
Capítulo 376
O Ponto de Vista do Vilão
O Império..
A outra terra dos humanos—intocada pelo sangue imundo dos demônios.
Uma vez à beira da extinção, recuperaram parte de sua história perdida ao construir um continente cercado por muralhas altas... barreiras que marcavam a fronteira entre eles e o mundo contaminado além.
Passaram-se anos desde a antiga guerra, e o Império entrou em um dos momentos mais cruciais de sua longa história após perder a batalha contra os Ultras. Essa derrota lhes custou uma parte significativa de seu poder militar.
Foi um golpe devastador, especialmente para o povo, que teve que suportar dias sombrios. Incontáveis mulheres esperavam por maridos que desapareceram, tornando-se viúvas de sonhos.
Crianças ansiavam por crescer nos braços de pais que nunca voltaram da guerra — órfãs de esperança.
Ambições, sonhos outrora envoltos em luz, transformaram-se em pesadelos de desespero à medida que o mundo que conheciam desmoronava.
Mas agora, Sir Alon Valerion tinha retornado, tentando salvar o que ainda pudesse ser salvo.
No entanto, o tempo não perdoa ninguém. Será que o Imperador de Ferro conseguirá onde seu filho falhou?
A única que poderia responder era o futuro.
...
...
Império – Região da Fronteira Norte – Ashina
Neste território congelado, onde a neve nunca parava de cair, o sol era uma visão rara.
A região norte de Ashina, limitada pela capital Belgrado por cima, era desolada e assombrosa na maior parte do tempo, graças ao terreno severo e ao clima rigoroso.
Transformou-se em um lugar onde prisões—como a famosa Alcatraz—foram construídas, ou um último refúgio para os rejeitados pelo Império. Principalmente porque faz fronteira com as Terras da Noite do Norte, logo além.
Faz quinze dias desde que Frey e seus companheiros foram raptados.
O sequestro que desencadeou o caos que agora engolia o mundo.
Foi essa situação que levou Sir Alon a este território sombrio e desolado.
O Ancião de Ferro liderava o grupo, acompanhado por Oliver Khan, Ada Starlight e Carmen.
Após dias de viagem e buscas pela região congelada, os quatro ainda não tinham encontrado o que procuravam.
Mas Sir Alon não demonstrava sinais de frustração.
À medida que avançavam mais fundo na floresta congelada, com árvores brancas pela neve incessante, Ada Starlight sentiu-se compelida a falar.
"Perdoe minha pergunta ingênua, mas... o que exatamente estamos buscando aqui?"
Sir Alon tinha informado que precisavam despertar vestígios do Antigo Juramento para libertar Frey e os outros de seu tormento.
Porém, os dias passavam rápido demais, e Ada estava extremamente ansiosa... ela havia checado o sinal de vida de seu irmão várias vezes nos dias anteriores.
Principalmente após seu sinal ter ficado alarmantemente fraco no dia anterior, confirmando que ele estava gravemente ferido, ao menos.
"Não há necessidade de correr, Lorde Starlight. Se houvesse uma maneira mais rápida, eu a teria tomado."
"Peço desculpas."
Ada percebeu que sua pergunta era tola, dada a dedicação evidente de Sir Alon.
"Sei que seu irmão é importante para você, mas preciso que esteja no seu melhor, Lorde Starlight. Não deixe suas emoções atrapalharem sua mente."
"Vou manter isso em mente."
"Muito bem."
Enquanto conversava com Ada, Sir Alon continuava emitindo sua aura em ondas, sondando ao redor.
"Estamos nos aproximando das Terras da Noite do Norte," disse Oliver Khan, observando cuidadosamente o entorno.
Carmen franziu a testa ao ouvir o nome das Terras da Noite.
"Não é essa a região onde um dos Senhores do Pesadelo reside?"
Oliver Khan assentiu.
"Sim. Os Vigilantes do Abismo estão lá."
Dentre os três Senhores do Pesadelo, os Vigilantes do Abismo eram os mais enigmáticos.
Não eram uma única entidade, mas sim um grande grupo parecido com cavaleiros.
O que os diferenciava dos humanos era sua constituição enorme e altura imponente—mais de três metros de altura.
De longe, poderiam ser confundidos com cavaleiros comuns blindados.
"É seguro avançar mais?"
"Tudo bem. Nosso poder de combate é mais do que suficiente para enfrentá-los."
Oliver Khan os tranquilizou—eles poderiam lidar com os Vigilantes do Abismo se fosse necessário.
Embora, na verdade, a maior parte dessa força vinha do próprio Sir Alon, um guerreiro no nível de pico SS+.
"Não se preocupem com os Vigilantes do Abismo."
Sir Alon parou de andar, um sorriso largo se espalhando por seu rosto.
"Chegamos."
Com essas palavras, ele bateu no chão com sua bengala, liberando uma onda de aura dourada que se propagou como um efeito de onda.
E então—eles viram.
O espaço diante deles se quebrou como vidro.
A realidade virou de cabeça para baixo enquanto a ilusão ao redor deles se dissipava.
Sir Alon havia atravessado uma barreira estranha... uma que nem Oliver Khan nem Carmen haviam percebido.
Todos ficaram surpresos ao se encontrarem em um lugar completamente diferente desta vez...
"Vejo que ainda são bons em esconder."
Sir Alon falou ao dar o primeiro passo no território recém-revelado.
Era o mesmo local... mas completamente diferente.
Diferente da terra pacífica que fora antes...
Ada Starlight e os demais ficaram chocados com o caos avassalador que agora preenchia o espaço diante deles.
Sinais de batalha, manchas de sangue e corpos espalhados pelo chão, enquanto a atmosfera ficava mais sombria a cada segundo.
Olharam para os corpos desfigurados dos cavaleiros caídos—espalhados pelo terreno, até mesmo espetados nas árvores.
Todos chegaram à mesma conclusão sombria.
"São os Vigilantes do Abismo..."
Sir Alon confirmou sua suspeita sem sequer olhar para trás.
"Os Vigilantes do Abismo são um verdadeiro incômodo. Eles me trouxeram mais problemas do que eu posso contar durante meu governo do Império... São um exército por conta própria, e seu líder é de classificação SS+."
Ao avançarem...
As expressões de Oliver Khan e Carmen mudaram assim que perceberam a presença de auras poderosas vindo de longe.
"Por isso tive que agir antes que eles causessem uma catástrofe para o Império. Então criei vigias... para vigiar os Vigilantes."
Depois de uma longa caminhada, Sir Alon e o resto finalmente emergiram da floresta sombria para um campo aberto que se estendia até o horizonte.
O campo parecia assustadoramente vazio... nada havia lá além de uma modesta cabana de madeira, cuidadosamente construída na borda da floresta.
Os únicos sons ali eram o barulho ritmado de cortar madeira... e o pio do vento frio passando por suas faces.
Segurando-se atrás de Sir Alon, o grupo observava um homem que continuava cortando madeira, ignorando completamente sua presença.
Ele vestia roupas pretas, rasgadas, que pareciam um kimono—um traje que nenhum deles tinha visto antes. Suas roupas estavam gastas e envelhecidas; seu cabelo era longo, preto e desgrenhado.
Uma barba fina delineava seu queixo, e seus antebraços eram fortes e calejados.
Uma espada pendia na cintura dele—exatamente como um samurai.
O homem permanecia lá, cortando um tronco após o outro.
Sir Alon foi o primeiro a quebrar o silêncio pesado entre eles e o homem, que ainda não os reconhecia.
Avançando, sua voz soou, forte e firme como sempre.
"Ainda tão rude. Não vai me cumprimentar, Mestre da Espada?"
Ao ouvir o título que o mundo uma vez lhe dera... o homem parou de cortar e abaixou o machado.
Quando se virou, todos puderam ver seus olhos completamente pretos e sua expressão tranquila.
"Sir Alon... ainda se agarra à vida, não é?"
"Heh... a morte pode me levar quando ela quiser."
Sir Alon respondeu com o mesmo sorriso arrogante.
Contudo, o chamado Mestre da Espada continuou andando, levando a lenha picada em direção à sua casa.
"Visitar-me depois de todos esses anos? Desculpe, mas minha humilde residência não foi feita para acomodar você e seus muitos convidados."
Ao testemunhar essa troca estranha...
Ada e os demais não puderam fazer nada além de observar silenciosamente aquele homem maltrapilho.
Ele parecia frágil e exausto. A poderosa aura que sentiram anteriormente não vinha dele...
Mas a maneira como Sir Alon o tratava deixava claro: aparência pode enganar.
"Preciso de sua ajuda mais uma vez, Vendrick."
Sir Alon foi direto ao ponto, revelando a verdadeira razão de sua jornada até os confins do Império.
Vendrick não deu reação. Continuou apenas trabalhando.
"Minha ajuda? Com o quê?"
Enquanto empilhava a lenha cortada, Vendrick recusou-se a olhar nos olhos de Alon.
"Já fiz o suficiente? Entrei na batalha por você. Lutei guerras por você. Conspirações... matei por você. E passei a vida protegendo o Império dos Vigilantes do Abismo."
Vendrick finalmente se virou, os olhos pesados de cansaço.
"Diga-me... o que mais você quer? Depois de tantos anos sombrios... para onde você quer ir?"
O rosto de Sir Alon não mudou, mas seus olhos mostraram uma empatia silenciosa—nascida das inúmeras batalhas que travaram juntos.
"Preciso da sua espada... e de ela... Millicent."
Assim que seu nome foi pronunciado, os olhos de Vendrick se arregalaram por um momento antes de ele se virar de raiva.
"Volte para a tumba que você mesmo construiu, Sir Alon. Esta era não é mais nossa. Nosso tempo já passou. Já entregamos tudo que tínhamos."
"Ainda não... Não tudo."
A resposta de Sir Alon foi calma e firme.
Vendrick soltou uma risada amarga e zombeteira.
"Até a morte, hein? Vocês, malditos Anciões de Ferro..."
Ele amaldiçoou, então sacou sua espada num movimento rápido, liberando uma arcada de energia cortante como vento, direcionada a Sir Alon.
O Imperador de Ferro simplesmente levantou a palma da mão, interrompendo o ataque no ar. Uma rajada de vento explodiu para fora, passando rapidamente pelo restante do grupo atrás dele.
"Vai embora, Sir Alon. Não lhe devemos nada."