O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 366

O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 366: A Cidade Marionete (1)

— 13 dias desde o sequestro —

Numa noite desolada, as estrelas eram a única fonte de luz.

Um círculo mágico coberto de poeira e enterrado na areia começou a brilhar novamente—sua primeira ativação em tempos que pareceram séculos.

Mas agora, ele reluziu mais uma vez, livrando-se da sujeira e permitindo que Frey e Clana Estelária passassem.

Assim que chegaram, os dois se encontraram ainda dentro do caminho que atravessava a montanha, dividindo a cordilheira, mas desta vez tinham alcançado a extremidade oposta. Estavam mais próximos de seus amigos do que nunca.

"Onde estamos?" perguntou Clana, confusa, enquanto sua mente lentamente se clareava, recuperando-se da loucura causada pelo sangue demoníaco que tinha ingerido.

"Deveríamos estar do outro lado," respondeu Frey. "Descanse agora até a dor de cabeça e as visões desaparecerem completamente."

Seguindo seu conselho, Clana sentou-se, uma mão segurando a cabeça, a outra pressionando sua testa.

"Frey... o que exatamente tomamos lá atrás?"

Clana realmente queria saber. Ela nunca tinha experimentado algo assim antes, especialmente porque não se lembrava de um único momento daquela festa insana.

Frey não escondeu nada. Ele respondeu de forma direta.

"Era sangue de demônio."

Assim que ele disse isso, o rosto de Clana escureceu ao recordar as lembranças de Exevir.

"Vamos virar coisas como aquelas?!"

Incapaz de suportar a ideia de se transformar num tipo de zumbi, o pavor começou a tomar conta.

"Calma. Você ficará bem."

Com uma respiração profunda, Frey sentou-se ao seu lado.

"O que tomamos não era sangue de demônio puro. Era apenas álcool comum—misturado com um pouco de sangue de demônio para intensificar o efeito. Os Ultras fazem isso o tempo todo. Desde que não tenhamos consumido demais, devemos estar seguros."

"Tem certeza?!"

"Sim." Frey assentiu.

"Você vai ficar bem. Basta concentrar sua aura e purgar as toxinas."

Revelando mais do conhecimento obscuro que possuía, Clana assentiu, sem solicitar mais detalhes—algo que Frey apreciava.

Ela usou a técnica Fluxo de Poeira Estelar para acelerar sua recuperação, seus fios de cabelo branco balançando ao redor de seu corpo brilhante enquanto a cura avançava rapidamente.

Durante esse tempo, imagens dispersas começaram a passar por sua mente... memórias do que tinha acontecido dentro da tenda... e da festa.

Depois de mais alguns minutos, ela se levantou e caminhou até Frey, que não tinha ido longe.

"Clana... você está completamente recuperada?"

"Sim. Agora estou bem."

"Ótimo. Vamos partir."

A seu sinal, os dois avançaram de repente, usando aura para impulsionar seus corpos e se moverem mais rápido.

Frey liderava, como sempre, protegendo Clana de qualquer perigo que pudesse surgir.

Especialmente num lugar como este—entre montanhas—eles não tinham escolha a não ser continuar até chegarem ao fim do passo.

Mas Frey já tinha percebido várias auras estranhas, o que o mantinha em alta vigilância, perguntando-se o que os aguardava no final.

Draxler tinha dito que o círculo mágico poderia levar a três caminhos diferentes.

Mas a questão agora era—qual deles tinham tomado?

Perdido em pensamentos, Frey foi interrompido por Clana, que parecia hesitante.

"Frey..."

"O que foi?"

"Naquela festa... fiz algo estranho?"

"..."

"Desculpe a pergunta repentina. Estou confusa."

Frey não respondeu imediatamente, o que fez Clana reformular sua dúvida.

Mas logo ele lhe deu as palavras que precisava ouvir.

"Nada aconteceu, Clana. Nós escapamos daquele lugar. Não precisa se preocupar com isso."

"...Tudo bem."

Clana assentiu relutante, enquanto a expressão de Frey escurecia ainda mais—aquelas auras estranhas estavam mais fortes.

Mais alguns minutos se passaram.

Eles chegaram ao fim do passo e pararam sem dizer uma palavra, chocados com o que havia adiante.

"...Incrível," sussurrou Clana, com os olhos arregalados enquanto olhava para a enorme cidade no final do caminho.

Com estruturas que pareciam saídas de uma era vitoriana-steampunk, e chaminés de fábricas constantemente expulsando fumaça preta...

Era uma maravilha de arquitetura, seus terrenos meticulosamente construídos, escondidos atrás de um portão de ferro ornamentado que os separava do interior.

Então, de repente—

O portão rangeu ao se abrir sozinho, como se estivesse esperando por eles, convidando-os a entrar.

A vista de dentro era ainda mais impressionante.

De pé na entrada, Clana expressou sua admiração.

"Nunca imaginei encontrar uma cidade assim... na terra dos Ultras."

Mas não era uma cidade qualquer, e ela percebeu isso quanto mais olhava.

"...Por que está tão deserta?"

As ruas estavam abandonadas. O portão sem guardas. E os vastos terrenos atrás dele—completamente silenciosos.

Clana queria avançar para ver o que havia lá dentro, mas a mão de Frey imediatamente a segurou firmemente.

"Frey... o que é isso?!"

Surpresa com seu aperto repentino e a expressão sombria no rosto dele, Clana entendeu na hora que algo estava errado.

"Clana, escute com atenção—grave isso na sua memória."

"A partir deste momento, não importa o que aconteça quando entrarmos nesse lugar... quero que você foque apenas na sobrevivência. Não pense em mais nada."

"Frey... o que você—isso—"

"Não se envolva em brigas. Não faça nada desnecessário!"

Chocada com a intensidade repentina de Frey, Clana só conseguiu assentir várias vezes em concordância.

"Muito bem."

Com uma respiração pesada, Frey deu o primeiro passo adiante—Clana logo atrás.

"Mas Frey... o que exatamente é esse lugar?"

Sua reação não era normal, e isso só deixou ela ainda mais nervosa.

Ele reconhecia o local naturalmente—ele tinha descrito muitas vezes no passado distante.

"A Cidade Marionete."

Passando pelo portão, os dois entraram rapidamente. Não tinham escolha... passar por ele era o único caminho para alcançarem seus amigos.

Depois da reação de Frey mais cedo, Clana ficou em estado de alerta máximo, preparada para qualquer emboscada de onde quer que fosse.

Mas o ataque nunca aconteceu.

Em vez disso, ela ficou chocada ao ver pessoas vivendo suas vidas em paz.

Homens e mulheres bem vestidos caminhando pelas ruas. Alguns usavam uniformes tradicionais de polícia e pareciam responsáveis pela ordem.

Mas, ao olhar de perto, Clana percebeu algo crítico.

"Esses... não são humanos??"

"Seja bem-vinda à Cidade Marionete!"

Uma das estranhas policiais surgiu na frente deles com um sorriso radiante. Mas Frey imediatamente cortou o pescoço dele, fazendo-o cair no chão.

Do pescoço decepado, um estranho fluido azul vazou, junto com faíscas e fios expostos.

"Um robô?" questionou Clana, franzindo a testa.

"Não—uma marionete." corrigiu Frey imediatamente.

Ele avançou rapidamente, e Clana o seguiu logo atrás.

Conforme avançavam mais profundamente na cidade, todos os habitantes voltaram suas cabeças, encarando-os com olhos vermelhos e brilhantes à distância.

"São todos marionetes?"

Dos homens, às mulheres... até as crianças.

Todos marionetes.

"São os habitantes amaldiçoados deste lugar... precisamos sair rápido."

Seguindo em frente e destruindo tudo pelo caminho, Frey e Clana chegaram ao coração da cidade em tempo recorde—apenas para pararem abruptamente, olhando fixamente para o que vinha à frente.

Ao contrário das ruas limpas e elegantes que tinham acabado de passar, aquele lugar estava em completo caos.

Centenas de corpos espalhados por toda parte—uns sangrando sangue vermelho, outros azul.

Os cadáveres de humanos e marionetes misturados. Ao longo da estrada, lanças espetavam os menos sortudos, levantando-os ao ar.

No centro dessa carnificina, um enorme banner se erguia com orgulho. Frey e Clana leram ao mesmo tempo:

"hipócrita."

"Ahahahahahahaha! Bem-vindos, bem-vindos, meus estimados convidados!"

Uma voz que nunca tinham ouvido antes ecoou por toda a cidade, amplificada por inúmeros alto-falantes.

"Hoje, temos dois visitantes especiais! Convidados de outro continente... e de uma família de prestígio também! Kihihihi, que casal encantador!"

A voz estava empolgada, e a cidade lentamente caiu em um silêncio assustador.

"Frey..."

Clana deu um passo mais perto dele, com a expressão carregada de ansiedade.

E com razão.

As ruas ao redor começaram a se encher de marionetes se aproximando lentamente—os cercando.

Algumas eram maiores que outras—um policial gigante andando de quatro metros e meio de altura, e um palhaço gordinho dançando entre a multidão, rindo maniacamente.

Todos os encaravam com olhos vermelhos e brilhantes.

"Meus queridos convidados, mostrem o que valem. Quero ver de que sangue vocês são feitos!"

Enquanto suas palavras ecoavam, as marionetes atacaram-nas em uma loucura—todas de uma vez.

Frey sacou suas espadas, seu corpo envolto por uma aura violeta de poder.

Cercado por milhares de marionetes que avançavam em fúria, Frey liberou uma enorme onda de aura sombria que rasgou o enxame com força assustadora—abrindo caminho.

"Agora! Clana! vá!"

Seu grito a trouxe de seu transe. Ela se lançou em velocidade máxima, enquanto Frey a seguia, abatendo toda marionete que surgia.

A cada marionete destruída, sangue vermelho e azul jorrava. Ainda assim, elas continuavam vindo.

Entre elas, o policial gigante e o palhaço eram extremamente poderosos, e muitos deles também.

Chegou a fazer Frey amaldiçoar enquanto amplificava sua voz com aura...

"Simon Manus!!!"