O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 401

O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 401: A Sombra e a Marionete

Sansa contra Adriana — ou, mais precisamente, a marionete de Beatriz.

A batalha tinha chegado ao seu clímax.

Depois de destravar sua versão da armadura de Seris, Sansa logo percebeu que não poderia sustentá-la por muito tempo. Diferente do gelo calmo de Seris, as sombras dela eram caóticas — muito mais poderosas, mas também muito mais exaustivas. O consumo exorbitante de stamina forçou a princesa a deixar uma coisa bem clara: ela precisava acabar com a luta agora.

Mas Beatriz não ia lhe dar essa chance.

A feiticeira manteve ela presa, a bombardeando de todos os lados com lâminas, lanças e feitiços — sem nunca deixar a menor oportunidade de ataque.

"Você está prestes a perder... minha querida amiga,"

Beatriz zombou, desencadeando outra investida implacável.

Em resposta, Sansa envolveu-se com suas asas sombrias, formando um casulo que resistiu ao ataque de Beatriz.

A defesa resistiu, mas por pouco. Sua stamina começava a acabar... e era só uma questão de tempo até o escudo rachar.

Ao perceber isso, a mente de Sansa virou uma engrenagem, analisando cada movimento possível.

Beatriz era esperta. Ela mantinha sempre uma boa distância, nunca permitindo que alguém chegasse perto demais. Mesmo com o aumento de sua armadura, a velocidade e o poder aprimorados de Sansa não eram suficientes para fechar a brecha tão facilmente.

"Preciso de uma forma de reduzir essa distância..."

Sob o céu completamente preto, o campo de batalha era iluminado apenas pelos canhões mágicos de Beatriz — e naquele momento, Sansa lembrou de algo crucial:

Na escuridão... suas sombras estavam no auge.

Recordando sua batalha selvagem contra Frey Estrela e Oliver Khan, ela enrolou suas sombras ao redor de si mesma e mergulhou em direção ao solo em velocidade máxima.

"Quer fugir? E pra onde acha que vai?"

Beatriz riu, redirecionando seus projéteis para baixo.

Sansa continuou sua queda — expondo-se a ataques de cima — até desaparecer na terra, engolida pela sombra.

Beatriz piscou, surpresa.

"A presença... desapareceu completamente."

Insatisfeita, ela vasculhou o campo de batalha. A aura de Sansa tinha sumido sem deixar rastro.

Então, sua voz ecoou do vazio:

"Isso é um presente dos demônios que vocês veneram com tanta fidelidade."

"Enquanto houver escuridão... posso mover-me livremente por este campo de batalha!"

Os olhos de Beatriz se arregalaram ao sentir uma presença — desta vez, exatamente acima dela.

Sansa reapareceu, agachada nas sombras de uma crista elevada acima do portão.

Sem hesitar, uma mão colossal de escuridão se formou ao redor de seu braço. Ela a lançou em direção a Beatriz, com a intenção de destruí-la.

"Truque irritante..."

Com um movimento de seu cajado, Beatriz conjurou um escudo enorme acima da cabeça. A mão caiu com força brutal — mas sua barreira resistiu.

"Seus truques baratas não funcionam comigo."

Mas enquanto ela falava...

Todos os canhões e armas que ela tinha invocado foram de repente destruídos — um por um — por lâminas sombrias surgindo de todos os cantos da escuridão.

Desde que sombras existissem...

Sansa poderia atacar de qualquer lugar.

Era o mesmo poder aterrorizante que há tempos abalou até os generais imperiais mais poderosos.

Beatriz o reconheceu instantaneamente.

"Uma imitação do poder do Rei da Sombra... que patética."

"E essa ilusão ridícula será sua ruína!"

Sansa avançou, formando uma outra mão colossal — desta vez ao redor do braço esquerdo.

Ela uniu ambas as mãos formando uma broca giratória gigante de sombras e a lançou para baixo. A broca girou violentamente, rompendo a escudo de Beatriz com pura força.

"Fui mais próxima de você do que qualquer outra. Fui sua única verdadeira amiga... e, ainda assim, não consegui perceber o que você escondia atrás daquele rosto tímido e inocente."

Enquanto a broca girava, cada vez mais lâminas sombrias surgiam pelo campo de batalha — Sansa pressionando ainda mais.

Ela sempre se orgulhou de sua habilidade de ler as pessoas melhor que qualquer outra. Mas, com Adriana, ela falhou.

Se tivesse percebido mais cedo, talvez pudessem ter evitado a catástrofe que se seguiu.

Mas não percebeu. Apesar de não confiar na maioria, ela abaixou a guarda por aquela garota que fingia ser fraca e gentil.

E agora... pagava o preço por isso.

"Já é tarde demais para desfazer o que foi feito... mas eu te matarei aqui e agora!"

Reúnindo cada gota de força restante, Sansa avançou para terminar a luta — para atravessar as defesas de Adriana e acabar com ela.

Mas Beatriz tinha mais uma carta na manga.

Com um sussurro de magia, um círculo radiante de luz envolveu-se ao redor dela como uma armadura... um escudo Divino que parou todas as lâminas de sombra de forma implacável.

"Seus poderes são realmente formidáveis. Afinal, eles derivam da Sombra do Rei... mas..."

Com um sorriso malicioso, Beatriz apontou seu dedo indicador direito para o céu.

"Suas sombras são fracas demais, Sansa. Você nem consegue usar seu próprio poder direito. Que vergonha."

Uma pequena brasa de chama apareceu na ponta do seu dedo. Em segundos, ela cresceu e virou um mini sol abrasador que iluminou o campo de batalha com brilho violento.

"Queime-os por mim."

A luz ardente expulsou todas as sombras que cobriam o campo.

"Se essa fosse realmente a Sombra do Rei, uma luz tão insignificante como essa não a apagaria. Mas você... é só uma imitação barata, Sansa. Kihihihi."

A comparação por si só era injusta.

A verdadeira Sombra do Rei exigia o poder do próprio Senhor da Luz para ser contrabalançada — não a força de uma mera marionete.

A diferença era imensa.

Agora, com toda a escuridão varrida, Beatriz apontou a mão diretamente para Sansa.

"Adeus."

Ela liberou um feixe de aura devastadora que engoliu Sansa inteira, rasgando o chão sob ela com força explosiva.

Foi demais... e Beatriz tinha certeza de que seria suficiente.

Mas a verdade logo se mostrou diferente.

Ela só percebeu que algo estava errado quando uma espada feita de sombra atravessou seu abdômen... Sansa reapareceu bem no interior do feixe, resistindo à força com o que restava de sua armadura.

Metade de sua armadura sombria já havia se desfeito. Seu corpo estava ensanguentado e completamente destruído.

No entanto, ela finalmente criou a distância.

Sua lâmina agora cravada fundo no estômago de Beatriz.

"Eu finalmente te alcancei..."

Sansa ofegava, de rosto a rosto com a feiticeira, com a lâmina sombria profundamente fixada.

Deveria ter sido um golpe fatal — mortal, até.

Mas Beatriz não demonstrou dor. A sorria.

"Muito bem, Sansa."

Reconhecendo sinceramente, a feiticeira levantou a mão novamente... e disparou outro feixe devastador de aura a curta distância, jogando violentamente Sansa ao chão.

Gritando de dor, a princesa caiu, seu corpo se quebrando ao impacto. Suas sombras se dispersaram completamente.

Ela permaneceu no chão — sangrando, respirando com dificuldades — enquanto Beatriz lentamente arrancava a lâmina sombria de seu abdômen.

"Que pena. Mas esse corpo... não é como os outros."

Apesar do sangue escarlate que derramava, o corpo de Adriana era apenas um vaso — uma marionete.

Não podia ser morta por uma ferida dessas.

E essa realização veio para Sansa... tarde demais.

Enquanto lutava no chão, Beatriz desceu lentamente do céu. O sol artificial acima desapareceu, restabelecendo a escuridão natural do campo de batalha.

"Você lutou bem, Sansa. Não esperava que pudesse acertar um golpe sequer. Uma pena que termine aqui."

Levando o dedo novamente ao céu, Beatriz invocou fogo, formando uma coroa de destruição ao seu redor... pronta para apagar Sansa de uma vez por todas.

"Você não passou de uma criação defeituosa de uma semente demoníaca experimental. Você falhou na missão... e sobreviveu roubando poder de demônios. Uma experiência fracassada como você deveria ter morrido há muito tempo."

Preparando-se para dar o golpe final, Beatriz sorriu cruelmente.

"Vou terminar com essa imundície eu mesma."

Diante do poder prestes a acabar com sua existência, Sansa fechou lentamente os olhos.

Ela murmurou suas últimas palavras em voz baixa.

"Sim... devia ter morrido há muito tempo."

Desde o dia em que foi seqüestrada lá atrás...
Desde a luta contra Oliver e Frey...
"Mas eu sobrevivi. E continuarei sobrevivendo."

Naquele momento — bem pouco antes de Beatriz liberar seu ataque final — sangue voltou a respingar.

Vários tentáculos de sombra surgiram da própria sombra de Beatriz, atravessando-a e levantando-a violentamente ao ar.

Sansa, quase sem forças, levantou-se — ofegante — enquanto olhava para o corpo perfurado de Adriana.

"Finalmente... te enfraqueci o suficiente."

Ela falou com dificuldade, as palavras pesadas, enquanto Beatriz a olhava, incredula.

"Como?!", ela gritou. "Como você colocou suas sombras ali?!"

Não fazia sentido.

Sansa tinha esgotado sua força. Beatriz tinha sido demais vigilante para deixar alguém plantar sombras dentro dela sem perceber.

E, ainda assim...

A princesa sorriu levemente.

"Tenho um irmão infeliz... que nunca deixou de tentar enfiar suas mãos sujas na minha vida. Ele enviou peões atrás de mim um por um... até que eu vi todos ao redor como possíveis inimigos."

Desde criança, Sansa aprendeu a desconfiar de quem chegava perto demais... Tudo por causa de Aegon, que tentou matá-la mais de uma vez.

Assim, desde que adquiriu o poder das sombras — e desde o incidente onde Veyrith a atacou há muito tempo — ela desenvolveu uma técnica secreta:

Sansa escondia partes de seu poder nas sombras daqueles mais próximos. Não só para prejudicá-los... mas também para protegê-los.

"Coloquei minhas sombras dentro da sua sombra há muito tempo..."

"Embora nunca imaginei que acabaria usando-as contra você... Adriana."

Suspensa no céu, com o corpo perfurado por dezenas de espinhos de sombra, Beatriz concordou com um sorriso.

"Entendo... Então foi por isso que não percebi até o fim. Você as escondeu há muito tempo. Movimento inteligente."

Apesar das feridas profundas que rasgavam sua carne, ela falou com um tom indiferente... como se a dor fosse algo abaixo dela.

Ao ver isso, Sansa se tornou automaticamente cautelosa. Enquanto isso, Beatriz suspirou, incomodada.

"Ah, céus... Preciso mesmo parar de abaixar a guarda na hora que acho que a batalha acabou. Essa é a segunda vez que isso acontece com minha adorada boneca."

O comentário casual de Beatriz despertou algo na mente de Sansa.

"Bonecas?", ela perguntou com uma carranca.

A feiticeira apenas retornou ao seu sorriso habitual.

"Este corpo está acabado. Vai morrer em breve. Vamos considerar como um empate... Sansa."

"O que você quer dizer com ‘bonecas’?", ela insistiu, procurando respostas.

Beatriz ignorou, rindo maliciosamente.

Naquele exato momento — bem na frente do portão — o chão sob os pés de Sansa de repente se iluminou.

Beatriz ativou uma das armadilhas mágicas que tinha preparado mais cedo na batalha, junto com a armadilha do Portão Vermelho.

Ao ver a luz, Sansa tentou fugir imediatamente.

Mas já era tarde demais.

"Desculpe, Sansa. Mas você não foi a única a guardar sua carta na manga até o fim."

Enquanto Beatriz falava...

Um feixe de luz fino surgiu do nada.

Um pilar de luz simples... mas que atravessou de forma implacável o peito de Sansa, deixando um buraco sangrento com mais de vinte centímetros de largura.

O raio atravessou o corpo inteiro dela, saindo pelas costas e deixando uma cavidade vazia, revelando o céu lá fora.

Os olhos de Sansa perderam a faísca quase que instantaneamente. O sangue saiu sem parar do ferimento enquanto seu corpo se dobrava no chão.

Ao mesmo tempo, o corpo de Adriana também desabou... as sombras que mantinham sua marionete sumiram junto com sua vida que se esvaía.

Seus corpos imóveis jazia lado a lado, ambos olhando fixamente para o céu noturno vazio, com sangue acumulando-se sob eles.

Era a última nota de uma batalha brutal... entre uma feiticeira astuta e uma princesa que lutou até o último instante.

Sansa Valerion contra Adriana.

Este round terminou em empate... e com a morte de ambos.