse um.”

“Mesmo assim, ainda sinto que seria um desperdício eu usá-lo.”

Não se podia negar a beleza extraordinária do vestido — o tipo de coisa que qualquer mulher sonharia em usar pelo menos uma vez. No entanto, Paula sentia que seu esplendor diminuía de alguma forma quando ela o usava. Já se fosse a Violet a usá-lo, o vestido teria brilhado ainda mais.

“Experimentá-lo foi o suficiente para mim.”

“Você não tem muito interesse por roupas.”

“Não é que eu não tenha interesse, mas acho melhor quem combina com elas usá-las.”

E mesmo que ela o mantivesse, não haveria nenhuma ocasião para usá-lo. Não havia ninguém para mostrar, também. Então, para Violet usá-lo seria mais valioso. Experimentá-lo foi suficiente para Paula.

“Dançar foi tão difícil! Eu tinha que lembrar todos esses passos, assim e assim.”

Paula tentava desajeitadamente imitar os movimentos de dança que Lucas havia mostrado mais cedo, com gestos de mãos exagerados. Violet, ao que parecia, dançava com uma graça natural, enquanto Lucas e Ethan mostravam um talento nato. Até Vincent, apesar de sua cegueira, se movia com suavidade pelo chão. Paula, no entanto, se sentia terrivelmente desajeitada.

“Sinto que nunca vou conseguir pegar o jeito.”

Ela tentou em vão recriar os passos da festa. Mas logo seus pés se embolaram. Ela balançou a cabeça, frustrada. Seus pés ficavam invariavelmente enrolados, e ela balançava a cabeça em frustração. Danças informais, ela conseguia fazer bem. Na verdade, dançar livremente com Violet havia sido o ponto alto da noite.

“Mas o Sir Lucas é muito bom em dançar!”

Paula se lembrava de como os movimentos dele eram fluidos, um contraste nítido com suas próprias tentativas desajeitadas. Ele a guiou com confiança, e sob sua liderança, Paula até se iludiu achando que era uma boa dançarina. Claro, não passava de uma ilusão agradável. A lembrança de quantas vezes ela pisou nos pés dele durante a dança era um lembrete sóbrio.

Espera, eu dancei bem também.

Enquanto Paula resmungava para si mesma, Vincent se levantou abruptamente. Sem aviso, ele estendeu a mão para ela. Seus olhos se abriram em surpresa quando encontraram a palma estendida dele.

“O que é isso?”

“Dê-me sua mão.”

“Hã?”

“Vamos dançar.”

“E-eu? Com você?”

Paula gaguejou, surpresa com o convite repentino. Vincent simplesmente acenou com a cabeça, confirmando.

“Por quê?”

“Porque eu quero dançar.”

“Por quê?”

“Você não quer?”

Não é que eu não queira, mas… mas…

Paula hesitou, olhando para a mão dele. Ela nunca aprendeu a dançar antes. Mesmo quando dançou com Lucas, perdeu a conta de quantas vezes pisou nos pés dele. Provavelmente os pés dele estariam inchados pela manhã. Lucas tentava não demonstrar, mas Paula podia perceber que ele estava ficando cada vez mais desconfortável com o passar do tempo.

Ela permaneceu hesitante em pegar sua mão. Vincent, que esperava por isso, colocou uma mão atrás das costas e inclinou um pouco o tronco.

“Você vai dançar comigo, Paula?”

“…”

Os olhos verdes dele, firmes, se fixaram nos dela. Paula mexia os dedos nervosamente.

“E se eu pisar nos seus pés, Mestre?”

“Eu aguento um erro.”

“E se eu cometer dois?”

“Vou ter que pensar no que fazer.”

“Vamos combinar de não dançar, pelo bem de nossa saúde. Minha vida também é preciosa.”

“Foi só uma piada. Pode pisar nos meus pés.”

Ele estendeu ainda mais a mão. Era como se estivesse a instigando a pegar sua mão rapidamente.

“Eu não tenho planos de dançar em lugar nenhum. Vou apenas guardar isso como uma boa lembrança.”

“O quão ruim você acha que eu sou dançando? Você tem tanta dúvida sobre si mesma?”

“Sim. Eu realmente não sei dançar.”

Paula estava sendo honesta. Mas ainda assim, ele não desistiu.

“Só siga o meu comando.”

“Eu realmente não sei dançar.”

A expressão de Vincent suavizou. “Tudo bem, então,” ele cedeu calmamente. “Vamos com calma. Só siga o meu comando, e fique atenta a qualquer obstáculo, já que não posso ver. Nós conseguimos dançar algo simples juntos, com certeza.”

Ele estendeu a mão mais uma vez, com a determinação inabalável.

Vamos lá, Paula pediu silenciosamente com os olhos.

Paula engoliu em seco, encarando-o. A decisão, embora aparentemente simples, parecia monumental. As memórias da empolgação da tarde, momentaneamente abafadas, voltaram com força, uma onda de antecipação brigando com suas ansiedades.

Sua mão tremia enquanto ela a estendia em direção à dele, guiando-o para o outro lado da fonte.

Quando pararam, se enfrentando, uma onda de secura nervosa invadiu sua boca. Vincent colocou a mão delicadamente em sua lombar, e a outra estendeu em direção à dela. A distância entre eles diminuiu. Paula se inclinou ligeiramente para trás quando seus corpos se tocaram levemente, e ela também colocou a mão no ombro dele. As memórias da dança anterior passaram por sua mente, guiando-a para a postura familiar.

Vincent iniciou a dança com um passo suave para o lado, e Paula, imitando seu movimento com um toque de desajeito, seguiu-o. Seus corpos giraram em harmonia. A cada movimento gracioso de Vincent na direção oposta, Paula o imitava, seus passos gradualmente encontrando um ritmo desajeitado, mas sincronizado com os dele. Ele manteve seus movimentos lentos e deliberados, como lhe havia dito.

Ao contrário de Lucas, que ajudava Paula sempre que ela tropeçava, Vincent não dava instruções. Em vez disso, ele a guiava calmamente para que ela o acompanhasse. Ela estava um passo atrás, mas conseguia segui-lo com facilidade.

Apesar da ligeira melhora em seus passos, aprimorada pela experiência da tarde, Paula não podia se enganar achando que era uma dançarina graciosa. Além disso, sua roupa estava longe de ser glamorosa — um simples pijama, um xale utilitário para se aquecer, e sapatos baratos que refletiam sua posição humilde. Sentia que estava mais dançando de pijama e roupão do que com um vestido formal.

Uma imagem fugaz de um espectador assustado, achando que estavam dançando fantasmas, fez uma risadinha brotar de seu peito. Vincent franziu a testa, confuso, o que a fez explicar.

“Alguém pode nos ver dançando aqui no escuro e achar que somos fantasmas.”

“Sim, hahaha.”

Ele sorriu, como se estivesse pensando a mesma coisa.

Enquanto dançavam, o tecido de seu pijama sussurrava contra sua pele a cada giro. Seu olhar subiu, atraído pela vastidão de estrelas espalhadas pelo céu noturno.

O mundo brilhava. As estrelas cintilantes se transformaram em lustres brilhantes, e o suave gorgolejo da fonte se transformou em uma melodia maravilhosamente encantadora. Aquele lugar se tornava um salão de baile, e eles estavam dançando. Não era diferente do salão de baile da tarde.

Uma emoção percorreu Paula, reacendendo a alegria esquecida daquela experiência anterior.

As estrelas em cascata pareciam derramar sobre eles um brilho luminoso. Cada sensação se intensificava — o toque do tecido em sua pele, o calor irradiando das mãos que estavam entrelaçadas, a brisa fresca da noite brincando com seus cabelos. O homem à sua frente, banhado por aquela luz etérea, parecia diferente de alguma forma.

Tudo ao redor deles brilhava.

Era alegre.

Exaltadamente alegre.

“Você dança bem.”

“Você ensina bem.”

“É porque a aluna é talentosa.”

Paula deu de ombros. Baixar a guarda, nem que fosse por um momento, parecia uma proposta perigosa. De repente, ela percebeu que estava pisando nos pés dele.

“Desculpa!”

Ele franziu a testa. Paula rapidamente tirou o pé de cima do dele. Mas sua insatisfação era evidente.

“Seu pé está muito lento.”

“Ou me elogia, ou me critica, por favor.”

“Se eu tentar te elogiar, você vai ficar descuidada de novo.”

“Eu posso cometer erros. Peço desculpas.”

Enquanto Paula resmungava, ele deu de ombros. Enquanto isso, ainda estavam girando.

“Não é uma questão de ser ruim; é sobre ser honesto.”

“Ser honesto demais também não é atraente.”

“Meu charme vem dessa honestidade.”

“Que audácia a sua. Você percebeu que a Violet ficou surpresa quando te viu resmungando? Quero dizer, quanto do seu ‘temperamento desagradável’ você esconde atrás de uma fachada?”

“Você é atrevida.”

“É porque minha ousadia contribui para o meu charme.”

“Então você se atreve a ser irreverente na minha presença.”

“Pode-se dizer que você me desafiou com sua ‘grande consideração’.”

Um silêncio tenso pairou entre eles, quebrado apenas pelos risos suaves que ecoavam na noite. Se alguém os ouvisse, poderia se assustar e fugir.

Afinal, o que pensariam ao ver um homem e uma mulher rindo e girando sob a luz da lua?

Uma brisa mais forte soprou, e Paula inclinou a cabeça, sentindo a sensação refrescante. Foi bom. Sentindo isso, ela fechou os olhos.

De repente, seu corpo se desequilibrou.

“Hmm?”

“Hã?”

Ambos perderam o equilíbrio num piscar de olhos. A gravidade, ditadora implacável, garantiu uma queda compartilhada. Num piscar de olhos, caíram na fonte.

Um suspiro saiu da garganta de Paula enquanto a água inundava seus sentidos. Seus membros se agitavam descontroladamente até que ela sentiu o chão firme sob ela mais uma vez. A tosse irrompeu de seu peito, uma sinfonia de engasgos interrompida por lágrimas que desciam em seu rosto. Desorientada e encharcada, ela finalmente conseguiu se recompor e avaliar a situação. Olhou ao redor, atônita.

Eles realmente tinham caído na fonte. Não, quão distraídos eles deveriam estar dançando para não perceberem que estavam indo direto para a fonte?

Vincent refletia a mesma expressão de perplexidade.

“Você.”

“Desculpa. Eu escorreguei!”

“…”

O silêncio se estendeu entre eles, grosso com o som da água pingando e os espirros incessantes de Paula. Suas roupas, antes leves e arejadas, agora se colavam ao corpo como uma segunda pele encharcada. A brisa, antes refrescante, agora tinha uma mordida gelada. Outro espirro sacudiu seu corpo, seguido por uma sinfonia de espirros de Vincent, que também sucumbira ao ataque aquático.

Enquanto espirravam em uníssono, seus olhos se encontraram. Naquele momento compartilhado de miséria aquática, pareciam mais duas ratinhas afogadas.

De repente, uma risada brotou dela.

Ela foi a primeira a soltar o riso, e logo ele se juntou a ela.

De alguma forma, não conseguimos conter nossas risadas naquela noite…