Capítulo 42
A Empregada Secreta do Conde
“Que cor é?”
“Oh! É rosa. Na verdade, estou um pouco preocupada com isso. A saia é tão volumosa que eu fico tropeçando, e tem renda por toda parte — nos ombros, nas mangas e até na barra! Coça bastante. Ah, e tem um cinto rosa na cintura também.”
Vincent franziu ainda mais a testa enquanto assimilava a descrição de Paula.
“Eu realmente não entendo o design do vestido.”
“Mas ele é bem bonito. O tecido também é uma graça.”
Era tão macio que Paula temia que rasgasse com um simples puxão. Apesar de sua beleza, algo nela dizia que aquele vestido não combinava com ela. Violet insistira que estava maravilhoso, mas quando Paula se olhou no espelho, sentiu-se deslocada, como se não fosse dela.
Vincent ficou em silêncio por um momento antes de bater levemente na lateral do corpo.
“Vem aqui.”
“Hã?”
“Senta mais perto.”
Paula hesitou, sem saber o que ele queria, mas obedeceu. Assim que ela se aproximou, Vincent estendeu a mão, os dedos roçando de leve o pescoço dela. Seu corpo ficou tenso na mesma hora.
Ele mexeu desajeitadamente no elástico de cabelo que tocara.
“O que é isso?”
“Ahm, um elástico de cabelo. A senhorita Violet me deu faz um tempo.”
“Entendi.”
Os dedos dele deslizaram pelo acessório, parecendo sentir sua textura. Em seguida, soltou-o e tocou de leve o ombro dela. Quando seus dedos encontraram a renda, ele passou a mão com cuidado. Depois, traçou lentamente a linha do ombro dela, seus movimentos precisos e controlados.
Paula sentiu um arrepio subir pela espinha, quando o rosto dele se inclinou mais perto. Um sussurro suave roçou seu ouvido, perguntando se ele havia tocado em algo diferente. Antes que ela pudesse responder, a mão dele continuou descendo, seguindo a renda da manga até seu pulso. Quando os dedos roçaram a parte mais sensível da pele, uma leve cócega a fez estremecer.
“Posso continuar explorando?”
“Sim, claro.”
“Um momento.”
Ele fez um gesto para baixo com a mão. Entendendo o que queria, Paula suspirou e levantou a barra do vestido, oferecendo-o a ele. Vincent pegou o tecido delicado, analisando-o com uma atenção renovada. Seu rosto, antes erguido, inclinou-se levemente enquanto suas mãos deslizavam pela barra do vestido, cada movimento mais deliberado.
Ficava claro que ele tentava compreender o design do vestido pelo toque. Paula sabia disso, mas, mesmo assim, cada vez que a mão dele roçava o tecido, um estranho arrepio percorria seu corpo. Embora ele não estivesse tocando diretamente sua pele, parecia que uma corrente elétrica subia por seu braço. O sentimento era desconhecido e constrangedor, um calor crescendo sob sua pele.
“Mesmo tocando, ainda não consigo entender.”
“…”
Paula ficou em silêncio, os lábios pressionados em uma linha tensa. Seu corpo tremeu, um tremor que ela se esforçou para conter. Uma mistura de sensações a invadia — confusão, um estranho formigamento e um desconforto crescente. No instante em que estava prestes a dizer algo, a porta se abriu devagar, revelando Violet.
Violet parou no meio do caminho, piscando os olhos roxos, claramente confusa. A cena diante dela exigia uma explicação. Aflita, Paula puxou de volta a barra do vestido das mãos de Vincent e se levantou bruscamente.
“Já está pronta?”
“… sim. Mas o que vocês estavam fazendo?”
“O mestre estava curioso sobre o meu vestido. Só estava descrevendo para ele.”
“Ah.”
Violet assentiu e se aproximou com um sorriso gentil.
“Os preparativos para a festa já terminaram. Vocês podem descer agora.”
Enquanto falava, Violet lançou um olhar entre Paula e Vincent. Paula assentiu e se virou para oferecer apoio a Vincent. No entanto, antes que pudesse, Violet deu um leve tapinha em seus ombros por trás.
“O que acha de Paula? Não está linda?”
“Como eu saberia? Eu não posso vê-la.”
“Mas ouviu sobre o vestido! Ela está deslumbrante! Até você ficaria impressionado. Lucas, por exemplo, parece completamente encantado pela beleza dela.”
Paula sentiu um incômodo crescer dentro de si com as palavras de Violet.
Quem? Eu? Isso não pode ser verdade.
Mas não podia demonstrar isso para Vincent.
“Vincent gostaria de te ver também. É uma pena que não possa.”
“É mesmo?”
“Com certeza.”
Com um empurrãozinho leve no ombro, Violet incentivou Paula a se aproximar mais de Vincent. Ele inclinou ligeiramente a cabeça, como se tentasse perceber sua presença. Paula, mesmo sabendo que ele não podia enxergá-la, sentiu-se estranhamente constrangida e abaixou um pouco a cabeça. Talvez, nesse caso, a falta de visão dele fosse um alívio.
Ela não era tão bonita quanto Violet dizia.
Depois de um momento que parecia de avaliação, Vincent surpreendeu as duas ao soltar uma risada repentina. Ele tentou conter com a mão, mas o tom zombeteiro era evidente.
“Bom, mesmo que eu pudesse ver com meus próprios olhos, acho que não seria grande coisa.”
Dessa vez, Paula sentiu um calor subir pelo pescoço, mas por outro motivo.
Como ele se atreve a zombar assim na minha cara?!
“Isso foi rude.”
“Por quê?”
“Claro que você não pode dizer que eu sou bonita,” Paula resmungou, “mas também não precisava ser tão direto! Poderia, pelo menos, ter mentido e dito que era bonita?”
“Não sou do tipo que mente.”
Ele manteve o rosto sério e balançou a cabeça com firmeza. Paula riu.
Sempre direto ao ponto.
Ao se virar para ele, percebeu que o sorriso de Violet havia sumido completamente, substituído por uma expressão congelada.
“Senhorita Violet? Você está bem?”
“Ah… sim.”
“Preciso me aprontar também. Lucas chegará em breve. Vocês podem descer primeiro. Paula, pode me ajudar?”
“Claro.”
Violet sorriu e seguiu para a porta primeiro. Paula avisou a Vincent que desceria antes, mencionando que precisava encontrar alguém que não gostou da decoração. Ela bateu o salto do sapato duas vezes – um sinal combinado. Vincent fez um gesto indiferente com a mão, indicando que ela podia ir.
Seguindo Violet, Paula voltou ao quarto. Sobre a cama, vários vestidos lindos estavam dispostos, cada um parecendo perfeito para ela. Quando se virou para perguntar a opinião de Violet, congelou no lugar assim que a viu.
Violet estava parada, olhando fixamente para o nada, totalmente distante. Algo estava muito errado.
“Senhorita Violet??”
Ao ouvir seu nome, os olhos de Violet voltaram ao foco.
“Eu… eu nunca vi isso antes.”
“Hã?”
“Aquele jeito direto dele.”
“O Mestre?”
“Sim. É a primeira vez que o vejo assim.”
Paula não pôde evitar ficar surpresa com as palavras de Violet.
Ele não é sempre assim? Sempre foi direto e temperamental comigo, então achei que esse fosse simplesmente o jeito dele. Ele não age assim com outras pessoas?
“Ele é assim com a Paula.”
“… hã?”
Paula ficou ainda mais surpresa, mas quando viu os olhos violeta dela perderem o foco de novo, não soube o que responder.
Uma onda de choque percorreu seu corpo. De repente, a reação de Sir Ethan ao ver Vincent jogando coisas fez todo sentido. Esse comportamento era algo recente ou Vincent sempre escondeu isso?
Então, ele só age assim comigo?
Desgraçado.
Violet escolheu um vestido branco, justo do ombro até os joelhos, abrindo-se depois em uma saia volumosa. Seu longo cabelo, trançado como o de Paula, estava enfeitado com delicadas flores.
Arrumada assim, Violet estava deslumbrante. Ela tinha chamado Paula de bonita, mas era Violet quem realmente roubava a cena. Enquanto descia as escadas com graça, segurando o corrimão, parecia a própria definição de elegância.
Se eu fosse homem, com certeza me apaixonaria por ela.
A música clássica animada preenchia o salão central, com um ritmo um pouco mais acelerado que trazia um toque de empolgação ao ambiente sereno. Mas além de Vincent e Lucas, havia outra presença inesperada, apesar de Paula ter dado ordens para limitar a entrada depois que a festa começasse.
Quem poderia ser?
Então, o homem acenou para elas. Era Ethan.
“Ethan!”
Violet exclamou alegremente. Ethan sorriu e acenou de volta.
“O que está acontecendo aqui? Você estava ocupado demais.”
“Você me mandou um convite e agora está fingindo que não sabe?”
Ethan balançou uma carta no ar. Violet, com os olhos brilhando de travessura, respondeu que seria mais divertido com mais um convidado. Além dela e de Lucas, Ethan era o único de fora que sabia da condição de Vincent. Sua chegada trouxe um pouco de vida ao salão, antes um tanto monótono.
Violet naturalmente entrelaçou seu braço ao de Vincent. Ele parecia acostumado com isso. Para quem observava de fora, os dois pareciam um casal perfeito.
Enquanto Paula os olhava sem expressão, Lucas se aproximou e estendeu o braço para ela.
“Permita-me acompanhá-la, Paula.”
“Estou bem, de verdade.”
“E eu, então?”
Ethan surgiu ao lado dela, do outro lado.
Paula balançou a cabeça, dessa vez com mais firmeza.
Prefiro passar essa.
“É uma festa, temos que dançar.”
“Não sei fazer isso. Vou ali pegar alguma coisa gostosa para comer.”
Dizendo isso, Paula se afastou em direção à mesa de comida. Ethan e Lucas trocaram olhares antes de segui-la. Sem par para dançar, os três decidiram aproveitar juntos um jantar tranquilo, um começo um pouco melancólico para a noite. Isabella, que estava supervisionando a festa, observava de longe.
No centro do salão, Violet e Vincent se encaravam.
“Será que ele sabe dançar?”
“Minha irmã vai arrastá-lo para a pista.”
“…”
Tlim.
As taças de Ethan e Lucas se tocaram, enquanto os dois olhavam para o casal. Paula, forçada a participar do brinde, também lançou um olhar para eles enquanto tomava um gole de vinho.
“Você bebe bem.”
“Não sou ruim nisso.”
Talvez porque o vinho fosse realmente bom, descia de maneira suave.
Com o avançar da noite, Isabella trocou a música por uma melodia clássica mais suave. Violet e Vincent se posicionaram na pista de dança, movendo-se em sintonia com o ritmo.
Sob o brilho majestoso do lustre, eles formavam uma visão deslumbrante. Os movimentos fluíam com naturalidade — Violet, com sua saia de renda branca que se abria como um botão de flor recém-desabrochado, irradiava charme com seu sorriso brilhante. Vincent, acompanhando seus passos com precisão, exalava uma confiança silenciosa.
“Nem tropeçam.”
“Eles já dançaram juntos várias vezes.”
“É lindo.”
Realmente lindo. Eles combinam tanto. Paula sorriu de leve, tomando mais um gole de vinho. Lucas, ao lado, a lembrou gentilmente para beber devagar.
A música cresceu e depois se dissolveu no silêncio, encerrando a dança. Violet e Vincent trocaram sorrisos, seus rostos iluminados pela alegria do momento. Paula, sem conseguir desviar o olhar da felicidade deles, se perdeu em pensamentos enquanto mordiscava um biscoito.
Então, uma mão surgiu ao seu lado.
“O que é isso?”
“Estou te chamando para dançar.”
“Como é que é?”
Paula tinha sido bem clara antes: ela não sabia dançar. Mas ao levantar o olhar, viu Lucas estender ainda mais a mão, insistindo para que aceitasse logo.
Quando hesitou e fez menção de recusar, Ethan acrescentou que, já que ele estava pedindo tão sinceramente, não custava nada dançar uma vez.
E quando Lucas deu de ombros e perguntou se ela realmente não queria, Paula acabou segurando sua mão.