O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 370

O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 370: Uma Despedida Final (1)

As chamas que consumiam a Cidade Fantochearrombaram forte...

Tudo o que restava eram cinzas e destroços.

Poucas horas atrás, aquele lugar tinha sido uma das cidades mais belas do coração da corrupção conhecida como os Ultrassons.

Agora, tornara-se um inferno selvagem, ardendo sem fim.

Membros dispersos e partes quebradas de fantoches estavam espalhados pelas ruas.

Correntes de sangue azul corriam sem parar.

Os palhaços continuavam rindo incessantemente—

E os bonecos continuavam rastejando com olhos vermelhos assassinos.

Tudo isso tinha um alvo único...

Frey Estelary, que continuava lutando com os olhos vermelhos injetados de sangue, carregados de loucura.

A cada golpe que destruía mais deles, Frey sentia seu corpo se desintegrando lentamente.

Sua peito doía violentamente...

Forçado a respirar a fumaça tóxica e os gases que se elevavam dos incêndios ao redor.

Seu corpo entrava num ciclo constante de regeneração—

Porque Frey se recusava a cair.

Ele se recusava a parar de lutar.

Mesmo tendo se tornado forte o suficiente para manter a Forma de Sangue por mais tempo do que nunca...

Desta vez, ele tinha ido longe demais.

Cercado de todos os lados por fantoches enlouquecidos e em chamas—

Eles avançavam para atacá-lo, desesperados para arrastá-lo para a morte com eles.

Ele já não conseguia ver o palhaço que engolira Clana.

A criatura havia desaparecido há muito tempo atrás, escondida sob a corrente incessante de fantoches rastejando na direção dele.

Que tipo de exército é esse?

Quantos fantoches Simon criou nesta cidade amaldiçoada?

Frey se perguntava—

Mas não ligava mais.

Tudo o que queria era eliminar todos eles—

E chegar até ela o mais rápido possível.

Depois de lutar, o que pareceu uma eternidade, em um campo de batalha forjado pelo inferno...

Suas espadas ficaram insuportavelmente pesadas.

Cada golpe drenava a última respiração de seus pulmões.

Seu corpo mal respondia aos comandos desesperados que sua mente lhe dava.

Mas ele insistia em continuar.

E só essa vontade—

O transformava em algo mais aterrorizante do que os fantoches que o atacavam.

Era uma luta brutal em todo o sentido da palavra.

...

...

...

A vida de um humano é curta.

E aqui, na terra dos Ultrassons—

Ela se torna ainda mais breve.

Clana Estelary viveu toda a vida como um membro fundamental da prestigiosa família Estelary.

Pode-se dizer que ela fazia o que bem entendia, usando os privilégios que nasceu para alcançar o que seus colegas não conseguiam.

Mas sua vida sempre foi... vazia.

Sem cor.

Cinza opaco.

Talvez a única coisa que dava um pouco de cor a essa existência vazia...

Era o próprio Frey.

Quando Clana Estelary abriu os olhos novamente—

Sua visão estava vermelha, seu sangue turvando a visão.

Ela sentiu... nada.

Não conseguia ver claramente...

Presa dentro da barriga do palhaço.

Não conseguia mover um músculo—

Na verdade, não sentia nenhuma parte do corpo.

E quando conseguiu inclinar a cabeça, encharcada de sangue...

Foi recebida pela visão de seu próprio corpo mutilado, perfurado por dezenas de dentes espinhos tipo ferro.

Nenhuma parte dela ficou intacta.

Mas ela não sentia dor—

O que deixava claro que estava completamente paralisada.

Logo veio outra onda de náusea...

E sua consciência que se apagava foi se apagando ainda mais.

Seu rosto ensanguentado escureceu mais uma vez.

Clana sabia que não sobreviveria.

Estava pronta para deixar tudo para trás.

Mas a morte que ela esperava—nunca veio.

Em vez disso, permaneceu na escuridão infinita.

E enquanto sua visão desaparecia, uma melodia estranha tocou seus ouvidos.

Música.

Suave. Misteriosa.

Não fazia nada além de intensificar seu delírio.

Ela ainda lembrava de tudo—

Como se voltou no exato momento em que viu aquela explosão gigante,

Seguindo uma intuição que não podia ignorar.

No final, chegou bem a tempo—

Salvando Frey, que venceu a batalha... mas perdeu a guerra.

Sentia pena dele.

Sabia o quanto ele sofrera para protegê-la.

Desde que acabaram presos juntos nesta terra de morte—

Frey sempre esteve na sua frente—como um escudo.

No começo, ela se sentia feliz.

Pensava que, talvez, ele pudesse retribuir os sentimentos que começava a nutrir por ele...

Mas quanto mais ela entendia o misterioso homem chamado Frey...

Mais ela percebia que a verdade era mais profunda que isso.

Ao ver aquela alma torturada lutando sozinha,

Indiferente à dor, sem medo da morte,

Sangrando toda vez que se movia—

Uma alma que ansiava escapar do inferno da vida e descansar na paz da morte...

Clana não queria que ele terminasse assim.

Então, ela ficou feliz...

Por poder ser a única a salvá-lo, no final.

Entre ela e Frey...

Ela desejava sua sobrevivência.

Desejava que ele vivesse—

Para que, talvez, um dia, ele encontrasse um mísero lampejo de felicidade neste mundo sofrido.

Se ele pudesse ter isso...

Ela ficaria satisfeita.

Essas eram suas pensamentos,

<> Conforme ela lentamente mergulhava na escuridão...

A melodia estranha ainda tocando ao seu lado.

Sua consciência se afastava cada vez mais,

À medida que começava a alucinar.

Ela via inúmeras coisas flutuando ao seu redor—

Rostos que não via há muito tempo.

Todos eles a encarando enquanto a música continuava...

Entre eles,

Ela viu um velho, sorrindo gentilmente para ela... Tergiversando seu chapéu como se quisesse cumprimentá-la.

Clana não entendia nada daquilo.

Seu corpo, sua mente...

Nada fazia mais sentido.

A única coisa que a trouxe de volta à consciência... Foi o movimento do corpo do palhaço...

Enquanto ele fugia...

De Frey.

Ela queria morrer e acabar logo com tudo.

Mas, por mais que esperasse— a morte nunca veio.

Mesmo com seu corpo destruído, irreconhecível...

Inconsciente. Encharcada na escuridão.

O tempo passava a uma velocidade assustadora, prendendo-a naquela música estranha e assombrosa...

Horas que pareciam eternamente longas e surpreendentemente curtas ao mesmo tempo—

Até que sua consciência finalmente voltou à realidade.

Lentamente...

Um fio de luz tênue penetrava a escuridão enquanto a barriga do palhaço se convulsionava e se rasgava com uma espada negra.

O corte se alargou numa ruptura gigante, e o palhaço caiu, finalmente morto, após ser atacado várias vezes.

Demorou alguns momentos para ela compreender completamente o que havia acontecido.

Com os olhos arregalados—

Clana olhou para Frey, que ficava sobre o cadáver do palhaço, ofegando, com o rosto em sangue, o corpo carregado de ferimentos.

"Frey..."

Ela falou seu nome sem perceber.

Ele não respondeu.

Simplesmente estendeu a mão e a puxou para fora do palhaço quebrado, cujo sorriso eterno finalmente desapareceu.

Sem hesitar, Frey a abraçou com força.

E saiu correndo do campo de batalha.

Quando Clana olhou ao redor, só pôde olhar com incredulidade para o deserto devastado atrás deles...

O campo de guerra, ainda em chamas, cheio dos corpos de inúmeros fantoches que Frey havia dizimado durante horas de luta incessante.

De alguma forma—

Ele os alcançou com o corpo quase destruído,

Lutou através de todos aqueles fantoches sem parar, e a alcançou—

Arrancando-a do ventre do gigantesco palhaço.

Mas tudo tinha um preço altíssimo.

Frey mal conseguia se mover.

O fato de estar consciente até ali... era um verdadeiro milagre.

"Frey... Eu..."

"Não diga nada... basta respirar."

Com a respiração ofegante—

Frey manteve o olhar fixo na direção à sua frente enquanto a carregava, correndo em direção ao exterior da cidade em chamas.

"Vamos sair daqui."

Ele falou com determinação...

E uma estranha paz em seu rosto.

Uma paz que vinha do fato de ele finalmente ter chegado até ela.

De que a havia salvado— após tudo.

Clana não sabia o que dizer.

Ela permaneceu em silêncio, deixando que ele a levasse adiante.

Mas, por algum motivo...

Uma sensação estranha de erro a invadiu.

Quando olhou para seu corpo—

Ficou chocada ao perceber que estava completamente intacto.

Sem ferimentos. Sem sangue. Sem dano algum.

Mesmo lembrando claramente de ter acordado dentro da barriga do palhaço—

Mutilada além do reconhecimento.

De alguma forma, seu corpo destruído tinha sido restaurado.

Quando a sensação voltou aos seus membros—

Uma sensação fria e sombria começou a crescer dentro dela.

Ao tocar sua cabeça pulsante—

Clana congelou ao sentir algo estranho.

Olhando mais de perto...

Percebeu que era sua mão.

Ou melhor...

Uma mão mecânica.

Perfeitamente presa ao seu braço, no lugar daquele que ela perdera para o palhaço.

Tinha uma sensação tão real que ela nem notara—

Até aquele momento.

Olhando para a mão artificial—

A angústia amarga dentro dela crescia ainda mais forte.

Algo estava MUITO errado.