A Empregada Secreta do Conde

Capítulo 40

A Empregada Secreta do Conde

Era um dia tranquilo enquanto Paula se ajustava aos poucos à vida com Lucas. Violet foi à casa do Conde pela primeira vez em muito tempo, carregando uma grande mala.

“Paula! Senti sua falta.”

Assim que Violet viu Paula, a abraçou e sussurrou que lamentava o fato de só poderem conversar por cartas. Então, Violet fez algo para receber Paula, esfregando o rosto dela, o que deixou Paula envergonhada. Era a primeira vez que ela passava por algo assim, então não sabia como reagir.

‘Será que ela costuma cumprimentar as pessoas assim?’

O corpo de Paula ficou rígido, e as mãos, sem saber onde ir, ficaram balançando no ar.

Lucas, que estava observando, se aproximou.

“Irmã.”

“Oh. Lucas?”

Violet piscou e olhou para Lucas. Pela reação dela, parecia que ela não sabia que Lucas estava morando ali.

“Ah, onde você estava?”

“Estava um pouco endividado.”

“Que pena. Você recusou a minha ajuda.”

Violet inclinou a cabeça para ver Vincent, que estava atrás de Lucas. Vincent percebeu seu olhar e virou a cabeça, fazendo de conta que não notou. Então, as bochechas de Violet se inflaram, mas ela não reclamou mais. Em vez disso, olhou feio para Lucas. Lucas deu de ombros e voltou para Vincent.

“Ethan também está ocupado, então está difícil de vê-lo ultimamente. Todo mundo é frio. Eu só tenho a Paula.”

“É uma honra.”

Violet abraçou Paula bem apertado novamente. Paula sentiu o doce perfume ao enterrar o rosto no ombro de Violet. Era o cheiro de mulher. As bochechas de Paula aqueceram com o perfume.

‘Tão diferente do meu…’

“Hmph. Vou ficar aqui também!”

Violet gritou para os dois homens por cima do ombro de Paula.

“Por quê?”

“Irmã, o que aconteceu?”

Os dois homens reagiram simultaneamente, expressando confusão. Paula os olhou desconcertada. Fez um gesto perguntando o porquê, mas Vincent não entendeu, e Lucas apenas piscou. Enquanto isso, as bochechas de Violet ficaram ainda mais infladas.

“Quem disse que vim porque queria ver os dois? Eu vim ver a Paula!”

“O quê? Eu?”

“Uhum! Vamos, Paula!”

Então, Violet puxou Paula escada acima. Embora fosse magra, ela tinha uma força considerável. Paula olhou para trás, confusa, mas os dois homens não pareciam ter a intenção de ajudar. Pelo contrário, olharam para o outro lado, como se não quisessem se envolver. Desta vez, as bochechas de Paula ficaram inchadas.


A adição de mais uma pessoa na mansão logo a tornou mais barulhenta.

Isabella tinha ido fazer uma visita depois de saber da novidade. Violet, que a cumprimentou, desempacotou as malas no quarto ao lado do de Paula. O motivo era que ela queria ficar com Paula. Paula teve até que prometer dormir com ela à noite. Ao contrário de Violet, que estava feliz em conversar, Paula só prestava atenção em Isabella. Felizmente, com uma expressão séria, Isabella ordenou que Paula verificasse se não havia problema no quarto de Violet.

Violet tinha bastante bagagem, provavelmente porque planejava ficar por um bom tempo. Da última vez, ela mandou alguém trazer roupas que tinha esquecido, mas dessa vez parecia ter vindo com um propósito.

“Tadaa! Paula, o que acha disso?”

Enquanto Paula organizava o ambiente, Violet tirou um vestido rosa e mostrou a Paula. Havia várias camadas de rendas na linha do ombro e nas mangas, e a barra da saia também foi desenhada com babados e rendas, dando um ar mais sofisticado à medida que descia. Além disso, uma fita rosa estava presa na cintura, podendo ser apertada para dar uma aparência mais esbelta. Quando Paula olhou de perto, viu que era um vestido caro, com fileiras de rosas bordadas, claramente feito de um material de boa qualidade.

‘Acho que ficaria bem nela.’

“É lindo.”

“Né? Acho que vai ficar ótimo em Paula.”

‘Desculpe, o quê?’

As mãos que estavam tocando o bonito vestido perderam força. Paula encontrou o olhar de Violet, que estava sorrindo, e esse sorriso parecia de alguma forma ameaçador. Uma sensação ruim surgiu. Paula instintivamente deu um passo para trás e balançou as mãos.

“Eu trouxe para você, Paula.”

“Agradeço a intenção.”

“Mas então não vai ter sentido.”

Ainda assim, era caro demais. Talvez Paula estivesse preocupada com o elástico que usava no cabelo, mas não era por isso. Ela recusou, dizendo que não podia aceitar algo tão caro. No entanto, Violet permaneceu em silêncio, aproximando-se dela com o vestido firmemente nas mãos.

“V-Violet.”

“Vai, Paula. O que você está fazendo?”

“O quê?”

“Tire.”

Desta vez, Paula perguntou ‘O quê?’ depois de um momento. Violet ainda estava sorrindo. Então, aproveitando o momento em que Paula estava distraída tentando entender o que ela queria dizer, Violet se lançou contra ela.

Depois disso, os gritos não pararam. As mãos implacáveis de Violet tentaram tirar o avental e o vestido preto de Paula. Paula lutou e resistiu, assustada, mas Violet não se importou e simplesmente tirou suas roupas com facilidade. Em um piscar de olhos, Paula estava vestindo apenas a roupa íntima.

Paula se agachou no chão e se cobriu com os braços. Era a primeira vez que passava por algo assim, então as lágrimas começaram a se formar em seus olhos. Sentia como se suas roupas tivessem sido roubadas por um ladrão.

Paula olhou para Violet, confusa, e viu que ela ainda estava sorrindo de forma doce enquanto jogava o avental e o vestido longe. Eles estavam a uma distância além do alcance de Paula. Seus olhos seguiram o vestido jogado à distância. No meio disso, Violet inesperadamente lhe apresentou algo — um espartilho.

“Por quê…?”

“Porque se você vai usar, é melhor que seja perfeito.”

“Por favor, tenha misericórdia.”

Paula rezou, mas não funcionou. Ela acabou usando o espartilho. Quando Violet apertou os cordões nas costas de Paula, ela ofegou. Depois de apertá-lo bem, Violet elogiou Paula, dizendo que ela estava muito bonita, mas Paula se sentiu desconfortável, pois era a primeira vez que usava algo assim. No entanto, ao contrário da pressão inicial ao apertá-lo, não era tão sufocante depois de um tempo. Com o passar dos minutos, Paula conseguiu respirar um pouco.

Com o espartilho, Paula parecia mais magra, e seu peito, que antes não existia, parecia visível aos olhos. Era fascinante. Enquanto Paula tocava a fita pendurada no meio do seu peito com admiração, Violet entregou-lhe uma meia-calça branca. Paula a vestiu sem resistência. Como se previsse isso, Violet também trouxe nova roupa íntima. Observando a satisfação de Violet, ela finalmente admitiu, relutante, que Violet parecia ter se preparado intencionalmente para essa roupa.

Depois de vestir o vestido problemático e os sapatos, Violet deu uma volta em torno de Paula, avaliando sua aparência. Seu olhar estava bastante afiado. Depois de mais algumas voltas ao redor de Paula, Violet bateu as palmas com um sorriso satisfeito.

“Hoje em dia, é cafona se a parte de baixo estiver muito cheia. Isso está perfeito. Como Paula é magra, mostrar um pouco é mais adequado do que exibir o corpo. Mas, como esperado, ficou ótimo em você!”

“Obrigada.”

Paula sorriu sem jeito e brincou com a saia. O toque das luvas, que usava pela primeira vez, era estranho. Violet deu mais uma olhada em Paula, como se estivesse apreciando, e então estendeu a mão até a cabeça dela. Paula se assustou e levantou a mão para bloquear.

“Por quê? Você precisa arrumar o cabelo e se maquiar.”

“Meu cabelo está bom. Eu-eu não quero maquiagem.”

“Ah, meu Deus. Qual é o sentido de se vestir tão bem se vai deixar o cabelo assim?”

Enquanto Violet se aproximava de Paula, ela protestou freneticamente.

Paula recuou e expressou seu total desgosto. Acima de tudo, ela odiava seu cabelo. Paula tentou tirar o vestido, dizendo que preferia não o usar, embora Violet insistisse que não deveria.

Violet ficou confusa com a atitude de Paula e a impediu. Paula insistiu em tirar a roupa. Seguiu-se uma luta de forças enquanto Violet tentava impedir Paula de removê-la. No meio disso, as duas perderam o equilíbrio e caíram para o lado.

A franja de Paula se separou quando ela caiu no chão. Tentando se levantar, Violet olhou para o rosto de Paula e arregalou os olhos. Paula rapidamente cobriu o rosto e se afastou. Preocupada que Violet fosse se aproximar, Paula levantou a mão restante para afastá-la.

“Paula.”

“Não se aproxime, não se aproxime. Me desculpe.”

“Por que está pedindo desculpas?”

“Porque sou feia.”

Violet piscou.

“Você não é feia.”

“Não precisa dizer nada bonito. Está tudo bem.”

“Paula. Eu estou falando sério.”

“Desculpa.”

Paula, se desculpando, tentou afastar o quadril para trás. Violet inclinou a cabeça.

“Você é um pouco simples, mas não acho que seja algo para pedir desculpas.”

“Desculpa.”

“Paula.”

“Desculpa. Desculpa.”

Quando Violet tentou se aproximar de Paula, inclinando o corpo, Paula se assustou e se afastou rapidamente. Nem ligou se seu vestido sujasse. Violet começou a se aproximar, mas parou. Sua mão estendida também ficou suspensa no ar.

“Desculpa.”

“Paula.”

“Desculpa. Desculpa.”

“…”

Violet não disse mais nada. Paula só repetia que sentia muito.

Ela não conseguia levantar a cabeça.

Tinha medo de olhar para o rosto de Violet, uma mistura de decepção e desprezo. Paula escutava críticas sobre si mesma a vida toda. As críticas que diziam que ela era feia, inútil, repulsiva, que como ela podia carregar um rosto como aquele, eram sufocantes para os outros.

Desculpa… eu também não queria ter nascido assim.

Paula balançou a cabeça e tentou afastar as acusações que giravam dentro de sua mente. Mas elas a prendiam com mais insistência.

[“Você é tão horrível.”]

Um dia, um menino da sua idade disse isso para Paula. Ao contrário das outras crianças, ele era diferente. Ele era gentil e amigável, brincava com Paula apesar das provocações que ela sofria. Paula gostava dele secretamente.

Mas, no final, ele estava apaixonado por aquela menina, Alicia. Foi por isso que ele se aproximou de Paula. Mesmo aproveitando-se dela, ele despejava críticas. Por causa da feiura de Paula, seu valor era julgado apenas pela aparência. Alguém chegou a dizer que ela deveria se considerar sortuda por ser feia, pois seu pai não a teria vendido.

Mas será que é realmente assim?

Devo me considerar sortuda?

Devo ser grata pela minha vida só porque não sofri pior do que outra pessoa? Eu já não sei mais…

“Desculpa. Eu realmente sinto muito…”

“Paula. Olha para mim.”

Uma voz calma chegou aos ouvidos de Paula. Ela abaixou a cabeça. Novamente, Violet a chamou.

“Paula.”

A voz suave era acolhedora. Paula parou de buscar perdão e respirou fundo. Hesitante, levantou a cabeça, e Violet estava sentada, olhando para ela.

“Paula, ouça. Eu não ligo para a sua aparência. Se você é bonita ou não, não me importa. Para mim, você é a Paula. Eu gosto de você, Paula. Eu gosto da Paula, que me trata com gentileza, dá conselhos sinceros, me apoia e me entende mesmo quando sou teimosa. Eu acho que essas são as verdadeiras belezas da Paula. Aparência não importa para mim, Paula.”

Violet sorriu docemente. Seus olhos roxos, firmes, estavam cheios de calor. A sinceridade contida em sua voz firme e tom suave foi transmitida.

“Eu gosto de cada pedacinho de você, Paula. Não importa como você seja.”

“…”

“Não peça desculpas. Por que você tem que pedir desculpas? Você não fez nada de errado.”

“Mas…”

“Ah, Paula. Você gosta de mim porque eu sou bonita? Você me odiaria se eu fosse feia?”

Paula imediatamente balançou a cabeça. Violet riu, um som brilhante ecoando pela sala.

E eu não consegui tirar os olhos do rosto radiante e sorridente.