O Cão Louco da Propriedade do Duque

Capítulo 151

O Cão Louco da Propriedade do Duque

Capítulo 151. A Torre Imperial de Magia

— Eu pensei que já tinha visto de tudo na vida, mas parece que estava enganado — disse Cor.

— Essa é a beleza da vida, não concorda? — perguntou Caron.

— Você é o primeiro idiota que eu encontro que diria essa besteira na frente do Mestre da Torre de Magia de oitenta anos — retrucou Cor.

— E você é o primeiro velho gagá — quer dizer, ancião — que eu encontro fingindo ser um garoto de dezessete anos — respondeu Caron.

O Mestre da Torre de Magia, Cor, percebeu que Caron não era do tipo que recuava. Ele sorriu de canto enquanto encarava o jovem à sua frente. Uma conversa que ele tivera com a Rainha veio à mente.

"Você vai saber quando conhecê-lo. Aquele não é nada normal. Você vai gostar dele."

Agora, ele entendia por que ela havia falado daquela forma.

Aquele era um jovem completamente destemido. E essa não era a única coisa que faltava a Caron. Ele não tinha respeito por anciãos, nem consideração pela autoridade do Mestre da Torre de Magia, e nenhuma da deferência usual que se esperaria de um subordinado.

— Você quer salvar a Torre de Magia de você mesmo? Essa é uma tremenda bobagem. Eu te dou um minuto para explicar — disse Cor.

— O que acontece se eu não conseguir explicar em um minuto? — perguntou Caron.

— Hm... Eu poderia apagar você da existência junto com aquela sua adorável serva — disse Cor.

Amy murmurou baixinho, sua voz quase inaudível: — Eu não sou uma serva...

— Ah, uma namorada, então? — perguntou Cor.

— Eu sou Amy Altura, uma cavaleira da Guarda Imperial — respondeu Amy.

— Ah, minhas desculpas, Dama Amy. Por favor, perdoe minha grosseria. Eu tenho uma memória terrível para rostos — disse Cor.

Caron sabia bem que o comentário do Mestre da Torre de Magia não passava de um jogo mental. Ele claramente já havia avaliado Amy.

Sorrindo, Caron encontrou os olhos do arquimago e disse: — Honestamente, eu cogitei dar uma passada em alguns jornais antes de vir aqui. Imagine as manchetes: Torre de Magia Ligada ao Imperador Malevolente, ou Professor da Torre de Magia Pego Pesquisando Demônios Parasitas.

Ele proferiu as mesmas palavras que havia dito a Barian antes. Enquanto Barian franziu a testa tão obviamente que foi cômico, a expressão de Cor sequer se moveu. Em vez disso, ele riu e se serviu de mais chá.

— Uma teoria da conspiração bastante divertida — disse Cor.

— Não é? Mas não há fumaça sem fogo — respondeu Caron.

— Então, você está se oferecendo para parar de espalhar boatos pelo bem da Torre de Magia... se nós te pagarmos? Isso não passa de chantagem de bandido de rua — disse Cor.

Era uma observação certeira.

O Mestre da Torre sorriu de canto enquanto continuava: — A Rainha me disse que você tinha talento para negociação. Mas isso não é negociação — é extorsão, pura e simples. Você deve ter aprendido alguns hábitos ruins com o Duque Halo. Se a notícia de que você estava ameaçando a Torre de Magia com boatos infundados se espalhasse, não seria uma manchete fascinante também?

— Mestre da Torre de Magia, você já ouviu o ditado, "Um homem que não tem nada a perder é o mais perigoso"? — disse Caron.

— Mas você tem muito a perder — rebateu Cor.

— Então, que tal alguém que está desesperado para perder tudo? — acrescentou Caron.

— O quê? — exclamou Cor.

— Para ser franco, minha reputação se tornou um fardo e tanto ultimamente. Por que não tornamos isso interessante? Você arruína meu nome, e eu destruo o da Torre. Nós dois ganhamos desse jeito, não? — sugeriu Caron. Não havia nem um traço de blefe em sua voz.

Cor estudou Caron cuidadosamente. Aquilo não era a falsa bravata típica de sua idade. Não era uma atuação — era genuína insanidade ardendo em seus olhos. Intrigado, Cor decidiu jogar uma isca para ele, usando o que ele já sabia.

— Eu tenho ouvido histórias sobre você dos missionários do Reino Sagrado... — começou Cor, mas foi interrompido.

— Ah, você quer dizer aquela sobre eu carregar uma espada demoníaca? — interrompeu Caron.

Schring!

Sem hesitação, Caron desembainhou a Guilhotina e deu um balanço deliberado nela, como se estivesse exibindo uma posse valiosa. Ele perguntou: — O que você acha, Mestre da Torre de Magia? Parece demoníaca o suficiente? Se você acha que sim, espalhe a palavra. Com um selo oficial da Torre de Magia, pode até ganhar alguma credibilidade.

Aquele jovem não era apenas imprudente — ele era completamente insano. Seu processo de pensamento desafiava tudo o que se esperaria de um herdeiro nobre. Cor se perguntou quantas pessoas no mundo ousariam falar tão casualmente sobre arrastar os outros para a ruína.

— Mas a honra da Família Ducal de Leston será manchada — disse Cor.

— Esse é precisamente o meu desejo, Mestre da Torre de Magia. Se você está disposto a realizar isso por mim, suponho que eu deva ser grato — disse Caron.

Cor percebeu que tinha que revisar sua estratégia. Afinal, se Caron tivesse vindo com intenções maliciosas desde o início, ele não teria se dado ao trabalho de visitar a Torre de Magia.

Era um acordo. Aquele homem estava ali para um acordo.

Ele é como uma hiena, pensou Cor.

O boato sobre um professor da Torre de Magia pesquisando demônios parasitas já era difícil de suprimir. Se ele se espalhasse ainda mais, marcaria a Torre de Magia com uma marca indelével de vergonha. Isso seria desastroso.

— O que você quer, seu lobo louco? — perguntou Cor.

— Ah, vamos lá. Se alguém ouvir, pode pensar que eu estou te ameaçando — disse Caron com um sorriso, enchendo seu copo com vinho. Ele continuou: — Vamos começar nos tornando amigos.

— A Torre de Magia mantém neutralidade política. Se nos aliarmos à Família Ducal de Leston, nem o Palácio Imperial nem os outros nobres ficarão em silêncio — disse Cor.

— Não se trata da família Leston e da Torre de Magia se tornarem aliadas. É sobre você e eu — apenas dois amigos — sugeriu Caron.

Caron não acreditava que a ligação de Bail com a Torre significasse que ela havia caído completamente nas garras do Imperador Malevolente. Isso era improvável. Alguns simpatizantes podiam espreitar por dentro, mas se opor a toda a Torre de Magia era um exagero perigoso. No passado, os magos muitas vezes tinham sido descartados como meros lançadores de feitiços, mas as coisas tinham mudado.

Eles não são apenas alguns magos agora, pensou Caron.

A Torre de Magia agora se tornara o centro da civilização imperial. Na batalha que se aproximava contra o Imperador Malevolente, a Torre poderia provar ser uma aliada valiosa — um recurso precioso demais para se transformar em inimigo.

Cor franziu a testa para a oferta de amizade de Caron, retrucando: — Quem ameaça as pessoas durante um primeiro encontro e depois pede para ser amigo?

— Verdadeiros amigos podem rir enquanto esfaqueiam uns aos outros pelas costas — respondeu Caron.

— Hah.

Aquele jovem não era apenas um louco — ele era um louco que enxergava o panorama geral.

Cor sabia muito bem que pessoas como aquela muitas vezes se tornavam a tempestade que remodelava o mundo. O curso mais seguro era evitar se envolver com elas. Mas, como mago, ele sentiu sua curiosidade se acender — ele queria saber o que aquele lunático tinha em mente.

— Eu estou curioso para ouvir mais das bobagens que você está cuspindo. Continue — disse ele.

Encorajado, Caron sorriu e puxou um pergaminho muito mais longo do que o de antes. Ele disse: — Pensei que você diria isso. Eu até preparei uma lista de "taxas de amizade". É bem extensa, então ouça com atenção.

O sorriso de Caron se alargou com satisfação quando ele acrescentou mais uma coisa. — Ah, e só para você saber, se você achar minhas exigências irracionais, me avise. Nós sempre podemos começar uma adorável rodada de exposições mútuas.

Aquele jovem que queria perder coisas não tinha medo.


Uma hora depois, Caron assentiu com um sorriso satisfeito e disse: — No geral, esse foi um bom acordo.

— Para você, talvez. Foi completamente unilateral a seu favor — disse Cor.

— Exatamente. É isso que o torna um bom acordo — respondeu Caron.

As coisas tinham corrido muito mais suavemente do que ele esperava. O Mestre da Torre havia concordado prontamente com as exigências de Caron. Cor havia fornecido a ele um "Passe de Membro Honorário da Torre Imperial de Magia", concedendo acesso gratuito a todas as filiais da Torre de Magia em todo o império. E, além disso, ele até havia concedido um punhado de artefatos raros do tesouro da torre — o Mestre da Torre de Magia praticamente se transformara em uma árvore generosa.

— Eu fui mais do que generoso com meus termos, Caron Leston. Não se esqueça disso — disse Cor.

— Eu sou sinceramente grato por sua benevolência, Mestre da Torre de Magia — respondeu Caron.

— Você não tem vergonha nenhuma — acrescentou Cor.

Cor recordou a conversa que eles tiveram no tesouro há apenas trinta minutos. Ele havia dito a Caron para pegar apenas o que ele pudesse carregar, e o audacioso canalha respondeu sem perder o ritmo:

— Eu tenho uma bolsa de espaço dimensional. Eu posso simplesmente colocar tudo nela e ir embora?

Os artefatos armazenados no tesouro da Torre de Magia eram obras-primas, cada um mais extraordinário do que o outro. Da Máscara do Doppelganger, que podia alterar a aparência do usuário à vontade, à Pedra do Alquimista, capaz de criar elixires a partir da água... Eram tesouros que nenhuma quantidade de ouro poderia comprar.

E, no entanto, Caron havia pego três deles.

É claro, tudo sob o pretexto de um "empréstimo".

— A Torre de Magia está emprestando esses itens para você. Você terá que devolvê-los mais tarde — lembrou Cor.

— Claro, claro. Eu vou usá-los bem e devolvê-los em boas condições — respondeu Caron.

— Você planejou pegar esses artefatos desde o início, não planejou? — perguntou Cor.

— Bem, eles são bastante famosos por seu desempenho excepcional, sabe — disse Caron.

Talvez fosse o senso de vitória que o colocara em um humor tão bom. Caron se levantou de seu assento, parecendo completamente satisfeito enquanto continuava: — Eu não vou esquecer o generoso apoio da Torre de Magia para minha longa jornada pela frente.

— Agora que você conseguiu o que veio buscar, suma daqui, seu encrenqueiro ladrão — disse Cor.

— Ah, para qualquer assunto detalhado sobre o projeto da Floresta do Sul, por favor, consulte meu pai — acrescentou Caron.

— Sim, sim. Apenas vá embora logo. — Cor apressadamente acenou para ele com um movimento dispensativo de sua mão.

Caron sorriu amplamente em troca e disse: — Bem-vindo ao meu círculo de amigos. Estou ansioso para trabalhar com você.

Com isso, ele se levantou e saiu da câmara de hóspedes, seus passos leves de triunfo. Amy, que estava pairando silenciosamente ao seu lado, ofereceu uma pequena reverência ao Mestre da Torre de Magia antes de correr atrás dele.

Quando a tempestade finalmente passou, Cor imediatamente chamou Barian, que estava esperando do lado de fora.

— Você me chamou, Mestre da Torre de Magia? — perguntou Barian.

— Envie uma mensagem para todas as filiais de uma vez — ordenou Cor.

— E sua ordem é? — perguntou Barian.

— Caron Leston agora está classificado como uma ameaça de alto nível. Espalhe a palavra — evite se envolver com ele a todo custo — explicou Cor.

— ...Devemos considerá-lo um inimigo? — questionou Barian.

— Você está insano? Se Caron Leston pedir algo, cumpra sem questionar — disse Cor.

— Entendido — disse Barian.

Qualquer um que estivesse ouvindo poderia ter pensado que o Mestre da Torre de Magia havia sido completamente enganado. No entanto, Barian conhecia seu superior melhor do que isso. Normalmente, Cor achava tudo um fardo tedioso — mas, naquele momento, havia um leve sorriso puxando os cantos de seus lábios.

— Caron Leston... Que sujeito divertido — murmurou Cor.

Caron era o tipo de homem que falava o que pensava sem hesitação, mesmo na frente do próprio Mestre da Torre de Magia. Não apenas isso, mas ele também não tinha escrúpulos em sugar a Torre de Magia até a última gota.

E, no entanto, estranhamente, ele não era totalmente antipático.

— Se ele voltar mais algumas vezes, ele vai desarraigar nossos próprios fundamentos. Barian, você sabe o que Caron pegou do tesouro? — perguntou Cor.

— Eu não tenho certeza, senhor — respondeu Barian.

— A Máscara do Doppelganger, a Pedra do Alquimista e o Anel da Traição. Ele escolheu apenas os tesouros mais valiosos — disse Cor.

— Quando você diz o Anel da Traição... Você quer dizer? — perguntou Barian cautelosamente.

— Sim, o mesmo que você está pensando — confirmou Cor.

— ...Isso não é muito perigoso? — perguntou Barian.

— O que mais eu poderia fazer? Ele arrastaria a reputação da Torre de Magia pela lama de outra forma. Tudo considerado, essa foi a melhor opção — disse Cor.

Barian encarou diretamente o rosto do Mestre da Torre de Magia, examinando suas palavras. Ele se perguntou se a chantagem de Caron realmente havia funcionado no Mestre da Torre.

Isso não pode estar certo, pensou Barian.

A influência da Torre de Magia era muito mais profunda do que a maioria poderia imaginar. Não havia como uma mera ameaça ter intimidado o Mestre da Torre de Magia.

Caron Leston... O Mestre da Torre realmente gosta dele, pensou Barian.

A compreensão se encaixou. O Mestre da Torre tinha feito concessões intencionalmente.

— Barian, se você quer continuar desempenhando o papel de chefe da divisão de vendas da Torre de Magia, você vai precisar aguçar seus instintos sobre as pessoas — disse Cor. Ele tomou um gole lento de chá e olhou para Barian, um leve sorriso se formando em seus lábios. Ele explicou: — Caron Leston é um jovem que agita tempestades. Ele varre tudo ao seu redor para seu caminho. Um furacão, se você quiser.

— Ele parece... perigoso de se estar perto — disse Barian cuidadosamente.

— Ele é. Homens como ele distorcem o curso da história — disse Cor.

Finalmente, ele entendeu por que até mesmo a Rainha, que era notoriamente difícil de agradar, havia gostado de Caron. A mentalidade de Caron era totalmente diferente da de uma pessoa comum — tão diferente que a maioria se perguntaria se ele era completamente insano.

As pessoas chamavam homens como Caron de lunáticos, mas Cor gostava de lunáticos.

— Se você não pode evitar um furacão, você tem que se acomodar no olho da tempestade, Barian — aconselhou Cor.

Ele tinha certeza de que Caron Leston estava destinado a se tornar uma figura de proa. Não — ele já poderia ser uma.

— Que interessante — comentou Cor, então riu baixinho enquanto olhava para os vermes espalhados no chão.

Bail era o homem que havia desonrado a honra da Torre de Magia.

— Extraia suas memórias. Mate-o se for preciso. Você entende o que eu quero dizer? — perguntou Cor.

— Há alguma coisa específica em que você quer que eu me concentre? — perguntou Barian.

— O Imperador Malevolente e os Revanchistas. Eu acho que temos alguns dos subordinados do Imperador Malevolente como espiões dentro da torre. Desenterre todos eles, até o último. Esfole-os vivos se for preciso — mas seja completo — ordenou Cor.

— Eu vou cuidar disso — disse Barian.

Caron Leston havia dado à Torre de Magia uma rara oportunidade de auto-limpeza — uma chance de recuperar sua integridade.

Um homem esperto como Caron certamente sabia que ele poderia usar essa situação para apertar seu controle sobre a Torre de Magia. Mesmo assim, ele estendeu sua mão em amizade. A Torre de Magia não sairia perdendo nesse acordo.

— Sim... Uma barganha, de fato... — Assim que Cor assentiu com satisfação, o orbe de comunicação em sua mesa começou a vibrar. Momentos depois, uma voz frenética estalou.

— Mestre da Torre de Magia! Nós temos um problema sério!

Era o gerente de uma das lojas oficiais da Torre de Magia, sua voz tremendo de pânico.

A testa de Cor se franziu e ele perguntou: — O que aconteceu?

— Caron Leston! Ele... ele varreu a loja! Ele pegou artefatos de viagem — braseiros mágicos, camas portáteis, barracas de expedição, distribuidores de água — qualquer coisa útil para uma jornada!

— Ele pagou? — perguntou Cor.

— Claro que não! Ele apenas disse algo sobre coletar uma "taxa de amizade" generosa e foi embora! O que devemos fazer?

— ...Aquele bastardo insuportável — disse Cor. Ele estava sem palavras.

A poderosa e histórica Torre Imperial de Magia tinha acabado de ser completamente saqueada por um único encrenqueiro.

No final, onde quer que aquele Cão Louco vagasse, a devastação certamente o seguiria.