
Capítulo 402
O Ponto de Vista do Vilão
Capítulo 402: Quem sou eu?
A maior parte das batalhas já tinha chegado ao fim.
Só faltava um pouco mais para que o cortina se fechasse nesta rodada final.
Em algum lugar no vasto campo de batalha...
Draxler descansava sobre uma rocha irregular, sua espada fincada ao seu lado no chão.
Com uma mão passeando pelos cabelos alaranjados, o cavaleiro escolhido de Beatrice suspirou de tédio ao observar a imensa planície destruída diante de si.
"Aquela criatura... ele realmente fugiu."
Após uma batalha longa e intensa, Ghost Umbra tinha se mostrado uma ameaça séria... um adversário que Draxler considerava à altura.
Mas justo no momento em que a luta atingia seu auge...
Ghost desapareceu, escapando com um golpe poderoso e inesperado que cortou o lado direito de Draxler.
O cavaleiro limpou o sangue da ferida e provou-o com a língua.
"Ele realmente me acertou... aquele Ghost Umbra."
Guardando a espada, Draxler virou-se e se afastou do campo de batalha.
"Vou guardar seu nome na memória, garoto."
Ele não tinha mais intenção de perseguir Ghost... não após sentir uma aura monstruosa emanando de outro confronto próximo.
Até mesmo um guerreiro dos Ultras sabia quando recuar diante de algo realmente aterrorizante.
Enquanto isso...
Bem longe da posição de Draxler, Ghost Umbra agarrava-se a uma falésia, seu corpo coberto por ferimentos profundos e abertos.
Apertando um par de adagas negras que trouxera de Londor, forçava-se a continuar andando, cambaleando a cada passo.
"Aquele homem... ele era forte. Grande demais."
Foi a primeira vez que Ghost enfrentou um guerreiro como Draxler.
A força dele tinha continuado crescendo durante a luta... quase atingindo o nível SS ao final.
"Se eu tivesse continuado a lutar, teria morrido."
Mesmo após alcançar Draxler com sua técnica de corte espacial...
Ghost conseguiu apenas rasgar o lado direito do adversário.
Sabendo que não poderia vencer, o assassino silencioso recuou... voltando seu foco para o que importava mais.
Encontrar seus amigos.
Estava tão gravemente ferido que a tontura tomou conta dele devido à quantidade de sangue perdido.
Assassinos como ele nunca deveriam permanecer em combate direto por muito tempo. Apesar de Ghost ser indiscutivelmente poderoso... ele conhecia bem seus limites.
"Preciso encontrar os outros — rápido."
Repetia as palavras como um mantra, forçando-se a avançar, passo a passo, sem perceber o que o cercava.
Após alguns minutos se arrastando pelo terreno desolado...
Ghost finalmente surgiu em um campo aberto — um lugar com uma visão ampla da planície destruída à sua frente.
Mas assim que entrou na clareira, congelou.
Olhos arregalados. Boca entreaberta.
Os únicos sons que ouvia eram os gritos agudos de corvos e os silvos assombrosos do vento.
O cheiro de sangue sufocava seu nariz... e, para alguém acostumado à morte, até ele achava aquilo insuportável.
Em frente a ele...
A terra estava dilacerada e queimada, como se tivesse sido rasgada por deuses. Crateras gigantescos pontuavam o campo de batalha, como feridas abertas.
E espalhados por elas, corpos quebrados... rasgados, mutilados, embebidos em sangue tão espesso que formava um lago carmesim.
Não havia mais nada naquele lugar... exceto morte.
Centenas... não, talvez mais de mil.
"Que tipo de batalha poderia deixar tudo isso? Quem diabos lutou aqui?!"
Ghost murmurou involuntariamente, avançando cambaleando, incrédulo, tentando entender o que tinha diante de si.
Então ele parou.
Congelado no lugar.
Viu um homem... caminhando lentamente para longe do bloodbath, corpo banhado de vermelho.
A princípio, ele não reconheceu o homem.
Mas então viu as duas espadas negras à sua cintura.
E tudo fez sentido.
...
...
...
—Ponto de vista de Frey Starlight—
Eu havia perdido totalmente o senso de realidade.
Mais uma vez, mergulhada na escuridão.
Minha consciência vazia... entorpecida, incapaz de perceber o que quer que fosse ao meu redor.
Lembro-me de lutar com todas as minhas forças... arrastando esse corpo destruído pelo campo de batalha.
Eu lutei. E lutei. E lutei.
Corria como um louco... brandindo minhas lâminas como uma fera moribunda...
Tentei. Mas perdi.
Perdi para Mergo.
Essa foi a última lembrança que tive... antes que a escuridão me engolisse por completo.
Eu deveria estar morta.
Mas sabia que isso não podia ser verdade.
Eles não iam me deixar morrer tão facilmente.
Eu sabia...
Eu sabia que este mundo não me deixaria partir assim.
E assim esperei.
Esperei a escuridão me devolver à realidade.
Senti ela me envolver... apertando, fria e pesada... como se estivesse me abraçando.
"Ah... como eu desejaria poder dormir."
Queria me deixar levar... escapar em sonhos e esquecer de tudo.
Mas não tive essa sorte.
Pois, segundos depois... a escuridão cedeu lugar.
E a luz voltou.
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Abri meus olhos novamente...
Para uma cena familiar.
O campo de batalha destruído.
O gosto de sangue — doce e amargo — ainda fresco na boca.
Meu corpo estava em pedaços, como sempre.
Mas meu oponente não estava mais ali.
Na verdade... o próprio campo parecia abandonado há tempos.
"Será que acabou?"
Onde estava Mergo? Quanto tempo havia passado?
O que aconteceu com meus amigos?
Uma enxurrada de perguntas invadiu minha mente, uma após a outra.
Apesar dos ferimentos, sentia algo estranho... meu corpo ainda podia se superar, ir além de seus limites.
Era como se minha força não tivesse se esvaído nada.
E então... enquanto eu cambaleava confusa...
Senti aquilo.
Aquela sensação gélida tocando meu rosto.
Instintivamente, levantei a mão... tentando alcançá-la...
Aquela metal preto e frio.
Atrás de mim, jazia um exército de cadáveres.
Aos meus pés, um mar de sangue se estendia infinitamente.
E ali fiquei... sem perceber que tinha mantido aquela máscara o tempo todo.
Silenciosamente, a retirei do rosto.
E lá estava ela... a Máscara Sem Nome.
Não senti dor como na última vez.
Não.
Minha mente estava estranhamente calma.
E, mesmo assim, tudo o que pude fazer... foi fitar a máscara com uma expressão vazia.
A amargura na minha boca ficava mais pesada a cada momento.
E eu nem sequer sabia... o que tinha feito.
Foi então que a pergunta saiu dos meus lábios...
"Quem sou eu?"
Quem... sou eu?
Então, de repente...
Uma voz me chamou. Uma que eu conhecia bem.
"Frey!!"
De longe... mancando, ensanguentado, mal conseguindo ficar de pé...
Era Ghost.