A Empregada Secreta do Conde

Capítulo 43

A Empregada Secreta do Conde

Paula ficou paralisada no centro do salão, o corpo rígido de tensão.

Lucas apareceu ao seu lado, um sorriso suave brincando nos lábios. Ele estendeu a mão, envolvendo sua cintura em um convite silencioso. A surpresa passou pelo rosto dela, quando ele a puxou para mais perto. Perguntas não ditas nublavam seu olhar.

“Levante a cabeça.”

“Sim?”

Lucas riu baixinho ao ver Paula assentir.

“Relaxe. Siga meus passos.”

“Sim.”

Logo, uma nova peça clássica preencheu o ambiente.

O corpo dela se enrijeceu ainda mais com a instrução sussurrada para relaxar. Seus pés, hesitantes no início, começaram a se mover em resposta à condução dele. Aos poucos, um balanço tímido tomou conta, e ela se aproximou mais.

Ele acompanhou seu ritmo, os passos um pouco mais lentos, mas Paula o seguiu com vontade. Depois de alguns movimentos, a dificuldade inicial de dançar se dissolveu. O ritmo da música pulsava nela, uma onda que ia e vinha. Impressionado com sua habilidade de acompanhar, Lucas assentiu com aprovação. Um sorriso confiante floresceu no rosto dela ao espelhar os movimentos dele.

Então, um trecho traiçoeiro do chão enviou um solavanco pela sua perna.

“Ops!”

De repente, um passo errado fez seu pé pousar direto no dele.

“Desculpa!”

“Tudo bem.”

Ela rapidamente tirou o pé. Lucas sorriu, mas uma leve careta denunciou a dor. Discretamente, ele ajustou a posição deles. Quando ela tentou se recompor, outro emaranhado de pernas resultou em um chute involuntário na panturrilha dele.

“Ai!”

Lucas não conseguiu conter um gemido de dor.

“…”

Paula apertou os olhos com força. Ela podia não saber muito, mas sabia que tinha pisado nele para valer. A lembrança de seu pé afundando em algo inegavelmente macio era vívida.

Depois de um instante cambaleando, Lucas logo recuperou a postura.

“Desculpa. Eu não estou acostumada com isso…”

“Está, está tudo bem.”

Mas o rosto dele não parecia nada bem. Vê-lo esfregar de leve a panturrilha atingida deixava claro que tinha doído de verdade. A vergonha tomou conta de Paula. Ela evitou olhar para ele, abaixando a cabeça. Seus passos ficaram hesitantes, reflexos tardios de seu próprio jeito desajeitado. A cada nova pisada acidental, sua cabeça baixava mais um pouco. A música clássica, antes tão suave, agora parecia se arrastar, tornando a situação ainda pior. Naquele momento, ela não conseguiu evitar um leve ressentimento pela tranquilidade daquela melodia.

“Paula, você está indo muito bem.”

“… só espero que isso acabe logo.”

Diante disso, ele sussurrou em seu ouvido.

“Queremos encerrar, então?”

Ela assentiu rapidamente, arrancando uma risada baixa de Lucas.

Foi então que…

“Ack!”

Ele girou sua cintura de repente, ao mesmo tempo, em que uma das mãos deslizou sob sua perna, levantando-a no ar. O medo de cair fez com que ela se agarrasse aos ombros dele, vendo o mundo girar ainda mais. Felizmente, não caiu. Lucas a segurou firme com um braço, enquanto o outro sustentava sua perna erguida.

Era uma situação, no mínimo, complicada. Seu corpo arqueado para trás, uma perna suspensa no ar. Ela sequer conseguia entender direito em que posição tinha parado. Piscando várias vezes, percebeu que estava encarando os detalhes intrincados do lustre no teto, até que Lucas apareceu inesperadamente em seu campo de visão. Apesar da confusão dela, ele continuava sorrindo com a maior naturalidade.

“Bom, esse é um final bem convincente, não acha?”

“…”

Ela sentiu o coração despencar com a reviravolta dos acontecimentos.

Mal conseguiu acalmar as batidas aceleradas do peito. Por trás dos fios de cabelo caídos no rosto, suspeitou que ele tivesse notado sua irritação anterior. Um sorriso travesso brincava nos lábios de Lucas. Ele definitivamente tinha feito aquilo de propósito. A vingança por ter pisado no pé dele e chutado sua panturrilha estava clara.

Como se soubesse o momento certo, a música chegou às últimas notas. Um breve silêncio se seguiu antes que palmas preenchessem o salão. Virando a cabeça, Paula viu Ethan se levantar da cadeira, aplaudindo com entusiasmo exagerado. Se ao menos ele tivesse sido um pouco mais contido, teria sido melhor.

Quando finalmente se firmou no chão, Lucas a soltou. Seus pés encontraram o solo, e um novo coro de aplausos ecoou, com Violet entre os que batiam palmas.

“Você estava linda, Paula.”

“Obrigada.”

Um sorriso tímido surgiu em seus lábios enquanto ela lançava um olhar na direção de Vincent. Ele parecia imerso em uma conversa, de costas para ela.

De repente, uma mão surgiu em sua visão, bloqueando sua linha de visão. Paula virou-se ao perceber o gesto de convite. O rosto de Lucas, que antes estava sério, suavizou-se com um toque de calor. Ele estendeu a mão mais uma vez.

“Quer dançar de novo?”

“Vou ter que recusar.”

Dessa vez, ela balançou a cabeça com firmeza. Talvez um novo passo errado deixasse o pé dele realmente inchado. Além disso, dançar com tanto cuidado tinha sido mais cansativo do que esperava.

Seu olhar voltou para frente. Vincent e Violet estavam profundamente envolvidos na conversa, as cabeças próximas, formando uma cena íntima.

Absorvida naquela imagem, ela quase não ouviu a voz baixa de Lucas.

“Paula.”

“Sim?”

“Dessa vez, deixe Paula dançar com quem ela realmente quer.”

Os olhos dela se arregalaram ao ver Lucas fazendo um gesto com a mão. Seguindo sua indicação, olhou novamente para o casal e, depois, de volta para ele. O sorriso dele permaneceu, mas havia um leve traço de melancolia por trás.

Será que recusar outra dança o machucaria tanto assim?

“Tem certeza?”

“Claro. No fim das contas, somos só nós dois. Somos os únicos companheiros um do outro nesta dança. Não importa com quem cada um dê uma volta.”

Isso fez sentido. Paula assentiu e seguiu em frente. O farfalhar de seu vestido e o som de seus sapatos ecoaram no chão polido enquanto ela se aproximava. Ambas as cabeças se viraram na sua direção ao ouvirem o som. Ela parou ao lado da pessoa mais bonita ali, observando atentamente os rostos ao seu redor.

Os olhos de sua companheira se arregalaram em surpresa. Paula colocou uma mão atrás das costas e estendeu a outra para frente, inclinando ligeiramente o torso. Recordando o pedido de Lucas para dançar, ela o imitou. Era um movimento novo para ela, mas parecia bem mais fácil do que levantar a cortina e se curvar.

“Senhorita Violet.”

“Hã?”

“Gostaria de dançar?”

Violet piscou, surpresa. Paula estendeu a mão esperando. Após uma pausa considerável, uma gargalhada alta explodiu atrás delas. Até Vincent, que estava ouvindo discretamente a conversa, não conseguiu conter uma risada abafada.

Espera, havia alguma regra que obrigava apenas homens e mulheres a dançarem juntos?

Talvez houvesse, mas, já tendo falado sua parte, Paula decidiu abraçar a ousadia. Afinal, como Lucas disse, não eram eles parceiros dessa dança? Não havia necessidade de formalidades ou seguir rígidos protocolos.

Alguns momentos se passaram, com a risada diminuindo. O rosto de Violet suavizou-se em um sorriso caloroso, e ela pegou a mão de Paula. E assim, ficaram frente a frente no centro do salão iluminado, a música animada envolvendo-os.

“Ah, isso esclarece as coisas.”

“Sim.”

A noite pulsava com vozes vibrantes que nunca pareciam cessar. A luz das lâmpadas, a única fonte de iluminação na escuridão, lançava um brilho quente sobre Violet. Ela conversava animadamente, sua energia parecia inesgotável. A conversa delas se arrastava, alternando entre detalhes mundanos do dia a dia e memórias preciosas, uma troca agradável de experiências.

Perdida na conversa, Violet piscou, suas pálpebras ficando pesadas. Paula, percebendo seu cansaço, sugeriu suavemente que ela descansasse e cobriu-a com o cobertor. Violet resmungou um protesto brincalhão, mas o sono mostrou-se o oponente mais forte.

O silêncio caiu sobre o quarto, quebrado apenas pela suave luz da lua filtrando pela janela. Paula apagou a lâmpada e se acomodou na cama. Enquanto olhava para a Violet adormecida, fechou os olhos, pronta para dormir.

Uma lâmina de luz atravessou a escuridão, crescendo gradualmente até revelar um magnífico salão. O espaço cintilava com o brilho dos lustres brilhantes. Dentro do salão, o ritmo rápido da música clássica e o som de aplausos preenchiam o ar, criando o ambiente perfeito.

Perdidas na dança, ignoraram as risadas alegres, os sorrisos brilhantes, as saias rodopiando e os smokings amassados. Até Isabella, normalmente tão rígida e formal, não resistiu à alegria contagiante e se viu rindo livremente.

A formalidade, o protocolo e a etiqueta foram deixados de lado. Eles buscaram nada além de alegria, rindo de forma sincera juntos.

Quando Paula abriu os olhos, a escuridão a envolveu novamente. A música animada e as risadas alegres desapareceram, substituídas por um silêncio sufocante. Os acontecimentos da tarde pareciam distantes, como um sonho. Era um contraste nítido com a cena alegre que se desenrolara em seu sonho.

Uma tempestade de emoções agitava seu peito, impedindo que o sono a dominasse.

Só mais um momento.

Quero saborear essa sensação.

Ela se levantou da cama com silêncio ensaiado, cuidadosa para não acordar Violet. Caminhou na ponta dos pés até a porta, concentrando-se em abafar o som de seus passos. Tateou na escuridão, procurando seu xale.

Ela ansiava por manter essa sensação, entendê-la através de uma caminhada silenciosa.

Pegou a lâmpada e saiu do quarto. Até o ato de fechar a porta foi feito com cuidado. A luz da lua entrava pela janela, banhando o corredor com um suave brilho. Ela levou a lâmpada até a janela e a colocou gentilmente, antes de acendê-la.

Um rangido vindo da porta a surpreendeu. Virando-se rapidamente, encontrou Vincent parado ali.

“Mestre?”

Seu semblante pálido e o suor na testa chamaram sua atenção primeiro. Vendo sua condição, ela se aproximou cautelosamente, e seu olhar distante se fixou nela.

“… é você?”

Essa não era a primeira vez que ele fazia essa pergunta durante esses episódios. Ela compreendia a confusão em seus olhos.

“Sim. Sou eu.”

“Tem certeza?”

“Sim. Tenho certeza.”

Sua mão tremeu ao buscar a dela, seus dedos tocando seu pulso com um leve tremor. Ela sentiu os tremores reverberando através de seu aperto. Então, com um suspiro trêmulo, ele a puxou para mais perto, enterrando seu rosto em seu ombro. O som de sua respiração irregular preencheu o silêncio.

“Você teve um pesadelo?” ela perguntou suavemente.

Ele deu um pequeno aceno afirmativo, seus cabelos dourados roçando em sua bochecha.

“Mas o que te trouxe até aqui?”

“Eu ouvi um som.”

“E se não fosse eu?”

“Eu esperava que fosse você.”

Por causa dessa esperança, ele reuniu coragem e saiu. Ela entendeu. Não havia necessidade de mais perguntas. Permaneceram ali, em um silêncio confortável, sua respiração ofegante gradualmente se acalmando, o aperto em seu pulso se afrouxando enquanto seus dedos se entrelaçavam. Os tremores diminuíram, deixando apenas um leve eco em suas mãos.

Ela entrelaçou seus dedos suavemente e depois os separou, o movimento uma pergunta silenciosa.

“Gostaria de dar uma volta?”

Ele acenou com a cabeça mais uma vez.

Lado a lado, caminharam pelo corredor, sua mão segurando a dele com firmeza, a outra mantendo a lâmpada erguida. Seus passos ecoavam pelo corredor silencioso, o único som além do suave brilho da lâmpada que lançava luz quente em seu caminho.

“Quero sentir o vento.”

“Vamos para fora, então?”

Segurando sua mão, ela o guiou para fora da mansão.

O ar da noite estava frio.

O silêncio era profundo, quebrado apenas pelo suave brilho da lâmpada que lançava uma luz etérea em seu caminho. Era tarde demais para qualquer outra pessoa estar acordada, então eles vagaram livremente em direção ao jardim.

O vasto céu noturno se estendia acima deles, uma tela deslumbrante adornada com inúmeras estrelas cintilantes. Esta noite, com as condições claras, as estrelas pareciam brilhar com uma intensidade ainda mais brilhante. Ela olhou para cima, fascinada pela exibição celestial, as estrelas cintilando e criando uma pintura hipnotizante no céu escuro.

Enquanto caminhavam, perdidos na beleza da noite, chegaram a uma fonte. Apesar da hora tardia, a água continuava a borbulhar e fluir do centro.