Hotel Dimensional

Capítulo 5

Hotel Dimensional

Desde aquele estranho incidente com o sapo, Yu Sheng sentia como se seu coração tivesse se expandido, de alguma forma endurecido. Tudo parecia um pouco mais fácil de lidar—como agora, por exemplo. Acordando de um sonho bizarro, ele tinha destrancado um cômodo que deveria ter permanecido trancado, descoberto uma pintura a óleo falante e até mesmo sentido que havia algo mais—algo não exatamente certo—espreitando ali dentro. E, no entanto, lá estava ele, calmo como sempre.

Avançando, Yu Sheng levantou a pintura da parede, segurando-a em suas mãos, e a estudou cuidadosamente.

A moldura era pesada, quase exigindo respeito, e os detalhes eram extraordinários. Padrões intrincados rodopiavam pela superfície da madeira preta, entrelaçando-se como vinhas, misturando-se perfeitamente com as flores delicadas nas bordas da tela. Ele não sabia muito sobre arte, mas até ele podia dizer que esta pintura valia uma pequena fortuna.

Ainda assim, a figura escondida dentro da pintura se recusava a se revelar completamente. Apenas a bainha de uma saia espreitava do canto, recuando um pouco como se sentisse sua atenção.

Yu Sheng se inclinou para mais perto, apertando os olhos para a pintura, tentando perscrutar suas profundezas. Mas não havia mais nada para ver.

“Eu sei que você está aí dentro,” ele disse, sacudindo a moldura o suficiente para fazê-la tremer. “Se esconder não vai te adiantar nada.”

Um leve farfalhar veio do canto da pintura, mas nenhuma voz.

Não sendo do tipo que gosta de ser ignorado, Yu Sheng calmamente colocou a pintura no chão e se agachou. Do bolso, ele puxou um isqueiro, abrindo-o com um movimento suave e praticado.

Uma pequena chama dançava na ponta do isqueiro enquanto ele o segurava perto da pintura, sua expressão fria. “Vou contar até três. Se você não sair, vou queimar tudo isso até virar cinzas.”

O silêncio que se seguiu foi tenso, mas quando ele estava prestes a cumprir sua ameaça, uma voz pequena e hesitante falou da pintura. “…É só uma chama comum. Você não pode machucar um ser sobrenatural com isso.”

Embora houvesse um tremor na voz, Yu Sheng podia ouvi-la alta e clara.

“Ah, é mesmo?” Ele ergueu uma sobrancelha, inclinando-se para frente com um pequeno sorriso presunçoso. “Vamos ver isso então.”

Antes que a voz pudesse protestar, ele pressionou a chama no canto da moldura.

Um grito agudo ecoou quase imediatamente. “Não! Pare! Você está queimando!”

Satisfeito, Yu Sheng fechou o isqueiro com um estalo e observou enquanto uma figura emergia apressadamente dos padrões florais espinhosos na borda da pintura.

Era uma garota vestida com um vestido preto gótico que parecia ter saído de outro século. Uma tiara de renda branca coroava seus longos cabelos pretos como azeviche, e sua pele pálida era lisa e impecável como porcelana. Ela era inegavelmente bonita—até que você notasse seus olhos.

Vermelhos como sangue, brilhando fracamente na luz fraca do quarto. Eles o encaravam, arregalados com uma mistura de medo e raiva, e por um momento, Yu Sheng se assustou. Ele não esperava que ela aparecesse tão repentinamente.

Mesmo assim, havia algo nela que não era totalmente assustador. Em circunstâncias normais, Yu Sheng poderia tê-la considerado uma beleza frágil. Mas ali, emergindo do cenário escuro e sombrio da pintura, sua presença foi suficiente para fazer seu coração pular uma batida.

A garota se pressionou perto da borda da tela, seus olhos vermelhos assustadoramente grandes enquanto o encaravam, seu rosto quase preenchendo toda a pintura.

“Não acenda o fogo de novo,” ela implorou, sua voz mais suave agora. “Esta é minha única casa.”

Yu Sheng deu um passo para trás, a intensidade de seu olhar carmesim o perturbando. Algo naqueles olhos… eles grudavam nele, infiltrando-se em sua mente como tinta em pergaminho. Ele teve que se forçar a desviar o olhar, não querendo que ela ganhasse a vantagem.

“Tudo bem,” ele murmurou, limpando a garganta. “Eu não vou queimar.”

A garota piscou, sua expressão se acalmando. Ela se afastou da borda da pintura e retornou ao seu centro, onde se sentou em uma cadeira ornamentada de madeira entalhada, coberta por um espesso veludo vermelho. Em suas mãos, ela apertava um pequeno ursinho de pelúcia, segurando-o perto do peito como um amuleto protetor.

Yu Sheng ficou parado, observando-a. Uma garota gótica segurando um ursinho de pelúcia—de alguma forma, parecia quase… normal. Mas enquanto ele continuava a observar, algo parecia estranho.

Seu olhar se desviou para seus pulsos, expostos sob as mangas de seu vestido. As juntas ali—não eram naturais. Havia costuras visíveis, como as que você veria em uma boneca articulada.

Ele piscou, sua confusão aumentando ao perceber que ela não era humana.

Como se sentisse seu intenso escrutínio, a garota se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira, franzindo a testa. “Por que você está me encarando desse jeito?”

Yu Sheng abriu a boca para fazer a pergunta que queimava em sua mente, mas hesitou. O que ele sabia sobre este mundo? Ele tinha apenas arranhado a superfície. Era melhor manter sua ignorância escondida por enquanto. Ele mudou sua abordagem.

“Quem é você?” ele perguntou, em vez disso, mantendo seu tom neutro. “E por que você está aqui?”

A garota hesitou, seu aperto apertando o urso antes que ela finalmente falasse.

“Meu nome é Irene,” ela disse, mudando ligeiramente em seu assento como se estivesse tentando parecer mais formal. “Eu venho da Pequena Casa de Alice. Eu sou uma das bonecas de Alice… mas isso foi há muito tempo.”

Uma boneca?

A atenção de Yu Sheng se aguçou naquela única palavra. Seus olhos se voltaram para os pulsos de Irene—aqueles pulsos estranhos, articulados—e então de volta para o rosto dela. Duas coisas que ela disse se destacaram para ele: Pequena Casa de Alice e bonecas de Alice.

O que isso poderia significar? Bonecas, ele entendia. E, dado o que ele já tinha visto hoje, ele poderia esticar sua imaginação o suficiente para aceitar uma boneca falante que vivia em uma pintura. Mas Alice—quem era essa? Ou, aliás, o que era isso?

O nome “Pequena Casa de Alice” soava como se pudesse ser um lugar ou até mesmo uma organização. E “bonecas de Alice” lhe dava a sensação de que não era apenas Irene—que poderia haver mais delas.

A mente de Yu Sheng correu. Poderia haver outras como ela? Um grupo inteiro de bonecas? Ele imaginou casas por toda parte, cada uma com uma boneca espreitando em uma pintura, trancando portas, provocando proprietários que não tinham a chave—mas poderiam ser facilmente blefados com um isqueiro.

Tudo parecia surreal e envolto em mistério.

A voz de Irene interrompeu seus pensamentos. “Por que você não está dizendo nada? Você ainda está pensando em queimar, não está?”

Yu Sheng piscou e encontrou seus olhos. Seu olhar carmesim continha um toque de preocupação. Ele limpou a garganta e se inclinou para frente, tentando parecer sério. “Eu tenho uma pergunta.”

Irene olhou para ele com expectativa. “Sim? O que é?”

Ele se inclinou ainda mais perto, baixando a voz como se estivesse prestes a perguntar algo terrivelmente importante. “Essa Pequena Casa de Alice… é algum tipo de agência que trabalha para diminuir os valores dos imóveis?”

Houve um momento de silêncio atordoado. Irene piscou, claramente perplexa, “O quê?”

“Você sabe,” Yu Sheng continuou, falando lentamente como se estivesse explicando uma conspiração. “As pessoas contratam vocês para ficarem nas casas, trancando portas, deitadas durante o dia e rindo à noite para assustar as pessoas. Isso derruba os preços das casas, certo? Tipo assombrar propriedades para derrubar o mercado.”

Irene apenas olhou para ele, seus olhos carmesins arregalados. Ela não disse uma palavra por um longo e desconfortável momento, como se estivesse lutando para processar sua teoria absurda. Então, seu rosto corou com uma mistura de indignação e descrença.

“Você… Você pode me insultar o quanto quiser, mas não vai insultar a ancestral das bonecas ou minhas irmãs!” ela gritou, claramente ultrajada. “Nós somos muito poderosas—”

“Então por que você está assombrando minha casa?” Yu Sheng interrompeu, sua voz se elevando em frustração. “Por que você está trancando portas? E aquele sonho assustador que eu tive antes? Foi você quem fez isso? Ah, e a risada—era você?”

Ele disparou as perguntas em rápida sucessão, suas palavras vindo rápidas e vigorosas. Ao terminar, ele percebeu que poderia ter forçado demais. Ele pensou de volta no sapo daquela chuva, aquele que de alguma forma tinha aberto seu coração e levado à sua… estranha experiência. Ele não conseguia afastar a sensação de que esta pintura—e Irene—poderiam ser tão perigosas quanto. Ela pode parecer razoável agora, mas quem sabia do que ela era realmente capaz?

Mas antes que ele pudesse voltar atrás, ele se livrou de suas dúvidas. Se o sapo tinha sido capaz de abrir seu coração e fazê-lo “morrer” uma vez, e nada terrível tinha vindo disso, ele provavelmente poderia lidar com uma boneca que parecia ter medo de fogo. Afinal, qual era o pior que poderia acontecer?

Irene não explodiu ou jogou seu ursinho de pelúcia nele com fúria. Em vez disso, ela encolheu-se de volta em sua cadeira, parecendo um pouco… culpada.

“Eu… eu não queria que isso acontecesse,” ela disse, sua voz muito mais suave agora. Ela se contorceu em seu assento, apertando nervosamente seu ursinho de pelúcia até que seus bracinhos estivessem deformados. “Há muito tempo, eu sofri um acidente e fiquei presa dentro desta pintura. Eu perdi contato com todas as outras bonecas…”

Seus olhos vagaram, examinando o quarto fora da pintura como se ela estivesse vendo algo muito além das paredes da casa de Yu Sheng.

“Quanto ao porquê de eu estar em sua casa,” ela continuou, sua voz incerta, “eu realmente não sei. Eu estou presa nesta pintura, e eu não posso escolher onde eu vou parar. Você não… me comprou em uma exposição de arte ou algo assim? E me pendurou na sua parede?”

Yu Sheng piscou, pego de surpresa pela pergunta. “…?”