
Capítulo 8
O Cão Louco da Propriedade do Duque
Capítulo 8
Quando Caron olhou para a Mana Lazúli que o cercava, lembrou-se do vasto oceano que vira em sua vida passada. Foi quando recebeu uma ordem do imperador para conter uma rebelião em uma cidade costeira. O horizonte se estendia infinitamente, e as profundezas da água eram vastas e insondáveis.
Embora fosse uma experiência singular, ele recordou a grandiosidade que sentira naquele momento. A Mana Lazúli diante dele não parava de evocar aqueles sentimentos enquanto envolvia todo o seu ser e o preenchia completamente.
A voz ecoou em sua mente.
—Não sei por que essa espada apareceu para você dessa forma, mas originalmente pertencia a Rael, seu primeiro ancestral.
O oceano infinito afiou a espada negra e amaldiçoada, Luin. Chamas intensas não eram necessárias para essa tarefa; o brilho azul da mana irradiava friamente, dissipando a escuridão que havia manchado a lâmina.
—Gram, a espada que seu avô pegou, também pertenceu ao seu primeiro ancestral. É uma espada imbuída com o poder do Mar do Norte e há muito está registrada na história.
Em meio ao brilho azul da Mana Lazúli, a espada foi forjada novamente. Luz azul foi infundida na lâmina escura e, logo, uma espada azul-escura surgiu. Não podia mais ser chamada de espada amaldiçoada. Brilhava com uma luz azul-escura, saturada com Mana Lazúli.
—No entanto, a espada que lhe é dada agora nem sequer está registrada na história. A existência da espada é transmitida apenas entre os anciãos e os chefes da família. E a razão para isso é simples. É porque o poder contido nesta espada é altamente estranho ao poder de sua família.
A lâmina não era mais Luin, a espada amaldiçoada que Caron lembrava. Ele olhou para a nova espada que havia nascido novamente no trono e perguntou em voz baixa: "Qual é o nome desta espada?"
—É a espada que decapitou inúmeros demônios, consumindo seus poderes; outrora foi tão temida por demônios que foi escondida e eles esqueceram sua própria existência. É uma espada que nasceu nas profundezas escuras, mas puras, do Mar do Norte.
Caron segurou a espada em sua mão.
Whoosh.
A Mana Lazúli que fluía da espada invadiu Caron como uma onda gigantesca. Essa torrente de mana alargou à força as vias de mana que ele nunca havia liberado antes. A dor o percorreu, mas ele exalou enquanto segurava a espada com força.
—Guilhotina, a Espada da Execução. Esse é o verdadeiro nome desta espada.
Sangue escorreu dos cantos da boca de Caron. Era um efeito colateral de suas vias de mana sendo abertas à força. Parecia que estava sendo queimado por dentro, mas uma dor como essa não era nada para ele. Em sua vida anterior, afinal, ele havia suportado sofrimentos muito piores centenas de vezes.
Caron sorriu ao tirar a espada do trono e levemente tocou sua mão ao longo de sua lâmina azul-escura.
"Guilhotina, a Espada da Execução", murmurou ele.
Ele não sabia por que essa espada havia aparecido para ele como uma espada amaldiçoada em sua vida passada, mas decidiu não pensar muito sobre isso. Os segredos que continha seriam descobertos à medida que ele se tornasse mais forte e os procurasse por conta própria.
"Será que descobrir esses segredos é outra tarefa que me foi designada?", Caron se perguntou em silêncio.
Ele nunca pensou que sua reencarnação fosse mera coincidência. Ele sempre suspeitou do envolvimento de algum poder externo.
—É uma espada que se assemelha ao mar escuro e profundo. Ela se encaixa perfeitamente em seu destino, Criança.
Caron tinha uma forte suspeita sobre a identidade da voz. Havia apenas uma tribo neste mundo que se apresentava como o 'Clã Lazúli'.
"Dragões Azuis... Então é verdade que nossa família tem um dragão guardião. Qual é o seu nome?", ele perguntou.
Os dragões eram conhecidos como grandes seres; para a maioria, eles aparentemente existiam apenas em mitos, mas eles realmente existiam neste mundo. A suspeita de Caron estava correta. A voz em sua mente respondeu alegremente.
—Você ainda não cresceu o suficiente para suportar o peso de aprender meu verdadeiro nome. Quando puder controlar totalmente seu mar de poder, venha para o Mar do Norte.
"E como eu saio deste lugar?", Caron perguntou.
—Você já sabe, não sabe?
"Aha, é realmente o que eu estou pensando?", Caron comentou com um sorriso largo enquanto levantava a espada para o alto.
A missão de destruir o mundo... Desde o início, havia apenas uma coisa que definia seu mundo neste lugar.
Era o trono.
"Eu sempre quis quebrá-lo com minhas próprias mãos um dia", comentou ele.
Este era o assento onde o imperador, que havia ligado não apenas o destino de Caim, mas também sua alma, uma vez se sentou.
Whoosh.
A espada azul-escura ressoou com a Mana Lazúli de Caron. Sem hesitar, ele golpeou com a lâmina.
Clang!
C-Crack!
Com um estrondo trovejante, o trono feito de ouro se partiu ao meio. Detritos se espalharam por toda parte, e a ilusão que cobria todo o espaço começou a se dissipar pouco a pouco.
Caron olhou para sua espada novamente com o coração aliviado. Ele pensou que 'Guilhotina, a Espada da Execução' era um nome apropriado para uma espada encrenqueira.
—Será bastante divertido ver sua casa de cabeça para baixo. Você é minha última fonte de diversão. Não me faça esperar muito.
"Bastante impaciente para alguém tão velho. Não é típico para alguém que viveu tanto tempo ser tão impaciente", disse Caron.
—Eu gosto muito de você, seu encrenqueiro. Estarei esperando ansiosamente.
Com essas palavras, a ilusão desapareceu, revelando a floresta azul de antes. Caron vagarosamente olhou ao redor, com um sorriso satisfeito no rosto.
Após um momento, ele fez uma pausa, murmurando: "Hmm".
Ele percebeu que algo estava errado.
O local onde a Pedra da Promessa deveria ter sido colocada estava vazio. Tudo o que restava em seu lugar era uma pilha de pó azul infundido com Mana Lazúli. Além disso, a barreira também havia desaparecido.
À distância, Caron viu seu avô, Halo, correndo em sua direção. Considerando todas as explicações possíveis, a conclusão era clara.
"...A pedra está quebrada?", Halo se perguntou.
A Pedra da Promessa havia se estilhaçado.
Caron sorriu brilhantemente mais uma vez depois de perceber que a Pedra da Promessa havia quebrado, mesmo que não entendesse por que isso havia acontecido.
Parece que ele está pronto para me matar se eu cometer o menor deslize, neto ou não, pensou ele. Vendo a expressão séria de Halo, ele soube que havia alcançado seu objetivo.
"Caron, o que aconteceu? A Pedra da Promessa...", perguntou Halo.
"Não tenho certeza... Parece ter quebrado. O que vai acontecer, Vovô?", Caron respondeu enquanto estendia a espada casualmente para seu avô ver. Ele começou: "Ah, e eu recebi esta es—"
"Guilhotina, a Espada da Execução. Como essa espada apareceu neste momento..." A expressão de Halo ficou ainda mais séria.
Para Caron, tinha sido um dia verdadeiramente satisfatório.
***
Halo ficou parado enquanto olhava para a espada azul-escura que seu neto segurava. Era Guilhotina, a espada que havia sido apagada da história da família. Era uma espada que nunca havia escolhido ninguém, e sua existência só era conhecida através de tradições orais transmitidas entre os anciãos e chefes da família.
Ele não sabia por que a espada misteriosa nunca havia aparecido até agora, mas quando finalmente a viu pessoalmente, ele entendeu. Guilhotina era aterrorizante até mesmo de se olhar.
Representava um medo extremamente alienígena. Olhar para sua lâmina era como contemplar as profundezas insondáveis do oceano. A mera visão disso era aterrorizante. A maioria das pessoas nunca ousaria sequer pensar em empunhá-la. E, no entanto, seu neto estava diante dele, segurando-a sem hesitar.
Será que seu neto era incapaz de sentir medo, ou Guilhotina simplesmente não revelava sua ameaça ao seu verdadeiro mestre? Independentemente disso, essa situação era inédita.
"Você não tem medo dessa espada?", perguntou Halo.
"Não, Vovô", respondeu Caron.
"...Entendo", Halo suspirou e olhou para os restos da Pedra da Promessa espalhados pelo chão.
A Pedra da Promessa estilhaçada significava que o momento de cumprir a promessa de seu clã estava se aproximando. O voto havia sido feito entre Rael Leston e os Dragões Azuis do Mar do Norte, e era uma promessa de erradicar os demônios que emergiam do fim do mundo. Rael havia falhado em exterminar os demônios, então ele havia deixado a Pedra da Promessa como uma promessa para o futuro, esperando que um de seus descendentes cumprisse o voto.
Isso significa que Caron é o destinado a este voto?, Halo ponderou.
Ele olhou para os anciãos que estavam atrás dele. Eles também conheciam os segredos que haviam sido transmitidos por gerações em sua família. Isso significava que eles entenderiam o que essa situação significava. No entanto, simplesmente saber algo e aceitá-lo eram duas coisas diferentes.
Como chefe da família e avô, não havia nada que Halo pudesse fazer para ajudar seu neto com este assunto.
O mestre de Guilhotina está destinado a caminhar para o vórtice, Halo lembrou. Tudo o que ele podia fazer era reconhecer e aceitar que seu neto havia sido escolhido pelo destino.
Tendo chegado à sua conclusão, Halo declarou em voz calma: "A Cerimônia do Despertar acabou".
Ele olhou para seu neto... a criança escolhida pelo destino e por Guilhotina. Caron, seu neto mais novo, era quem um dia lideraria a Família Ducal de Leston para uma época de caos.
"Caron Leston foi escolhido por Guilhotina, a Espada da Execução que pertenceu ao primeiro ancestral. Como chefe da família, declaro que Caron conquistou o direito de aprender as Artes da Dominação do Oceano", Halo anunciou às pessoas que se reuniram.
As Artes da Dominação do Oceano referiam-se a uma técnica secreta transmitida apenas aos descendentes diretos da Família Ducal de Leston, que lhes permitia controlar o vasto oceano de Mana Lazúli.
Meu filho, Fayle pensou enquanto cerrava os punhos, ouvindo as palavras de Halo. Seu filho agora trilharia um caminho que ele próprio nunca havia conseguido sequer trilhar. Apesar de suas preocupações com a espada sinistra nas mãos de Caron, seu coração se encheu de orgulho.
Halo olhou para seus filhos e continuou a falar.
"Caron Leston, filho de Fayle Leston e neto de Halo Leston, é agora um membro orgulhoso do Castelo Azureocean. Todos vocês presentes aqui são testemunhas. Lembrem-se deste momento, aqueles de vocês que carregam o sangue de Leston."
Com isso, a Cerimônia do Despertar terminou. Halo lentamente se virou e foi embora com os anciãos que estavam esperando. Seus três filhos e Caron se curvaram, então esperaram até que o chefe da família estivesse fora de vista.
Uma vez que Halo desapareceu de vista, o filho mais velho de Halo, Dales, aproximou-se de Caron com um sorriso de felicitação. Ele disse: "Parabéns, Sobrinho".
"Obrigado, Tio", respondeu Caron.
"Você é...", Dales começou, mas sua voz sumiu enquanto ele olhava para a espada nas mãos de Caron. Ele se orgulhava de conhecer todos os artefatos da família, mas nunca tinha ouvido falar desta espada chamada Guilhotina, a Espada da Execução.
Seu pai e os anciãos pareciam reconhecê-la, no entanto. Ele se lembrou do breve olhar de perplexidade no rosto de seu pai, o que lançou seus pensamentos em ainda mais desordem. Mas ele não conseguiu se forçar a perguntar a Caron sobre a espada.
Isso me assusta, pensou Dales.
Embora não fosse tão realizado quanto seu pai, ele estava à beira de alcançar 8 Estrelas e era considerado um dos mais fortes do império. E, no entanto, mesmo ele sentiu um arrepio ao olhar para a espada azul-escura, como se estivesse olhando para as profundezas de um abismo insondável.
Caron sorriu para seus tios. O mais velho pelo menos ofereceu uma palavra de parabéns, enquanto o segundo ficou com uma expressão grave, sem dizer nada.
O primeiro filho de Halo ainda está um passo acima do segundo filho, pensou ele, divertido com toda a situação.
"Aguardo ansiosamente sua orientação", disse Caron com um sorriso.
Ele se curvou para seus tios, então pegou a mão de Fayle. Sorrindo, ele disse: "Pai, estou com fome".
Fayle acenou com a cabeça para Caron e respondeu: "Tudo bem, vamos voltar e comer".
"Eu quero comer carne!", exclamou Caron.
"Eu já me certifiquei de que muitos pratos de carne seriam preparados", disse Fayle com uma risada.
"Você é o melhor, Pai!", Caron sorriu e saiu com seu pai.
No final, apenas Dales e Raphael permaneceram naquele lugar. Uma vez que seu sobrinho estava fora de vista, Raphael soltou um suspiro e se virou para seu irmão.
"Irmão, aquela espada, Guilhotina... Você sabia sobre ela?", perguntou Raphael.
"Claro que não", respondeu Dales.
"Eu só... Eu não consigo entender esta situação. Como o filho de Fayle..." Raphael não conseguiu continuar.
"Bem, uma coisa está clara agora", disse Dales enquanto olhava para seu irmão pateticamente.
Raphael sempre foi excessivamente ambicioso, apesar de sua falta de habilidade, constantemente planejando para se tornar o herdeiro. Mas com Caron na jogada, a situação havia mudado.
"Não é hora de nós lutarmos entre nós mesmos", disse Dales firmemente.
Desde que seu jovem sobrinho despertou sua Mana Lazúli, ele sentiu um crescente desconforto. Agora, esse desconforto havia tomado forma. Seu pai nunca ignoraria uma criança escolhida pela espada do primeiro ancestral.
Uma pequena variável pode surgir na estrutura de sucessão, pensou Dales.
A base sólida que ele havia construído até agora poderia logo desenvolver uma rachadura.
E eu não tenho intenção de ficar parado ociosamente.
Ele acreditava que a posição de herdeiro era destinada unicamente a ele. Como o filho mais velho do grande herói, ele detinha legitimamente tanto a glória da Família Ducal de Leston quanto a responsabilidade de liderar a família. Caron era jovem demais para ameaçar tudo o que ele havia construído até agora.
Dales abriu e fechou o punho, então falou calmamente com seu irmão. "Raphael, faz muito tempo que nós tivemos algo para conversar sozinhos".
"...Eu vou ouvir por enquanto", disse Raphael relutantemente.
"Será para seu benefício também, então não se preocupe", garantiu Dales.
Ele olhou na direção que Caron tinha ido, recusando-se a ser influenciado por um mero garoto de dez anos.
Variáveis podem ser controladas, pensou ele. Não havia nada que mudaria.
Dales exalou lentamente e acenou para si mesmo.