
Capítulo 3
Hotel Dimensional
A cabeça de Yu Sheng parecia pesada e confusa, como se uma névoa densa tivesse se instalado em sua mente. O zumbido distante do tráfego na rua principal ia e vinha, como um sonho que escorre pelos dedos no momento em que você tenta agarrá-lo.
Ele vagou nesse estado semi-atordoado por um tempo que pareceu uma eternidade, até que seus pensamentos começaram a clarear. Lentamente, ele parou e se virou para olhar para o caminho que havia percorrido.
A noite havia caído. Os postes de luz agora brilhavam intensamente ao longo da rua, lançando um brilho quente e amarelado. Ele se viu em uma rua estreita perto de casa, cercado por prédios de apartamentos antigos e desgastados. Eles se erguiam como sentinelas silenciosas na escuridão, com suas paredes envelhecidas pairando sobre ele. No entanto, a luz suave que escapava das pequenas lojas improvisadas no térreo – casas transformadas em negócios – oferecia um estranho conforto, aliviando suavemente a sensação fria que corroía seu peito.
Frio?
De repente, Yu Sheng estremeceu ao sentir um arrepio gelado penetrar em seus pulmões, como lâminas congeladas perfurando sua pele. Sua mente reviveu aqueles olhos frios e escorregadios – os olhos do sapo.
Ele ofegou, a respiração presa na garganta, enquanto o pânico se instalava. Levou vários segundos até que ele se lembrasse de como respirar. Quando finalmente conseguiu, pressionou a mão contra o peito.
Por um breve e aterrorizante momento, ele imaginou um buraco onde seu coração deveria estar, como se seu peito tivesse sido escavado. Seu coração, antes uma coisa quente e pulsante, agora parecia frio e sem vida, como se tivesse sido arrancado. Mas então, enquanto ele estava ali, ele ouviu – thump, thump. Seu batimento cardíaco estava mais alto e claro do que nunca. Ele estava vivo. Afinal, não havia sido morto por aquele sapo monstruoso.
Mas as memórias – selvagens e dispersas – voltaram à tona, imparáveis como um rio furioso. Yu Sheng se lembrou da chuva, da porta estranha pintada na parede e do sapo gigante. Ele tentou afastar os pensamentos, convencer-se de que tudo tinha sido um sonho distorcido. Mas quanto mais ele tentava, mais claras e nítidas as memórias se tornavam.
Ele havia morrido uma vez. E, no entanto, aqui estava ele, caminhando para casa – a apenas dois cruzamentos de distância.
De todas as coisas estranhas que lhe aconteceram desde que chegou a esta cidade perturbadora, essa era de longe a mais bizarra.
Foi então que ele percebeu que as pessoas estavam olhando para ele. Seu comportamento estranho havia chamado a atenção dos transeuntes. Uma pessoa pareceu hesitar, como se estivesse considerando se deveria verificar como ele estava. Rapidamente, Yu Sheng acenou para eles, evitando olhares ainda mais estranhos. Ele acelerou o passo, ansioso para ir embora antes que mais alguém notasse.
Ficar parado na rua não o ajudaria a descobrir o que quer que tivesse acontecido com ele.
Ele se moveu mais rápido, correndo pelas vielas estreitas e deixando o bairro antigo para trás. Logo, ele se viu em uma parte mais tranquila da cidade, onde até os postes de luz pareciam mais fracos. A vida agitada das ruas desapareceu, e o silêncio frio e misterioso o envolveu mais uma vez. Os pedestres diminuíram até que ele ficou sozinho com os postes de luz vazios.
Finalmente, lá estava ela – sua casa. A velha mansão ficava sozinha na escuridão, distante dos edifícios ao redor, como se não pertencesse ali.
Era uma casa grande, mas sem imponência, de três andares, com tinta descascando e um telhado que cedia ligeiramente. As portas e janelas, embora antigas, estavam bem conservadas e limpas. O lugar parecia uma daquelas casas construídas pelos próprios moradores, que as haviam erguido às pressas anos atrás, antes que regulamentações rígidas entrassem em vigor. Era uma relíquia, deixada para trás nas sombras do rápido desenvolvimento da cidade.
Yu Sheng não entendia completamente o planejamento da cidade. Afinal, ele só estava neste lugar estranho há dois meses. E durante grande parte desse tempo, ele manteve um perfil discreto, ficando em casa e só agora começando a se acostumar com sua nova vida. Mas uma coisa era certa.
Esta casa antiga – por mais estranha que fosse – parecia o único lugar seguro em toda a cidade. Aqui, dentro de suas paredes, ele não havia encontrado as sombras estranhas que pareciam segui-lo em todos os outros lugares.
Ainda assim, a casa guardava seus próprios mistérios.
Respirando fundo, Yu Sheng apertou o saco de supermercado que estava segurando. Ele caminhou através do brilho pálido do poste de luz e se aproximou da porta da frente, procurando a chave no processo.
A porta velha rangeu ao se abrir. Yu Sheng entrou e acendeu as luzes. A casa não era nada parecida com a casa que ele se lembrava, mas no momento em que a luz preencheu o cômodo, ele sentiu uma estranha sensação de paz, como se estivesse realmente seguro.
Ele se virou e fechou a porta atrás de si, barrando a noite fria lá fora.
Sem pensar muito, ele jogou as compras na prateleira perto da porta da cozinha e foi direto para o espelho do banheiro. Sua mente corria com as memórias, vívidas demais para ignorar, e ele não conseguia se livrar da sensação de mal-estar que subia por sua espinha.
Com um movimento rápido e nervoso, ele abriu a camisa, revelando o peito.
Não havia ferimentos. Sem sangue. Nenhum sinal de que ele havia morrido.
Yu Sheng franziu a testa, verificando suas roupas em busca de qualquer sinal de rasgo. Sua mão se moveu instintivamente para o peito, pressionando o ponto onde, em sua memória, aquele sapo monstruoso havia arrancado seu coração. Ele soltou um suspiro de alívio ao não encontrar nenhuma ferida aberta. Seu coração ainda estava lá, batendo firmemente sob sua palma.
“Tem algo errado…” ele murmurou para si mesmo, sua voz mal um sussurro.
Ele saiu do banheiro, ainda perdido em pensamentos. Atrás dele, o espelho acima da pia silenciosamente se estilhaçou em uma teia de rachaduras – apenas para se consertar em um instante, não deixando nenhum vestígio de seu dano.
De volta à sala de estar, Yu Sheng afundou no sofá, tentando desembaraçar seus pensamentos caóticos. Quanto tempo ele estava aqui? Quanto tempo havia se passado desde que ele chegou a este lugar estranho e perturbador? Sua mente, exausta e pesada, começou a divagar. O sono o invadiu, lentamente a princípio, depois de uma vez por todas.
Não foi um sono repousante. Uma névoa profunda pairava em sua mente até que um baque alto explodiu em sua cabeça, como o golpe de uma pá contra uma pedra bem acima dele. O som o despertou.
Yu Sheng piscou, seus olhos lutando para se ajustar à escuridão que havia tomado conta da sala. As luzes da sala de estar haviam se apagado em algum momento. Mas ele se lembrava de tê-las deixado acesas – ele tinha certeza disso.
O pânico surgiu em seu peito. Instintivamente, ele pegou o bastão extensível ao lado dele – a primeira coisa que ele conseguiu colocar as mãos quando chegou a esta cidade assustadora. Ainda não tinha sido muito útil, mas só segurá-lo o fazia se sentir um pouco mais seguro. Ele se levantou cautelosamente, com todos os sentidos aguçados, alerta ao menor ruído.
Em um lugar tão remoto, um arrombamento não era impossível. Na verdade, ele quase esperava que fosse apenas um ladrão. Um ladrão ele conseguiria lidar – um sapo de um metro de altura, por outro lado, nem tanto.
Mas a sala estava silenciosa. Não havia sinais de arrombamento. Sem rangidos de tábuas do assoalho, sem farfalhar de movimento.
E – felizmente – sem sapos.
Yu Sheng se agachou, usando a luz fraca do poste de luz do lado de fora para examinar a sala. Tudo parecia como antes. Lentamente, ele caminhou até o interruptor da parede e acendeu as luzes novamente.
O brilho repentino inundou a sala de estar, e seus olhos se ajustaram rapidamente. Mas mesmo com as luzes acesas, algo ainda parecia estranho – embora ele não conseguisse identificar exatamente o que era.
Segurando seu bastão, ele se curvou ligeiramente, movendo-se pela casa com cautela. Ele verificou cada canto do térreo: a sala de estar, a cozinha, a sala de jantar e o quarto de hóspedes não utilizado. Tudo parecia normal.
Ele hesitou no pé da escada que levava ao segundo andar. Então, se preparando, ele começou a subir.
O segundo andar tinha três quartos: seu quarto, um depósito cheio de entulho aleatório e o quarto trancado no final do corredor.
Aquele quarto trancado era um mistério desde o dia em que ele se mudou. Por mais que ele procurasse, ele nunca havia encontrado a chave.
Ele verificou seu quarto primeiro – nada fora do lugar. O depósito estava igual, bagunçado, mas intocado.
Finalmente, ele se aproximou da porta trancada.
Como de costume, estava firmemente fechada.
Yu Sheng havia tentado de tudo para entrar: furadeiras elétricas, serras elétricas portáteis, até mesmo um pé de cabra. Nada funcionou. A porta de madeira aparentemente frágil permaneceu ilesa, como se zombasse de suas tentativas. As ferramentas soltavam faíscas e se desgastavam, mas a porta? Nem um único arranhão.
Desesperado, ele até chamou ajuda profissional. Três chaveiros, para ser exato. Os dois primeiros nem sequer chegaram à casa, perdendo-se no labirinto de ruas da cidade velha. O terceiro, bem, ele havia sido atropelado por uma motocicleta logo após virar na Rua do Sicômoro. Ele só teve alta do hospital na semana passada.
Era como se algo estivesse ativamente impedindo-o de destrancar este quarto em sua própria casa.
Sua mão se fechou em torno da maçaneta e, como esperado, ela não se moveu.
Tudo parecia igual. Trancado. Impenetrável.
Mas quando ele estava prestes a soltar, ele pensou ter ouvido algo – uma risadinha fraca. Tão suave que poderia ter sido o vento, mas não… soava como a risada de uma jovem, mal audível, mas cheia de diversão, como se estivesse zombando dele.
O sangue de Yu Sheng gelou, seu coração batendo forte no peito.
Ele recuou, seu pulso batendo forte em seus ouvidos. Alguém… ou algo estava lá dentro. Alguém esteve lá dentro o tempo todo.
Mas como eles ainda poderiam estar vivos? Como eles não morreram de fome?